Não foi por meio do seu telescópio refletor que Cedric Allingham certificou-se de que havia civilizações extraterrestres. O seu livro Flying saucer from Mars começa por estas palavras simples, mas categóricas: “On February 18, 1954, I met a man from another world” [“Em 18 de fevereiro de 1954, encontrei um homem doutro mundo”]. Grande parte do livro de Allingham é consagrada à revelação de Adamski, contida na obra que escreveu com Desmond Leslie, Flying saucers have landed.
Tendo-o lido, Allingham certamente identificou-se com Adamski – principalmente com relação à Astronomia -, passando a almejar ao mesmo posto do contatado, ou seja, o de alguém escolhido para protagonizar um acontecimento histórico para a Humanidade terrestre. Isso é atestado pelo fato deveras significativo de que, até o momento de avistar um disco voador tripulado pelo ser marciano com quem teve contato direto, Allingham jamais viu o que quer que fosse em matéria de engenhos voadores – assunto pelo qual só começou a interessar-se depois de ler o livro de Leslie e Adamski.
Conta Cedric que, na manhã de 18 de fevereiro de 1954, conduzia seu caravan-trailer – automóvel especialmente equipado para o campismo – por uma região do norte da Escócia, entre Lossiemouth e Buckie, ao longo do litoral. Era seu intuito estudar o habitat das aves da região. O lugar que atraiu os passos do ornitologista amador era ermo. Por isso, durante algum tempo, não avistou viva alma. A certa altura, porém, distinguiu um homem que caminhava em sentido contrário ao dele. Continuou a andar, até que, dez minutos depois de ter visto o tal homem que lhe pareceu um pescador, sentiu a presença no ar de alguma coisa: um objeto voador.
Cedric começou por escutar um suave ruído que lhe despertou a atenção. Supôs, a princípio, tratar-se do vôo de alguma ave de grande porte. Mas, quando olhou para o céu, ficou pasmado ao constatar que estava na presença de um disco voador. Sem perder a presença de espírito, apontou a objetiva de sua máquina fotográfica e disparou várias vezes, obtendo as imagens que ilustrariam mais tarde o seu livro, no qual se lê: “Na verdade, era um magnífico engenho aéreo e o seu acabamento causaria, certamente, inveja aos nossos construtores de aviões. Tinha cerca de 4 metros de diâmetro e talvez 6 de altura”,
ALUMÍNIO POLIDO – De acordo com Allingham, o casco do UFO, a parede central e a cúpula superior pareciam formados por uma chapa metálica – mas o contatado não percebeu sinais de dobradiças ou cavilhas. Ele não soube dizer de que metal era feito: a cor e o brilho assemelhavam-se aos de alumínio polido, posto que devesse ser, com certeza, muito mais duro. No objeto havia duas filas visíveis de vigias, dispostas estas em grupos de três em torno da parede central, por cima da qual se notava um pequeno rebordo. Do cimo da cúpula saía uma haste vertical escura semelhante a um pára-raios, da qual Cedric não conseguiu descobrir a função.
O aparelho esférico de aterrissagem, localizado em três pontos no interior da base do casco, dir-se-ia feito de qualquer material um tanto elástico, de consistência semelhante à da borracha. “Sabia estar em frente de um ser doutro mundo. Acredito que este ser, quem quer que ele fosse, devia ter, de longe, mais conhecimentos científicos do que o mais culto homem terrestre. Mas mantive uma atitude prática para a experiência”, declarou. Ao aproximar-se do disco, uma espécie de poria corrediça situada na parte inferior deslizou para trás e um homem saltou, fácil e graciosamente, ao chão.
Como pareceu para o contatado que o ser iria avançar em sua direção, ele saudou-o com o braço. O ente fez o mesmo. “E, então, durante algum tempo, encaramo-nos um ao outro. Presumivelmente, ele linha visto outro homem da Terra, mas eu nunca vira um homem do espaço”, ressaltou. Nos detalhes essenciais, contudo, os dois, segundo Cedric, eram semelhantes. Possuíam praticamente a mesma estatura: cerca de 1,80 m. Baseando-se nos padrões terrestres, o contatado afirmou que ambos eram mais ou menos da mesma idade (32 anos) e o seu cabelo, como o de Cedric, era castanho e curto.
“A pele, porém, era de cor estranha, assim como um pardo carregado. Mesmo assim, estivesse ele vestido com roupas terrestres, duvido que tivesse qualquer dificuldade em se passar por um inglês. A única diferença acentuada era sua lesta, mais alta do que a de qualquer homem que eu conheça”, comparou. Mas, ainda que fisicamente semelhante, o traje dele era absolutamente diferente. “Nestes tempos de ficção científica, muitos de nós temos visto desenhos de vestimentas do espaço em uma só peça, que os heróis envergam enquanto andam a saltar de um mundo para outro”, lembra. Assaz estranhamente, os escritores de ficção não estão longe da verdade.
VÔO INTERPLANETÁRIO – Naquele caso a vestimenta do homem do espaço era, realmente, muito semelhante àquela das estórias. Cobria-o completamente, do pescoço aos pés, e apenas as mãos ficavam livres. O contatado não notou um calçado definido: “Os pés estavam como que encaixados no vestuário. A própria indumentária lembrou-me uma cota de malha muito apertada, presumivelmente isoladora e certamente flexível”.
Havia ainda outra coisa que atraiu, imediatamente, a atenção de Cedric: o nariz, ou, antes, alguma coisa ligada a ele. O contatado atentou para o fato de que um dos sérios problemas do vôo interplanetário é o de se caso conseguirmos alcançar outros mundos, como haveremos de respirar? “E se seres doutros mundos nos visitarem, como respirarão em nossa atmosfera? O planeta Vênus, como sabemos, tem uma atmosfera em que predomina o dióxido de carbono, enquanto que o ar de Marte é constituído de azoto e contêm pouco oxigênio livre”, completou.
Continuando a descrever seu encontro com o ser que descera do disco voador, Allingham refere-se, em seguida, ao aparelho respiratório – chamemos-lhe assim – observando que, enquanto esteve em presença do homem do espaço, a respiração deste se fazia pelo nariz e jamais pela boca. Trocada a primeira saudação, iniciou-se o diálogo sem palavras. Mais ou menos como no caso de Adamski e o ser venusiano. Com Allingham, porém, não houve colóquio telepático. Apenas desenhos e sinais com as mãos.
O homem do espaço sorria para ele, com os olhos e os lábios, fato que o surpreendeu. Allingham desenhou, então, um diagrama em que figurou o Sol, com seus raios e os três planetas mais próximos dele, isto é. Mercúrio, Vênus e a ferra, com as respectivas órbitas representadas por três círculos. Foi por este processo que Cedric acabou por saber que o misterioso visitante não provinha de Vênus, mas sim de Marte, cuja órbita também traçara.
PARTICULARIDADES SOMÁTICAS – Para Allingham não havia, passado despercebido o fato de que o disco voador à sua frente não era exatamente igual ao visto e fotografado por Adamski, tampouco o homem do espaço a quem enca
rava era fisicamente semelhante àquele descrito e desenhado pelo outro contatado. Até porque o venusiano não respirava por meio de qualquer aparelho, ao passo que o marciano não mostrava o nariz em contato direto com o ar livre.
Dizendo, em voz alta, o nome em Inglês dos planetas, Allingham fez com que o marciano os repetisse, também em voz alta – e o som emitido pelo homem do espaço convenceu-o ainda mais de que não se (ratava, de modo algum, de um ser terrestre, pois a tonalidade da voz era diferente de ludo quanto, até então, ouvira. De experiência em experiência. Allingham adquiriu a certeza absoluta de que esteve na presença de autêntico marciano. Embora distintos dos homens da ferra, por certas particularidades somáticas, os seres de Marte, afinal, seriam nossos semelhantes.
Por mais esforços que fizesse, lembrando-se das experiências telepáticas efetuadas com êxito por Adamski, Allingham não conseguiu fazer-se entender pelo seu interlocutor tão bem quanto desejava. Achou graça de si próprio, e o outro riu-se também. Desistindo de obter informações de caráter pessoal, tentou, então, obtê-las acerca do engenho voador em que o marciano viajava. Assim, chegou á conclusão de que o disco voador era acionado por uma poderosa força, talvez baseada em energia nuclear.
Nada de concreto, porém, resultou das tentativas de informação, ademais porque o marciano não consentiu (nisto foi muito menos generoso do que o venusiano de Adamski) que ele observasse o engenho voador à sua vontade e, muito menos, que nele penetrasse. Para demonstrarão marciano que era amigo dele, Allingham lhe ofereceu a caneta de tinta que serviu para os citados desenhos no seu bloco de notas – presente que o marciano pareceu agradecer, mas não retribuiu. O ET guardou a caneta num bolso exterior do vestuário – o que lembra que as roupas do venusiano de Adamski não tinham sinais de bolsos ou, sequer, de costuras.
A certa altura, o marciano fez-lhe uma pergunta. Allingham não entendeu suas palavras, mas compreendeu os gestos. O marciano pretendia saber se os povos da Terra estariam na iminência de desencadear outra guerra. Respondeu, do modo que pôde, que esperava que não houvesse guerra, embora não o pudesse afiançar. O marciano pareceu entender a resposta e, por alguns momentos, ficou sério e apreensivo. Então, lembrando-se dos famosos canais marcianos que o astrônomo Schiapparelli afirmou ter descoberto, Allingham tentou saber algo a respeito. Tez riscos e gestos precisos e acabou por convencer-se de que Schiapparelli tinha razão.
A superfície de Marte seria cortada por canais feitos por marcianos e alimentados por água contida numa faixa central, com zonas de vegetação de ambos os lados. Depois de tentativas para esclarecer-se a respeito da existência ou não de mares em Marte, (ai como aquele que estava ali à vista de ambos (o encontro entre Allingham e o marciano se deu perto de Lossiemouth, na costa escocesa), chegou à conclusão de que no Planeta Vermelho não há mares.
BREVE INTERROGATÓRIO – Prosseguindo em seu interrogatório. Cedric soube que o marciano estivera também em Vênus, que Mercúrio é desabitado e inabitável, que venusianose marcianos desembarcam na Lua, onde, certamente, possuem bases. Gostaria de saber muito mais, mas o marciano não se mostrou disposto a perder mais tempo ali. Chegara, pois, o momento da despedida. Feitas algumas fotografias do engenho voador, Aliingham fotografou o marciano, quando este lhe voltava às costas e se encaminhava para a nave.
A fotografia, infelizmente – como todas as demais em que aparece um ser extraterrestre – não é de perfeita nitidez, mostrando apenas o marciano mais de costas do que propriamente de perfil, vestindo um traje de peça única, aparentemente flexível. De qualquer modo, foi uma das primeiras que se fez de um alegado “habitante de outro mundo”, pois que nem o próprio Adamski conseguiu fotografar o ser venusiano.
Com um misto de júbilo e decepção, Allingham assistiu à partida do marciano, que dele se despediu de mãos erguidas, e viu o disco voador afastar-se, primeiro devagar, depois velozmente, até desaparecer no céu. Eram precisamente 16h25. A entrevista, demasiadamente curta para quem tanto queria saber e tanto ficou a ignorar, havia durado cerca de meia hora. Pouco depois, Allingham tomou a ver o homem que lhe parecera um pescador. Conversando com o mesmo, soube que este também vira o aparelho. O contatado pediu-lhe uma declaração por escrito de que testemunhara o encontro. O homem chamava-se James Duncan e era, efetivamente, um pescador. Com esse álibi, Cedric que faleceu em setembro de 1956, num hospital da Suíça, vítima da tuberculose – pretendia não ser visto como um caprichoso inventor de uma história mirabolante.
Cedric Allinghan
FILHO ÚNICO DE UM rico industrial de tecidos descendente de uma estirpe tradicional de ingleses, Cedric Allingham foi fruto direto do colonialismo britânico. Nasceu em Bombaim, na índia, indo depois para a África do Sul, onde o pai, retirado dos negócios, fixara residência. Por fim, foi para a Grã-Bretanha, onde passou a viver definitivamente. Uma vez lá, internaram-no num sanatório em função de uma grave doença, que o inutilizou durante dois anos para qualquer atividade intelectual e física. Em 1941, envergou a farda do Exercito e foi prestar serviço militar no Oriente Médio, onde continuou a maior parte do tempo, até o término da conflagração.
Foi durante sua permanência naquela região, onde as noites são claras e o céu deslumbrante, que Allingham interessou-se por Astronomia. O clima quente não o convidava a deitar-se cedo e, assim, na falta doutras seduções ambientais, entretinha-se o observar os astros que nas regiões desérticas fulguram mais do que noutras partes. Nove semanas antes da rendição da Alemanha, o navio em que os pais dele viajavam foi torpedeado. Órfão, o jovem astrônomo amador passou então a dedicar-se com mais afinco do que nunca ao seu entretenimento favorito.
TELESCÓPIO REFLETOR – Viajando muito pelas Ilhas Britânicas e por todo o continente europeu, Cedric passou também a consagrar sua atenção à vida dos pássaros e animais. Nos intervalos das suas andanças de ornitologista, escreveu contos de ficção para jornais e revistas, assinados com um pseudônimo. Possuía um cottage no Yorkshire, região em que gostava de passar temporadas repousando em contato com a natureza. Lá, montou um pequeno observatório astronômico, munindo-se de um telescópio refletor de 25 cm. Cientista rudimentar, sua atividade emparceira-se com a de George Adamski. Para Allingham, a Astronomia era um hobby, até que, um dia, convenceu-se definitivamente de que nem só a Terra é habitado, Ele foi autor do livro Flying saucer from Mars em que relata o seu encontro com um “homem” de outro mundo.