O escritor J. J. Benítez, que veio ao Brasil em dezembro, finalmente apresentou suas provas de que um disco voador teria pousado em Varginha. Mas não é bem assim. Infelizmente, o renomado bestseller espanhol fez apenas muito barulho para pouca evidência. Apesar de afirmar que mandou amostras de solo para laboratórios de empresas e universidades européias – entre elas as de Madri e Granada –, temos apenas o relatório de um deles, a companhia Vorsevi S.A. – Ingenieria y Control de Calidad, e o mesmo não diz muito que possa corroborar a tese de Benítez. O laudo técnico da Vorsevi tem o título Análisis de Asientos y Huellas de OVNIs en Brasil.
O trabalho da empresa foi inteiramente baseado em provas circunstanciais, tendo se concentrado na determinação do peso de um eventual objeto que teria pousado sobre as marcas encontradas por Benítez em Varginha. A Vorsevi partiu do resultado obtido preliminarmente para tirar uma conclusão que não poderia ser tirada.
Ao se analisar um tipo qualquer de solo, a primeira tarefa que se deve fazer consiste em determinar se tal solo é coesivo ou não coesivo – como o barro ou como a areia, nos dois extremos dessas definições. Determinando-se essa característica tem-se uma idéia de como o solo deve se comportar ao ser comprimido, seja por um UFO, seja por qualquer objeto. Em seguida, molda-se uma amostra cilíndrica do material, neste caso com 5 cm de diâmetro por 2 cm de altura – como uma bolacha mais grossa que o normal –, e aplica-se uma força de forma a deformar a peça. Em razão das alterações medidas por aparelhagem específica pode-se estimar como este solo se comportaria ao ser submetido a forças similares em sua superfície. Até este ponto das análises a Vorsevi fez o que devia, executando seus exames dentro da metodologia apropriada – o que foi um excelente trabalho laboratorial. No entanto, os passos seguintes de seu estudo parecem mais saídos à imaginação fértil do diretor do laboratório, que deve ter sido influenciado por Benítez.
Ora, o ensaio executado nas amostras coletadas pelo espanhol e sua equipe apenas fornece as características do solo e estima qual a força que seria necessária para se comprimir o mesmo e obter buracos como os encontrados em Varginha. A Vorsevi, no entanto, colocou a carroça na frente dos bois, publicando em seu relatório o contrário. Com isso chegou à conclusão de que o suposto UFO de Benítez tinha mais de 26 toneladas de peso por cada ponto de apoio – um trem de aterrissagem, sapata ou pé.
Pois bem, com o apoio de um trabalhador rural munido de uma cavadeira ou uma pá, abre-se um buraco de um metro de diâmetro por um metro de profundidade no local onde as amostras de solo foram coletadas. Dificilmente a força empregada pelo trabalhador seria de 26 toneladas… Além disso, está claro que o material coletado para o ensaio é de superfície e, portanto, não deveria ser utilizado para se calcular a capacidade de compressão do solo. Por esta característica, o relatório não pode ser considerado como prova científica de que os buracos foram resultantes de tal compressão devido ao apoio de sapatas de uma nave. Quanto a isso, a própria Vorsevi admite a flagrante limitação de seu laudo ao publicar no mesmo, logo no início, que “a amostra empregada não constitui um referencial adequado para calcular o peso induzido sobre o solo.” Mais adiante, na análise de estabilidade e compressão da terra, o laudo ainda destaca que “a investigação efetuada constitui uma aproximação muito simplificada do problema.” Como se vê, apesar da imensa vontade, falta muito para a tese do pouso do UFO de Benítez tornar-se uma realidade…