Estamos em dezembro, um mês marcado pela mais relevante festividade católica, o Natal, que celebra a vinda à Terra de um ser superior a nós e que, há nada menos do que dois mil anos, tentava apaziguar a humanidade com conceitos de paz e de amor ao próximo. A figura de Jesus é cercada de mistérios e há quem diga que ele teria sido um ser extraterrestre nascido em nosso planeta a partir de um processo de hibridização que teria contado com a participação de sua mãe, Maria, e até mesmo de sua avó materna, Ana. Em um momento como este, em que bilhões de católicos e de outras sendas religiosas se voltam para a comemoração da vinda de Jesus, nossos olhos também se voltam para sua progenitora, em especial para as aludidas visitas que Maria teria feito a inúmeros países, em avistamentos que ficaram conhecidos como aparições marianas. E a mais emblemática de todas, evidentemente, é o chamado Milagre de Fátima, ocorrido naquela então pequena cidade de Portugal, no início do século passado, dando luz a incontáveis teorias sobre sua real natureza. Uma delas é a de que tudo não passou de um episódio ufológico. Vejamos o que é importante considerar a respeito neste texto.
A interiorização e a impregnação das famosas aparições marianas de Fátima, em 1917, no tecido mítico-cultural português são geralmente entendidas no contexto da tradição religiosa do catolicismo popular, abastecida por sedimentos arcaicos de cultos. Ao longo dos seus quase 90 anos de história, a difusão dos fenômenos de Fátima floresceu na sociedade portuguesa, sem discussões nem alternativas, e estabeleceu-se nos estreitos limites dicotômicos da aceitação ou da recusa. Como sabemos, sistemas de crença geram mecanismos de autodefesa, fortificando-se na impossibilidade de sua averiguação lógica e determinando o modo como percebemos e reconstruímos a realidade, de acordo com condições sensoriais e culturais e em moldes e limites que se vão reconhecendo e identificando. Recentemente, acentuou-se a curiosidade e o interesse nas aparições marianas, por parte de investigadores de ciências físicas, humanas e sociais, causando uma reflexão em torno de questões decorrentes dos episódios de 1917.
Essa convergência concreta e desapaixonada na abordagem de fenômenos reputados como extraordinários, na alçada do miraculoso, não pretende colidir com o objeto religioso e devocional conferido pelo sistema de crenças relativo aos eventos da Cova da Iria, em Fátima, do início do século passado. Seja como for, essa iniciativa em realizar novas pesquisas dos fatos, por parte da comunidade científica nacional e internacional, acabou por desmentir a alegada impossibilidade de se enquadrar e de analisar objetivamente os fenômenos deduzidos a partir dos testemunhos do que aconteceu em Fátima. A investigação científica dos acontecimentos tem o objetivo de indagar sua natureza em profundidade, sem os limites definidos pelos eternos territórios próprios dos poderes religiosos. Sobretudo, tem importância significativa ao superar a clássica dicotomia entre crença e descrença, fé e razão, quando se desenham sinais renovadores de crenças religiosas. A investigação também não se intimidou com supostos conhecimentos elitistas, marcados por um cientificismo positivista, argumento sempre invocado a quem não interessa a exposição e confrontação de novos dados e perspectivas que a marcha do tempo torna viáveis.
Novas realidades
A integração de novas formas de realidade nas searas do conhecimento e da curiosidade humana, em sua vocação natural, vai desmentindo sucessivas impossibilidades. Tendo como ponto de partida uma análise não conformista dos fenômenos religiosos chamados marianos, proporcionada por obras históricas publicadas a partir da década de 80, e amparados por exames realistas dos acervos originais dos fatos, este autor e a historiadora Fina d’Armada lograram fazer e podem hoje apresentar uma releitura dos fatos de Fátima, tidos como religiosos. Fina já publicara, nos anos 80, a obra O Que se Passou em Fátima em 1917 [Livraria Bertrand, 1980], na qual questionava a natureza divina ou miraculosa dos fatos registrados pela Igreja. E esse autor fizera o mesmo pouco depois publicando o livro Intervenção Extraterrestre em Fátima: As Aparições e o Fenómeno OVNI [Livraria Bertrand, 1982], também mostrando que outra explicação havia para os fatos registrados na Cova da Iria. É com a legitimidade desses antecedentes, entre outros, que partimos para uma releitura da fenomenologia das aparições marianas de Fátima.
Ao fazer tal releitura, gradualmente verificamos que nossas hipóteses e suposições iam ganhando fôlego e angariando companhias de peso das mais variadas origens, do ponto de vista da participação científica, com destaque para o continuado e produtivo diálogo a distância que desde cedo se estabeleceu com o professor Auguste Meessen, físico teórico da Universidade de Louvaine, na Bélgica [Correspondente internacional da Revista UFO em seu país]. Este autor, apesar de sua condição de católico indefectível, abraçou o notável sentimento de “não se sentir aprisionado em um dogmatismo qualquer e crer que o nosso dever será sempre o de procurar a verdade”, para conduzir as investigações junto desse autor e de Fina. Nossas fontes de informação são constituídas pelos interrogatórios originais dos três videntes de Fátima, além de depoimentos em primeira mão sobre os fatos, datados e selecionados em função da sua riqueza informativa. Com esta base documental — cerca de uma centena de testemunhos — constituímos um suporte informativo que apresenta um retrato representativo e historicamente verificável dos acontecimentos de 1917, naquele ermo lugar do interior de Portugal.
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