
Vamos retroceder nossa memória e voltar no tempo pelos anos de 1947, quando do amplo alvoroço com o início da grande revoada dos denominados pires voadores nos Estados Unidos. Passando em revista até a atualidade, caminhamos por alguns períodos da Ufologia que denominaremos a partir de agora, na tentativa de ilustrar cada momento do passado. Vamos imaginar por um instante esta disciplina como um ser vivo que nasce, cresce, envelhece e morre. A Ufologia Moderna “oficialmente” nasceu em 1947, sendo o marco inicial para os ufólogos, apesar dos fenômenos aéreos sem explicação serem antiqüíssimos, ainda não existia uma disciplina categorizada, um estudo ou logia. No entanto, em 1944 foi criado o primeiro organismo oficial para documentação do fenômeno, pelo Estado Maior Superior da Força Aérea de Berlim. As aparições dos fenômenos são velhas, mas o estudo categorizado é relativamente novo.
Podemos dizer que houve o período infantil da Ufologia, na década de 50, o período da adolescência a partir da década de 1960 e posteriormente a entrada na vida adulta nos anos 70. Chegamos hoje a uma disciplina mais madura, não por menos ainda enigmática, problemática e incompreendida – características típicas dos seus 58 anos. A pergunta crucial nestes tempos de agora é saber se atravessando esta fase de velhice atual, ela culminará a um fim, a uma morte. A Ufologia morrerá? Terá um fim? Para tentar respondê-la é mister distinguir o que estamos realmente questionando. Estamos nos referindo a ela como estudo feito pelos pesquisadores referente ao contexto do fenômeno, a aparição de acontecimentos aeroespaciais inexplicados? Alguns apostam que as duas acabarão. Outros insatisfeitos acreditam em um caminho ligeiramente diferente para o fim da Ufologia. O estudo das manifestações aéreas desconhecidas se estagnará porque a expressão da fenomenologia ufológica – suas aparições – se resvalará para zero em algum dia.
Disciplina com pretensões reflexivas — A investigação ufológica pretende ingressar no seu sexagenário ainda mais forte e crítica. Uma disciplina com pretensões mais reflexivas para abordar e ampliar ainda mais seu leque de possibilidades e solidificar suas bases. Outros, porém, têm uma visão completamente antagônica e fúnebre: acreditam que ela está rumando para sua aposentadoria e posterior morte! Uma das várias razões para a concretização desse pensamento lúgubre, seria de que cada vez mais casos, tanto atuais como lendários, estão sendo postos sob rigorosa suspeita ou mesmo desbancados sob a perspectiva de um novo olhar. Um olhar que os homens de outrora em período juvenil ufológico ainda não possuíam. Uma maturidade que ainda era primitiva naquela época como ferramenta para se detectar diversas nuances e múltiplas facetas da fenomenologia ufológica. Amadurecimento este que não era propício como questionamento em modo mais rigoroso e senil. Apesar de poder ser um aparente sinal de morte da Ufologia, a verdade é que ocorrências antigas e novas devem ser mesmo revistas e revisadas, visando à busca da adição ou subtração de novos dados oriundos, pesquisas e tecnologias empregadas para a investigação ufológica.
Não devemos interpretar que casos antigos da Ufologia devam ser “gravados em pedra”, no sentido de que sejam imutáveis em suas conclusões finais e inquestionáveis ante um novo ponto de vista que contrarie seus resultados até então. Críticos abordam que justamente com a crescente detecção de fraude em casos antes tidos como verdadeiras rochas de evidência do Fenômeno UFO no planeta Terra, são evidentes sinais de que a Ufologia – como real existência e aparição de fenômenos aeroespaciais – está se definhado para a extinção. Entretanto, devemos estar cientes de que o conhecimento avança com retornos e correções de rota e sustentavelmente esta razão não seria uma grande causa para a anunciada extinção e fim da Ufologia.
Pesquisadores que estão na ativa desde décadas juvenis da Ufologia, ou os assim chamados “Ufólogos da Velha Guarda”, vez ou outra, aparecem nos círculos ufológicos, reclamando insatisfeitos das novas conclusões que atestam fraude de seus casos antigos prediletos. Ficaram evidentemente muito ligados e presos ao caso que pesquisaram ou acompanharam e notavelmente resistem em aceitar à nítida e irrevogável fraude já descoberta. Inconscientemente fortalecem os irascíveis críticos que se aproveitam de situações como esta para usar generalizações negativas em todo campo de pesquisa. Esses ufólogos pararam no tempo e não conseguem acompanhar mais os avanços modernos dentro da área. Atitudes como essas não são louváveis na moderna Ufologia que usa e pretende usar cada vez mais metodologia científica em suas pesquisas. Os ufólogos não devem ser vistos como escribas de textos bíblicos que lançam palavras que se imortalizam no tempo. Todos os casos publicados, levados à opinião pública, estão sujeitos a questionamentos, revisões ou recontagem de modo diferente. Assim funciona a ciência.
O fim da melhor foto de UFO — Aqueles que não se adaptam a este tipo de metodologia de trabalho e não aceitam críticas, deveriam guardar seus casos em suas gavetas, pois seu tempo terminou e sua mente ficou estagnada numa era ufológica de sonhos: A era juvenil da Ufologia. Fotografias clássicas de UFOs, como as de McMinnville [EUA, 1950], Adamski [EUA, 1952], Luzes de Lubbock [EUA, 1951], Barra da Tijuca [Brasil, 1952], Ilha da Trindade [Brasil, 1958], Lago de Cote [Costa Rica, 1971] e Ilha de Vancouver [Canadá, 1981], para citar apenas algumas, marcaram época e se tornaram pontos de intensa convergência de idéias e acirrados debates em um redemoinho polêmico. Será que estaremos corretos ao avaliar que as fotografias ufológicas da atualidade não mais nos impressionam tanto como as de antigamente? Ou nossa mente está mais treinada, madura e cética a ponto de, atualmente, não mais aceitarmos uma foto como uma boa evidência da existência do Fenômeno UFO? Afinal, mesmo as imagens antigas não conseguiram provar suficientemente para o mainstream científico que nossos céus são palco de intensa movimentação de fenômenos desconhecidos. Já proferia o astrônomo e pioneiro da Ufologia, J. Allen Hynek, que o velho provérbio “uma imagem vale mais do que mil palavras”, não se aplicaria à maioria das fotos sobre UFOs. Mesmo algumas das imagens antigas listadas acima não são tão nítidas, como as das Luzes de Lubbock, ou foram declaradas como fraudes, como as de Adamski e da Barra da Tijuca.
O peso evidencial das fotografias ufológicas modernas está em constante declínio e um dos fatores para sua queda crescente é o avanço, cada vez maior, em tecnologia da indústria fotográfica e informátic
a. As fraudes, sejam por qual objetivo e motivo forem, estão cada vez mais numerosas, ao passo que as declaradas fotografias autênticas estão se vaporizando e cada vez mais em declínio e escassez. A memória já falha quando queremos lembrar qual foi o último relatório técnico que tenha atestado a autenticidade da imagem de um objeto aéreo indefinido. Com o aperfeiçoamento de softwares de computadores destinados a trabalhar com computação e aplicações gráficas em geral, as fraudes ufológicas, tem crescido vertiginosamente, tanto em fotos como em vídeos.
Em décadas passadas os críticos argumentavam que se nossos céus estivessem mesmo sendo frequentemente sobrevoados por objetos sem origem – prováveis naves espaciais de seres alienígenas – o banco de fotografias de UFOs seria maior e de melhor qualidade. E por quê? Porque com tanta insistência de aeronaves sobrevoando nossas cabeças, muitas pessoas deveriam pelo menos conseguir fotos melhores do que a volumosa quantidade de imagens que só mostra luzes desfocadas e sem ponto algum de referência como parâmetro para posterior análise. Os ufólogos, a partir disso, sonharam com um dia em que as máquinas fotográficas pudessem ser tão populares e facilmente acessíveis nas mãos das pessoas em qualquer local, que a era das excelentes resoluções fotográficas de UFOs iria chegar.
O fim dos avistamentos de UFOs — A era chegou, mas a previsão sobre os excelentes registros ufológicos falhou! Com a chegada e massificação da fotografia digital pelo mundo, trouxe tanto a glória como a inglória para o mundo ufológico. Hoje temos celulares com câmeras digitais acopladas, levando a foto a todos os locais possíveis. Mesmo assim, a qualidade não acompanhou a tecnologia. Por outro lado, a nova tecnologia não fez apenas aumentar o número de fraudes ou o número de pessoas fotografando elementos bem terrenos e acreditando serem fenômenos insólitos. Na mão dos ufólogos sérios e de pessoas reconhecidamente responsáveis e honestas, esta tecnologia é uma ferramenta útil para capturar e analisar registros ufológicos. O que é notável é que mesmo as fotos em qualidade e nitidez obtidas hoje em dia, não estão sendo mais consideradas impactantes do que as de décadas atrás. As imagens não conseguiram vencer o ceticismo e a grande dúvida de saber se realmente temos em mãos um registro de fenômeno genuíno, em vista também dos grandes embustes e fraudes circundantes. Por esses motivos, os críticos declaram que se chegou ao fim a possibilidade de se obter a tão sonhada melhor fotografia ufológica e esta incapacidade seria uma das causa para o fim da Ufologia.
Um dos críticos que afiançam a morte da Ufologia é a psicóloga britânica Susan Blackmore. Por 30 anos estudando as alegações do paranormal, Susan declarou ao jornal The Guardian de 11 de agosto de 2005 que a era dos UFOs não passava de uma loucura da moda. “Mas modas prosperam em novidade e, eventualmente, isso desaparece. É levado muito tempo, mas é bom que a era dos UFOs termine. Minha predição é que irá embora por muito tempo e depois voltará”, disse. Apesar da maioria dos ufólogos não concordar com esta afirmação, a mídia parece bem preparada para aceitar a morte da Ufologia. Em 2001 foi anunciado nos jornais que o British Flying Saucer Bureau, uma das organizações mais antigas na pesquisa de UFOs, fundada em 1953, teria fechado suas portas por falta de relatos de avistamentos de UFOs e seus tripulantes. A nota foi negada, posteriormente, pelo co-fundador da organização, Denis P. Plunkett, em carta para a extinta revista UFO Magazine. Plunkett diz que foi mal interpretado por um jornalista local e que apenas tinha suspendido as atividades da organização no verão. Entretanto, pela rápida difusão da notícia e sua tradução para outras línguas, serviu para demonstrar o interesse da mídia em divulgar que a Ufologia estava em declínio.
É improvável que a ciência faça acréscimos significativos ao conhecimento do que já gerou. Não haverá grandes revelações no futuro, comparáveis às que Darwin, Einstein, Watson e Crick nos concederam
– John Horgan
Afinal, os avistamentos de UFOs e tripulantes estão terminando? Observando algumas estatísticas compiladas pelos grupos ufológicos ao redor do mundo, isso não é demonstrado. Informações, como a do grupo National UFO Reporting Center (Nuforc), indicam justamente o contrário: o acréscimo de relatórios ufológicos nos últimos anos. Outras pesquisas revelam que não há evidente acréscimo e nem definitiva queda, mas índices que flutuam ao longo dos anos. Períodos com grandes avistamentos e outros com pouquíssimos relatos. Não apresenta, então, como uma boa evidência a crítica de que a Ufologia está terminando porque os relatos estão cada vez mais escassos.
O fim da Ufologia “exclusiva” — Na opinião de outra ala de críticos, a Ufologia já terminou faz tempo. Pelo menos aquela entendida como o estrito estudo de fenômenos aéreos. Para eles, o tema perdeu sua identidade original – que era justamente a pesquisa feita inicialmente pelos militares sobre objetos aéreos desconhecidos sobrevoando nossos céus. A Ufologia se afastou praticamente disso e virou a busca por extraterrestres e não mais o estudo de fenômenos exógenos. Basicamente virou “ETlogia”. Essa crítica deve ser refletida pelos ufólogos como um exame construtivo. O campo de pesquisa conhecido comumente como Ufologia realmente sofreu alterações ao longo do tempo e incorporou diversas outras áreas circundantes, como por exemplo, os círculos nas plantações, o Pé-Grande [Big foot], canalizações, fadas, Chemtrails [Rastros químicos na atmosfera, que se acredita serem de experiências secretas do Governo norte-americano], gnomos, implantes, rods etc. Vemos, de fato, com algumas exceções, que a Ufologia agrupou campos que não são estritamente o estudo de manifestações aéreas.
Por outro ponto de vista, essas mudanças são sinais de que a Ufologia não ficou estagnada no tempo, apesar de ter falhado até o momento de convencer à “ciência oficial” de que existe um fenômeno ainda desconhecido sobrevoando nossos céus e que sumariamente está sendo ignorado. Ainda no período inicial dos estudos – quando pesquisada oficialmente por militares – chegou a ser natural atirar no lixo os relatórios que chegavam descrevendo humanóides com macacões ao lado de UFOs. Para aquela mentalidade militar da época, era puramente fantasia as narrações de tais criaturas associadas aos objetos aéreos misteriosos, que já eram notícia corrente. A Ufologia mudou muito e hoje seria inaceitável descartar tais relatos com o fito de que sejam fanta
sias. É certo que não voltará ao seu tradicional modo de pesquisa de décadas atrás. Se essa gama de áreas descritas acima se aglomerou com a Ufologia, foi certamente por um fator fundamental: ninguém ainda conseguiu responder as perguntas elementares sobre este misterioso fenômeno e muitas portas estão abertas para divagações, reflexões e hipóteses.
O que podemos depreender disso é que a pesquisa ufológica está “desprotegida”. Qualquer atividade ainda em estado de definição, que começa a se fechar e delimitar seus próprios termos, regras e leis, é sinal de que está conquistando descobertas e obtendo esclarecimentos do que antes era vago. Esse campo de pesquisa começa logo em seguida a se proteger de “invasores”, ou seja, pessoas sem qualificação e sem conhecimento do que falam. Muitas disciplinas em ciências já estão protegidas por suas leis. Para o profissional exercê-las, terá que comprovar que passou em testes ou concluir um curso superior. Nesse sentido, a Ufologia está total e completamente “desprotegida”, sendo uma área exercida por poucos e infiltrada por centenas. A razão está no âmago do seu ser, o fenômeno ainda não teve seus limites estabelecidos e esclarecidos ou mesmo provado ou reprovado em definitivo. A Ufologia sempre foi e é de intensa polêmica. Ela necessita dela como propulsão interna para seu avanço. É certo que ela movimenta, alimenta e anima esse redemoinho muitas vezes desencontrado que ruma em grande parte sem um objetivo definido e claro.
O fim do conhecimento — Apesar de tudo, os mistérios não acabarão. Se não há enigmas na nossa Terra, os homens tratarão de criar um. O estilo de viver em busca de desvendar mistérios é vital para muitas pessoas e psicológico para outros, por estar enraizado no seu subconsciente. O mundo do cotidiano ao seu redor o desestimula logo, torna-se banal e sua mente necessita de algo novo para buscar e conhecer o que ninguém conhece. A mente de um legítimo buscador opera desse modo, onde sua necessidade básica é desvendar o desconhecido. Pode-se considerar uma heresia afirmar que a humanidade terá que “inventar” algum mistério porque os legítimos mistérios do universo acabarão um dia qualquer. Mas não é bem o que pensam alguns homens da ciência.
Em 1996, o editor da revista norte-americana Scientific American, John Horgan, publicou seu livro intitulado O Fim da Ciência: Uma Discussão Sobre os Limites do Conhecimento Científico [Companhia das Letras, 1998]. Horgan, apesar de afirmar que “a busca do conhecimento é, sem dúvida, a mais nobre e significativa de todas as atividades humanas”, dispara um contraponto de que “a ciência pura, a busca do conhecimento sobre o que somos e de onde viemos, já entrou numa era de resultados decrescentes”. Para Horgan, aparentemente, os grandes mistérios já estão escassos e não haverá mais revelações para a humanidade. Ele acredita que “é improvável que a ciência faça acréscimos significativos ao conhecimento do que já gerou. Não haverá grandes revelações no futuro, comparáveis às que Darwin, Einstein, Watson e Crick nos concederam”.
Para a opinião de muitos, essa declaração é de um terrível pessimismo e falta de visão dos progressos que o homem já conquistou ao longo dos tempos e ainda conquistará. Não são poucos os críticos que afirmam que determinados ramos associados à Ufologia já estão verdadeiramente mortos, apesar de muitas pessoas continuarem alimentando-o. Estariam fazendo o papel de vendedores de mistérios, seja para obter um retorno financeiro da qual dependem como meio de vida ou mesmo porque está fortemente enraizada em suas mentes a presença do mistério como meio sem solução. A imperiosa necessidade de que tudo continue com a penumbra de enigma, para muitos, é vital. Para eles a Ufologia nunca terá um fim.
A Ufologia não pode ter fim — O que seria do mundo no momento atual se soubéssemos que os UFOs são naves espaciais avançadas pilotadas por seres de outros planetas? Fim do mistério maior! Do que viveriam os ufólogos agora? Qual seria o papel dos ufólogos nessa hipotética visão? Provavelmente perderiam seus ofícios, pelo fato de que a função de ufólogo seria particionada em diversas especialidades. Os engenheiros em aeronáutica iriam estudar suas naves com a propriedade que lhe cabem. Médicos, oftalmologistas e dentistas iriam estudar o corpo dos extraterrestres. Os psicólogos e psicanalistas estudariam sua mente. E o que fariam os ufólogos? Parece paradoxal que alguns preferirão que nunca aconteça tal cenário e que tais UFOs nunca pousem, pois tirarão suas funções como ufólogos. O que o futuro reserva para a Ufologia?
Mistérios vêm e vão, mas alguns permanecem sem solução. Este é o caso da Ufologia no momento atual. Um exemplo de mistério que está perdendo seu status na opinião pública são os círculos nas plantações. Os críticos profetizam que esse dito mistério terá o mesmo fim que o malfadado Triângulo das Bermudas. E em vistas do que tem ocorrido na atualidade com o grande volume de fraudes criadas nas plantações, esse “mistério” vem se enfraquecendo. Mas novidades sempre podem aparecer e requentar velhas histórias, sob novos mantos a impulsionar a onda. Exemplo disso são as mutilações de animais que tiveram seu auge na década de 70 e sofreram novo e impactante retorno com novas roupagens através do aparecimento do chupacabras, nos anos 90. A Ufologia terá um fim? A depender da vontade dos ufólogos, ele será outro. O fim da Ufologia provavelmente estará em si mesma, com a revelação de seus segredos algum dia e o definitivo esclarecimento sobre o que realmente é este fenômeno que tanto ocupou e ocupa a mente das pessoas.