David Duchovny se imortalizou para o mundo ao interpretar o personagem Fox Mulder na série Arquivo-X. Em parceria com Dana Scully, ele investigava pelo FBI fenômenos sobrenaturais que teriam ligação com alienígenas. No seriado, o agente encarava a dificuldade em obter documentos relacionados aos UFOs e a resistência do próprio governo em tratar do assunto. No Brasil, o problema – em tese -, deixou de existir para Mulder desde terça-feira: uma portaria publicada pela Aeronáutica regulamentou o acesso às informações. Para os ufólogos a disponibilização dos documentos vai facilitar a comprovação da existência de vida extraterrestre.
Oficialmente, mais de 1.500 páginas com informações sobre alienígenas no Brasil, entre as décadas de 50 e 80, podem ser encontradas no Arquivo Nacional (AN) de Brasília. Somando-se aos calhamaços que os ufólogos também possuem (documentos que vazaram através de terceiros) e entregaram no ano passado as cópias ao mesmo Arquivo Nacional, se acumulam mais de 4.000. Em breve, a instituição promete liberar os documentos da década de 90, mas não há prazo até o momento para que sejam disponibilizados na internet, sendo que para consultar ainda é preciso ir até o local. Mesmo estando no AN, a responsabilidade pelo envio dos materiais segue com a Aeronáutica, os registros são enviados ao Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica e, em seguida, ao AN.
Para o editor da Revista UFO e presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), A. J. Gevaerd, o acesso aos arquivos é batalha antiga (desde 2004) e joga luz sobre o tema. “Na prática, muda tudo para os estudiosos. Antes, havia uma nebulosidade sobre o assunto. Agora, todos os registros devem ser passados ao Arquivo Nacional”, afirma. O coordenador da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), Fernando de Aragão Ramalho, diz que os ufólogos podem finalmente desempenhar seu papel: informar a sociedade. “Com os arquivos militares, será possível entrar nessa caixa fechada, que é a Ufologia Militar”, diz.
Ponta do iceberg – Apesar de comemorar o avanço, os pesquisadores desconfiam que somente a “ponta do iceberg” será divulgada. Na avaliação de Gevaerd, é preciso definir conceitos para a liberação de informações. “Todos os registros serão disponibilizados? Quantos fenômenos foram efetivamente pesquisados, com que resultados? De lá para cá, os casos relatados serão investigados ou simplesmente armazenados?”, questiona. “Sabemos que está faltando muita coisa, inclusive o que já deveria ter sido repassado”, diz Ramalho.
Através de e-mail, a Aeronáutica informou à Gazeta do Povo apenas como vai funcionar o arquivamento dos documentos e diz não dispor “de uma estrutura especializada para realizar investigações científicas a respeito desses fenômenos aéreos, restringindo-se ao registro de ocorrências e seu trâmite para o Arquivo Nacional”. O presidente da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB), Rafael Cury, entende que ela não tem obrigação de pesquisar os fenômenos. “Compete à ciência, aos ufologistas, tentar encontrar explicações, mas ainda se trata de uma ciência fragmentada. Porém, nos últimos anos, o interesse dos cientistas sobre o tema cresceu vertiginosamente”.
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