Na sexta-feira, quando li pela primeira vez a “bomba” sobre a descoberta da abdução do Gevaerd, a primeira coisa que veio à minha cabeça foi: “como assim? Pirou de vez!”. Pensei que por estar passando por um trauma tão grande, ele tinha enlouquecido de vez, ou pior, estava à procura de atenção. O Geva NUNCA viu um OVNI, e sempre deixou isso claro. O fato de ser sempre centrado, sério e principalmente, afirmar que, sendo o editor da mais antiga publicação ufológica em atividade do mundo e ser um pesquisador reconhecido mundialmente, nunca viu um disco voador, lhe dava uma credibilidade inclusive entre seus “opositores”. Depois dessa bomba…
Bem depois da bomba recebi ligações de várias pessoas, todas elas preocupadas com essa descoberta, não pelo fato de uma pessoa ter sido abduzida e depois se lembrar, mas pelo fato de ser Ademar J. Gevaerd, que até pouco tempo atrás nunca tinha visto um OVNI, que batia forte em charlatões da ufologia e combatia quem quer que fosse que tentasse se aproveitar do fenômeno para se auto promover. Muitos me falaram que ele estaria se jogando na fossa comum de pessoas como Carlos Paz, Urandir e etc. Alguns disseram que ele podia estar “carente” devido à morte da Daniela; e que essa seria uma forma de ter a atenção e preencher um vazio impreenchível. Confesso que também pensei em tudo isso.
Na noite de sexta, após ler um email, liguei para o Dr. Luciano Stancka. Conversamos por quase uma hora sobre tudo isso. Ele me deu explicações profissionais sobre regressão hipnótica, sobre os fatores que poderiam levar o Geva a ter essa atitude e até mesmo sobre a veracidade do fato. Eu já li muito sobre hipnose regressiva aplicada ao fenômeno da abdução. Já entrevistei para a UFO e conversei com muitos pesquisadores desse fenômeno, mas mesmo assim não me sinto inapto para fazer qualquer julgamento à sessão conduzida pela Gilda Moura. O que eu sempre digo quando é feita uma regressão, é que o hipnólogo pode acrescentar o que quiser na memória da pessoa, ele pode conduzir à pessoa a acreditar ou não que foi abduzida. E outra, a cabeça do Gevaerd gira 24 horas por dia em torno da ufologia, ou seja, estaria contaminada com algo que pratica por mais de 30 anos. Ele seria isento de tudo isso? Suas memórias não estariam pré-dispostas? O mundialmente renomado pesquisador Dr. David Jacobs, afirma em seu site (http://www.ufoabduction.com/hypnosis3.htm) que “Therefore, once you have decided to explore your situation, you should avoid reading UFO books or talking with abductees about their UFO experiences. It is important to your own sense of the real and the imaginary that you are able, ten years from now, to know that a particular set of details emerged from your own experience and was not something you picked up in a conversation or letter from someone else”, ou seja, resumidamente, que se você quiser se submeter a uma sessão de regressão hipnótica, deve ficar longe de livros sobre o fenômeno ou conversar com abduzidos sobre suas experiências. Estamos perto do III Forum Mundial de Contatados…o que mais dizer?
Troquei algumas mensagens com alguns colegas que se mostraram preocupados com as afirmações do Geva. Não estou afirmando que eles não acreditem na abdução do Gevaerd, mas que era algo bem estranho. Lembrando, o Geva sempre disse que NUNCA tinha visto um disco voador. Me preocupei com tudo isso. Conversei com o Gevaerd por mensagens, dizendo que estaria ao seu lado, como sempre, mas que ele não “embarcasse” nisso. Eu juntei alguns amigos em comum e disse que teríamos que fazer alguma coisa. O Gevaerd poderia estar dando um enorme tiro (de canhão) no pé. Estaria indo contra tudo o que ele combateu contra os “Urandires” da vida. A sua credibilidade, assim como a da ufologia nacional, iria para o ralo. Esse foi meu pensamento. Alguns de nós entraram em contato com ele e o alertamos, mas o Gevaerd quando quer algo, ele vai fundo, até o fim, como ele mesmo escreveu.
Foi então que o Gevaerd postou um novo email contando com mais detalhes a sua regressão, os sonhos que ele tinha tido. Algo que ele tinha guardado por anos. Eu ainda achava tudo isso muito estranho, um misto de delírio com aproveitar o momento no qual ele está passando. O Gevaerd disse que já tinha tentado resgatar suas memórias em outras oportunidades, com Gilda Moura, Budd Hopkins, John Mack e Hellen Billings, mas que nada foi recobrado; ele nem tinha conseguido entrar em transe profundo. MAS, quando li o seguinte trecho do email do Gevared que diz : “Ele (Budd Hopkins) disse que havia um bloqueio às memórias da experiência e tudo o que consegui com ele em três horas de tentativa foi me lembrar exatamente da mesma coisa que lembrava antes, ou seja, de que tudo não passava de um ‘sonho estranho”, deu um estalo na minha cabeça. E se o pós-trauma ocasionado pela fatídica desencarnação da Daniela tivesse desbloqueado, de alguma forma ou maneira, essas memórias? Será que a mente do Geva “pirou” e fez com que o que estava guardado (contra ou não a sua vontade) fosse liberado? Com isso em mente corri para meus livros. Passei o final de semana inteiro buscando em alguma referência bibliográfica algo que sustentasse essa possibilidade, pois eu já li em artigos que sim, que um grande pós-trauma, poderia funcionar como chave para abrir um cadeado. E nem estou levando em consideração, o que poderia ou não ser coincidência, o fato de que a “validade” desse bloqueio tenha terminado e que qualquer regressão pudesse trazer as memórias à tona.
Procurando, encontrei um artigo publicado na Internet, um trabalho feito por Richard J. McNally, doutor em psicologia, do Departamento de Psiclogia da Universidade de Harvard, que, mesmo não sendo um estudo aplicado à abdução alienígena, diz que “most experts agree that combat, rape, and other horrific experiences are unforgettably engraved on the mind (Pope, Oliva, & Hudson, 1999). But some also believe that the mind can defend itself by banishing traumatic memories from awareness, making it difficult for victims to remember them until many years later” (Brown, Scheflin, & Hammond, 1998), isto é, que a mente pode se defender de grandes traumas banindo memórias desagradáveis por anos. Ou seja, uma memória ruim pode ser bloqueada para evitar o sofrimento: abdução alienígena. Aí me veio outra idéia, quando você machuca a boca dói, mas se enquanto a boca estiver doendo, você der aquela topada de dedão na porta do seu quarto em um dia de muito frio, essa dor será maior do que a da boca, o seu cérebro vai esquecer a primeira dor e focar na segunda. Por que um trauma maior do que o anterior não pode desbloqueá-lo? Vai que o cérebro pensa assim:“eu tenho uma dor maior, então deixa eu liberar essa aqui para dar espaço para a outra”.
Não consegui encontrar em nenhuma publicação que tenho algo que falasse diretamente que essa possibilidade existe. Então entrei em contato com pesquisadores de abduções alienígenas. Mantive contato com a pesquisadora norte-americana Rose Hargrove, formada em enfermagem e certificada em Terapia Respiratória na Universidade e Chicago, especialista em Síndrome da Pós Abdução (Post Abduction Syndrome – PAS). Ela me disse que traumas podem sim afetar lembranças, bloqueá-las ou até mesmo desbloquear outras.
Para terminar, eu não tenho como comprovar se o Gevaerd foi abduzido ou não. A hipnose por si só não pode ser a única ferramenta para se afirmar isso. Ela deve auxiliar em conjunto com outras formas de pesquisa, para que a verdade seja revelada. Estarei em Porto Alegre para palestrar e assistir ao III Fórum Mundial de Contatados. Lá pretendo conversar com o Gevaerd pessoalmente, assim como com a Gilda e outros pesquisadores.
Quero deixar claro aqui, que não cabe a mim julgar a atitude do Gevaerd ou de qualquer pessoa, mas aplaudo a sua coragem de vir a público revelar algo tão perturbador para ele, o que no mínimo vai encorajar outras pessoas a “saírem do armário” e revelar as suas experiências de abdução alienígena. Eu sei, e o Gevaerd também sabe, que ele será fortemente acatado por seus “opositores”, que ele será chamado de aproveitador por muitos e que vários lhe virarão as costas. Temo sim por ele, mas sua credibilidade é tamanha o mínimo que temos que fazer é ouvir a sua história. Seus verdadeiros amigos, mesmo não concordando (para preservá-lo) com a sua atitude, mesmo tendo dúvidas de sua experiência (e isso não quer dizer que ele mentiu deliberadamente) estarão ao seu lado. Eu sou um deles. Se ele foi ou não abduzido, acho que isso tem que ser pesquisado mais a fundo. Eu não me permito tecer uma opinião final, mesmo já tendo tido um pré-julgamento, sem antes conversar com ele e demais envolvidos e saber de mais detalhes. Quem convive no âmago da ufologia, sabe que esse fenômeno é no mínimo estranho.