Dois anos e meio depois do acidente com o Columbia, a retomada dos vôos de ônibus espaciais, neste caso o Discovery, prevista para amanhã (quarta-feira) às 19h51 GMT (16h51 Brasília), é aguardada com certa apreensão nos Estados Unidos. No entanto, o sucesso da missão é considerado fundamental para que os objetivos espaciais americanos sejam alcançados. “Retomar os vôos do ônibus espacial sem riscos é o primeiro passo em nosso projeto de exploração espacial”, disse o diretor da Nasa, Michael Griffin, em audiência no Congresso no fim de junho. “Mas apesar dos esforços da Nasa para corrigir os erros que provocaram o acidente com o Columbia, é impossível eliminar totalmente os riscos: busca-se reduzi-los a um nível aceitável, ou seja, de menos de 2%”, destacou. As novas ambições espaciais dos Estados Unidos, anunciadas em janeiro de 2004 pelo presidente George W. Bush, são o retorno dos americanos à Lua antes de 2020 e o envio de uma missão tripulada a Marte.
A Estação Espacial Internacional (ISS) e o ônibus espacial são dois elementos-chave no desenvolvimento de vários conceitos e técnicas dos quais dependerão futuros vôos a Lua e Marte, explicou a Nasa. “Graças à ISS, encontramos as respostas para perguntas fundamentais sobre como manter as pessoas vivas e com saúde no espaço por períodos cada vez mais longos, e também sobre como construir melhores naves para estas missões”, lembrou o astronauta Leroy Chiao, ex-comandante da estação espacial.A Nasa prevê retirar de sua frota os três ônibus espaciais que restam, Discovery, Atlantis e Endeavour, somente em 2010, uma vez que suas contribuições à ISS tenham terminado e que sua substituição pelo CEV (Crew Exploration Vehicule) esteja pronta. Esta nova nave, que ainda não foi criada, deverá ser capaz de transportar seis astronautas à Lua e, mais tarde, a Marte, e também se acoplar à ISS para as missões na órbita da Terra. A realização deste projeto depende, no entanto, do sucesso da retomada dos vôos do ônibus espacial. “O lançamento é um passo absolutamente essencial para impulsionar o programa espacial”, afirmou John Logston, diretor do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington.
A tragédia com o Columbia foi provocada por um pedaço de espuma isolante do tanque de combustível externo que se soltou segundos após a decolagem, atingindo a asa esquerda. O dano provocado fez com que a nave se desintegrasse no retorno à Terra. Segundo os investigadores, a burocracia da Nasa foi parcialmente responsável pelo acidente, já que uma maior coordenação teria permitido prever este risco. “É evidente que a Nasa perdeu seu brilho”, comentou George Nelson, ex-astronauta e professor da Universidade Western Washington, em Bellingham. “Nos anos 60 e 70, ela era um verdadeiro símbolo dos Estados Unidos em termos de façanhas técnicas”, lembrou. “Nosso ônibus espacial está parado. E desde que deixamos de voar, dois países (Rússia e China) levaram homens ao espaço”, disse Michael Griffin no Congresso. “Nós, Nasa e Estados Unidos, temos que trabalhar duro para obtermos novamente nossa soberania no espaço”, exigiu.