
Um dos aspectos mais movediços da Ufologia e separar o fenômeno das abduções do contai ismo, pois há uma ignorância geral em relação ao que venham a ser estas coisas. Ufólogos iniciantes – e muitas vezes até veteranos – não sabem até onde uma experiência pode ser rotulada de abdução ou de contatação. Por conseguinte, é bastante difícil dizer quando uma pessoa é abduzida ou contatada. Mais complicado ainda é pesquisar esses dois fenômenos.
Em linhas gerais, no entanto, pode-se entender a diferença entre ambos como o fato de que os abduzidos são aqueles indivíduos que tiveram experiências físicas de natureza extraterrestre, enquanto os contatados são aqueles cujas experiências são apenas subjetivas. Por exemplo, abduzido é a pessoa levada fisicamente a um UFO ou a um local fora da Terra, uma ou mais vezes, mesmo que sua vivência tenha também aspectos subjetivos entremeados ao corpo dos acontecimentos.
Já o contatado é a pessoa que afirma estar em situação privilegiada entre os humanos, através da qual estabelece algum vínculo com seres não terrestres. No entanto, nesses casos, nunca ou muito raramente os recipientes de tais alegadas experiências têm alguma evidência física de que elas realmente se processaram. Em geral, utilizam-se da credulidade no meio ufológico para descreverem fatos que não podem ser comprovados. Os casos de contatados são, por isso mesmo, imensamente mais numerosos do que os de abdução.
Em muitas ocasiões falamos da dificuldade de se comprovar experiências de pessoas que se dizem contatadas. Na maioria das vezes, o difícil mesmo é acreditar nas estórias que elas contam. Esses indivíduos alegam, normalmente, ter poderes extraordinários c, justamente por isso, impossíveis de serem medidos ou verificados de alguma forma. Alguns deles atingem bastante notoriedade com suas declarações de contato, como por exemplo, os senhores Urandir Fernandes de Oliveira e Carlos Paz Wells. O primeiro, dono de um horário no programa vespertino Brasil Verdade [Veja UFO 54, editorial e textos], apresenta-se como receptor de verdades absolutas sobre extraterrestres que só ele detém. Chega a afirmar “conhecer o idioma dos ETs”, de acordo com ele próprio, como se só houvesse uma língua falada pelos inúmeros seres do espaço…
CREDIBILIDADE EM BAIXA – Já o segundo, líder de uma instituição chamada Projeto Amar, como outros ditos contatados, alegam conseguir o feito de marcar encontros com discos voadores e seus tripulantes – que nunca são satisfatoriamente documentados. Paz Wells vai mais longe, afirmando ser capaz até de viajar a outros orbes do universo… Evidentemente, não apresenta provas de suas alegações, assim como Urandir e tantos outros indivíduos de semelhante repertório.
A Ufologia clássica, aquela que se preocupa em obter provas para confirmar a atuação de extraterrestres cm nosso meio, vê com extrema reserva situações como essas, feitas também por milhares de pessoas que, cm todo o mundo, afirmam tais coisas sem nunca se darem ao trabalho de provar sua veracidade. Internacionalmente, há vários movimentos para se tentar isolar a pesquisa ufológica desse tipo de manifestação. Essa \’assepsia\’ visa excluir tais indivíduos das discussões sérias sobre a temática dos UFOs. Se isso é correto ou não, este é outro assunto. O fato é que, de forma geral, a credibilidade dos chamados contatados está em baixa – e isso também se aplica ao Brasil, Ao mesmo tempo, a Ufologia promove uma valorização dos conhecidos abduzidos, pessoas que, ao contrário dos contatados, podem ter suas experiências confirmadas e provadas pelos mais diversos meios. São, em geral, homens e mulheres que foram levados a bordo de UFOs involuntariamente por ETs, em situações que fugiram ao seu controle — por isso mesmo chamadas de raptos ou seqüestros alienígenas. Em apenas cerca de 10% desses casos tais pessoas puderam se recordar de suas experiências conscientemente, como os seqüestrados brasileiros Antonio Villas Boas e João de Freitas Guimarães, por exemplo.
A grande maioria dos abduzidos clássicos – como Elias Seixas. Antonio Carlos Ferreira, Luly Oswald e Jocelino de Mattos só puderam ter suas histórias apuradas com o uso de hipnose regressiva, uma técnica médica reconhecida que resgata informações existentes no inconsciente das pessoas mesmo quando o consciente está apagado. Curiosamente, as experiências pelas quais essas e outras milhares de indivíduos em todo o mundo passam seguem alguns padrões já estabelecidos: ora os seres raptores são os mesmos, ora o modus operandi dos seqüestros é o mesmo, e assim por diante. Enfim, podem ser analisados objetivamente, de forma oposta, os casos de contatismo se processam de maneiras diversas entre si e em circunstâncias bastante improváveis.
EXPERIÊNCIAS FRAUDADAS – Nas abduções, há a possibilidade de se apurar informações relevantes para a Ufologia e para a Humanidade. Mas no caso dos contatados, as experiências que alegam não formam padrão algum e não contribuem significativamente para o esclarecimento do Fenômeno UFO até porque tais experiências são geralmente fraudadas e mistificadas por eles. Estranhamente, cada contatado afirma um tipo de coisa: estar em contato com seres extraterrestres de origens diferentes, que têm nomes e formas físicas diversas, e que afirmam coisas distintas. Há acontecimentos extremos em que determinados contatados imitam outros mais famosos, copiando suas declarações, os nomes dos ETs com quem alegam estar em contato, e os planetas de onde viriam etc.
Assim, torna-se absolutamente clara a diferença que a Ufologia faz entre abduzidos e contatados, para que não haja confusão entre essas categorias de pessoas. E há um agravante: raramente os contatados têm suas experiências confirmadas, pois, geralmente, procuram obstruir o trabalho dos ufólogos para que suas afirmações não possam ser nem atestadas, nem desmascaradas. Há uma classe especial de contatados, entretanto, que oferece um subsídio de ordem psicológica à Ufologia. Esta é formada por pessoas que tiveram efetivamente uma experiência de abdução em suas vidas, que pôde ser atestada pelos métodos à disposição da Ufologia. Entretanto, após esta primeira e única experiência, passam a alegar que estão cm contato permanente com ETs e que – segundo afirmam alguns elementos em estado mais crônico – estes são até seus amigos…
Esta é a chamada síndrome do contatado, muito freqüente em indivíduos de todo o planeta que, após uma abdução de verdade, criam fantasias movidos pelos mais variados mecanismos neurológicos. Alguns casos clássicos têm entre seus personagens centrais pessoas como George Adamski, Claude Fontaine e Eduard “Billy” Meier. No Brasil, há também alguns casos conhecidos dessa natureza. Mesmo assim, é patent
e que a Ufologia, no que tange aos abduzidos e afins, é uma área ainda sem grandes respostas e em processo de formação. Um bom começo é justamente a referida assepsia no setor, isolando-se do meio ufológico indivíduos ou estórias infundadas.
No Brasil, ufólogos de norte a sul têm se empenhado cm desmascarar indivíduos de caráter dúbio que iludem platéias de congressos ufológicos com idéias de que são especiais ou até mesmo “escolhidos” pelos ETs, como chegam ao disparate de afirmar. Numa primeira instância, a Comunidade Ufológica Brasileira tem decidido não mais convidar tais pessoas a comparecerem em eventos no setor, especialmente na condição de conferencistas. Mais para frente, o empenho será em mostrar os aspectos fraudulentos de cada indivíduo.
De qualquer maneira, o que se pretende não é uma caça às bruxas ou uma guerra civil dentro da Ufologia. O que se deseja é impedir que indivíduos mentalmente perturbados sejam confundidos com ufólogos sérios afirmando serem capazes de coisas tão implausíveis como viajar a Alfa Centauro em portais dimensionais, energéticos ou xendras. O que se combate é o surgimento de novas seitas messiânicas baseadas em experiências pessoais de gurus perigosos e apocalípticos. Dessa forma, esperamos que o leitor consiga separar o joio do trigo.