Não somente dos crédulos vive a fraude. Embora em numerosas ocasiões os ufólogos tenham denunciado enganos e engodos de falsos videntes e gurus, temos também que dirigir nossos olhos críticos para outro tipo de usurpadores, que causam igual estrago ao meio ufológico e outros. Há outra espécie de aproveitadores que, escudados atrás de um torpe disfarce pseudocientífico, tentam explicar o mundo do mistério ao sabor de seus interesses pessoais. A história da ciência está cheia de exemplos. Nada mais pesado do que o ar podia voar, a eletricidade era uma moda passageira e inútil e do céu não podiam cair pedras, simplesmente porque no céu não há pedras. E apesar destas categóricas afirmações, os aviões voam, a eletricidade existe e controla a civilização e os meteoritos às vezes arrebentam casas ao caírem…
Está em franca expansão, atualmente, um grupo de pseudocientistas que, autodeclarando-se céticos, atacam sistematicamente toda a forma de manifestação heterodoxa relacionada com objetos voadores não identificados e fenômenos paranormais, simplesmente porque são áreas em desenvolvimento, que ainda necessitam de mais pesquisa. São pseudocientistas porque, como já dizia Voltaire, “é a ignorância a que nega ou afirma, pois a ciência sempre duvida”. E isso é o que significa o termo cético: aquele que duvida, não o que nega ou afirma, peremptoriamente. Sem a dúvida, as explicações que os pseudocéticos outorgam com freqüência aos fenômenos anômalos deixam pouco lugar à razão. São tolices, absurdos, idiotices ou estupidez, dizem. E se é assim, para que gastar tempo com eles, não é mesmo?
Seus cérebros, que acreditam super dotados, não necessitam se deslocar ao lugar dos fatos nem interrogar as testemunhas para tirar suas conclusões. Elas já estão prontas! Esta postura está bem refletida nas afirmações que os pseudocéticos dão em debates de que participam, especialmente aqueles com audiência ou mídia. Um exemplo claro pode ser visto na declaração de Luis Alfonso Gámez, líder do pseudoceticismo espanhol, ao condenar o livro Infiltrados [Editorial Protusa, 1999], do conhecido ufólogo Josep Guijarro. “Depois de ler na capa o nome do autor, o medo de perder a integridade mental me impediu de prosseguir. Mais vale um covarde vivo do que valente descerebrado”, disse Gámez. Parece que somente os humildes mortais necessitam ler um livro para poder julgá-lo.
A falácia do movimento pseudocético
Em maio de 1976 celebrou-se nos Estados Unidos uma reunião patrocinada pela Associação Humanista Americana, que daria como resultado a fundação do Comitê para a Investigação Científica de Alegações do Paranormal [Committee for the Scientific Investigation of Claims of the Paranormal, CSICOP], uma espécie de “Vaticano” do movimento pseudocético mundial. Continuo a usar a palavra pseudocético porque resisto em aceitar o termo cético para este movimento de fundamentalismo pseudocientífico. O CSICOP inspirou o surgimento de agrupamentos semelhantes em muitos países, como o Centro Argentino para a Investigação e Refutação da Pseudociência (CAP), a espanhola Alternativa Racional às Pseudociências (ARP), ou ainda a Sociedade Terra Redonda (STR), no Brasil. Na Espanha, para citar somente um exemplo, os autodenominados céticos converteram-se em interlocutores habituais de todo debate sobre UFOs e fenômenos paranormais. É no mínimo suspeito que obtenham sucesso apenas neste tipo de programas, e não em colóquios com debates relativos às suas respectivas disciplinas, o que levou alguns doutores à conclusão de que somente desta forma sublimam sua mediocridade acadêmica – apenas uns poucos que têm título universitário – obtendo fama, popularidade e dinheiro atacando sistematicamente os UFOs e fenômenos paranormais.
É evidente que abundam a fraude e os erros de apreciação nestas áreas. Mas, como em todo o campo do conhecimento, é necessário dedicação e experiência em uma disciplina para poder emitir juízos razoáveis sobre ela. Por isso, somente os especialistas em física podem emitir opiniões sólidas sobre física, só os astrônomos podem falar com conhecimento de astronomia e só os médicos podem dar diagnósticos de saúde com propriedade. Por que então jornalistas não especializados, bancários, agentes de seguro ou programadores de computador – algumas das categorias dos pseudocéticos – emitem juízos radicais contra os fenômenos paranormais e ufológicos nos debates de que participam, especialmente se forem em algum programa de TV? Por que, então, não comparecem ufólogos ou parapsicólogos a debates sobre informática, biologia ou astronomia?
O resultado é que as afirmações desses pseudocéticos são freqüentemente ridículas, e seriam divertidas se não fossem tão patéticas. A falta do reconhecimento das manifestações parapsicológicas é de uma ignorância cavalar. Identicamente, não levar a sério milhares de testemunhos e evidências de que estamos sendo visitados por civilizações mais avançadas é no mínimo irracional, para dizer pouco. Andrés San Juan, assessor científico da ARP e especialista na vida sexual das moscas – sobre tão estimulante tema realizou sua tese de pós-graduação –, acusava as universidades do país de gastarem tempo e dinheiro na investigação dos fenômenos paranormais, retirando recursos de outros temas mais importantes para a ciência, como, talvez, a sodomia nas moscas varejeiras da Patagônia, detalhe de sua tese acadêmica…
A vida sexual das moscas
Outro espanhol também causa curiosidade. Jesus Martinez Villarro, ex-editor do boletim da ARP Alternativa Racional, afirma que o caso de um UFO gravado em fita magnética em Bilbao, episódio clássico e legítimo da Ufologia Mundial, era “o coaxar de um sapo da espécie Alytes Obstetricans, quando se masturba”. Segundo a ARP, esta era a origem da gravação. Isto para não falar das categóricas afirmações destes “cientistas”, que a maioria dos UFOs avistados, inclusive por pilotos, meteorologistas, engenheiros etc, na realidade não passam de raios em bolas, fenômenos meteorológicos ou ilusão de ótica. Raios bolas, coaxar de sapos, vida sexual das moscas?! Algu&e
acute;m poderia pensar maliciosamente que os “céticos” têm algum transtorno da libido. Curiosamente, há pouco tempo os pesquisadores descobriram que uma das maiores fraudes da Ufologia Espanhola, o Caso Ummo, foi perpetrado justamente por um destes “céticos”, aproveitando o mito gerado por ele para materializar suas fantasias e interesses pessoais.
Cada um é livre para viver sua imaginação como preferir, mas sempre e quando não se aproveitar da credulidade alheia para abusar da verdade, e especialmente se não o fizer escudado por um falso senso científico. Apenas como adendo, poderíamos especular que Freud teria algumas interessantes e sugestivas conclusões a partir das explicações que os pseudocéticos dão a muitos casos paranormais. Não deixa de ser curioso que, em recente estudo grafológico realizado com cinco ufólogos de campo e cinco “ufólogos de gabinete” – como chamamos os pseudocéticos na Espanha –, em pelo menos três destes últimos se detectou desvios mentais e tendências sexuais exóticas, inclusive indícios de demência. Mas o “sexo cético” é o de menos, apenas uma aberração, digamos assim.
Analisando as explicações que certos “donos” da Ufologia de gabinete dão a alguns casos, chega-se a perceber abusos gritantes, que beiram à insanidade. Um exemplo é a explicação atribuída a um caso ufológico dos mais bem documentados do mundo, ocorrido em Manises, Espanha, em 11 de novembro de 1979. Um UFO simplesmente provocou a aterrissagem de emergência de um avião Supercaravelle no aeroporto local e o disparo de um caça a jato da Aeronáutica espanhola para perseguição do intruso por centenas de quilômetros. Isso sem falar no apavoramento dos controladores de vôo e até do diretor do aeroporto e vizinhos de Manises. Segundo estes “céticos”, o UFO não passou de duas chaminés de uma fábrica na Argélia, o país vizinho. E ainda que possa parecer brincadeira que o UFO que foi perseguindo por toda Espanha eram duas chaminés argelinas, os tais ufólogos de gabinete consideraram esta uma “explicação séria”. Isso se repete no mundo todo.
Interesses inconfessáveis
Ante estas afirmações, partindo de quem não compartilha a chamada HET – Hipótese Extraterrestre – para o Fenômeno UFO, só temos que vê-las como verdadeiras sandices, especialmente se quem as emite estiver em estado sóbrio. A menos que existam interesses ocultos para explicar, por mais absurda que seja a forma e a qualquer custo, todos os enigmas paranormais e ufológicos. E quais podem ser tais interesses? Talvez a resposta esteja em uma carta de Félix Ares de Blas, fundador e líder da ARP. Nela, o “cético” espanhol esclarecia que cobra 250 mil pesetas [Cerca de R$ 4 mil] por cada conferência que realiza contra os fenômenos paranormais. Naturalmente, se a conferência for em inglês, o preço é maior. A verdade é que, ante tão substanciosos honorários, fica compreensível tamanha visceralidade na tentativa de demonstração de que os fenômenos paranormais e ufológicos não existem.
Não importa que o ataque à jugular da Ufologia seja em nome da ciência, como pretensamente falam os pseudocéticos, ou da espiritualidade, como alegam os videntes e gurus citados no começo deste texto. Estes verdadeiros vampiros sugam o sangue do mundo do mistério com a mesma voracidade em um extremo ou em outro. E todos sabem que os extremos se tocam, além do que, a verdade está no meio, “in medio virtus”.