Há algum tempo venho ensaiando escrever sobre o tema que dá título a esta matéria, só não o fazendo antes por absoluta falta de estímulo, mesmo considerando meu desligamento da Ufologia em 1.990. Apesar disso, continuei acompanhando à distância os principais acontecimentos, os congressos, as notícias mais importantes. Esporadicamente, através dos simpósios – e somente através deles – reencontro alguns dos velhos colegas, quando então me atualizo sobre os fatos mais importantes. Foi exatamente numa destas ocasiões, mais precisamente durante a 9ª Conferência Internacional de Ufologia, realizada em novembro passado em São Paulo, que pude constatar que nada, absolutamente nada de novo foi acrescentado à Ufologia.
Como seria natural, nomes foram substituídos. Onde outrora estiveram Jaime Lauda, Ubirajara Rodrigues, Irene Granchi, Lúcio Manfredi, Osni Schwarz, Paulo Kronemberger, entre outros contemporâneos, hoje estão Aldo Novak, Wallacy Albino, Eustáquio Patounas, etc, só para citar alguns, e os de sempre, co-mo Claudeir Covo, Marco Petit, Rafael Cury, Carlos Machado, A. J. Gevaerd, Arismaris Baraldi Dias e Ademar Eugênio de Mello. Em outras palavras, mudaram só os nomes, porque os temas continuaram exatamente os mesmos, reformados para dar uma conotação atualizada ao debate, porém estagnados na essência. Mas, para não ficar a impressão de que este texto é uma crítica gratuita, e até para servir como base para essa discussão, ligamos a nossa “máquina do tempo” particular e mergulhamos um pouco no passado recente, atrás de tudo aquilo que escrevemos para esta mesma revista, desde a série Ufologia Nacional e Internacional, depois PSI-UFO e finalmente a Revista UFO. E por que fizemos isso?
Primeiro, para rever as opiniões e os argumentos que usamos quando o assunto era da nossa competência. Os leitores mais antigos e fiéis provavelmente se lembrarão do rigor quase inflexível e intransigente com que defendíamos nossas posições. E não poderia ser diferente, porque essa era precisamente a filosofia – separar o joio do trigo, no dizer popular. A finalidade última era promover e preservar uma abordagem séria e imparcial sobre um assunto tão controvertido. Quem conheceu e conviveu com o professor Willi Wirz, um de nossos pioneiros ufólogos, sabe do que e de quem estou falando. Além disso, não se pode negar que a Ufologia tem servido como uma escola fantástica para aprendizado sobre a natureza, o comportamento e a alma humana. Ou seja: aprendemos muito mais sobre o ser humano do que sobre os UFOs propriamente ditos. Aliás, sobre estes, continuamos não sabendo nada…
Em segundo lugar, porque constatamos que alguns escritos permaneceram atuais, não mostrando sinais de defasagem no tempo. Não vamos entrar no cerne da questão, se os UFOs existem ou se os contatos são reais, porque o propósito aqui é outro. Chegou a hora de fechar o ciclo, consolidando um pensamento e uma posição expressos anteriormente, não por acaso há exatos 10 anos. O que está havendo com a Ufologia Brasileira? Será um problema mundial ou somente aqui estamos vivendo esse clima de marasmo, de inércia? Não estou me referindo, evidentemente, aos extemporâneos avistamentos, aterrissagens e contatos. Estou falando da ousadia de novas propostas de pesquisa.
Há quase 40 anos a Ufologia existe para o mundo moderno, e o que pudemos colher disto, efetivamente? Pouca coisa, para não dizer quase nada. Está faltando estrutura, disciplina, metodologia, união, consciência, organização e “maturidade ufológica” para percebermos que somos todos tijolos do mesmo barro e com a missão de edificarmos nossa casa, desde que ela não seja a Torre de Babel. Isto foi escrito na edição 07 de Ufologia Nacional e Internacional, publicada em março de 1.986. Já naquela época detectava-se os primeiros sintomas de um mal que parece tão duradouro quanto incurável.
Se a Ufologia pudesse ser comparada a um paciente de hospital, o quadro seria crítico: internada na UTI, míope, arrítmica, capenga, desorientada, com grave insuficiência respiratória, dificuldade de comunicação
e quase surda
Excesso de Casuística – Mas, voltando ao evento de São Paulo, o quadro mostrou-se inalterado: o time de conferencistas não acrescentou nada de especial a um público que, a bem da verdade, também não difere muito daquele que nos assistia nos anos 80. Basicamente, o que se viu foi muita casuística, uma informação aqui e acolá sobre algum tema já desgastado (despistamento militar, por exemplo), e uma ou outra abordagem pouco relevante. Nada realmente que provocasse um entusiasmo maior, quer por parte da platéia, quer por parte dos próprios conferencistas, em sua maioria saturados de ouvir sempre as mesmas histórias, tratando mais de garantir justificadamente seus investimentos e, por conseguinte a sua sobrevivência, com a venda de fotos, vídeos, revistas e livros. Neste particular, nenhuma crítica.
Ao contrário, há que se reconhecer a iniciativa de um Gevaerd – hoje com mais de 130 edições publicadas –, ou o empenho hercúleo de um Rafael Cury, promovendo continuamente congressos, fóruns e toda sorte de eventos. A eles, minha reverência! Quanto aos convidados estrangeiros, são nomes que merecem respeito, sem dúvida. Mas o que de fato trouxeram de importante para ser agregado à bagagem brasileira? Convém manter um mínimo de cautela na hora de analisar certas situações ou o aparecimento de determinadas figuras no meio. Vejo uma pessoa como Giorgio Bongiovanni, por exemplo, com muitas reservas. Ser o “mais bem informado sobre Ufologia”, como foi descrito o italiano no evento, ou ser recebido por autoridades do mundo inteiro, ter audiência com o papa, ser portador exclusivo do aclamado terceiro segredo de Fátima, não faz dele um escolhido que mereça tantas deferências. Pelo que li, ouvi e principalmente pelo que vi, é bom ter sempre em mente o conselho de André Gide: “Não devemos confundir procura da verdade com necessidade de acreditar”.
Assim, uso desse espaço para tecer algumas considerações sem citar nomes, porque o objetivo é alertar para o risco de se andar em círculos indefinidamente – risco esse que já vínhamos pressentindo quando éramos obrigados a repetir um tema várias vezes, embora houvesse uma necessidade imperativa sempre muito grande de reciclar conhecimentos, ir além das aparências que o Fenômeno UFO teimava em nos mostrar. Há 10 anos, quando estávamos ativos, incomodava o fato de não podermos apresentar algo mais profundo, que despertasse o interesse ou mesmo levantasse alguma polêmica, assim como incomodava também quando o público manifestava – e geralmente com razão – desagrado pelo conteúdo repetitivo de uma palestra ou de todo um simpósio. Por isso sinto que está faltando senso de autocrítica e havendo excesso de acomodação para alguns colegas pesquisadores na reavaliação de seus trabalhos.
Há mu
ito tempo se apresenta sempre a mesma coisa em torno de análises fotográficas, implantes ou envolvimento militar nas pesquisas. Não basta renovar o acervo de imagens, é necessário renovar o enfoque. As investigações sobre o Chupacabras continuam sem resultado desde o final dos anos 70, quando ainda era apenas o chupa-chupa, e até hoje o mistério continua. O que isso tem realmente a ver com Ufologia? Qual a ligação? ETs vampiros? Se for, então atualizem pelo menos o nome, qualquer coisa como “chupa-tudo”, porque o bicho está atacando todo tipo de animal: ovelhas, galinhas, cães, vacas, além, é claro, das cabras. Quando o assunto dos discos voadores começa a cair no esquecimento, algo tem que ser feito para reavivá-lo, trazê-lo à ordem do dia, estampar manchetes e convocar a mídia.
E então aparece alguém divulgando novas revelações sobre o tal Chupacabras, Roswell ou alguma bombástica teoria sobre uma nova conspiração alienígena… Tal procedimento é cíclico, inevitavelmente. Um amigo disse outro dia que se a Ufologia pudesse ser comparada a um paciente de hospital, o quadro seria crítico: internada na UTI, míope, arrítmica, capenga, desorientada, com insuficiência respiratória, dificuldade de comunicação e quase surda! O prognóstico é desalentador – e parece que só um tratamento de choque pode reverter a situação.
Rotatividade de Informação – Ouvi alguém dizer que o público é rotativo e, portanto, precisa ter a informação básica, o bê-a-bá da Ufologia: quando e onde tudo começou, a casuística mundial, etc. Será que precisa mesmo? Não estou tão certo disso. Será que é isso que ele quer ouvir ou que ele precisa ouvir? Então, por que a média de audiência em eventos de Ufologia vem caindo gradativamente nestes últimos tempos? Não será porque os participantes desses eventos estão se cansando de assistir sempre as mesmas coisas? Há pouco tempo houve uma experiência interativa muito interessante com os participantes de um simpósio, cujos resultados foram excelentes. Sem nenhum tema previamente estabelecido, permitiu-se que as pessoas levassem suas dúvidas, abordassem polêmicas e debatessem com os conferencistas sobre seus questionamentos maiores. Por que não implementar tal experiência aos eventos ufológicos? Sobre isso, o falecido ufólogo Osni Schwarz escreveu, na edição número 03 de UFO, em maio de 1.988, um artigo para reflexão. Em seu último parágrafo destaco um aspecto que, a meu ver, está sendo ignorado pela maioria dos que atuam hoje na Ufologia: “Já é hora de reavaliarmos posições decanas. Creio que a casuística, embora tenha contribuído sobremaneira para nos informar sobre o Fenômeno UFO, também nos legou um ‘ruído de fundo’ responsável por todos os indícios de incertezas que presenciamos em nossos anais. Este background está nos despistando de forma grotesca. Temos que rever o acervo da casuística por um novo prisma. Algo importante nos tem escapado”. Gostaria que os amigos leitores pensassem sobre isso.
Na edição seguinte, quando entrevistado pela revista, expressei alguns pensamentos – e permaneço fiel a eles –, aqui compilados de modo a compor um painel no mínimo interessante, agora para sua reflexão: “A Ufologia jamais terá uma resposta, simplesmente porque é assim que a coisa funciona. Estou convencido de que vivemos o primeiro capítulo da pré-história da Ufologia, da qual nós fazemos. Os UFOs, seja lá o que forem, continuarão seguindo o seu caminho. Dizer apenas que ampliaram nossos horizontes cósmicos, proporcionando a possibilidade de uma irmandade galáctica, me soa insatisfatório”. Como estudioso, ainda que afastado da Ufologia, continuo redimensionando tudo o que leio, vejo, vivo e escrevi sobre o assunto, retomando idéias e reavaliando posições.
Até que ponto estamos fazendo as perguntas certas? Se não modificarmos nossa estratégia de trabalho, passaremos os próximos 40 anos levantando as mesmíssimas interrogações. Se no ano de 2.028 alguém estiver lendo esta matéria, estará me dando razão. Antes que se pergunte qual é, então, a razão de se continuar tal trabalho, eu respondo: viver a história significa fazer acontecer os fatos. Se uma sociedade ignorar os acontecimentos políticos e sociais ao seu redor, então ela simplesmente não poderá reivindicar nada no futuro. Mas se ela participa, revoluciona e contesta, então vive sua história e traça seu próprio destino. Não nos preocupemos com as respostas, mesmo porque não as teremos agora… Vamos preparar o terreno para os que nos seguirão, pois estes poderão alcançar o que buscamos. Estas são palavras expressas naquela referida entrevista, há mais de 10 anos, e continuam valendo!
Qual é então o caminho a seguir? Bem, um dos motivos pelos quais eu me desvinculei da Ufologia talvez seja o mesmo que atinja o leitor: ela simplesmente não cabia mais nos meus questionamentos, não respondia as minhas perguntas e, portanto, não fornecia respostas. A minha busca então passou a ser cada vez menos exterior e mais interior. Esse afastamento abriu uma outra perspectiva sobre o Fenômeno UFO, uma visão muito mais ampla e não restrita ao universo meramente tecnológico ou social nele implicado. Mesmo não estando mais envolvido com o assunto, gostaria de poder dar uma contribuição à Ufologia. O fato de acompanhar à distância o desenrolar dos fatos me permite fazer uma leitura neutra da paixão que o tema provoca nos pesquisadores. Isso não me obriga a agradar este ou aquele ufólogo com minhas observações e, se houver maturidade inclusive ufológica, as críticas lançadas a um e a outro deverão ser assimiladas.
Vivências Ufológicas – O que vai ser exposto a seguir poderá parecer um contra-senso, mas vem embasado em 20 anos de vivências ufológicas intensas, acompanhando tudo o que se fez de mais importante em nosso país nas décadas de 70 e 80. Foram dezenas de simpósios, reuniões fechadas, vários congressos nacionais e internacionais, pesquisas e reflexão. Foram anos de muito estudo, discussões, correspondência com pesquisadores do melhor gabarito, dentro e fora do país, encontros de bastidores com personalidades do mais alto nível e de todas as correntes, de análise absolutamente imparcial, de bom senso, equilíbrio e ponderação, a razão sempre prevalecendo sobre a emoção. E muita, muita intuição. Por sua vez, os &uacut
e;ltimos 10 anos foram aproveitados através da observação e do amadurecimento livre de obrigações e compromissos com o tema, o que representa uma bagagem razoável.
Pois cheguei à conclusão e estou convencido de que o Fenômeno UFO está sendo abordado pela perspectiva errada, e isso desde o princípio – o que torna difícil, mas não impossível, qualquer tentativa de correção de rota. Ora, você só sabe que entrou por um caminho errado quando não reconhece a trilha que está seguindo ou quando alguém o informa de seu erro. Caso contrário, seguirá em frente até encontrar um fim da linha! Mas onde estão esses erros? Em minha opinião, um dos equívocos cruciais no tratamento da Ufologia está na concepção excessivamente empírica com que o fenômeno vem sendo estudado. Allen Hynek já nos advertia de que a possibilidade de haver vida inteligente no Universo é real, porém, que nossa concepção sobre essa inteligência ainda é muito provinciana. Temos que concordar, pelo menos em relação ao assunto UFO.
Primeiramente, não se pode mais aceitar naves e seres com a diversidade alardeada visitando a Terra, pois isso pressupõe milhares de mundos habitados, em condições e características de vida muito semelhantes à nossa e entre si. São civilizações interestelares aportando num planetinha perdido numa galáxia com bilhões de astros à sua volta, de olho em nossos recursos naturais e nos usando para suas experiências biológicas! A pontaria é formidável, mas as intenções nem tanto… Será que somos tão interessantes assim? Mas “a casa do meu pai tem muitas moradas,” dirão alguns ufólogos. Certo, mas no sentido astronômico ou filosófico? Para uns, tratam-se realmente de planetas habitados. Para outros, das múltiplas manifestações da presença de Deus em cada ser vivente deste planeta. A escolha é livre, de acordo com as necessidades e crenças de cada um.
Da mesma forma, também não consigo conceber as estratégias de controle dos ETs através de implantes na nuca, nas mãos, nas costas, na cabeça, no dedão do pé, etc. Isso soa demasiada ficção científica, muito a caráter para os nossos dias. Precisam os alienígenas mesmo disso? Para monitorar nossos passos, avaliar nossos sentimentos, rastrear nossa intimidade, clonar nosso organismo para experimentos genéticos? E se fosse para isso mesmo, teríamos como impedir? Ou seriam os seres extraterrestres viajantes do futuro que estão aqui para intervir e preservar a Humanidade (e a si próprios) de seu provável extermínioIsso parece ainda maior insensatez, pois não se percebe que tal teoria é absurda e contraditória.
Vamos considerar por um momento que isso fosse possível. Sendo do futuro, então não precisariam ficar preocupados com o passado, pois eles chegaram lá, muitos anos à nossa frente e viveram este passado. Se isso ocorreu, então saberiam que não é necessária qualquer intervenção. Voltar ao passado para quê? Se eventualmente tiverem que interceder na preservação da espécie, quando chegarem novamente no futuro, nessa mesma época, deverão voltar para interceder de novo, e depois outra vez, e outra, e outra… E nunca mais vão sair desse ciclo vicioso. Isso não faz sentido, porque não se pode interferir no que já aconteceu, simplesmente porque já aconteceu. A vida segue seu curso exatamente como tem que ser. Não há desvios, nem imprevistos. O condicional só tem validade em relação ao futuro, nunca ao passado, e isso em termos relativos.
Durante muito tempo, principalmente quando a Guerra Fria ainda vigorava e incutia temores em relação ao futuro em cabeças mais sugestionáveis, advogou-se a tese de que uma intervenção alienígena se daria para impedir a destruição do planeta através do armamento nuclear, o que iria provocar um desequilíbrio no Universo. Como a tal da Guerra Fria esfriou de vez, a tal da intervenção também, e outra teoria tomou seu lugar nas discussões ufológicas: a de que há uma conspiração dos ETs para invadir nosso planeta no momento adequado. Quanto a isso, a mesma teoria alardeia que somente alguns escolhidos serão preservados do Armaggedon.
Quem Será Escolhido? – Mas que momento adequado seria esse? Teriam os alienígenas a tecnologia necessária para dar início a esse plano e acabar logo com isso? Em caso afirmativo, o que os estaria detendo? Essas questões são importantes, pois mostram a fragilidade de hipóteses hoje bastante aceitas por ufólogos de todo o mundo. Ainda considerando tal linha de pensamento, quais seriam os critérios para se nomear os escolhidos? Os que atingiram uma consciência cósmica, os que seriam puros de coração, ou seriam escolhidos como numa loteria? Por outro lado, os tão aludidos contatos telepáticos com ETs já não acrescentam mais nada ao nosso conhecimento do assunto – e ao que tudo indica estão perdendo força. Assim como os relatos dos abduzidos autênticos, que trazem mais confusão que esclarecimentos à Ufologia. Outra idéia ainda em vigor é a de que as autoridades sabem dos fatos mas se mantém no silêncio para não provocar pânico, impondo respeito como detentoras de segredos inalcançáveis ao mortal comum. Conheceriam a tecnologia extraterrestre e as razões de sua vinda à Terra. Bem, isso também parece inverossímil, pois creio que as autoridades permanecem tão ignorantes sobre este assunto quanto qualquer um de nós, mas vão continuar fazendo o jogo que sempre fizeram. É conveniente, interessante e, até certo ponto, eficaz, do ponto de vista deles. Se há uma manobra para se esconder a verdade sobre o Fenômeno UFO, ela não é tão gigantesca e poderosa quanto se imagina.
Como se vê, a Ufologia necessita uma nova abordagem. Chega de luzinhas no céu, de Chupacabras, de círculos ingleses que proliferam da noite para o dia sem que sua origem seja identificada. A disciplina ufológica tem se prestado a muito folclore, a muitas teorias não solidificadas por provas e até por fantasias desvairadas. Como disse o experiente ufólogo Jaime Lauda, também inativo por motivos semelhantes aos meus, “…a Ufologia virou uma lata de lixo onde se joga tudo aquilo que não tenha uma explicação plausível dentro do conhecimento vigente”. E isso foi dito há quase 20 anos, permanecendo uma realidade nos dias de hoje. Só que agora essa lata est&aacut
e; transbordando de material tanto inservível quanto estragado. Aí está o ‘ruído de fundo’ preconizado por Osni Schwarz. É o equivalente a dizer que estamos sintonizando tantas estações ao mesmo tempo que não podemos ter uma imagem clara do que está realmente acontecendo. Essa é um posição apresentada há muito, por vários ufólogos, mas que não foi devidamente compreendida.
O leitor de hoje, que segue este artigo, é o principal herdeiro de qualquer atitude que venha a ser tomada em relação às mudanças que o assunto está exigindo. Já estamos em 2.000 e passamos os últimos 50 anos pesquisando um fenômeno que atordoou, balançou estruturas, revolucionou valores. Já era tempo de se ter algum resultado, mesmo considerando que no plano cósmico esse tempo é insignificante numa escala de bilhões de anos. Nossa própria civilização é também muito recente. Em contrapartida, nestes mesmos 50 anos, muitas áreas do conhecimento evoluíram magnificamente: a Medicina, a tecnologia em todas as frentes, a Astronomia, as ciências de um modo geral. O mundo viveu transformações profundas, cultural e socialmente. Mas a Ufologia não! Nem mesmo é reconhecida como ciência. Seus métodos de pesquisa, no fundo, permanecem exatamente os mesmos de quando tudo começou. Isso só pode nos levar a uma conclusão: alguma coisa está errada…
Luzinhas no Céu – Aos ufólogos em atividade fica o dever de buscar novas e ousadas propostas de trabalho, alterando os padrões dos pensamentos que nortearam as pesquisas até os dias atuais. Chega de luzinhas no céu! Antes de virem a público mostrar o resultado de suas pesquisas, que esgotem todas as possibilidades, estendam o leque de suas investigações a todas as áreas do conhecimento. Consultem, discutam e analisem criteriosamente a questão. Estejam certos de que estamos todos apenas tateando o Fenômeno UFO, abrindo caminho em meio a uma espessa bruma de mistérios e interrogações. O sentido último de sua natureza está presente em tudo – e, inclusive, no mais íntimo do ser humano. Baixem um pouco o foco de visão ao nível de seus horizontes e os ampliem para além das árvores que não lhes deixam ver o bosque. Saiam um pouco da Ufologia para – digamos – espairecer o espírito e desintoxicá-lo dos ranços e acomodações que o tema sutilmente impõe. Essa pausa momentânea poderá permitir vislumbres interessantes, novas perspectivas e talvez até um reposicionamento total de conduta e tratamento da questão ufológica.
A você leitor – e por extensão ao público em geral – cabe uma cobrança e um aprimoramento de suas expectativas para aspectos mais consistentes, mais amplos e mais fundos desse debate. Posso estar errado, mas creio que você também não aguenta mais ouvir falar de luzinhas no céu, termo cuja repetição aqui se faz proposital. Finalmente, quanto à Revista UFO, sei que não é fácil reunir material inédito e suficiente para compor a cada mês uma nova edição – por isso mesmo o mérito pela longa existência. Mas urge reciclar o teor das matérias, ir atrás de novas fontes, incentivar os colaboradores a uma participação mais produtiva, em todos os níveis. Sei que isso é pedir demais, mas somente assim se impedirá que a publicação corra o risco de começar a andar em círculos. É hora de se dar uma guinada no leme do barco e apontar a proa em outra direção, desbravando novos mares. Ou isso, ou vamos continuar navegando em águas já conhecidas que, como vimos, não levam a lugar algum.