Antes de mais nada, a imagem ao lado, como muitos já devem ter percebido, é de Mola Ram, um dos vilões mais aclamados do cinema, adversário de Indiana Jones no segundo filme do arqueólogo, Indiana Jones e o Templo da Perdição. Mas é muito representativa de uma provocativa pergunta que já faço ao leitor: você realmente daria credibilidade ao que um sujeito desses diria?
Atentem que, no filme, realizado em homenagem as famosas matinês de aventura dos anos 1940 e 1950, os efeitos especiais são feitos de maneira simples, com miniaturas, materiais usados, sem nada da sofisticação digital de hoje. Podem imaginar uma cena real de remoção do coração de uma vítima, seguramente bem mais “sangrenta” do que o mostrado no filme. Por sinal, o produtor e roteirista George Lucas disse que o amigo Steven Spielberg, que dirigiu o filme, não queria a cena de Mola Ram arrancando o coração da vítima na produção, e de fato, Templo da Perdição é o filme mais sombrio da franquia, o que não o torna menos divertido.
Essa ilustração, caros leitores, exemplifica uma das questões deste texto. Vamos mesmo atribuir credibilidade na suposta “profecia” realizada por um povo que praticava sacrifícios humanos? Arrancando o coração das vítimas, e detalhe, evidentemente sem anestesia?
Não faltam os bobalhões de sempre a aclamar a “sabedoria” dos povos indígenas, ao mesmo tempo creditando ao “maléfico” homem branco tudo de ruim que ocorre no mundo. Um tipo de “Efeito Avatar” (calma, James Cameron logo vai levar a dele, aguardem), o eterno mito do “bom selvagem”.
Como reagiriam esses ingênuos, ao saber por exemplo que cerca de 20 tribos indígenas brasileiras, incluindo algumas no Parque Nacional do Xingu, praticam infanticídio? Em algumas dessas tribos, o nascimento de gêmeos, albinos, de crianças portadoras de deficiência ou filhos de mães solteiras, é considerado de mau agouro e as crianças são mortas, as vezes enterradas vivas, logo após o nascimento. Em reportagem de 2008 por exemplo, o jornal Folha de São Paulo publicou a história do pequeno Mayutá, de dois anos na época, cujo irmão gêmeo foi morto pela família da mãe ao nascer. Ele e o pai, Paltu Kamaiurá, enfrentaram discriminação em sua tribo e precisaram deixá-la, trabalhando agora junto a ONG Atini, que combate a prática.
O governo brasileiro? Obrigou sua base parlamentar a atrasar indefinidamente um projeto que puniria autoridades que fossem omissas no caso de infanticídio praticado por indígenas. Alguns antropólogos dizem que isso seria “intromissão indevida na cultura indígena”. Coisa típica de quem relativiza valores como liberdade, direitos humanos e respeito a vida. Aliás, o Brasil é signatário, desde 1990, da Convenção sobre os Direitos da Criança na ONU, que diz “\”que toda criança tem o direito inerente à vida e que os signatários devem adotar todas as medidas eficazes e adequadas para abolir práticas prejudiciais à saúde da criança”.
Claro, em um governo em que determinado senador é descrito como “não sendo uma pessoa comum”… não preciso explicar mais nada, correto?
Os arautos de 2012, Nibiru, do “retorno a natureza”, da elevação de consciência”, da “passagem da terceira para a quarta dimensão”, e outras bobagens menos conhecidas, não desistem nunca! E em “homenagem” a eles, o IgNobel (sátira ao Prêmio Nobel), lembrou em sua edição de 2011, para o prêmio de matemática, de determinados indivíduos por “nos ensinarem que o mundo precisa ser cuidadoso quando faz cálculos e suposições matemáticas”.
Os agraciados, todos eles “profetas do fim do mundo”, foram:
Dorothy Martin, que previu o fim do mundo em 1954. Essa senhora afirmava estar em contato com alienígenas de Clarion, e ao lado de seus seguidores esperavam ser resgatados pelos ETs antes da grande inundação que devastaria a Terra. Quando isso não ocorreu, Martin saiu-se com esta: a fé deles havia tocado tão profundamente os aliens, que o fim do mundo fora cancelado! O psicólogo da Universidade de Minnesota Leon Festinger infiltrou-se, junto a alguns colegas, nesse movimento, e posteriormente escreveu o livro When Prophecy Fails, descrevendo o funcionamento de seitas apocalípticas.
Pat Robertson, tele-evangelista, fez uma previsão para 1982, dizendo: “Garanto a vocês que até o final de 1982 haverá um Julgamento no mundo”. É, né…
Elizabeth Clare, Prophet of the USA, disse que o mundo iria acabar em 1990.
Lee Jang Rim. Segundo ele o mundo acabou em 1991.
Credonia Mwerinde, ex-prostituta, uniu-se a Joseph Kibwetere fundando o Movimento pela Restauração dos Dez Mandamentos de Deus em Uganda. Quando a profecia de que o mundo acabaria no advento do ano 2000 não se cumpriu, os fiéis que deram seus bens a seita exigiram-nos de volta, e passaram a ser brutalmente assassinados, falando-se em centenas de mortos. O culto chegou ao fim em 17 de março de 2000 com o incêndio de uma igreja do movimento em Kangngu matando mais de 500 pessoas, incluindo crianças e provavelmente a própria Mwerinde e seu parceiro Kibwetere.
Harold Camping, um verdadeiro prodígio, previu que o mundo acabaria em 6 de setembro de 1994, a seguir em 21 de maio de 2011 (quando nada aconteceu, afirmou que na verdade o que houve foi um “evento espiritual”), e depois em 21 de outubro de 2011. Não desiste nunca, até parece alguns alegados “contatados” brasileiros!
Sobre os maias, para encerrar essa parte, já publicamos no site de UFO que a associação do calendário dessa civilização com o fim do mundo começou com o livro O Fator Maia, de Joseph Anthony Arguelles.
Quanto a Nibiru, é mais simples ainda. Em 1976 o autor Zacharia Sitchin publicou O 12º Planeta, defendendo a teoria de que a civilização suméria teve origem em seres extraterrestres, que visitaram a Terra há dezenas de milhares de anos vindos do planeta Nibiru. A complexa mitologia dos sumérios explicaria as origens do sistema solar e da humanidade, que teria sido criada por esses seres, chamados Anunnaki ou Nefilim. Em 1995 a suposta contatada Nancy Lieder disse que o Planeta X iria colidir com a Terra em maio de 2005. Quando isso não ocorreu ela empurrou a data para 2012, e apropriou-se do nome Nibiru para designar o suposto astro.
Particularmente, li boa parte de O 12º Planeta, de Sitchin, mas comecei a questionar suas conclusões precisamente quando o autor exibe a suposta órbita de Nibiru. Uma coisa é questionar dados científicos com novos dados, obtidos de forma séria por meio do mais que provado método científico. A órbita alegada de Nibiru, por exemplo, é completamente incompatível com um planeta que fosse habitável, quanto mais possuísse uma civilização sofisticada!
As sandices sobre Nibiru envolveram até o malfadado cometa Elenin. Conforme publicamos em Mundo Ufológico de UFO 184, o absurdo chegou a níveis grotescos, com malucos ou espertalhões ao redor do mundo atribuindo ao cometa o terremoto no Chile, o tsunami no Japão, e até a “escolta” do próprio Nibiru! Houve até uma associação, por parte do mais que duvidoso Michael Salla, do Elenin com a cancelada série The Event, alegando-se que esta seria um disfarçado “alerta” para a humanidade!
Haja paciência…
Confiram no site Space.com duas imagens do cometa Elenin, obtidas em 19 de agosto e 6 de setembro, e vejam a “ameaça” que pairava sobre a Terra. Como já explicamos em UFO 184, o cometa foi completamente desintegrado na passagem pelo ponto mais próximo do Sol, e nunca houve o mais remoto perigo contra nosso planeta.
Perigo muito mais real é representado por aqueles que, com a desculpa de defender o “verde”, adotam uma postura muito similar a dos “profetas do juízo final”. Dizem quase literalmente que ou as pessoas os seguem, ou o mundo irá acabar, mas são muito mais espertos que os profetas: não apontam uma data específica para o “fim do mundo”.
Um dos exemplos é o conhecido diretor James Cameron, que esteve no Brasil protestando contra a usina hidrelétrica de Belo Monte. É evidente que a construção desse complexo precisa ser muito bem discutida, e seus aspectos técnicos e viabilidade bem analisados. Mas com certeza, não utilizando os argumentos dos “verdes”, que inclusive ameaçam censurar os que deles discordam, e ainda os acusam de serem “destruidores do meio ambiente”.
Como disse o tão “detestável” presidente George W. Bush mesmo? “Ou estão conosco, ou estão contra nós”? Qual a diferença para o discurso dessa gente?
Interessante que o senhor Cameron afirmou que Belo Monte iria desalojar índios, destruir a Amazônica, e que hidrelétricas deveriam ser construídas no deserto, além de outras imbecilidades, mas se esqueceu que a matriz energética norte-americana é, em sua maior parte, fornecida por óleo e carvão!
Vimos ainda a recente polêmica quanto ao Código Florestal, onde os “verdes” inventaram uma “anistia” que não está lá. Anistia significa perdão, o que absolutamente não é o caso! Pela proposta agora em votação no Congresso Nacional, quem desmatou antes de 2008 pode arcar com multa, ou então deve reflorestar, permitir a recuperação natural da área, ou adquirir área com a mesma vegetação e bioma do terreno devastado. Isso com certeza não é sinônimo de anistia!
Exemplo de que a questão ambiental não está sendo tratada racionalmente, pensando com o cérebro e não com… qualquer outro órgão que esse pessoal usa, é o Greenpeace. A famosa instituição ambiental realizou, em 01 de abril de 2009, um protesto na Ponte Rio- Niterói que causou um imenso engarrafamento. O que aconteu em decorrência disso? Um óbvio e sustancial aumento nas emissões dos veículos parados… O Brasil, aliás, está se tornando um ótimo lugar para quem quer exercer seu direito a livre expressão, cassando ao mesmo tempo o direito de ir e vir dos demais…
Mas quem quer manipular e enganar, com vistas a adquirir poder (caso dos espertalhões) ou dar vazão a seus impulsos insanos (caso dos “profetas”), não vê limites nas barbaridades que fala, escreve ou divulga. Aqui no Brasil temos nossa cota, principalmente do primeiro tipo, que são “amigos dos ETs”, dos quais adquiriram “poderes”, e que alegadamente curam até câncer e AIDS. Todos estes são iguais em um aspecto: eles se tornam impotentes se as pessoas pensam por elas mesmas, e pensam de maneira crítica.
A própria Ufologia está infiltrada pelos dois tipos, os malucos e os espertalhões. Quanto aos que temem que o “fim do mundo” de 2012 será causado pelos alienígenas, certamente ficarão ou aliviados ou decepcionados em seus temores. Qual o motivo mesmo de os ETs nos invadirem? Recursos naturais, tais como água ou hidrocarbonetos? Existe água em abundância em Europa, satélite de Júpiter, e na atmosfera desse planeta existem muitos compostos de hidrocarbonetos tais como o metano. Por que os alienígenas viriam até a Terra, “arrumar treta” com uma espécie tão agressiva quanto a nossa?
O saudoso Carl Sagan, aliás, já dizia que civilizações agressivas tenderiam a auto-destruição muito antes de desenvolverem viagens interestelares. E claro, o argumento definitivo: uma civilização capaz de lançar-se nas imensas distâncias entre as estrelas (ou até entre as galáxias, incomparavelmente maiores), dificilmente enfrentaria problemas com matérias primas, podendo sua avançadíssima tecnologia prover a solução desses problemas sem que a espécie necessite empregar métodos predatórios como os alarmistas de plantão divulgam.
A “qualidade” do debate que está sendo feito diz muito a respeito da mentalidade de pessoas que já estão com a mente feita, sem questionar e aceitando absolutamente tudo que gurus, profetas ou espertalhões afirmam, por mais absurdo que seja. Apontar, por exemplo, que uma foto como essa é de Nibiru só pode ser sinal de ignorância, desconhecendo que se trata somente de um mero reflexo nas lentes da objetiva da câmera. A ignorância causada pelo desconhecimento não é um problema. Pior mesmo é a ignorância dos que têm orgulho da própria ignorância… Tal como o lamentável Salla mencionado acima, simplesmente não compreendo que alguém interessado na problemática ufológica seja tão monstruosamente ignorante em matéria de Astronomia, atribuindo desastres a um cometa que passaria a dezenas de milhões de quilômetros da Terra!
Caríssimos leitores, existe um único antídoto contra isso: BUSCAR CONHECIMENTO, mas não como certo espertalhão brasileiro disse. Alguém que se interesse por Ufologia precisa conhecer ao menos um pouco de Astronomia, por exemplo, e isso já garantiria que as imbecilidades ditas a respeito do cometa Elenin ou outras similares não se espalhassem. O comportamento de escrever a membros da Equipe UFO, perguntando por exemplo “o que sabemos sobre a Operação Prato”, francamente, é exatamente o que esperam os espertalhões e profetas malucos. A área de busca do site de UFO está bem visível no alto da página, por que não usá-la?
Dar as coisas de mão beijada é o que os aproveitadores, espertalhões e gurus fazem, e talvez seja por isso que são tão bem sucedidos, pois dão as pessoas o que elas querem ouvir, fazendo-as se sentirem especiais. Nada mais perigoso, conforme atestam as tragédias aqui descritas.
Afinal, o que eles querem, caros leitores, é que vocês não pensem. Não lhes dêem essa satisfação! Pensem por si próprios, sempre de maneira crítica, e não aceitem verdades prontas como verdades absolutas.
Podem estar salvando a própria vida de vocês, fazendo isso.
Nota 1: No próximo dia 25 de março, na Estação Ciência, acontecerá o Dia do Fã onde apresentarei uma palestra com os assuntos tratados neste texto e vários outros. Mais informações aqui e aqui.
Nota 2: Meu segundo livro, Filhas das Estrelas, descrito no post anterior deste blog, está disponível na Livraria Cultura, bem como meu primeiro livro, De Roswell a Varginha. Quem quiser adquiri-los e depois me encontrar no Dia do Fã e pegar seu autógrafo será muito bem vindo!