Os cientistas responsáveis pela ação usaram uma câmera de 138 megapixels, presa a um telescópio no Novo México (EUA), para produzir a imagem do universo mais detalhada já feita em toda a história. O objetivo do trabalho é substituir a imagem até então mais nítida, a do Observatório Palomar, realizada durante a década de 50. A câmera utilizada será desativada e fará companhia a objetos históricos da astronomia no Museu Smithsonian, em Washington.
“Usaremos o material para entender melhor o processo de expansão que o universo vem sofrendo, uma das grandes questões da área nos dias de hoje”, explica David Weinberg, um astrônomo da Universidade de Ohio que trabalhou no projeto.
Montada na última década a partir de milhões de imagens de 2,8 megapixels cada, a imagem é tão grande que seriam necessários 500 mil aparelhos de TV de alta definição para ser vista em resolução máxima. Assista a animação, clicando aqui.
Faz parte da liberação do terceiro bloco de dados do projeto internacional Sloan Digital Sky Survey (SDSS), com informações sobre cerca de meio bilhão de objetos celestes, dos quais aproximadamente 250 milhões são galáxias e outros 250 milhões são estrelas e outros astros distribuídos em cerca de um terço do céu.
O levantamento do SDSS visa, entre outros objetivos, a substituir o mais completo mapa do céu anterior, montado nos anos 50 a partir de observações do telescópio do Monte Palomar, na Califórnia, e ainda hoje usado pelos astrônomos. O mapa do SDSS está sendo construído com imagens captadas desde 1998 pela câmera especial citada. Os cientistas esperam que este mapa sirva de guia para os astrônomos por um período de tempo equivalente ao do telescópio de Palomar.
“Não se pode estudar o que não se conhece”, explicou o físico Luiz Nicolaci da Costa, do Observatório Nacional e diretor do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LineA), parceria da instituição com o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) que coordena a participação brasileira no SDSS. “Este levantamento vai proporcionar um mapa do Universo a partir do qual se poderá estudar diferentes classes de objetos. Quanto maior o volume de dados que se tem, maior a chance de se achar objetos raros”, disse.
O grupo do LineA é apenas um dos 20 que colaboram com o SDSS e contam com mais de 500 cientistas espalhados por diversos países. Além deles, conta com a participação de 250 mil internautas para ajudar a identificar os objetos observados por meio dos projetos Galaxy Zoo e Google Sky.
Dedicado exclusivamente ao projeto, o telescópio de Apache Point não só determina a posição dos objetos no céu como também recolhe dados do espectro deles, em um processo no qual sua luz é separada em diferentes comprimentos de onda. Essa informações ajudam a calcular sua distância da Terra, assim como propriedades como a temperatura e composição química das estrelas e galáxias.
“É um projeto muito ambicioso e um dos que mais mudou paradigmas na astronomia internacional nas últimas décadas”, contou Nicolaci, que destacou entre as descobertas já proporcionadas pelo SDSS a de alguns dos quasares (núcleos ativos de galáxias que acredita-se abrigarem buracos negros supermaciços) mais distantes do Universo e de milhares de estrelas muito frias, que são conhecidas como anãs marrons.
Enquanto isso, a Agência Espacial Européia (ESA) divulgou novos dados obtidos pelo seu observatório espacial Planck, que tem como objetivo capturar a luz emitida apenas algumas centenas de milhares de anos após o Big Bang, a explosão que teria dado origem ao universo a 13,7 bilhões de anos atrás, conhecida como Radiação Cósmica de Fundo (CMB).
Ao fazer este levantamento, o Planck detectou algumas das maiores estruturas conhecidas no cosmos, aglomerados de galáxias com dezenas de milhões de anos-luz de extensão. Segundo a ESA, o observatório captou pelo menos 20 dessas estruturas que antes eram desconhecidas, assim como confirmou a existência de outros 169 destes aglomerados.
“Esses aglomerados têm até cem galáxias e cada um destas galáxias, bilhões de estrelas”, disse Nabila Aghanim, astrônomo do Instituto de Astrofísica Espacial de Orsay, na França. Os aglomerados foram detectados no processo de “filtragem” da luz captada pelo Planck, em que os cientistas descartam informações que não sejam relativas à CMB.
Originalmente concebido para detectar explosões de raios gama nos confins do universo, o observatório espacial Fermi, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) acaba de fazer uma descoberta bem embaixo de seu “nariz”. O Fermi captou feixes de antimatéria emitidos em direção ao espaço por tempestades na atmosfera do planeta, um fenômeno que nunca tinha sido observado antes.
A antimatéria, como o nome sugere, é o oposto da matéria normal, que forma a maior parte do cosmos. Formada por partículas semelhantes, mas de sinais trocados, sua existência há até pouco tempo era apenas estimada.
Estudos e observações recentes, incluindo esta última, vêm comprovando que a antimatéria é parte importante do universo. Os cientistas acreditam que a antimatéria foi produzida por flashes de raios gama (TGFs, na sigla em inglês) que acontecem dentro das nuvens e são associados a relâmpagos. As estimativas são de que ocorrem pelo menos 500 TGFs por dia, mas a maioria não é detectada.
“Esse sinais são a primeira evidência direta de que tempestades produzem feixes de antimatéria”, discorreu Michael Briggs, integrante da equipe que controla o Monitor de Explosões de Raios Gama do telescópio Fermi e da Universidade do Alabama, ao apresentar o achado durante reunião da Sociedade Astronômica Americana.
A nave estava localizada logo acima das tempestades na maioria dos TGFs que observou, mas, em quatro casos, as tempestades aconteceram longe do Fermi. Durante uma TGF em 14 de dezembro de 2009, ele estava acima do
Egito, mas a tempestade acontecia sobre a Zâmbia, 4.500 km ao sul.
Como a tempestade estava abaixo do horizonte de Fermi, nenhum raio gama produzido foi detectado. “Mas mesmo quando o Fermi não podia ver a tempestade, ele estava magneticamente conectada a ela”, explicou Joseph Dwyer, do Instituto de Tecnologia de Melbourne, na Flórida.
“O TGF produziu elétrons e pósitrons de alta velocidade, que viajaram pelo campo magnético da Terra até atingir a nave. A presença de pósitrons mostra que muitas partículas energéticas são lançadas constantemente na atmosfera e os cientistas agora acreditam que todos os TGFs emitem feixes de elétrons e pósitrons”, completou.