
Séculos atrás, era comum um indivíduo exercer diversas atividades profissionais ao mesmo tempo, tais como medicina, astronomia, astrologia, matemática e física. Nas horas vagas, a mesma pessoa poderia ainda ser escritora, dramaturga e integrante da corte do rei do território onde residisse. Na época, as áreas de conhecimento, de forma geral, ainda não tinham uma amplitude tão vasta, o que permitia que alguém as aglutinasse em várias frentes. Com o tempo, o cenário mudou radicalmente e hoje vivemos em uma sociedade global em que a especialização das atividades profissionais é necessária. A quantidade de conhecimento gerado e aplicado em nossas vidas dificulta a uma única pessoa atuar em mais de uma ou duas frentes do conhecimento.
Hoje uma pessoa pode ser, por exemplo, professor, mas isso não significa que será cientista, jornalista, atleta, comerciante e político ao mesmo tempo. Dedicamos a maior parte dos nossos dias a afazeres específicos e, devido à correria cotidiana, sobra-nos pouco tempo para explorar, de fato, o mundo que nos cerca. É justamente por isso que existe o que podemos chamar de “terceirização do conhecimento”. Somos dependentes crônicos do nosso microuniverso, e o contato com o mundo depende da atividade de profissionais de outras áreas. Nesse contexto, o jornalista desempenha papel fundamental na sociedade moderna e globalizada.
Ele é muito provavelmente o profissional que conhecemos com mais contato com o mundo real, e nos informa o que ocorre em vários ambientes e circunstâncias da vida, seja pela mídia impressa — jornais e revistas — ou por meio do rádio, televisão ou internet. Essas são as pessoas às quais “terceirizamos” a tarefa de descobrir e nos informar o que ocorre à nossa volta. E elas, por sua vez, centralizam todas as outras “terceirizações” — como o conhecimento gerado por cientistas, atletas, economistas, políticos etc — para divulgar os fatos que produzem a toda a população. A despeito de nossas críticas e possíveis ressentimentos, são os jornalistas que detêm a legitimidade de informar. Há um consenso social implícito, quase inconsciente, de que devemos acreditar neles. O impacto vindo de seu trabalho é sempre significativo — e amplificado quando tratamos da mídia de massa.
Origem histórica
Assim, a tarefa do jornalista é considerável, uma vez que deve saber minimamente o superficial sobre absolutamente tudo, bem como deve conhecer mais profundamente algumas demandas específicas, que são cobertas pelos mais especializados. O jornalista é, portanto, um profissional que deve ser extremamente preparado, ter sólida formação cultural e intelectual, além de curiosidade extrema e estar sempre preparado para a exposição a novos fatos, por mais absurdos que possam parecer, correto? Bem, nem sempre!
Tendo a Ufologia no centro desse debate, com sua pesquisa da presença alienígena na Terra através de objetos voadores não identificados em nossos céus, bem como o contato com seus tripulantes e ocupantes, o que podemos constatar é que o meio jornalístico — salvo exceções — costuma tratar da área sem o mínimo preparo. Em princípio, porém, não devemos culpar tais profissionais por todos os males de que sofre a Ufologia, pois há uma origem histórica nesse comportamento, que remonta ao início da assim chamada Era Moderna dos Discos Voadores, no final da década de 40 do século XX.
Como todo período inicial em qualquer tipo de estudo, na época em que surgiu o Fenômeno UFO tudo era aceito sem muita análise crítica e havia um grave problema de interlocução entre alguns dos que se diziam ufólogos — um problema que persiste com força até hoje. Relatos fantásticos de contatos com seres de outros planetas eram muito frequentes — entre os maiores expoentes desse tipo de abordagem estavam George Adamski e Billy Meier — e parte da imprensa, em um primeiro momento, abraçou essa ideia, uma vez que o tema vendia bem. Para piorar, o período culminou com o início do grande esforço militar norte-americano para desestabilizar os pesquisadores do Fenômeno UFO, através de projetos como o Livro Azul [Blue Book], estivessem eles lidando com relatos consistentes ou fantasiosos.
Além disso, temos também que levar em conta um desprezo quase que generalizado pelo Fenômeno UFO por parte da comunidade científica, o que se reflete no descompromisso da mídia de tratar do tema apropriadamente. Juntando esses três fatores — visões fantasiosas, desinformação militar e desprezo dos cientistas —, dentre outros, o estudo sério da Ufologia, realizado por ufólogos corajosos e pioneiros, ficou comprometido pela ressonância criada pela mídia na sociedade de que o Fenômeno UFO era o território de loucos e desocupados. Essa imagem, consolidada entre os anos 50 e 60, se tornou um estigma associado ao nome Ufologia. A população, de forma geral, preocupada com seus afazeres, “terceirizou” à mídia o veredicto sobre o assunto e, no fim do processo, ele não foi positivo.
Ufólogos e enganadores
Os indivíduos que se dedicam seriamente ao estudo dos discos voadores e da ação na Terra de inteligências de procedência alienígena — sejam extraterrestres, ultraterrestres, interdimensionais ou outros — tentam desde então derrubar o muro de preconceito contra a Ufologia, buscando estabelecer reconhecimento positivo na divulgação de que algo extraordinário, que escapa à nossa visão imediata, acontece ao nosso redor. Mas o ranço outrora criado ainda é muito forte, e a presença assertiva da mídia é essencial para mudar tal imagem. Ela deve ser uma aliada da Ufologia. Sem ela, agindo de forma idônea e disposta a divulgar sem preconceitos os resultados das pesquisas da fenomenologia ufológica, a forte imagem do senso comum de que a área é território de loucos jamais mudará. Da mesma forma, nunca haverá a percepção, por parte do grande público, de que há diferenças gritantes entre ufólogos sérios e indivíduos enganadores que apenas buscam lucrar à custa de pessoas inocentes e incautas — além, é claro, daqueles desequilibrados que se aproveitam da Ufologia para extravasar seus problemas pessoais.
Mas embora seja uma força poderosa, a mídia não é a única instituição que pode ajudar a Ufologia a sair desse quadro negativo. A comunidade científica e também o meio militar podem, e muito, colaborar para o estabelecimento da credibili
dade na Ufologia auxiliando na mudança da consciência jornalística. Alguns passos alentadores vêm sendo dados em ambas as frentes, como a gradual abertura dos arquivos militares secretos sobre UFOs em todo o mundo — cenário em que o Brasil tem se destacado graças à campanha UFOs: Liberdade de Informações Já, implantada no país pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) através da Revista UFO — e o reconhecimento de alguns cientistas, como o proeminente doutor Michio Kaku, de que estamos sendo visitados por seres cujas origens não estão em nosso próprio planeta.
A mídia e a Ufologia hoje
Mesmo nesses meios, contudo, o caminho ainda é longo, uma vez que a maior parte da comunidade científica e dos meios militares da maior potência bélica do planeta — os Estados Unidos — ainda apresentam forte oposição ao assunto. No Brasil, por outro lado, as recorrentes intervenções do famoso físico Marcelo Gleiser na mídia, usando sua popularidade para destilar sua completa ignorância a respeito da Ufologia, tecendo comentários negativos sobre um tema que ele desconhece, chamam nossa atenção para a reação ainda negativa da ciência oficial quanto ao Fenômeno UFO e a existência de extraterrestres em nosso meio, já tão amplamente comprovada.
Em matéria intitulada Agroglifos: Mensagens ou Fraude?, publicada no jornal Folha de S. Paulo de 12 de junho, Gleiser afirmou levianamente, por exemplo, que os círculos ingleses não merecem ser investigados, pois os tais “dois velhinhos” que afirmaram ter feito todos os círculos diziam a verdade [Veja resposta do editor A. J. Gevaerd a Gleiser na seção Mensagem do Editor de UFO 180, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Logo depois de sua falácia, porém, os ditos autores sexagenários dos círculos nas plantações se aposentaram e, no entanto, os sinais continuaram aparecendo — até bem mais do que antes. A situação, porém, tem melhorado há cerca de uma década, pois até então as críticas à Ufologia eram mais ferrenhas e seus proponentes — bem como testemunhas de avistamentos de UFOs — eram verdadeiramente ridicularizados. Esperemos que essa sutil mudança para melhor, observada desde então, se acentue.
Hoje, se tentarmos analisar o comportamento da mídia em relação à divulgação da Ufologia, observamos três linhas de ação. A primeira, e óbvia, é a falta de preparo. O jornalista e o próprio editor do veículo de imprensa para o qual ambos trabalham parecem não ter a capacidade de discernir entre fato e ficção, ou entre fatos de natureza ufológica e outros, correlatos ou não, misturando e apresentando ao público uma verdadeira mistura de temas — um emaranhado de informações desconexas que, como fala jornalística, soa crível ao público. Esse tipo de comportamento da mídia pode ocorrer com qualquer assunto e em veículos de comunicação de todos os portes, mas parece acentuado quando o tema abordado é a Ufologia. Tal linha de ação certamente é fruto do ranço do passado que acompanha a Ufologia até hoje. O jornalista aperta o botão de seu piloto automático e segue o senso comum de forma assustadora e acrítica, prejudicando o trabalho sério dos ufólogos.
Arquivos secretos e SETI
A segunda mais visível atitude, ou linha de ação, da mídia em relação à Ufologia é a falta de interesse pela divulgação séria. E por divulgação séria devemos entender a prática de apurar correta e imparcialmente toda a informação recebida, e publicá-la sem distorções significativas. Curiosamente, são os veículos de cidades pequenas os que tendem a divulgar mais corretamente os fenômenos ufológicos, recorrendo à opinião de ufólogos e tentando informar a comunidade de maneira mais precisa. Assim o fez, por exemplo, o jornalista Rogério Venceslau, da TV Juruá de Cruzeiro do Sul (AC), que tem um grau de consciência sobre Ufologia que deveria ser exemplo entre seus colegas de todo o país [Veja matéria no Portal da Ufologia Brasileira: ufo.com.br]. Esse tipo de ação, porém, ocorre em grau bem menor do que o anterior.
Embora seja uma força poderosa, a mídia não é a única instituição que pode ajudar a Ufologia a sair desse quadro negativo. A comunidade científica e também o meio militar podem, e muito, colaborar para o estabelecimento da credibilidade na Ufologia auxiliando na mudança da consciência jornalística
Um exemplo recente dessa situação ocorreu em 07 de outubro de 2010, em uma comentada edição do programa Conexão Repórter da Rede SBT, no qual o jornalista e âncora Roberto Cabrini abordou de forma jornalisticamente perfeita duas faces da Ufologia: a investigação séria, centralizando-se na liberação dos arquivos da Aeronáutica obtida pela CBU — e entrevistando, entre outros, até o brigadeiro José Carlos Pereira —, e a parte mambembe da Ufologia, que embora tenha tido menor tempo, chamou mais a atenção do público telespectador. Mesmo sendo jornalisticamente correto, Cabrini acabou por ressuscitar, na citada segunda parte de seu programa, o famigerado Projeto Portal e sua nova atração, o duvidoso ET Bilú — que ganhou posteriormente grande espaço em outros programas de televisão, nos quais foi unanimemente rechaçado, porém desviando o foco do estudo sério da temática ufológica.
Mas nem tudo é negativo na apresentação jornalística de assuntos ligados à presença alienígena na Terra ou de sua busca no espaço, e um bom exemplo disso foi a divulgação de novos fatos por parte da agência de notícias ligada ao Projeto SETI, o programa de busca por vida extraterrestre inteligente. Apesar de ridicularizado no início de suas atividades, um grande esforço por parte dos cientistas envolvidos em posicionar clara e corretamente a intenção do programa mudou a imagem da sociedade a seu respeito. A mídia entendeu o recado e hoje o instituto de pesquisa goza de maior credibilidade entre a população [Veja UFO 179, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Informação e contrainformação
Por fim, a terceira atitude da mídia com relação à Ufologia é a má-fé, uma situação que implica em que o jornalista pode ter entendido corretamente o fato que pretendeu divulgar, mas, por motivos obscuros, ele o fez de maneira a que matéria acabasse depondo contra a Ufologia. Aqui podemos ter como razões a interferência do editor do veículo em que trabalha, da direção da empresa que o produz ou até de alguma força de cunho político conhecido ou desconhecido, que intervenha a favo
r de um processo de desinformação. Ou uma soma de tais situações. As teorias conspiratórias — que esse autor não costuma apoiar — também podem ser inseridas nesse contexto, embora certamente não ocorra na totalidade desses cenários.
Um exemplo de má-fé da mídia a ser dado como exemplo aqui, inclusive já comentado em artigo do coeditor Marco Antonio Petit na edição UFO 170, foi a reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, de 15 de agosto de 2010, sobre como alguns casos clássicos da Ufologia Brasileira poderiam ter respostas convencionais. O festival de absurdos apresentados, comentado por Petit em seu texto As “Revelações” do Programa Fantástico, na referida edição, foi tão grande que a única conclusão lógica a que se chega é de que só pode ter se tratado de um atentado malicioso ao estudo sério da Ufologia. Assim, mais uma vez, a população, nada sabendo do assunto ou dos casos abordados, certamente endossou a opinião daqueles aos quais “terceirizou” a tarefa de saber e informar sobre o mundo que nos cerca. Como vemos, a desinformação, ou contrainformação, caminha a passos largos.
Também não podemos nos esquecer de um fator que pode permear as três ações descritas acima: a audiência. Dependendo de onde soprar o vento da audiência, uma abordagem ignorante, positiva ou leviana pode ser a tônica da notícia. No Brasil, infelizmente, parece que esses ventos sopram mais para o terreno do sensacionalismo leviano, retroalimentando a imagem de Ufologia como “coisa de louco” e causando uma situação na qual nenhuma informação acaba sendo mais do que lixo. Programas da grande repercussão e apelo popular acabam caindo nessa categoria, embora, claro, haja raras exceções.
Enfim, é difícil projetar para o futuro próximo um cenário positivo para a Ufologia, no que diz respeito ao amadurecimento da ação da mídia para divulgar seus resultados efetivos e obtidos com tamanho esforço honesto por parte de abnegados estudiosos. Mas esse cenário negativo, porém, talvez esteja mudando.
Fato singular mais importante
A principal arma de quem se dedica à Ufologia é a correta aplicação das informações apuradas — Ufologia, aliás, definitivamente não é uma área para quem não tem senso crítico. Tenha o aficionado pelo tema orientação científica ou mística — para ficarmos nas duas principais correntes da Ufologia Brasileira —, ele deve saber o momento certo de ir em frente ou de refutar uma hipótese de estudo, e somente o senso crítico, aliado ao contato com estudiosos experientes, o ajudará a desenvolver essa capacidade de discernimento. Assim preparado, o estudioso gerará credibilidade tanto em seu círculo de amizades quanto em uma eventual entrevista para um veículo de mídia que venha a conceder, contribuindo para a melhoria da imagem da Ufologia.
Devemos nos lembrar de que seu objeto de estudo, a presença em nosso meio de seres originados em outras esferas de existência, poderá representar o fato singular mais importante na vida de todo ser humano. E por mais cético que seja um indivíduo, deve haver pelo menos um momento no decorrer de sua existência em que vislumbre a possibilidade de um eventual contato com seres provenientes de algum outro mundo. Assim, cabe a nós, pesquisadores dedicados, prestar uma contribuição para o processo de diluição do ceticismo daqueles mais arredios a qualquer abertura. Ter correção e honestidade no trato das informações é justamente essa contribuição. E quando isso ocorrer, esperamos contar com a mídia do nosso lado.