
É irônico ouvirmos uma indagação do tipo “você acredita em discos voadores?”, postulada como se o tema fosse absurdo. Tal expressão causa ainda mais indignação quando vem acompanhada da afirmação de que “essas coisas não existem!” Claro que uma declaração destas é revoltante, além de ser cansativo e pouco animador discutir com aqueles que se fecham em sua ignorância. Apesar de acreditar na necessidade de um importante processo de conscientização da população em geral quanto ao assunto, e desses desinformados em particular, vejo que é contraproducente manter um diálogo com base nestes argumentos – a crença e a descrença no Fenômeno UFO. Ora, Ufologia não é assunto de crenças pessoais, mas de informação. Por isso, aos contendores que insistem em manter sua posição de que o assunto é algo insensato, basta que se pergunte: qual é seu conhecimento de Ufologia e o que lhes permite emitir uma opinião como essa?
Verifica-se que quase sempre a resposta está alicerçada numa surpreendente ignorância do assunto, quando muito em conhecimentos superficiais. Isso é compreensível, pois boa parte dessas pessoas apresenta estreita indagação sobre a vida e o universo, dos quais muito pouco sabem. Estão presas em seus condicionamentos materialistas e não têm tempo ou ânimo para pensar em coisas que consideram besteira, como o fenômeno dos discos voadores. Ou seja, é mais comum a postura de desacreditar e até minimizar a importância do trabalho dos ufólogos, e não raro ironizá-los, zombando dos pesquisadores do assunto – sem perceber que estão rindo da própria ignorância –, do que arregaçar as mangas e pôr-se num processo de investigação da Ufologia.
Muitos dos cidadãos, de uma forma condicionada, estão estagnados em seu estabelecido mundo psicológico. Quando se deparam com assuntos relacionados ao fenômeno ufológico tentam dar seu parecer com ar de certeza: “Isso não existe, é coisa de televisão!” Debocham de um fato que simplesmente desconhecem. Parece nítido e prudente concluir que em vez do leigo afirmar que UFOs não existem, deveria ter o bom senso de primeiramente declarar que nada sabe sobre Ufologia. Muitos ufólogos têm a certeza da existência dos UFOs, mas não por uma questão de crendice, e sim por análise de provas inequívocas catalogadas ao longo das últimas décadas, existentes em todo o mundo e que foram ampla e incansavelmente averiguadas.
De qualquer forma, não é o intuito deste trabalho subsidiar largos comentários sobre as provas ufológicas, mas discutir o complexo universo da mente humana, especialmente no que se refere à influência do Fenômeno UFO em nosso psiquismo. Como afirmou o psiquiatra suíço e fundador da escola analítica de psicologia, Carl Gustav Jung, “…os UFOs não devem ser estudados apenas como objetos voadores não identificados, mas também como um fenômeno que interfere no universo psicológico dos homens”.
Influência da Ufologia — Há uma questão polêmica na discussão que se segue, que tem base no estudo sério e sistemático da influência dos UFOs em nosso psiquismo. Tal debate visa uma melhor compreensão do tema por parte dos profissionais da área de saúde mental, assim como dos pacientes e até mesmo dos ufólogos. Esta análise pretende descobrir como certos episódios considerados fantásticos e misteriosos influenciam centenas de milhares de pessoas que vivenciaram algum tipo de seqüestro ufológico ou fenômenos afins – coisas que, para leigos, trazem inúmeras indagações. Como todos – ou quase todos – sabem, o Brasil é rico em acontecimentos ufológicos, ocupando importante destaque no cenário mundial. Justamente por considerar esse amontoado de riquezas casuísticas que aqui ocorrem, é que seu estudo é de grande utilidade para se chegar a importantes conclusões.
Diversos indivíduos que vivenciaram experiências ufológicas marcantes foram considerados por muitos como desajustados mentalmente e levados a desvincular-se da realidade. Sem uma orientação adequada podem se afastar de uma abordagem científica e se envolver em complexos processos místicos, religiosos ou supersticiosos. Com isso, perdem a capacidade de discernir entre a fantasia e a realidade, podendo ser prejudicados psicologicamente. Desde um simples avistamento ufológico a um caso mais profundo e complicado, pode-se afirmar que todo desenrolar de uma experiência ufológica, seja de pequeno ou grande porte, causa um arraigado estímulo no psiquismo da pessoa que a viveu.
Na cidade de Chapada dos Guimarães, à 60 km de Cuiabá (MT), por exemplo, centenas de moradores já revelaram ter observado no céu inúmeras luzes multicoloridas fazendo evoluções espantosas, assim como presenciaram objetos voadores não identificados em forma de disco a baixa altitude. Também são comuns relatos de manifestações de imagens humanóides que já se tornaram lendas em diversas regiões, tais como o Boitatá e a Mãe d’Ouro, que são bolas de fogo executando manobras pela mata. Pessoas leigas no assunto, que moram no campo ou nos grandes centros urbanos, poderiam se imaginar loucos ao presenciarem tais fatos, já que não teriam uma explicação natural para os mesmos. Muitas dessas testemunhas são pais de família respeitados e sem aparente distúrbio psicológico. Entretanto, suas experiências podem fazê-los perder o senso de realidade. Em muitos casos elas envolvem apenas o que os estudiosos chamam de sondas ufológicas.
Existem incontáveis referências a observações de naves, contatos com seres extraterrestres e abduções ocorridas ao longo dos tempos em todo o mundo – e no Brasil em especial. Algumas testemunhas juram ter avistado seres desconhecidos e seus aparelhos. Tudo isso forneceu farto material para livros, filmes, registros, documentários, depoimentos, respeitadas versões e naturalmente muitas lendas, fraudes e fatores puramente psicológicos. É claro que não podemos generalizar e rotular as pessoas que tiveram experiências como loucas ou com algum tipo de distúrbio psicológico. É claro também que esses depoimentos não podem ser todos atribuídos ao medo irracional ou à superstição humana, a erros de interpretação ou fenômenos atmosféricos. Se assim fosse, co
mo ficaria a realidade dos fatos quando não explicados por nenhum desses meios? Nesta linha de raciocínio, com que direito a psiquiatria e a psicologia podem afirmar que tais indivíduos são desequilibrados, coisa corriqueira em nosso dia a dia? Ora, os relatos são ocorrências reais, que não acontecem somente com uma ou outra pessoa. E a Ufologia sabe da legitimidade de tais casos.
Ilusões ou alucinações — O que falar dos contatados, em geral solitários personagens da Ufologia, que não têm a quem contar o que viram e viveram? Sem dúvida, seriam enquadrados em alguma espécie de psicopatologia, sendo descartadas todas as possibilidades deles terem tido, de fato, um contato extraterrestre. Imagine… Extraterrestre? Agora, caro leitor, coloque-se na posição de um suposto abduzido e se imagine relatando a seus amigos e familiares uma viagem num disco voador, ou as atividades em nosso meio ambiente de um humanóide alienígena. Loucura, insanidade? Na verdade, isso ocorre no cotidiano em números muito superiores às que imaginamos. E a insanidade não estaria na história do cidadão, mas em seu ato de relatá-la a seus amigos e familiares. O que eles irão pensar? Ou melhor, como foram condicionados a refletir sobre um assunto desta envergadura? Portanto, não é errado afirmar que o número de contatados anônimos é enorme, pois muitos não se arriscam a revelar o que presenciaram, já que podem ser julgados como loucos ou alucinados. Muitos já se julgam desta forma! É evidente que as pessoas que passam por tais vivências ficam perturbadas, pois são taxadas de desequilibradas e, obviamente, não é todo mundo, nem todo dia que se vê um disco voador ou se tem um encontro com um ser extraterrestre. Mas tais casos, por vezes, efetivamente acontecem, e as pessoas que os vivem acabam acreditando que não são iguais às outras, ou seja, que não são normais. Assim, esses solitários sofredores se retraem em seu anonimato.
Face ao exposto, fica claro que muitos casos ufológicos acabam sendo considerados ilusões ou alucinações, como tenho notado em minhas pesquisas. Mesmo porque, não podemos levar ao pé da letra tudo o que uma pessoa relata, pois em geral precisamos aplicar “filtros” para separar a experiência em si da interpretação que a pessoa fez da experiência. Profissionais da área da saúde mental devem ter acesso e analisar tais relatos para, assim, fazerem um diagnóstico mais preciso, tendo também como base as suposições das verdades desses fenômenos. Este é um filtro muito importante, mas também um trabalho bastante difícil e talvez, justamente por isso, alguns se negam a fazê-lo. Porém, se deduzirmos no mesmo momento que determinada testemunha ufológica sofre de um distúrbio ou problemas de origem psíquica, podendo ser verdadeira sua história, a deixaríamos muito mais perturbada com nossa revelação. Imagine quantos desses indivíduos normais estão em hospitais psiquiátricos por não terem recebido tratamento adequado. Isso nos faz lembrar da Idade Média, quando muitos não tinham qualquer compreensão dos fatos e os pacientes nos hospícios passavam por tratamentos dolorosos e sem nenhuma eficácia.
Alguns contatados por UFOs ou supostos seres extraterrestres nem pensam em procurar um profissional da área de saúde mental, pelo simples motivo de não desejarem ser considerados esquizofrênicos ou portadores de outras psicopatologias. O que também acontece com freqüência é a ignorância de indivíduos que viveram fenômenos ufológicos que, devido à sua falta de conhecimento científico ou da própria Ufologia, buscam respostas noutras áreas. Geralmente, batem à porta de determinadas religiões com visões distorcidas, acreditando que o que vivenciaram se refere a “poderes divinos” ou “malignos”, ou ainda formam sua própria crença, e criam, assim, um fanatismo uforeligioso. Desta maneira, o indivíduo provoca não só em si próprio, mas outros, a incapacidade de diferenciar realidade de fantasia. Os ufólogos têm a obrigação de oferecer elementos que permitam aos profissionais da área de saúde mental um diagnóstico de maior presteza, para não perturbar ainda mais os pacientes que os procuram com fatos ligados ao Fenômeno UFO.
Desconhecimento da Ufologia — Muitos depoentes – testemunhas de atividade ufológica – são classificados em uma categoria psiquiátrica familiar ou suas experiências acabam atribuídas a algum tipo de trauma sofrido. Esse conceito pré-determinado oferece elevada probabilidade de equívoco da classe médica. Devemos mostrar a esses profissionais a verdade sobre os fatos ufológicos possíveis de serem vividos por qualquer pessoa, com base científica. A referida classe simplesmente desconhece que tais acontecimentos são registrados mundialmente e de forma sistemática. Esses psicólogos e psiquiatras, de maneira geral, não fazem idéia da existência de filmes, fotos, pesquisas, dados estatísticos, investigações oficiais, documentos secretos etc, que alicerçam a Ufologia. Também não têm conhecimentos dos trabalhos científicos nas áreas de astronomia, arqueologia, psicologia e psiquiatria realizados por pesquisadores como John E. Mack, Thomas Edward Lawrence, Budd Hopkins, Gilda Moura e tantos outros.
Na estatística do Fenômeno UFO temos como fato, mais do que prova, as semelhanças nas narrativas das testemunhas que nunca se viram nem sequer ouviram falar sobre Ufologia. Elas contam as experiências em detalhes. Também não podemos desconsiderar inúmeros depoimentos análogos de contatos com seres de olhos grandes e pele cinza, vividos por gente de todo o mundo, que tantas vezes são descritos inserindo implantes ou chips em seus corpos e procedendo à inseminação embrionária em mulheres.
É incontestável o fato de que grande parte dos possíveis abduzidos não apresenta características próprias de qualquer psicopatologia e são pessoas honestas, dando verossimilhança aos depoimentos
– Gilda Moura
Os leigos nesse assunto não têm noções da possibilidade da existência de civilizações inteligentes mais avançadas no universo e também não aceitam a visão inquisidora sobre os conhecimentos arqueológicos, como as pesquisas feitas por Erich von Däniken e J. J. Benítez. Os que não entendem de Ufologia pouco sabem sobre os extraordinários relatos de pessoas que passaram por situações traumáticas com nossos visitantes. Desconhecem que foi por meio dos contatados que alguns pesquisadores desvendaram muito sobre o Fenômeno UFO e chegaram a uma curiosa conscientização. Ignoram até mesmo que, atualmente, existem muitos psiquiatras e psicólogos que estudam esses casos a sério. Como afirmou John E. Mack, falecido professor de psiquiatria da Universidade de Harvard, “os ETs estão atormentan
do muita gente e a ciência está com seus olhos fechados para esta realidade”. Mack é autor do livro Abductions: Human Encounters With Aliens [Abdução: Encontros de Seres Humanos com Extraterrestres, Editora Charles Scribner´s Sons, 1994].
O pesquisador Thomas E. Lawrence, premiado com o Pulitzer em 1977 por sua biografia sobre o tema, chegou à outra espantosa conclusão após tratar durante um período de três anos 76 pacientes que alegaram ter sido raptados por ufonautas. A publicação aborda três desses casos, todos descrevendo detalhes semelhantes dos contatos, como raios de luz emitidos por uma nave circular, tripulada por seres humanóides cinzentos e com grandes olhos. O artista plástico e grande ufólogo Budd Hopkins [Consultor da Revista UFO] fez um estudo sobre o rapto de pessoas por alienígenas e apresentou um rosário de experiências complexas e dolorosas em seu livro Intruders: The Incredible Visitations at Copley Woods [Intrusos: As Incríveis Visitações em Copley Woods, Editora Random House, 1987].
Já a psicóloga brasileira Gilda Moura é especializada em tratar indivíduos com traumas causados por raptos alienígenas. Gilda trabalha há 20 anos com o Fenômeno UFO e é psicoterapeuta do Centro de Estudos Alterados da Consciência (CTEC), localizado no Rio de Janeiro, criado especialmente para pesquisar o assunto. Publicou em 1992 o livro UFO: Contato Alienígena [Editora Nova Era], no qual mostra o relato de duas pessoas que disseram ter sido abduzidas por humanóides alienígenas. A psicóloga se dedica a fazer regressão em pacientes que tiveram contatos com seres de outro planeta. “Um aspecto dessa problemática, que tem causado perplexidade entre os profissionais da saúde mental, é o fato incontestável de que grande parte dos possíveis abduzidos não apresenta características próprias de qualquer psicopatologia e são pessoas honestas, dando verossimilhança aos depoimentos”, declarou a pesquisadora.
Crendice Popular — Apesar de tantos casos e tanta informação já acumulada não devemos atribuir tudo à Ufologia. Precisamos ter o cuidado de discernir o que é verdadeiro do que é falso, abandonando a ingenuidade e a crendice popular. Precisamos equilibrar os fatos, ou seja, verificar até que ponto um indivíduo que alega ter tido uma experiência tem um problema psicológico, está inventando um relato ou se meramente sofreu de erro de interpretação quanto a um fenômeno normal por ele observado. Portanto, é de fundamental importância a aplicação da psicologia e da psiquiatria no estudo da Ufologia, pois não são poucos os equívocos atribuídos tanto aos ufólogos quanto aos profissionais da área de saúde mental, pela ausência de informações ou de um banco de dados sobre o Fenômeno UFO. Há mais de uma década desenvolvo atividades de pesquisa sobre o tema e tive a oportunidade de investigar casos incríveis, bem como presenciar fatos que fogem da realidade, fomentando ainda mais a idéia daqueles que acreditam que disco voador é coisa de louco. Alguns desses “malucos” já passaram por minhas pesquisas e, como conseqüência, concluí que muitos têm testemunhos legítimos e delicados.
Diria que cerca de 85% dos relatos de casos ufológicos dos quais pesquisei tratavam-se de erros de interpretação de vários tipos, como avistamentos de balões, fenômenos atmosféricos ou satélites. E há até casos mais graves, como paranóia e esquizofrenia. Mas os 15% restantes são bem sólidos e impactantes. Não pretendo com isso discriminar os testemunhos que analisei. No entanto, não devemos descartar a existência daqueles que ultrapassam os limites do real. Dentre muitos casos, citarei alguns como exemplos. Em 1998, recebi a inesperada visita de um homem de aproximadamente 30 anos, que demonstrava estar atormentado e dizia manter contato com extraterrestres. Tal afirmação me deixou ansioso e mal esperava para saber os detalhes. Convidei-o para sentar e de imediato solicitei que relatasse minuciosamente o que ocorrera.
O suposto contatado falou que havia visto um disco voador dentro de seu quarto. “Não tem muito tempo que essas coisas estão acontecendo comigo. Eu até já vi o piloto da nave. Ele não conversa comigo, mas sempre o observo. Meu pai acha que estou maluco, mas é porque ele não enxerga”, afirmou. Perguntei então qual foi a última vez que havia visto tal objeto. “Antes de ter o contato, comecei a ler muito sobre Ufologia. Então, em uma noite acendi a lâmpada do meu quarto e fiquei olhando para a luz, quando de repente percebi um alienígena me vigiando. Ele estava manipulando equipamentos. Fui até o banheiro e após ligar novamente o interruptor, continuei observando o ET. Meu irmão viu, mas ele não ligou”. Sem que pedisse, ele se levantou e me convidou a presenciar tal fato. Não hesitei e, atendendo ao seu convite, liguei a lâmpada. O que aconteceu? Ele avistava o extraterrestre e perguntava se eu também estava vendo.
Tentei ver, mas não consegui. Ele tentou de todas as maneiras me convencer de que ali existia um alien. Mas o leitor pensa que eu não vi? Depois de muita insistência, finalmente consegui! Vi algo sim, mas algo a que me sugestionei a ver. Essa é a explicação mais lógica. Se alguém pegar um pouco de auto-sugestão, do tipo “eu quero ver”, relacionando-a com um pouco de ilusão de ótica e o olhar intenso para uma área de grande claridade, realmente vai ver o que deseja – talvez até um extraterrestre. Mas no caso desse rapaz havia uma coisa a mais, a paranóia. Então, quando afirmava que enxergava um alienígena, ele não estava mentindo. Ele apenas não percebia sua dramática situação. Tente verificar por si mesmo tal imagem seguindo os princípios: acender uma lâmpada incandescente e acreditar no que vai pronunciar a si mesmo. “Eu vou ver um ser do tipo gray [Cinza] dentro dela, manipulando equipamentos sofisticados coloridos”. Repita essa frase umas 10 vezes. Observe de três a cinco minutos a luz.
Alteração visual — A seqüência do que o experimentador irá observar serão os dois pólos da lâmpada, em uma gradativa conseqüência que resultará na alteração visual, acompanhada de uma projeção psicológica em que os mesmos se converterão em dois grandes olhos. Trata-se de ilusão de ótica, resultado do olhar intenso para a luminosidade. Por fim, no experimento, emergirá uma cabeça desproporcional e, pronto, teremos um ET dentro da lâmpada! Esse caso é apenas um dentre uma multiplicidade de inúmeros relatos de origem psíquica e não ufológica. Alguns
outros casos são baseados em compreensão, passíveis de lógica e estudos psíquicos que revelam traumas causados por abusos sexuais na infância. Em tais situações, a verbalização argumentativa de abdução funcionaria como uma forma do indivíduo criar uma realidade reativa a algo fora de si, como mecanismo de defesa. Transpondo-a de seu controle – algo extra, ou seja, extraterrestre –, teria o intuito de amenizar a dor, trauma ou medo que vivenciou na infância.
Outro relato que se encaixa nos citados 85% pode ser um acontecimento relacionado a distúrbios do sono, quando um indivíduo relaciona ou confunde conteúdos oníricos com a realidade, transformando-a em uma nova, a ponto de sugeri-la a si mesmo e acreditar ter sido uma verdade. Tal fato ocorre sempre entre o estado de vigília e o despertar. Seria um estágio de sono intermediário, quando o indivíduo não está conscientemente acordado, mas também não está totalmente dormindo, gerando assim uma confusão entre sonhos e realidade, misturando as coisas. Como se vê, muitos equívocos na compreensão dos fenômenos ufológicos reais têm origem na falta de informações especializadas de outras áreas, como a psicologia e psiquiatria, imprescindíveis para o sucesso da pesqui-sa ufológica.
A Ufologia vista como uma religião
Outro caso delicado se dá quando há falta ou excessiva seriedade diante de alguns aspectos da Ufologia. Refiro-me às seitas com princípios religiosos, aquelas que acreditam estar recebendo “mensagens de paz e amor” de extraterrestres, e que cobram ajuda dos seguidores para que os contatados continuem a contribuir. Um caso clássico denunciado pela Revista UFO é o de Urandir José Fernandes de Oliveira [Veja UFO 88 e 90]. A “mania Urandir”, dirigente da polêmica seita uforeligiosa Projeto Portal, atingiu até mesmo os integrantes da antiga Associação Mato-grossense de Pesquisas Ufológicas (AMPU). O que resultou, a princípio, em meados de 1992, em discordância e hostilidade entre os membros. A ação de tal “mania” foi devastadora para a entidade que, por sorte, atualmente é totalmente científica, talvez por tudo que seus integrantes passaram.
Na antiga instituição, uns diziam receber mensagens extraterrestres. Existiam também aqueles que afirmavam ver discos voadores dentro das próprias salas de reuniões. Com base em princípios científicos, não foram desconsideradas tais possibilidades, mas as coisas já estavam passando dos limites. Mais tarde, alguns dos integrantes da AMPU, ainda ligados à seita uforeligiosa, começaram a solicitar nas reuniões orações pedindo ajuda aos alienígenas. Até milagres foram pedidos, como se os ETs estivessem ali ao dispor de todos! Ou seja, a organização estava se transformando noutra seita uforeligiosa, por influência da onda nefasta que a “mania Urandir” causou, hoje felizmente erradicada. Aqueles que defendiam uma posição científica nas atividades da instituição se separaram. A Ufologia já é difícil sem este tipo de interferência e é pior ainda quando se vê o uso indevido ou distorcido da realidade sobre a presença extraterrestre em nosso planeta.
A associação passou depois a agregar pesquisas parapsicológicas e conta com trabalhos também na área psíquica. Retornou em 1996 e desde então desenvolve atividades sérias, objetivas e sistemáticas, além de científicas. A ciência nos dá base para sabermos onde estamos pisando e só dessa forma não caímos em histórias mirabolantes ou invenções. Hoje, a atual Associação Mato-Grossense de Pesquisas Ufológicas e Psíquicas (AMPUP) está longe de correr o risco de seguir rumos messiânicos. Suas ações são concretas no sentido de coletar, examinar, investigar e divulgar ocorrências ufológicas genuínas em Mato Grosso e outros estados do país.
A AMPUP tem recebido diversos relatos fantasiosos, que irreversivelmente requerem pesquisa, como manda o método científico. Também há aqueles que são aparentemente verídicos, mas que também serão submetidos aos mesmos métodos. Como diria o velho ditado em latim, in medio virtus. A virtude está no meio, não nos extremos. Nada de descartar a priori casos que soam ridículos, nada de acolher fatos que parecem excelentes à primeira vista. Com os instrumentos adequados, a aplicação sistemática de filtros e muita persistência, separaremos o joio do trigo neste celeiro cheio de casos ufológicos que é o Brasil.