Nasa busca em Carajás, no Pará, pistas sobre vida no planeta vermelho. A Nasa procura no Pará pistas sobre a vida em Marte. Uma das maiores reservas mundiais de minério de ferro, a Serra das Carajás apresenta características mineralógicas similares às do planeta vermelho e é um dos locais mais antigos da Terra a abrigar estruturas biológicas primitivas.
O raciocínio é simples: se, sob determinadas condições, houve vida ali nos primórdios da formação dos continentes, é provável que tenha havido também no astro vizinho, desde que se saiba onde buscar.No Sistema Solar, Marte é o grande candidato a abrigar ou ter abrigado vida. Como essa forma de vida não se apresentaria na forma de um homenzinho verde acenando para um satélite, mas, muito provavelmente, como estruturas microscópicas, saber o que e onde procurar é a chave para a descoberta.
Por isso, a Agência Espacial Americana se dedica ao estudo de campo em Carajás e também numa região da Austrália. A idéia é pesquisar ao máximo essas áreas para saber exatamente que condições propiciaram o surgimento de vida e onde elas se repetiriam em Marte.
O projeto é conduzido por um grupo de oito especialistas, entre eles o geólogo brasileiro Carlos Roberto de Souza Filho, da Unicamp.“Usamos ambientes análogos na Terra para encontrá-los em Marte”, explicou Souza Filho, que esteve em Carajás junto com os outros cientistas do projeto há um mês. “Procuramos por lugares muito antigos onde tenha sido verificada a presença de vida primitiva”.
Estudamos locais onde existem minerais específicos que teriam contrapartida similar em Marte e que poderiam ser facilmente detectados por satélites e robôs. A região da Serra dos Carajás se formou há 2,75 bilhões de anos. Lá, os cientistas encontraram indícios muito fortes da presença de cianobactérias — estruturas de vida muito primitivas que existem até hoje mas que existiram também nesse passado remoto.As cianobactérias de Carajás são associadas a formações ferríferas, especialmente jaspelito, intercaladas por rochas basálticas. Marte está repleto dessas rochas.
“Estamos voltando nossos sensores para Marte para enxergar essa intercalação de basalto com formações ferríferas”, contou o especialista brasileiro. “Se for verificada a presença do jaspelito, é grande a chance de encontrarmos um ambiente que teria sido propício à formação de algum tipo de vida primitiva”. Essa forma de deposição mineral encontrada em Carajás indica que, no passado, na época da formação dos continentes, teria havido ali grandes quantidades de água. Já está comprovado também que houve água no passado de Marte.
“A água é o elemento fundamental”, disse Paulo Souza, cientista brasileiro integrante da missão Mars Exploration Roover, da Nasa, que levou ao planeta vizinho os robôs Spirit e Opportunity. “Já encontramos bactérias aqui na Terra vivendo nas condições mais inóspitas, no fundo de oceanos, em fumarolas, em lugares altíssimos quase sem oxigênio, em temperaturas acima dos 100 graus Celsius e abaixo dos 50 graus Celsius negativos. Mas não se conhece forma de vida que não dependa direta ou indiretamente de água. Normalmente, quando encontramos água, encontramos vida.
É a nossa melhor pista. Como houve muita água em Marte, e nossa missão comprovou isso, é provável que tenha havido vida”.Contatos imediatos com bactérias marcianasNum futuro próximo, quando se vislumbra a possibilidade de trazer amostras minerais de Marte para a Terra, os estudos tendem a se aprofundar. Instrumentos que não puderam ser miniaturizados para serem acoplados aos robôs poderão ser usados nas análises. Por enquanto, Carajás é um dos maiores laboratórios na Terra para os estudos marcianos. As amostras recolhidas por lá estão sendo estudadas na Nasa e na Unicamp.Uma outra expedição à região está prevista. Souza é otimista. “O que posso afirmar hoje é que Marte foi habitável, tinha nutrientes, água líquida e, por isso, era mais quente. A atmosfera não seria um problema já que bactérias vivem nos mais diversos ambientes”, disse. “Mas o ET provavelmente era bem menor do que aquele que habita nossa imaginação. Nosso contato imediato será com uma bactéria.”