Lembro da primeira vez em que o conceito de outro mundo entrou na minha mente. Foi durante uma caminhada com meu pai por nosso jardim no Sri Lanka. Ele apontou para a Lua e me disse que pessoas haviam caminhado nela. Fiquei atônito. De repente, aquela luz brilhante virava um lugar que se podia visitar. Crianças em idade escolar podem ter uma sensação parecida quando vêem fotos de uma paisagem marciana ou dos anéis de Saturno. Em breve, suas visões de mundos alienígenas poderão não se confinar ao nosso Sistema Solar.
Após um século de tentativas, os astrônomos detectaram um exoplaneta – planeta orbitando uma estrela normal que não o Sol -, em 1995. Agora, estão encontrando centenas desses mundos. No mês passado, a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) anunciou que 1.235 novos possíveis planetas foram observados pelo telescópio espacial Kepler. Seis deles circulam uma estrela e as órbitas de cinco caberiam na de Mercúrio. Das medições de suas massas e tamanhos, podemos inferir do que são feitos: gases, gelo ou rochas. Os astrônomos têm conseguido medir a temperatura desses orbes, com telescópios no espaço e, recentemente, com instrumentos em terra, como meus colegas e eu fizemos.
Há dois anos e meio, captamos as primeiras imagens diretas desses mundos. Como essas estrelas brilham perto das cinzas planetárias que se aglomeram ao redor, o sucesso exigiu inovações. Uma ferramenta fundamental é a tecnologia óptica adaptativa que tira a cintilação das estrelas, proporcionando imagens mais nítidas. O ponto crucial dessa busca é: nosso mundo será exceção ou norma? Parece absurdo, se não arrogante, pensar que o nosso é o único a abrigar vida na galáxia. É possível que a vida seja comum, mas que a vida “inteligente” seja rara.
Evidentemente, a vasta maioria dos mundos extrassolares descobertos até agora é muito diferente do nosso. Muitos são gigantes gasosos, alguns têm um calor fervente, outros são perpetuamente gelados. Apenas um punhado tem um tamanho próximo da Terra e só alguns desses podem ser rochosos. Os astrônomos esperam encontrar dezenas de planetas que sejam do tamanho aproximado da Terra. Alguns provavelmente estarão na chama zona habitável, onde as temperaturas sejam compatíveis com a água em estado líquido. A descoberta de “gêmeas da Terra” inevitavelmente trará perguntas sobre a existência de vida alienígena.
Duro golpe no ego
Detectar sinais de vida extraterrestre não será fácil, mas pode ocorrer durante meu tempo de vida, se não na próxima década. As evidências podem ser circunstanciais no início e gerar interpretações alternativas. Podem ser precisos anos de coleta de dados e a construção de novos telescópios. A maioria das pessoas terá outras preocupações, enquanto cientistas trabalham. Mas se um sinal de rádio extraterrestre for detectado, seria um momento impactante. Mesmo que os conteúdos da mensagem permaneçam elusivos por décadas, saberíamos que há alguém “inteligente” na outra ponta.
Chegue como chegar, a primeira evidência definitiva de vida extraterrestre marcará um ponto de virada em nossa história intelectual, rivalizada apenas, talvez, pela teoria heliocêntrica de Copérnico ou a teoria da evolução de Darwin. Se a vida pode brotar em dois planetas de maneira independente, por que não em mil ou mesmo 1 bilhão de outros? As ramificações de descobrir que o nosso não é o único mundo habitado provavelmente serão sentidas em muitas áreas do pensamento e do esforço humano – de biologia e filosofia a religião e arte.
Alguns temem que descobrir vida extraterrestre, especialmente se esta se revelar possuidora de tecnologia incrível, fará nos sentirmos pequenos e insignificantes. Parecem temer que isso constitua um golpe em nosso ego coletivo. Eu sou otimista. Pode levar décadas após os indícios iniciais de vida extraterrestre para os cientistas juntarem evidências suficientes para ter certeza ou para decifrar um sinal de origem artificial. As ramificações plenas da descoberta poderão não ser sentidas por gerações, o que nos dará tempo para nos acostumar com a presença de vizinhos galáticos. E saber que não estamos sós talvez nos dê o empurrão de que precisamos para amadurecer como espécie.