Detalhes de uma noite de 1996 ainda continuam presentes na memória do empresário Lauro Aquino, de 41 anos. Ele relata que jogava baralho com os amigos, em 3 de março daquele ano, quando avistou uma luz intensa passando pelo céu. “Toda a vila onde moro ficou iluminada. A avenida ficou lotada de gente apontando para cima e tentando entender o que era aquilo que sobrevoava a nossa cidade”, relembra Aquino.
“Era algo muito grande, mas ninguém sabia o que era”, diz o empresário. Para Aquino e os amigos, tratava-se de um UFO. O evento aconteceu em Barra do Garças, em Mato Grosso. No município, relatos sobre UFOs são constantes. Entre as inúmeras histórias sobre o assunto, há moradores que contam casos de pessoas que teriam sido contatadas e abduzidas.
“Esses relatos são milenares. Há muito tempo, eles estão presentes em contos de indígenas que vivem na região”, diz o psicólogo Ataíde Ferreira, presidente da Associação Mato-grossense de Pesquisas Ufológicas e Psíquicas (AMPUP) e consultor da Revista UFO.
Há décadas, ufólogos e pesquisadores brasileiros vão à Barra do Garças para investigar os inúmeros relatos sobre UFOs na região. As constantes narrativas de moradores sobre o Fenômero UFO e os diversos estudos feitos na cidade motivaram a criação de um local destinado a possíveis pousos dos discos voadores: o discoporto.
O aeroporto foi um projeto apresentado por Valdon Varjão, já falecido, então vereador da cidade. Varjão costumava explicar que o discoporto era uma forma de fomentar o turismo do município – além de facilitar contatos com extraterrestres.
(Narrativas frequentes de moradores sobre UFOs motivaram a criação do discoporto. Crédito: Genito Ribeiro)
Os relatos sobre UFOs
Depois da experiência em 1996, Lauro comenta ter avistado outros objetos voadores não identificados no céu de Barra do Garças. “São muitas histórias que presenciei por aqui. Antes, eu não acreditava, era cético, até que comecei a ver essas luzes com frequência.”
Ele comenta que uma das vezes mais recente em que viu um suposto disco voador foi em 7 de agosto do ano passado. Na data, estava com a família, em uma comemoração, quando viu um objeto sobrevoando Barra do Garças. “Nós estávamos em uma festa e vimos algo passando pelo céu com muita rapidez”, diz.
O jornalista Genito Ribeiro dos Santos, de 47 anos, também relata ter avistado UFOs no céu de Barra do Garças. “Eu era totalmente cético em relação a isso, até ver pela primeira vez. Fui surpreendido quando fui fazer uma gravação na Serra do Roncador, aqui na cidade, e uma luz veio para cima do carro em que eu estava com outros profissionais. Por trás da luz, que mudava de cor a todo instante, havia algo sólido e brilhoso. Esse objeto perseguiu o nosso veículo por, mais ou menos, três minutos”, conta Santos.
“Quando descemos a serra e retornamos à cidade, estávamos completamente espantados. As pessoas pensavam que tínhamos usado algum tipo de droga, mas nunca consumimos essas coisas. O que vimos era algo muito real, que ficou a, mais ou menos, 100 metros de distância do nosso carro”, acrescenta.
(No discoporto, há um painel representando espaçonaves e alienígenas verdes. Crédito: AMPUP)
Os relatos sobre os UFOs na cidade têm uma característica em comum: envolvem a Serra do Roncador – que tem início em Barra do Garças e vai até o Sul do Pará. O lugar, que possui cachoeiras, trilhas e grutas com pinturas rupestres, é considerado místico por muitas pessoas.
Localizada no paralelo 15 graus Sul, linha imaginária que passa por lugares considerados místicos, a Serra do Roncador acumula histórias misteriosas. A mais conhecida é o desaparecimento do coronel inglês Percy Fawcett, em 1925. Ele estava em busca de uma suposta cidade perdida, a qual denominou de Z, quando adentrou a serra. Foi a última vez em que foi visto.
“A Serra do Roncador está entre as regiões milenares de acontecimentos estranhos. As histórias inusitadas ajudam a povoar a imaginação das pessoas, especialmente os esotéricos, que fazem interpretações que são, comumente, baseadas no achismo”, afirma Ataíde Ferreira.
Para a criação do discoporto, em meio a céu aberto, foi feita uma réplica de um disco voador, além de uma pintura de uma reprodução de um extraterrestre e um painel com um objeto voador e um ET, no qual há um espaço para as pessoas colocarem a cabeça. Segundo a Prefeitura do município, não foram utilizados recursos públicos, pois os itens que compõem o lugar foram concedidos por Varjão.
(O jornalista Genito Ribeiro mostra um quadro que pintou, baseado na experiência que relata ter tido com UFOs – no quadro, uma nave oval brilhante sobrevoa um carro. Crédito: AMPUP)
Aumento no turismo
O discoporto atraiu a atenção da imprensa e fez com que Barra do Garças conquistasse fama como a cidade do aeroporto para UFOs. “Até veículos internacionais vieram aqui para mostrar a história do primeiro aeroporto para discos voadores”, diz o biólogo e guia turístico da secretaria de Turismo do Município, Fernando Penteado.
As notícias sobre o fato impulsionaram o crescimento do turismo na cidade, conta Penteado. “Muitas pessoas queriam conhecer o discoporto. Algumas vieram de outros países”, comentou. Entre aqueles que iam ao município mato-grossense, alguns tinham o objetivo de presenciar um fenômeno ufológico.
Para o segmento do turismo de Barra do Garças, a época de inauguração do discoporto foi um dos melhores períodos. Mesmo com estrutura precária e com atrativos considerados simples, o aeroporto de UFOs atraía turistas e fazia com que eles também conhecessem outros pontos da cidade, como cachoeiras, trilhas aquáticas e rios.
O incentivo ao turismo ufológico na cidade é tamanho que em novembro de 2015 foi sancionada uma Lei municipal que criou o Dia do ET. A data é comemorada em todo segundo domingo de julho. Conforme a Secretaria de Turismo da cidade, não há nenhum tipo de comemoração no dia, pois, segundo a pasta, é apenas uma forma de reverenciar uma das características mais conhecidas da região.
(Discoporto costumava receber cerca de 400 visitantes por dia, mas está
fechado desde agosto de 2014. Crédito: AMPUP)
Parque fechado
Mesmo sendo uma das principais atrações da cidade, o discoporto não recebe visitantes desde agosto de 2014. Na época, um incêndio, supostamente iniciado em um sítio da região, queimou cerca de 80% da cobertura vegetal do Parque Estadual Serra Azul. fechamento do parque, que em alta temporada costumava receber 400 visitantes por dia, prejudicou o turismo local.
Segundo a analista de Meio Ambiente da Sema e gerente regional do parque, Christiane Schnepfleitner, o Serra Azul deve ser reaberto em janeiro. “Estamos nos planejando para que todas as áreas, inclusive o discoporto, sejam reabertas para o público no próximo mês”, pontua. Desde que o parque foi fechado, o discoporto não recebeu mais nenhum tipo de manutenção. Em razão disso, os itens que o compõem se deterioraram.
Para muitos moradores Barra do Garças, a reabertura do discoporto terá extrema importância para a cidade. “Mesmo sendo um lugar simples, as pessoas tinham curiosidade de conhecer, nem que fosse apenas para tirar uma foto e dizer que visitou o primeiro aeroporto de discos voadores do mundo”, comenta Genito Ribeiro.
Fonte: BBC Brasil
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