Localizada no distrito de Kanker, no estado de Chhattisgarh, na Índia central, a pequena cidade de Charama se tornou mundialmente conhecida após a divulgação de uma descoberta arqueológica que reacendeu o debate sobre os chamados “Alienígenas do Passado”. Em abrigos rochosos próximos às aldeias de Chandeli e Gotitola, foram encontradas pinturas rupestres que, segundo alguns pesquisadores e moradores locais, poderiam representar seres extraterrestres e seus veículos de transporte. As imagens, estimadas em cerca de dez mil anos, mostram figuras antropomorfas com cabeças grandes, corpos alongados e sem traços faciais definidos, além de objetos circulares pairando acima de personagens humanos, o que muitos interpretaram como possíveis “discos voadores”.
As pinturas foram reveladas em 2014, quando o Departamento de Arqueologia e Cultura de Chhattisgarh chamou a atenção da imprensa indiana e chegou a cogitar solicitar auxílio técnico da NASA e da ISRO, a agência espacial indiana, para analisar o material. O arqueólogo J. R. Bhagat, responsável por divulgar o achado, declarou que as figuras lembravam “alienígenas como os vistos em filmes de ficção científica”, o que atraiu enorme interesse público e midiático. Moradores da região também contribuíram para o fascínio ao relatar antigas lendas sobre os “Rohela”, seres pequenos que desciam do céu em objetos redondos e levavam pessoas consigo. Essa narrativa, passada oralmente por gerações, reforçou a conexão entre as figuras misteriosas das cavernas e a hipótese de contatos antigos com visitantes não humanos.

Para os defensores da teoria dos antigos astronautas, as pinturas de Charama representam evidência concreta de que civilizações pré-históricas testemunharam seres de fora da Terra e registraram essas experiências em rochas. As semelhanças entre as figuras humanas e as representações contemporâneas de extraterrestres do tipo “grey” com cabeças grandes e olhos desproporcionais alimentam a especulação de que os artistas pré-históricos estariam retratando algo real. Além disso, os objetos circulares que aparecem sobre as figuras humanas são interpretados como possíveis representações de naves ou discos voadores, reforçando a ideia de que a humanidade teria sido observada ou até visitada por inteligências superiores há milênios.
Muitos sítios apresentam pinturas de humanos e animais em cenas cotidianas. No entanto, alguns pesquisadores se referiram a pinturas mais incomuns, como aquelas que parecem representar cangurus e girafas, que não são nativos do país, bem como criaturas híbridas de humanos e peixes. Agora, afirma-se que alienígenas e OVNIs podem ser adicionados a essa coleção.

“As pinturas são feitas em cores naturais que praticamente não desbotaram, apesar dos anos. As figuras estranhamente esculpidas são vistas segurando objetos semelhantes a armas e não apresentam feições definidas. Em especial, o nariz e a boca estão faltando. Em algumas imagens, elas são até mostradas usando trajes espaciais”, disse o arqueólogo JR Bhagat.
Bhagat, que estudou a arte rupestre, afirma que as representações recém-descobertas datam de cerca de 10.000 anos, embora o método de datação não tenha sido esclarecido. Bhagat sugere que as imagens podem representar extraterrestres e UFOs, já que as pinturas incluem grandes seres humanoides descendo do céu, alguns usando o que parece ser um capacete ou antenas, bem como uma nave em forma de disco com três raios (ou pernas) saindo de sua base.
“As descobertas sugerem que humanos em tempos pré-históricos podem ter visto ou imaginado seres de outros planetas, o que ainda desperta a curiosidade de pessoas e pesquisadores. Pesquisas extensas são necessárias para novas descobertas. Chhattisgarh atualmente não conta com nenhum especialista que possa esclarecer o assunto“, disse Bhagat ao Times of India, à época.
Entretanto, a comunidade científica oferece explicações mais convencionais. Especialistas em arte rupestre indiana lembram que o estilo esquemático e a ausência de detalhes faciais são características comuns das pinturas pré-históricas encontradas em várias partes do país. Para esses pesquisadores, as figuras podem representar danças rituais, caçadas ou entidades espirituais, e os círculos sobre as cabeças dos personagens podem simbolizar o sol, escudos, tambores ou simplesmente elementos decorativos. Segundo eles, a interpretação “alienígena” reflete muito mais o imaginário moderno e a influência da cultura pop marcada por filmes e séries de ficção científica do que uma realidade arqueológica.

Há também um componente psicológico importante: o fenômeno da pareidolia, a tendência humana de reconhecer formas familiares em padrões ambíguos. Quando observamos uma figura antiga com traços incomuns, nosso cérebro tende a associá-la a imagens conhecidas e, num mundo saturado pela iconografia dos “ETs”, é natural que enxerguemos extraterrestres onde talvez haja apenas representações simbólicas de seres humanos ou divinos. Essa sobreposição entre percepção moderna e arte ancestral é o que torna o caso de Charama tão fascinante e, ao mesmo tempo, tão controverso.
Apesar das divergências, há consenso sobre a necessidade de mais pesquisas. Até hoje, não existem estudos técnicos detalhados sobre os pigmentos usados nas pinturas, nem datações diretas por métodos científicos como espectroscopia Raman, fluorescência de raios X ou termoluminescência. A cronologia de “dez mil anos” é uma estimativa baseada em analogias com outros sítios da região, o que significa que as pinturas podem ser mais recentes. Também faltam estudos etnográficos aprofundados que documentem com rigor as tradições orais dos Rohela, distinguindo o que é mito ancestral do que pode ter sido influenciado pela exposição midiática recente.
Mesmo com as incertezas, Charama conquistou um lugar especial na ufologia contemporânea. O caso combina elementos arqueológicos autênticos, lendas locais sobre visitantes celestes e uma forte carga simbólica que alimenta tanto o imaginário popular quanto as pesquisas de campo de ufólogos. Para a ciência, trata-se de um valioso patrimônio histórico que precisa ser preservado e estudado com critérios técnicos. Para a ufologia, é uma janela para a possibilidade de que o contato com inteligências não humanas tenha ocorrido muito antes da era moderna.

Charama representa, portanto, um ponto de encontro entre a arqueologia e o mistério. As pinturas rupestres desafiam a nossa compreensão do passado e nos obrigam a questionar até que ponto as antigas civilizações registravam o que viam, o que imaginavam ou o que veneravam. Sejam símbolos de rituais, manifestações espirituais ou lembranças de encontros cósmicos, essas figuras continuam a intrigar estudiosos e curiosos do mundo inteiro. E até que as rochas de Chhattisgarh revelem todos os seus segredos, Charama permanecerá como um dos locais mais enigmáticos e provocadores da arqueologia indiana — um elo entre o humano e o desconhecido, entre a Terra e as estrelas.
Charama ocupa hoje um ponto sensível entre arqueologia e ufologia. As pinturas são reais, antigas e visualmente sugestivas; as leituras “alienígenas”, por sua vez, ainda são conjecturas. O caminho para transformar curiosidade em conhecimento passa por pesquisa interdisciplinar, transparência de dados e respeito ao contexto arqueológico. Enquanto isso, o caso segue como excelente pauta para discutir como interpretamos imagens do passado à luz dos nossos mitos modernos sobre o cosmos.




