Seriam os UFOs um mito moderno? Dizia Carl Gustav Jung – antes de vasculhar o problema dos discos voadores à luz de outras implicações, que não somente as psicológicas – que o homem em sua crescente distância da fé num plano divino, cada vez mais caracterizada pelo apego às riquezas materiais e desprezo pelas crenças religiosas, tendia a procurar no céu objetos insólitos para servirem como ponto de apoio. Isso foi na fase inicial dos estudos ufológicos, quando a divergência de idéias encontrava-se no auge da euforia e as hipóteses variavam entre uma possível origem física dos discos voadores ou um efeito puramente psíquico.
Ao mesmo tempo, diversificadas maneiras de manifestação de tais fenômenos iam apresentando cada vez mais subsídios, acrescentando dia-a-dia um ponto a mais nas implicações de sua atuação. Jung enquadrava-se na linha de interpretação puramente psicológica por força dos maiores recursos de que ele próprio poderia dispor. Contribuiu assim com a Ufologia, no tocante à análise psicológica dos depoimentos. Hoje, nenhum ufólogo de pensamento científico objetivo nega que significativa porcentagem dos casos de aparição sejam meras atuações da mente do homem. A psicologia e a parapsicologia constituem atualmente dois grandes recursos analíticos para a Ufologia. Mas os nítidos traços físicos e fisiológicos deixados por UFOs permitiram amplitude ao conceito dos discos voadores, inferindo-se a conclusão da verdadeira realidade de objetos materiais, oriundos de planos ainda não definidos, saídos da alta tecnologia desenvolvida por inteligências privilegiadas.
UFOs versus Psicologia
Na época de Jung, os fatos já começavam a deixar dúvidas insinuando a existência concreta de engenhos desconhecidos, porém, a gama de fenômenos não evidenciaria ainda uma hipótese totalmente distanciada do plano psicológico. Entretanto, a fase já previa o futuro, acontecimento de incidentes mais palpáveis. Ao compor sua grande obra Um Mito Moderno, Jung sentiu que alguma coisa acabaria por alargar o conceito ufológico, por isso não titubeou em deixar uma porta aberta ao futuro por onde entrariam outras idéias, das quais a sua seria associada. A partir daí, muitos afirmaram que Jung havia pecado quando procurou enquadrar os UFOs nas causas da psicologia. Mas não, apenas transmitiu as bases do estudo de discos voadores, relativo à validade da prova testemunhal. Não há dúvida de que Jung, em certos períodos de suas teorias, deixou margens ao mal entendimento, talvez justamente por tê-las lançado tomando por base apenas a matéria de sua especialidade.
Em nosso opúsculo Discos Voadores e Noções de Ufologia [Edição independente, 1977], comentávamos sua observação de que “quanto mais religioso, cartesiano e burguês seja um homem, maior tendência terá de avistar objetos nos céus; o homem precisa de sua religião”. Sem dúvida que precisa, mas a incidência de avistamentos ufológicos jamais poderia ser limitada a essa idéia. O próprio tempo provou isso. Jung pôde logo adaptar suas teorias e torná-las tolerantes, quando na própria introdução de Um Mito Moderno sobre Coisas Vistas no Céu [Editora Vozes, 1991], preparou a mentalidade de seus adeptos. Dizia ele: “A documentação que pude tomar conhecimento até agora, isto é, nos últimos dez anos, legitima igualmente os dois pontos de vista; num dos casos é um acontecimento objetivamente real, portanto físico, que constitui o ponto de chamada do mito que desde então passa a acompanhar; no outro caso, é um arquétipo que cria a visão correspondente. A estas questões causais torna-se necessário acrescentar uma terceira possibilidade, a de uma coincidência sincronística, isto é, acausal, mas provida de sentido, coincidência que sempre preocupou os espíritos desde Gelineux, Leibnitz e Schopenhauer.
O incansável pensador tinha uma forma muito peculiar de ver o Fenômeno UFO, e continua em sua obra: “Esta última maneira de ver as coisas impõe-se particularmente para os fenômenos aqui estudados, pois se relacionam com certos processos psíquicos de natureza arquetipal. Como psicólogo, não disponho de meios que me permitam contribuir eficazmente para a resolução do problema da realidade ou não-realidade física dos discos voadores.Posso apenas debruçar-me sobre o inegável aspecto psíquico do fenômeno e contentar-me portanto, no que se segue, como ocupar-me quase exclusivamente das suas incidências psicológicas”.
Vê-se que Jung reconheceu a falta de recursos e informações para admitir outro aspecto que não apenas o psicológico. Com o tempo, isso ficou evidenciado. Note-se posterior pensamento do psicanalista: “Observaram-se perfeitamente imóveis ou a velocidades que poderiam atingir 15 mil km/h. Finalmente, a sua aceleração seria tanto que um ser humano eventualmente encarregado de dirigir tal engenho seria fatalmente aniquilado”. A obra foi composta em 1958 e pouco mais de dez anos depois o Projeto Apollo lançava ao espaço naves tripuladas que chegavam a atingir 40 mil km horários! Mais tarde, Jung foi nomeado assessor de um dos maiores centros particulares de pesquisa de discos voadores, nos Estados Unidos, a Aerial Phenomena Research Organization (APRO). Ele terminou honrando sua fama de grande nome da psicanálise com a opinião emitida abaixo, publicada na obra Mais Veloz Que a Luz [Editora Melhoramentos, 1976], de Johannes Von Buttlar.
A hipnose tem sido considerada uma controvertida técnica em análise de casos da chamada abdução. Há muita polêmica nos meios parapsicológicos quanto à possibilidade de o hipnólogo agir livremente sobre a vontade do hipnotizado. Não existem dados que assegurem estar o sujeito, durante o transe, de posse de sua vontade
Buttlar dizia: “Um esclarecimento puramente psicológico é excluído pelo fato de que, como se sabe, um grande número de observações não podem ser explicadas através de fenômenos naturais… Se a origem extraterrestre dos UFOs puder ser comprovada, isso poderá ter a mesma influência sobre a raça humana que a tecnologia avançada do mundo ocidental exerceu sobre as culturas primitivas. Tal como a Pax Britannica conseguiu pôr fim às rivalidades entre as tribos africanas, também o nosso mundo poderia acabar enrolando a Cortina de Ferro para jogá-la num monte de lixo, juntamente com os milhões de toneladas de armas de fogo, navios de guerra e munições”.
Hipnose e a Vontade do Paciente
Se a hipnose tem sido considerada uma controvertida técnica em análise de casos da chamada abdução – seqüestro ou rapto de seres humanos por UFOs –, é importante discuti-la sob alguns aspectos. Há muita controvérsia nos meios da parapsicologia quanto à possibilidade de o hipnólogo
agir livremente sobre a vontade do hipnotizado. Não existem dados que assegurem estar o sujeito, durante o transe, de posse de sua vontade. Se vontade significar algo que move alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, não dependerá dela o ato do indivíduo movido pela sugestão tipicamente hipnótica. Psicologicamente, sim, poderia se dizer que a sugestão hipnótica impera mais forte sobre a vontade do hipnotizado, já que para a psicologia a vontade é apenas um processo de volição que se desenvolve, ou seja, um impulso para ações. Nossos dicionários colocam a vontade, num sentido mais estrito, como uma atividade precedida de elaboração mental de antecipação, incluindo opção ou escolha.
Na hipnose, o sujeito pratica o ato sob comando, independentemente de sua vontade, já que a sugestão sobrepujou todo e qualquer entendimento da realidade objetiva, criando na mente do indivíduo um enredo subjetivo mais concreto, dentro do qual ele pratica a ação que lhe é perfeitamente justificada. Certo é, porém, que na própria hipnose existe uma maior complexidade de discussões em se tratando de certos atos. Nota-se, por exemplo, que a seriedade de uma ação pode aqui ser enquadrada em seus diversos níveis, levando-se em consideração o conceito de certo e errado, de bem e de mal, do indivíduo hipnotizado, sem esbarrarmos necessariamente no conjunto de fatores que formam seu caráter e sua personalidade. Os crimes, para ilustrar, provocam discussões em se tratando de hipnose. O psicanalista naturalizado brasileiro Karl Weissemann, famoso internacionalmente por suas teses revolucionárias, assegurou com propriedade e total razão que existe na psique aquilo que ele chama de “polícia íntima”, nada mais, nada menos que as funções do superego sempre alertas, inclusive no estado hipnótico, o que impede o hipnotizado de cometer atos que sejam contrários aos seus princípios.
É interessante saber que, pela simples e mesmo fortíssima sugestão, o hipnotizado não matará alguém sem motivo imediato ou tendências criminosas latentes nele próprio, que um respeitável autor chama de “taras criminais”. Acontece, no entanto, que uma técnica similar à lavagem cerebral, unida à sugestão, poderá levar o indivíduo à pratica do crime, desde que o enredo criado pelo hipnotizador seja convincente e lançado mediante uma técnica apuradíssima e difícil. Devemos lembrar que no passado a hipnose não estava bem definida, correndo risco de escorregarmos por correntes contraditórias em alguns pontos, como a de Charles Richet e sua metapsíquica, pelo magnetismo animal de Mesmer e, muito significativamente, pela corrente ocultista disfarçada de maneira complicada, que pregava uma força estranha do hipnotizador sobre o hipnotizado.
Transe Hipnótico
Tudo evoluiu, no entanto, para definir a hipnose atualmente como sugestão pura na maior parte das experiências e como “energia intencionalizável”, na feliz expressão do jurista Geraldo Cardoso, já falecido. Após estudos dos russos Vasiliev e Sergeyev, a hipnose aclarou-se como uma direta ação sobre outrem, que surte seus efeitos até telepaticamente. E pretensiosamente a colocamos apenas como a arte de enganar o inconsciente. A escola de Nancy generalizou que todo hipnotizado praticaria atos radicalmente contrários à sua própria natureza. E pecou por tal afirmação. Mas quanto à eliminação da consciência, acertou bastante, mesmo quando o transe hipnótico for curto.
Trata-se, no entanto, de uma questão de grau de profundidade do transe, o que já pudemos constatar através de experiências particulares. No nível chamado theta, por exemplo, onde o hipnotizado tem suas batidas cardíacas, ritmo respiratório e ondas cerebrais diminuídos assustadoramente, a inconsciência é total. É de fato uma espécie de mergulho no inconsciente, que há muito tempo deixou de ser um mero depositário de restos emocionais e tendências, para hoje se tornar um universo de conhecimento e percepção, como se depreende dos trabalhos de Jung. Evidências da inconsciência total do hipnotizado em grau profundo são fartas e até banais, como o completo lapso de memória após o transe, o que se torna mais interessante com a sensação de que o tempo não existiu e tudo não passou de um piscar de olhos. É assunto para muito papel. Mas é em tal nível de inconsciência que o indivíduo poderá cometer atos contrários a seus princípios, desde que se levem em conta as condições que comentamos acima.
Questão ainda mais fascinante e controvertida é a possibilidade ou não de se induzir o bom homem ao crime. De início, já se coloca outra pergunta: seria provável um hipnotizado deixar de ser criminoso e eliminar suas más tendências para se recuperar? Se fosse assim tão fácil, a hipnose teria seu lugar de honra reservado nas salas de justiça, o que não ocorre. Não devemos aqui levar em conta os diversos fatores que o impedem, o que nos interessa é questionar a eficiência da técnica.
Sensibilidade do Hipnotizado
A escola de Salpêtrière parece-nos também que foi um tanto radical ao firmar o dogma de que nenhum homem bom pode ser levado à prática desvairada do crime pela hipnose. Nesse ponto, cremos que pode se jogar na questão outro fator técnico da hipnose – trata-se do nível de sensibilidade do hipnotizado. Muitas vezes o objetivo a ser atingido pelo transe provocado pode ser alcançado de imediato, logo na primeira sessão. O nível de sensibilidade à hipnose parece que é inerente ao ser, portanto inato. Todas as estatísticas sérias têm demonstrado que as pessoas de intelecto mais desenvolvido, dotadas de gosto apurado para as artes, música etc, são mais suscetíveis. Assim é que todo hipnólogo sabe que não deverá tentar experiências com loucos de todo gênero e debilitados mentais. Neles, a hipnose, a princípio, não funciona. Dessa forma a sensibilidade ou suscetibilidade, unida ao fator sugestivo – grau de profundidade e força da sugestão –, é que permitirá o resultado. Um trabalho bem feito e insistente através de várias sessões poderá acarretar uma espécie de despersonificação do indivíduo, levando-o a cometer atos através do forte condicionamento.
Não devemos nos esquecer de que o caráter, apesar de firmado, manifesta-se primitivamente através de impulsos e tendências. Esse caráter poderá ser diretamente atacado pela hipnose, conflitando o indivíduo, quando então prevalecerá a força brusca do condicionamento, desde que o trabalho tenha sido feito com profundidade suficiente. É uma lavagem cerebral hipnótica. Observe-se, no entanto, que todo ser humano, ao praticar um ato sob transe hipnótico ou mesmo posterior a ele, mas por efeito dele – o que é perfeitamente poss
ível, na chamada sugestão pós-hipnótica – não estará, no momento do ato, em estado normal de consciência, mas sim com ela alterada nitidamente. Resumindo, cremos que o indivíduo parecerá de fato um autômato – mesmo que por um rápido momento – no instante em que obedecer à sugestão. O que poderá haver, é certo, são inclusive sintomas fisiológicos bastante proeminentes, resultantes do conflito.
A história do criminoso recuperável ou irrecuperável nos força à mesma linha de raciocínio. Todo criminoso recuperável já o será primitivamente, o que é óbvio. As induções hipnóticas repetidas e profundas poderão acelerar o processo até bruscamente. Os considerados irrecuperáveis, no entanto, deverão aguardar um maior desenvolvimento da aplicação da hipnose, que por incrível que possa parecer, não possui em seus anais experiências suficientes para demonstrar sua eficiência.
Finalidades Sexuais
Outro horror à hipnose vem de sua alegada utilização para finalidades sexuais. É praxe afirmar que caso o hipnotizador queira aproveitar-se de uma mulher hipnotizada, poderá fazê-lo. Voltemos então à comentada polícia íntima de Weissemann, que não deixará o ato ocorrer, aqui sim, contra a vontade da mulher. Existe o pudor, e o condicionamento sofrido pela pessoa desde sua infância é um dos fatores mais fortes existentes no psiquismo daqueles que sempre esperam um momento de estímulo para dar o bote. Um exemplo comumente citado é o da mulher deitada horizontalmente em frente a assistentes quando sua saia escorrega, deixando-a descomposta. Ela acordará bruscamente, amparando a saia. Ao lado do pudor, o orgulho pessoal pesa muito, principalmente em se tratando de sexo, quando a mulher notará que está sendo forçada à aceitação de um ato. No entanto, em se falando de vontade, deve-se observar que, caso a mulher nutra atração sexual pelo hipnotizador, poderá entregar-se a ele, é o que mostram os estudos fundamentados em reações de hipnotizados. Mas por quê? Contraditório?
No transe hipnótico a pessoa abre campo para o seu instinto primitivo, ativo em todos nós. Esse instinto não coincide necessariamente com o conceito de moral nem se sujeita unicamente à formação que obtemos no desenvolvimento de nossa educação. Não se prende à influência do meio e independe de padrões artificiais. No sexo o instinto se manifesta liberto, mesmo que às vezes sufocado por fatores como preconceitos – realmente se define de maneira autêntica a vontade. Fazer o que se quer seria o ideal para o nosso psiquismo, a vontade verdadeira atrelada ao instinto. Tratando-se de sexo, o instinto sobrepujará tudo o mais, no exemplo em pauta, a hipnotizada se sujeitará a ele.
Alguns acreditam que se um indivíduo não pode ser levado à prática de atos que não lhe são da índole, muito menos a massa o seria, até sob hipnose. Considere-se, no entanto, apesar de se supor o contrário, hipnose de massa não existe e nunca existiu em definitivo. Não o transe hipnótico perfeitamente caracterizado. O que há, sim, é o condicionamento de massa, também por óbvio. Que seria a massa, se não algo com as mesmas características de um indivíduo? Existe uma certa estupidez na massa. Ela pode ser conduzida e levada ao crime pela simples e bem aplicada sugestão. Não se trata de o indivíduo ou a massa serem bons ou maus, mas de uma questão de condicionamento. A massa, a multidão, acaba por fazer emergir as características de uma personalidade própria e um caráter frágil e perigoso. O que hoje se torna ainda mais evidente com o desprezo aos valores individuais em favor do grupo.
Atualmente, viver em grupo ultrapassou os limites da conveniência e culminou por criar um indivíduo completamente fora dos padrões de comportamento tido como normal, em termos das tendências de seu caráter. Tudo isso se relaciona com a utilização da hipnose pela Ufologia. Por estas razões a hipnose, para a chamada regressão de memória, nunca será perfeitamente garantida com a finalidade de constatar a veracidade de um incidente de abdução. Ela simplesmente fará o hipnotizado reproduzir um conceito estritamente subjetivo de um fato que diz ter protagonizado.
Conhecimento da Abdução
Hoje se indaga sobre a existência de alguém que jamais tenha ouvido falar em um caso de abdução por criaturas estranhas. Possivelmente não haja. De alguma forma, as pessoas sabem de tais casos. Mesmo as que vivem no meio rural. É assim perfeitamente possível que todos os fatores comentados, transpostos para o campo dos enredos ufológicos, montem uma estória de abdução em qualquer ser humano. Os detalhes mais ou menos incisivos variarão nas pessoas que já ouviram sobre o assunto e naquelas que jamais atentaram para tais histórias. Restaria então que o pesquisador tentasse conhecer detalhadamente toda a vida do hipnotizado para certificar-se em que nível este tenha ouvido qualquer comentário sobre abduções. Ou, quem sabe numa situação rara de que jamais tenha ouvido falar, o que no máximo daria um pouco mais de peso à hipótese de que este passara de fato por algo real e objetivo.
Os discos voadores podem ser mesmo espaçonaves alienígenas, reais, feitas de porcas e parafusos, que deram origem a um arquétipo ao longo dos séculos
– Carl Gustav Jung, psiquiatra, autor e um dos maiores pensadores de todos os tempos
Finalmente, a Ufologia e a parapsicologia se encontram no depoimento humano. O ponto de maior elasticidade da Ufologia é o lado subjetivo das testemunhas. Na verdade, uma distinção foi estabelecida por Henry Durant, entre testemunha e contatado. A testemunha pres
encia a manifestação de um UFO ou sofre um seqüestro, evitando falar no assunto, prestando sempre depoimentos coerentes, portando-se como vítima. O contatado julga-se escolhido, veicula mensagens, escreve livros e voluntariamente coloca-se como foco de uma situação mística. Apesar da testemunha merecer mais crédito do que o contatado, a evolução dos estudos força-nos a não desprezarmos as narrativas de ambos. O conhecimento científico da psique é indispensável, devendo ser empregados métodos de psicologia que acabam por embasar as técnicas da parapsicologia.
Os sintomas psicológicos destacam-se no processo de envolvimento com o Fenômeno UFO. Muito observáveis são as impressões causadas na testemunha, que vão desde um choque traumatizante, fonte de depressão e surtos psicóticos, até radicais mudanças de personalidade. Caímos no campo parapsicológico, quando a ação do inconsciente torna-se personagem principal. Dois extremos caracterizam as situações. Primeiro, os fatos não ocorreram, mas surgiram em função de um enredo gerado pela mente em virtude de tendências e crenças religiosas e até patologias que induzem o indivíduo a acreditar numa situação real, mas que só é subjetiva.
Outra causa é a substituição de mitos, analisada pelo tão citado Jung: a crescente distância da fé num plano divino implica na procura de objetos insólitos nos céus. Os padrões básicos de informação criam visões correspondentes. Como dizíamos, fatores patológicos provocam visões, e as psicoses infecciosas, exotóxicas e outros, como a paralisia geral progressiva, são exemplos claros. Tudo isso implica numa adoração do mito UFO, gerando a chamada ufolatria, hoje confundida com Ufologia Mística, aquela que cultua discos voadores e anjos salvadores e que levou o saudoso J. A. Hynek a comentar, em Ufologia, Uma Disciplina Científica [Editora Nórdica, 1980]: “Os advogados desse tipo de disco voador influenciaram enormemente a opinião pública através de seus atos irracionais.
O inconsciente surge também como repositório de sensações obtidas durante o envolvimento real com o fenômeno. A testemunha tende a esquecer os fatos chocantes em defesa do psiquismo. Um mergulho na mente através de técnicas conhecidas é que liga definitivamente a parapsicologia à Ufologia. Trata-se das formas conscientes e sonambúlicas de regressão de memória. As primeiras permitem algum afloramento de detalhes, além de facilitarem a aceitação da testemunha e uma adaptação que evite prejuízos até psíquicos. As formas de transe inconsciente, cuja melhor técnica é a hipnose profunda, apresentam maior confiabilidade na sinceridade da testemunha e obtêm dados mais coerentes e minuciosos. Outro ponto comum entre as duas disciplinas são os efeitos psi, ou fenômenos paranormais, manifestados após o contato próximo com UFOs.
Tal evidência tem sido demonstrada e consiste no desenvolvimento de dons especiais, surgidos do impacto emocional ou de energias atribuíveis ao sistema de propulsão dos objetos, de campos eletromagnéticos inerentes e da ação dos alegados tripulantes. A finalidade aparente é a de programar e impulsionar o desenvolvimento mental da testemunha. Cumpre salientar, todavia, que tais causas ainda são meramente especulativas, estando os estudiosos diante de fatos sem qualquer possibilidade de determiná-las. Esses efeitos manifestam-se sob forma de atuação psicocinética (movimentação de objetos sem o toque físico direto), aguçamento de memória, clarividência e pantomnésia (conhecimento aparentemente não obtido por vias normais), precognição e premonição (notícia de fatos antes que ocorram), além de diversas formas de percepção extra-sensorial. A parapsicologia é recurso analítico da Ufologia.
Visões Coletivas São Possíveis?
A observação de objetos ou cenas que não pertençam a uma realidade concreta por várias pessoas reunidas tem sido meramente teórica tanto para a psicanálise quanto para a própria parapsicologia. Fala-se muito em alucinação coletiva sem se considerar os incidentes que justifiquem em termos práticos quando ela é entendida como causa de um fato específico, digamos, o avistamento de um UFO durante uma ocasião única. A alucinação é mais explicável como origem de um tipo de imagem ou objeto, que por fatores diversos, acaba tornando-se símbolo básico de um momento histórico ou social.
Mais remota é sua utilização para justificar uma ocorrência determinada. Assim é que muitos indivíduos podem ter um tipo único de visão em épocas e lugares distintos. Jung explorou e demonstrou com sérios argumentos as informações arquetípicas do ser humano que provocam visões mentais e se projetam num espaço subjetivo de detalhes e características idênticos, devido às tendências e impulsos atávicos que vão se firmando no inconsciente dos povos. Alguns pesquisadores da área ufológica, além de não ter entendido as proposições do grande psicanalista, vêm gritando contra a falta de prova prática da alucinação coletiva como explicação para um caso concreto. No entanto, esta comprovação torna-se cada vez mais possível de ser demonstrada em grupo, em termos de visão ou mesmo de ilusão. Há alguns anos temos tentado tais experiências com boa margem de êxito. O teste, perfeitamente aplicável em qualquer ambiente, consiste em dirigir o foco de uma lâmpada infravermelha sobre um indivíduo que se senta em frente ao grupo de pessoas. Estas tentarão registrar toda e qualquer modificação que nele observarem.
Com a sala totalmente às escuras, pede-se aos participantes que fixem o olhar na pessoa que está iluminada pela luz infravermelha, a uma distância de no mínimo 5 m. Após alguns minutos, interrompe-se o teste e cada um deles anota todas as variações de imagens e supostos movimentos que possam ter notado. O importante é evitarmos, ao máximo, condicionar os observadores pa
ra eliminar, na medida do possível, a influência pela sugestão. O experimentador nada fala durante o teste. Quando checamos os dados registrados em folhas separadas, o índice de coincidências marcantes chega a impressionar.
Desnecessário seria frisar que as impressões escritas são exigidas para que as pessoas não se induzam umas às outras, emprestando, assim, um inegável cunho de autenticidade à experiência. É imprescindível que a prática seja realizada num procedimento correto. Também é evidente que os observadores devem permanecer de olhos abertos durante todo o teste, tentando assumir a chamada visão de 180º graus, procurando abster-se ao máximo de mover os olhos, mesmo que isso seja inevitável pelos movimentos involuntários que as pálpebras fazem num ambiente sem contrastes normais de luz.
Coincidências
A fim de facilitar esse entendimento, o experimentador sugere antes uma fixação do tipo olhar abstrato, como quando nos comportamos ao estarmos distraídos. Não se pode ainda explicar com segurança as razões da clara e elevada porcentagem de coincidências que são registradas. É possível que ocorra uma interação psíquica entre os observadores, que telepaticamente formam em conjunto as imagens básicas, visualizadas na pessoa sentada. Por outro lado, não se descarta a hipótese dessa mesma pessoa estar projetando involuntariamente as figuras de seu próprio estado emocional, simbolizando aos olhos dos que as observam tendências de personalidade e situações importantes de sua vida atual ou pretérita.
Nesse caso, aceita-se que os observadores têm sua clarividência despertada pelo teste. No fundo, essa experiência é importante porque abrange um processo interessante que nos deixa concluir várias coisas. Por exemplo, numa noite escura, durante as vigílias, um grupo inteiro pode testemunhar a observação de fenômenos estranhos, pertencentes ao mundo abstrato da mente. Se interrogados à parte, cada um dos indivíduos poderá acusar detalhes extremamente coincidentes, sem, no entanto, oferecer prova de que tenha avistado alguma coisa realmente objetiva e concreta.
Podemos relatar uma ocasião em que um senhor de 40 anos, tez escura e cabelos curtos, observado por 18 participantes, pareceu-lhes uma mulher jovem, loura, de longos cabelos, seios voluptuosos e vestida apenas com um sutiã! Apesar de curioso, o resultado coincidiu com as fortes preferências sexuais por esse tipo feminino, confessadas pela pessoa que estava sendo objeto da experiência. Mais complexo foi o índice de coincidência obtido por 22 pessoas, num grupo de 32. Uma jovem assumiu aos olhos dos participantes o aspecto de uma freira idosa, de hábito completo, no interior de um prédio antigo onde de fato residira uma religiosa, por toda a vida, coisa que foi confirmada posteriormente e não era do conhecimento de qualquer dos presentes. Para casos semelhantes, é fartamente demonstrado que a mente pode representar a realidade que capta de um ambiente impregnado por impressões vibratórias de pessoas e fatos que o marcaram.
Em grupo, tudo leva a crer que a captação é forte e bem mais fácil, portanto, menos rara do que se supunha. Numa outra de nossas tentativas, uma senhora foi observada por 60% dos presentes com o ventre aberto e luminoso, de onde se projetava a figura de um bebê. Jamais pudera ser mãe e, de idade madura, guardava só para si o que chamava de sua maior frustração. De grande interesse para a Ufologia são os registros que os observadores fazem de movimentos, não só do indivíduo sentado, como de objetos fixos do ambiente, movimentos esses, é claro, não ocorridos. Na verdade, tudo se trata de simbolismo materializado em imagens, que a mente projeta à interpretação das pessoas. Esse recôndito amplo e onisciente do psiquismo humano necessita de pontos de referência e estímulo para se manifestar.
Casos de observação de UFOs não reais atribuem-se, em primeiro lugar, à vontade da testemunha de ter pelo menos um contato visual com tais objetos, sem se falar no fanatismo que hoje reina em certas áreas ufológicas e que a cada dia criam mais e mais contatados. Como outra razão, o mito disco voador, por seu aspecto de mistério secular, já está plasmado na mente da humanidade e nosso inconsciente o joga à tona de vez em quando. Melhores e mais fortes são as facetas de um simbolismo arquetípico, tão bem analisado por Jung. Nos demais casos, o primeiro impulso que forçará a manifestação é a ilusão de ótica. Num ambiente totalmente negro, apenas com a tênue luz infravermelha incidindo sobre o observado, a vista custa a se adaptar, provocando perda de perspectiva e distância.
Depois, a fixação do olhar leva os objetos, quase todos delineados somente em silhueta, a perderem suas referências reais. Nessa situação, se permanecemos de olhos abertos e despertos, a percepção tem que ser suprida de algum modo. Nada mais propício, então, à ação quase imediata do psiquismo, o qual se utilizará da ilusão para logo nos levar a interpretarmos as imagens disformes que, aos poucos, tratamos de moldar segundo diversos fatores. A projeção de imagens mentais é um campo vastíssimo de estudo, onde já se conhecem fenômenos que são registráveis até no mundo físico. As fotos paranormais estariam aqui enquadradas, nos casos em que a película grava cenas não concretas e pessoas que não se acham presentes no momento do disparo da objetiva. Estudos parecem comprovar que a mente coletiva humana é capaz de materializar imagens em um espaço dimensional que geralmente não temos condições de observar. Mas como se trata de um plano físico, apesar de etéreo, pode encontrar-se mais próximo de nós do que imaginamos.
Na Pista dos UFOs
É consenso entre os pesquisadores que o encontro próximo de segundo grau trata-se de um evento mais importante, pois permite trilhar o caminho dos laboratórios. Mesmo que as manifestações ufológicas sejam analisadas com hipóteses de trabalho mais abrangentes, sem nos atermos a casos específicos, os traços materiais constituem um farto campo de estudo. Entre os aspectos físicos do Fenômeno UFO destaca-se a precipitação de substância. Essa precipitação tem sido orgânica e química. No primeiro caso, a mais registrada é uma pasta como algodão, que se decompõe em pouco tempo, chamada de “cabelo de anjo” ou “fibralvina”. No segundo, quando também é mineral, temos as conhecidas análises de restos de estanho puro e magnésio. Eduardo Gianasi, engenheiro e também ufólogo, estabeleceu uma relação entre manifestações ufológicas e o achado de berílio, em isótopos, nas regiões de atividades de UFOs.
O berílio é levíssimo. Usado na fabricação de um motor de avião, por exemplo, o conjunto poderia ser erguido por um s&o
acute; homem, sem maiores esforços. Ligado ao cobre, na proporção de 3%, aumenta a resistência de tensão de 33 mil para 200 mil libras, o que implica em altíssima potencialidade de suportar pressões e atritos. Aliás, sua aplicação tem sido farta na fabricação de peças de avião, tubos de raios X e néon. Certamente, se ousássemos tentar a construção de um aparelho voador capaz de se assemelhar a um disco, teríamos que lançar mão do referido elemento. Ocorre que o Jornal do Brasil, em sua edição de 12 de março de 1982, noticiou a descoberta de berílio 7 ao redor do complexo nuclear de Windscale, Inglaterra.
A detecção foi efetuada pelo engenheiro ambiental Edson Perpétuo. Esse isótopo de berílio foi encontrado sobre o solo, em vegetação, e tem origem cósmica. Tal origem acaba por forçar um interessante desenvolvimento de novas hipóteses, já que até aquela data não se conhecia a presença do elemento na composição química de meteoritos. Nada nos impede de lembrar a constante vigilância, por parte dos UFOs, ao redor de complexos nucleares. Torna-se difícil, ainda, afirmarmos que o comentado isótopo possa provir de UFOs, como mais uma peça do quebra-cabeça em torno de restos materiais que, parece, são conseqüências da propulsão dos objetos ou de uma espécie de desintegração do material que os compõe na atmosfera.
É possível produzir o isótopo artificialmente com reações nucleares. Usando-se um acelerador de partículas, ocorre a formação do berílio 7. O disco voador acaba por funcionar como um acelerador de partículas? A possibilidade é considerável. Caso se trate de resultante da perda de material dos UFOs, somos livres para pensar que a perda do berílio faça parte do seu sistema de proteção externa. Ora, a astronáutica norte-americana já usou o berílio como protetor térmico de cápsulas espaciais. Por outro lado, se desejarmos extrapolar o âmbito da cautela e alargarmos nossas suposições, poderemos achar que, lançado sobre um complexo nuclear, seria possível usar o berílio como reagente para observação telemétrica a fim de se avaliar a capacidade do complexo. Diga-se de passagem que as reações são excelentes formas de prospecção em inúmeros tipos de pesquisa, inclusive geológica e geofísica. Os simpatizantes da astronáutica antiga – seres extraterrestres que teriam explorado a Terra em tempos remotos – têm um prato cheio: as tectitas. Elas colocam geólogos e arqueólogos num beco sem saída.
Ainda não muito bem explicadas, as tectitas são massas vitrificadas encontradas no solo e não se enquadram no caráter comum de composição química e mineral porque contêm isótopos radioativos, notadamente berílio 10! Sabe-se, com certeza, que sua origem não é vulcânica e não se pode afirmar que seja meteorítica, por totalmente absurdo. O que se postula é uma formação em solo, sob ação calorífica de altíssima intensidade e radioatividade. Os locais onde são mais encontradas são Tiahuanaco, Deserto de Gobi e sítios arqueológicos do Iraque, Austrália e Índia.
Seqüestros Muito Prováveis
O conhecido físico soviético, professor Agrest, um dos maiores incentivadores da astronáutica antiga, engendrou um histórico da exploração do planeta Terra por seres que ele crê terem vindo das estrelas. Segundo sua hipótese, uma nave interestelar acercou-se deste mundo em época perdida. A 36 mil km do planeta, seus pilotos puseram em atividade um sistema de freagem, passando a viajar numa velocidade de 3 km por segundo para logo entrar em órbita de giro completo de 24 horas. Da nave, exploradores iniciaram uma detalhada observação da Terra, utilizando-se de projéteis lançados sobre pontos pré-determinados da superfície. As explosões desses foguetes criaram as tectitas.
Parece que os tripulantes dos UFOs, com suas manobras, estão nos ensinando as regras de um jogo muito interessante, para que um dia possamos jogar com eles
– J. Allen Hynek, astrofísico, cientista e um dos principais pioneiros da Ufologia Mundial
Nesse caso, teriam razão alguns ufólogos ao acreditarem que as melhores pistas para encontro do fenômeno não devem ser buscadas pela observação do céu. Nem todos acreditam que sejam prováveis, exatamente pelas razões apontadas quanto às possibilidades de falha da hipnose. O que resta então? Os inúmeros casos de seqüestros de testemunhas para o interior de discos voadores vieram mostrar uma realidade aceitável a respeito da hipótese extraterrestre ou nebecista, como intitulam alguns. A vantagem desses incidentes é que, inclusive quando usada a hipnose regressiva, os dados emergem com coerência e revestidos de importância. Mas os encontros próximos de terceiro grau, à parte os seqüestros, ocorrem em maior número e são simples avistamentos de alegados tripulantes dos UFOs. Eis uma questão aqui a se considerar.
Pelo que temos observado, muitos eventos classificados de terceiro grau acabam por caracterizar o simples encontro da testemunha com seres tripulantes do objeto, naturalmente com os sintomas e detalhes que são peculiares. No entanto, uma checagem mais profunda por parte do ufólogo poderia, sem embargos, tirar o véu dos mais reais e fantásticos casos de seqüestro. Concluímos, há muito tempo, que os encontros de terceiro grau acabaram por ter sido, em sua maior parte, eventos em que ocorreu o seqüestro da testemunha. Mas o pesquisador, por falta de recursos ou por não o ter desconfiado, não chega até onde deve, ou seja, não leva o estudo e a análise do incidente adiante após obter a narrativa da pessoa contatada.
Entre as grandes dificuldades está o horror à hipnose, fobia que não procede, mas se tem de aceitar pela ignorância daquele que nunca se submeteu à ela. Infelizmente, até certos estudiosos ainda pregam contra ela sob tal ótica, dificultando a ação de pesquisadores, como já ocorreu conosco quando fomos obrigados a interromper a análise de alguns casos. Os incidentes vão para os arquivos catalogados simplesmente como encontros de terceiro grau ou como meras fontes de comparação.
Assim, nunca é demais chamar a atenção dos pesquisadores para depoimentos que acusam paralisação por luzes, perda parcial de memória, confusão com o lapso de tempo ou perseguição de automóveis. E se recomenda, na falta de técnica melhor, o emprego da hipnose regressiva sempre que for possível. Procuraremos adiante dar um exemplo de terceiro grau que, pelas características, muito provavelmente poderia ter sido um seqüestro. Ocorre que a tes
temunha era de tal forma arredia e simplória, que qualquer das nossas tentativas de conviver com ela e propor sessões de hipnose tornaram-se infrutíferas.
O Caso de Sebastiana
Sebastiana Francelina de Jesus mora em Carmo da Cachoeira (MG) e seu marido trabalha numa fazenda. Certo dia, ela, um irmão e a irmã pequena iam para a fazenda num jipe. “Quando fomos atravessar o carro pelo mata-burro, parece que alguma coisa puxou o jipe para trás e caímos para fora da estrada, numa valeta. Descemos do veículo, tentamos levantá-lo e não conseguimos. De repente, aproximou-se de nós um objeto muito rápido, rodando, cada vez mais perto. Abaixei a cabeça, com medo, minha vista escureceu e meu irmão ficou muito assustado. Era cerca de 21h30 e ficamos ali até 23h45. Estava chovendo muito, e quando aquela claridade aumentava, nós não agüentávamos ficar com o olho aberto. Aquela luz forte tapava nossa visão. Fiquei com medo e então agachei. Sabia que meu pai sairia para procurar. Ele chegou às 23h45”.
Isso aconteceu em 30 de outubro de 1978. Subindo pela estrada de terra que dá acesso à fazenda, o jipe foi puxado para trás por alguma força desconhecida, caindo com a roda traseira direita para fora do mata-burro. Então um corpo grande, uma luz amarela, que girava muito forte, passou por eles e estacionou à sua frente, bem próximo. Ofuscada, a testemunha não pôde enxergar mais nada. O irmão mais velho ficou fora de si e muito tempo depois é que foi recobrando a consciência. Ao que tudo indica, Sebastiana sofrera um total bloqueio de tempo em sua memória, da mesma forma que os dois outros ocupantes do automóvel que, apavorados, não sabiam explicar o que estava acontecendo.
Eis que a claridade mostrou então duas luzes, sempre girando, como dois faróis de automóvel muito claros, que iluminavam o chão, as árvores e tornavam muito branco o interior do carro, como grandes lâmpadas. Chovia muito. Sebastiana ouviu então um barulho constante, como motor, e muito forte. O ponto alto do incidente vem a partir do momento em que, após alguns instantes cercadas pela luz, as três testemunhas começaram a ouvir ruídos, que aos poucos foram se assemelhando a vozes humanas. De início, Sebastiana chegou a gritar na direção das vozes, solicitando ajuda em conseqüência do mal-estar que sentiam e da queda do carro no mata-burro.
Pensou que se aproximavam algumas pessoas que moravam na região, sem até aquele momento imaginar que estava sendo personagem de um caso incomum. “Ficamos com medo e agachamos. Pensei que era gente que estava chegando. Até imaginei que poderiam nos ajudar a tirar o veículo. Mas não entendia nada. Ouvia uma ‘prosa’ , mas não compreendia. Não vi ninguém. O motor do carro parou. Tentamos ligar para ver se tirávamos do buraco, mas ele não saía e nem ligava. Custou para o motor pegar depois daquilo tudo”.
Ali permaneciam os três, imóveis, sentindo-se mal. Os faróis do automóvel diminuíram tanto que quase se apagaram, como se a bateria estivesse a zero. O mais interessante são os sintomas que Sebastiana sentiu como efeito fisiológico do encontro. Segundo ela, ficou esquisita, como se estivesse crescendo. No dia seguinte, foi acometida de forte dor de cabeça e no resto do corpo, principalmente nas costas. Os irmãos também perceberam esses sintomas.
O fato é que permaneceram presos ali por volta de 01h45 e não se recordam de tudo o que realmente aconteceu, com a luz misteriosa lá durante todo o tempo. Outros detalhes complementam o depoimento de Sebastiana. Quando seu pai chegou, segundos antes, a enorme e ofuscante luz simplesmente apagou-se, como se alguma coisa se dissolvesse instantaneamente no ar. Ele saíra para procurar os filhos, que já se atrasavam e o preocupavam. Para buscá-los, solicitou a companhia de um tal Antonio, que ao se aproximar da encosta onde o jipe caíra também se sentiu um tanto esquisito. Interrogada de como a luz realmente desaparecera tão depressa, Sebastiana comentou: “Não sei. Depois da claridade, foi andando para os lados de umas pedras, voando, rodando. E desapareceu. Mas não vi para onde foi”. Ela pôde notar que um objeto compunha a luz, possuindo uma espécie de cauda, semelhante a um helicóptero. Paralelamente a esses aspectos principais do fato, surge um outro crucial. Um desses detalhes de depoimento que não se podem desprezar, mesmo que de plano destoem a narrativa, mas que à luz da Ufologia complementa a realidade do acontecimento.
“Quando peguei a lanterna para iluminar o interior do carro assim que a luz desapareceu, vi uma assombração também. A luz grande ainda não tinha desaparecido, mas estava do lado esquerdo e a assombração do lado direito. Era uma luzinha que vinha correndo pelo pasto, voando, pulando, da cor do fogo, vermelha e amarela”. E mais: quanto às vozes estranhas que ouvia, pareciam de umas quatro pessoas conversando, do sexo masculino. “Falavam depressa, muito misturado e eu não entendia nada. As vozes vinham do meio da luz, tenho certeza”. Bastante espantada ao descrever a outra luzinha, que chamara de assombração, a testemunha disse que se apavorou, pois ela vinha na sua direção.
Entidade Sobrenatural
Seus irmãos, temerosos, não queriam que dissesse nenhuma palavra dentro do carro. No momento em que a luz maior desapareceu, a menor também parou de se manifestar. Entretanto, puderam observar ao longe uma estranha luminosidade atrás da serra. A personagem do incidente estava bastante segura quanto ao horário e não se deixou confundir com perguntas repetidas. O mesmo comportamento exibiram os demais protagonistas. Mais uma vez estamos às voltas com a preocupante luz pequena a fazer evoluções nas proximidades de um UFO. Sebastiana chegou a confundi-la com assombração. Essas histórias do pessoal da roça oferecem uma enorme bagagem de informações para a Ufologia, como a mitológica Mãe do Ouro.
Segundo os homens da roça, trata-se de uma entidade sobrenatural que se manifesta às pessoas durante a noite. É uma bola de fogo, cujas características diferem das emanações de gases de pântano, variando da cor vermelha à amarela. Acontece que, em certas regiões do Estado, as luzes em pauta são conhecidas como assombrações ou almas penadas. Era muito difícil que Sebastiana pudesse imaginar que um fenômeno
ufológico algumas vezes viesse acompanhado de tais sinais. Achamos que o incidente faz supor um seqüestro, ou, no mínimo, um encontro de terceiro grau.
Ora, os ocupantes do veículo chegaram a ouvir vozes de pessoas na direção da intensa luz que os cercava. Nos anais da Ufologia encontramos casos em que testemunhas puderam distinguir vozes de ufonautas, ininteligíveis, apressadas, em meio ao objeto. Também devemos levar em conta o longo período de tempo que durou o incidente. O carro permaneceu caído fora da estrada por 01h45, e durante esse lapso a luz se manteve lá. Imediatamente os sintomas fizeram-se sentir, principalmente uma sensação de crescimento. Supõe-se que, havendo no veículo uma perda parcial de gravidade, ou seja, ausência de peso por toda a área do carro, as pessoas teriam realmente sensação de crescimento. Isso porque há uma diferença entre levitação e ausência de gravidade. Na primeira, o indivíduo sente-se erguido e nem sempre sofre efeitos orgânicos.
Na ausência de gravidade, o corpo fica como se no vácuo, portanto, todas as partes atingem uma leveza excessiva, já que o peso se distribui (na verdade desaparece) e deixa de ser sentido por todo o corpo. Em tal momento, o irmão de Sebastiana chegou a perder os sentidos, ficando fora de si. Ela, por sua vez, sentiu-se esquisita, já que se dirigiam para a fazenda às 21h30 e quando puderam ligar o rádio ouviram que já eram 23h45, nada mais lógico que não pudessem realmente desconfiar de um possível lapso de tempo. Por alguns momentos ficaram inconscientes e, depois, voltaram a si.
Somente muito tempo depois, talvez, tivessem condições de desconfiar do lapso. Nessas ocasiões há um total bloqueio mental e as pessoas não têm capacidade de distinguir uma perda de consciência. Lembremo-nos do famoso caso de Barney e Betty Hill, o grande clássico da Ufologia. Somente após sete meses de hipnose regressiva foi que o doutor Benjamin Simon, chefe de neuropsiquiatria do Hospital Geral de Mason, na Baía de Oakland, nos Estados Unidos, pôde descobrir que houvera um seqüestro do casal para o interior de um UFO.
Há aproximadamente 15 anos, as estatísticas informavam que 70% da humanidade não acreditavam na existência de objetos de procedência extraterrestre em nosso céu. Os discos voadores pertenciam ao domínio da ficção científica fantasiosa. Quando então o Projeto Livro Azul [Blue Book], especialmente criado pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), foi encerrado pela publicação do relatório final encabeçado por Edward U. Condon, a palavra definitiva estabeleceu que os fenômenos ufológicos jamais poderiam oferecer, dali por diante, qualquer subsídio proveitoso para que a ciência passasse a julgar o assunto como merecedor de atenção. Para surpresa, de repente as aparições de UFOs começaram a apresentar suas maiores provas, a partir daquela data. O povo, já farto de se ver conduzido por explicações ilógicas e opiniões ingênuas, percebeu que algo mais restava para ser esclarecido. Espantosamente, as ondas de aparições multiplicaram-se e o número de casos fugiu ao controle estatístico. Logo, cientistas capacitados tomaram partido dos interessados pela Ufologia, conseguindo, com certa luta, mostrar ao mundo a importância da matéria.
Rapidamente, a Ufologia abraçou uma metodologia de trabalho, oficializando sua terminologia, e fixou como início da era contemporânea das aparições o ano de 1947. Anteriormente, os fenômenos aéreos inexplicáveis eram catalogados como manifestações estritamente astronômicas e naturais, quando não recebiam de imediato a classificação de fraudes e alucinações. Da terminologia já consagrada gerou-se a classe dos encontros próximos de primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto graus.
Joseph Allen Hynek, já falecido, então dono da cadeira de astronomia e astrofísica da Universidade de Northwestern, antes de criar tal classificação esclarecia com espírito científico: “Deve-se ter sempre em mente que o NI de OVNI significa simplesmente ‘não identificado’, mas não identificado para todos, e não unicamente para a testemunha”. Queria assim dizer que os UFOs não poderiam ser enquadrados na classe dos fenômenos naturais ou artificiais já conhecidos. Mesmo assim, vendo nós que a ciência desconhece todo tipo de fenômeno natural, poderíamos dizer que todo disco voador é um UFO, mas nem todo UFO é um disco voador. Antes do século 20, a idéia da visita de naves espaciais extraplanetárias ao nosso mundo não proliferara tanto. O homem sequer sonhava poder logo atingir a Lua. Em comparação ao nosso nível atual de tecnologia, qualquer um dos recursos eletrônicos e mecânicos sofisticados que hoje possuímos poderia impressionar gravemente os homens do século 19. Um contato imediato de primeiro grau seria a manifestação de um UFO registrada apenas visualmente, sem deixar traços físicos ou fisiológicos. Tais contatos já se faziam evidentes antes do início da era moderna das aparições. Porém, em épocas passadas, os contatos de primeiro grau foram interessantes pelo aspecto já comentado. Os homens, diante de visões tão espetaculares, maravilhavam-se e se amedrontavam com algo que lhes ultrapassava em muito a consciência. Faltava um mês e quinze dias para ter início o século 20.
Encontro Documentado
Quantas surpresas o novo século reservava! Na Fazenda do Anil, então município da histórica São Gonçalo do Sapucaí (MG), agora município de Heliodora, o coronel José Francisco de Almeida, homem íntegro e trabalhador, levantou assustado