Washington, o berço da política norte-americana, sediou de 29 de abril a 03 de maio um evento sem precedentes na história da Ufologia Mundial, o Citizen Hearing On Disclosure ou Audiências Públicas sobre Abertura (APA). A ocasião contou com a presença de quase 50 participantes, entre militares de alta patente, membros de serviços de inteligência, autoridades e renomados ufólogos de várias partes do mundo, todos ao lado de testemunhas de casos ufológicos considerados os mais importantes já ocorridos. Eles prestaram depoimentos a um grupo formado por seis congressistas, cinco deputados e um senador, políticos que ao longo dos cinco dias do evento ficaram impressionados com o que ouviram. Esta foi uma iniciativa do ativista político Stephen Bassett, diretor do Paradigm Research Group (PRG), responsável por inúmeras ações ligadas ao tema [www.paradigmresearchgroup.org].
As APA ocorreram no Clube Nacional da Imprensa dos Estados Unidos, templo da liberdade de expressão do país, localizado a poucas quadras da Casa Branca e do Capitólio. O formato de sabatina escolhido foi justamente aquele aplicado no Congresso do país em discussões de extrema relevância: um comitê de congressistas é formado e testemunhas são convocadas, assim como técnicos em condição de emitir pareceres precisos para esclarecer as situações discutidas — todos se manifestam após o juramento formal de que irão dizer a verdade. Esse método de audiência é empregado por muitas comissões parlamentares ocorridas nos Estados Unidos, usadas até mesmo para julgar atos do governo. “Optamos por esse estilo e deixamos claro em todos os meios que usamos para divulgar nosso Evento que, se o Congresso não faz seu trabalho como devia, instaurando uma comissão para tratar da questão ufológica, nós, o povo, vamos fazer”, declarou Bassett.
Congressistas surpresos
Os congressistas escolhidos para o trabalho são alguns dos poucos que admitem publicamente seu interesse pelo assunto. Entre eles estão Maurice Robert Gravel, conhecido por suas tentativas de acabar com a Guerra do Vietnã e de abrir documentos do Pentágono sobre o conflito para acesso público, em 1971; Darlene Kay Hooley e Lynn C. Woolsey, da Comissão de Ciência, Espaço e Tecnologia do Congresso Norte-Americano; Carolyn Jean Kilpatrick, uma ex-deputada que ficou conhecida por seu talento especial em trabalhar com temas delicados envolvendo diversos partidos; Gardner Roscoe Bartlett, ex-membro do Comitê de Espaço, Ciência e Tecnologia e do Comitê das Forças Armadas; e Merrill Cook, hoje empresário e membro destacado do Partido Republicano.
O ponto alto das audiências ficou a cargo dos testemunhos proporcionados por militares aposentados e ex-agentes de inteligência, que relataram ter tido interação direta com o Fenômeno UFO e seus tripulantes durante os anos de serviço prestados aos seus respectivos órgãos de governo. Também foram destaque os depoimentos oferecidos por experientes ufólogos, que também expuseram uma extensa documentação coletada durante décadas de trabalho, mais tarde cedida à comissão de congressistas para que fossem apreciadas. As apresentações duraram ao todo cerca de 30 horas durante os cinco dias do evento, todas, sem exceção, prestadas sob juramento formal. A plateia os ouviu atentamente e no mais absoluto silêncio.
Formalmente, segundo o site do PRG, as Audiências Públicas sobre Abertura [www.citizenshearing.org] foram realizadas com o objetivo de reivindicar aos órgãos governamentais o fim do embargo imposto à realidade ufológica, que impede o reconhecimento de toda e qualquer atividade de interação extraterrestre com o planeta e seus habitantes nos últimos 65 anos. “A última vez que o Congresso Norte-Americano se reuniu para tratar da questão alienígena foi em 1968, há 45 anos. Em quase cinco décadas de omissão, milhares de novos avistamentos ocorreram em todo o mundo, tendo entre testemunhas astronautas, pilotos militares e civis, operadores de radares e o público em geral. Não se pode mais ignorar os fatos e o Congresso tem que fazer algo”, afirmou Bassett, hoje um dos mais combativos integrantes da Ufologia Mundial — ele aceitou o convite e tornou-se consultor da Revista UFO.
Controle de informações
Com tamanha atividade nas APA, os relatos começaram a vir à tona de forma cada vez mais constante. Concomitantemente, documentos governamentais vazados em circunstâncias anteriores foram apresentados atestando de maneira irrefutável a presença alienígena em nosso meio. “Livros, documentários e conferências foram realizados no país para tratar do assunto, mas nada foi capaz de demover as autoridades de seu absoluto silêncio”, reforçou o ativista. Para ele e para a maioria dos presentes, o estado de negação da problemática ufológica é uma manobra que inclui até a mídia em um plano de controle orquestrado pelo governo dos Estados Unidos e seus aliados diretos. Por ironia do destino, as APA ocorreram justamente na cidade palco da mais notória onda ufológica da história, ocorrida em julho de 1952.
As APA tiveram início na manhã de 29 de abril com as considerações dos congressistas Roscoe Bartlett e Lynn Woolsey. Cada político ficou responsável por presidir os trabalhos de uma seção, contando, às vezes, com mediadores não políticos. Woolsey manifestou sua visão sobre a realização do evento. “É nosso compromisso escutar os depoimentos de forma objetiva e perguntar o que achamos que o povo norte-americano gostaria de saber. Creio que vamos ter uma semana muito interessante”. Logo em seguida, Bassett defendeu que os congressistas tivessem uma postura realmente inquisitória quanto aos depoentes, para que as audiências alcançassem a validade que se espera delas. O ex-ministro da Defesa do Canadá Paul Hellyer [Veja artigo nesta edição], o astronauta Edgar Mitchell [Via telão], o historiador Richard Dolan, o pesquisador Grant Cameron, a jornalista Linda Moulton Howe e o renomado ufólogo e físico Stanton Friedman foram os depoentes daquela seção inaugural. Estava dada a largada para os trabalhos que durariam uma semana.
Todos os participantes desta primeira seção declararam de maneira enfática a existência de atividade extraterrestre na Terra. Mitchell, indo além, salientou que não somos os únicos habitantes no cosmos e que ETs têm vi
ndo ao planeta há muito tempo. Já Dolan ofereceu detalhes sobre episódios recentes e afirmou que existem mais de 10 mil relatos todos os anos, embora nem todos permaneçam inexplicáveis. Intervindo, o congressista Merrill Cook indagou o motivo pelo qual os avistamentos se tornaram tão frequentes a partir dos anos 40. Coube a Linda responder que, em julho de 1945, os Estados Unidostestaram sua primeira bomba atômica em White Sands, e depois outras duas foram despejadas no Japão, no final da Segunda Grande Guerra, e que esses eventos desencadearam tamanha incidência.
Negar os UFOs a qualquer custo
Grant Cameron, criador de um site que relaciona como autoridades se referem aos UFOs ao longo da história [www.presidentialufo.com], deu exemplos específicos de ex-presidentes e candidatos presidenciais que falaram favoravelmente sobre a existência dos discos voadores. Ele também informou que investigou o motivo da alta incidência desde os anos 40 e concluiu que as evidências, de fato, indicam que o uso da energia nuclear para fins bélicos foi o estopim do crescente interesse de nossos visitantes. “De Jimmy Carter a Bill Clinton, todos tentaram saber dos militares o que havia de verdade sobre os discos voadores, e não receberam resposta”.
A seção também foi marcada por uma intervenção um tanto cética da congressista Darlene Hooley — que voltaria a ser ácida em outros momentos das APA —, que questionou os depoentes sobre a razão de não se terem notícias de avistamentos frequentes pelo mundo atualmente. Sarcástico e experiente, Friedman perguntou-lhe quantos relatos conhecia e o que sabia sobre o fenômeno. Darlene não teve muito que dizer. “Um exemplo de preconceito e ignorância sobre a questão ufológica está na política de acobertamento, que não é apenas um conceito ultrapassado, mas também nocivo à sociedade”, falou Friedman, contundente.
O estado de negação da problemática ufológica é uma manobra que inclui até a mídia em um plano de controle orquestrado pelo governo dos Estados Unidos e seus aliados diretos (…) Os fatos devem ser apresentados a todo o mundo custe o que custar
Ainda nesta seção, na bancada em frente aos depoentes e junto dos congressistas estava também o advogado constitucional Daniel Sheehan, que ajudou a intermediar os trabalhos. Em diversas ocasiões ele interviu para orientar os procedimentos e também para dar seu relato sobre registros ufológicos históricos. Foi ele quem introduziu o tenente coronel Richard French, outra testemunha de peso das APA, que atestou ter sido ordenado pelo governo a desmentir avistamentos que vinham a público nos anos 60 e 70, especialmente durante o Projeto Livro Azul, no qual trabalhou. “Minhas tarefas desde o início do programa eram negar os UFOs a qualquer custo e com qualquer pretexto”.
Sheehan complementou a fala de French ressaltando que “entender a realidade ufológica é uma questão de visão de mundo que deve ser considerada por todos”. Já o congressista Bartlett afirmou que não acreditar na existência de outras inteligências cósmicas é uma postura arrogante e presunçosa de nossa parte. Com declarações como essas, em uma troca constante entre os políticos e os depoentes, o clima das Audiências Públicas sobre Abertura esquentou e aquela primeira manhã já indicava como seria a semana toda.
O governo conhece a situação
No segundo painel do primeiro dia, o congressista Merrill Cook deu início ao que seria uma verdadeira sabatina sobre a casuística ufológica ao longo da história. Dolan, o primeiro a se manifestar, discorreu sobre os documentos que têm chegado a público, seja através de vazamentos ou pela Lei de Liberdade de Informação. “Ainda que alguns registros não sejam muito sigilosos, eles deixam claro que o governo sabe da gravidade da situação e não pretende expô-la à sociedade”, disse. Logo após, o jornalista e pesquisador chileno naturalizado norte-americano Antonio Huneeus relembrou um dos marcos históricos da Ufologia Mundial: a apresentação do tema em uma Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 1978, com a presença do então secretário geral Kurt Waldheim. A cobertura do histórico evento foi feita por Lee Spiegel, naépoca radialista da rede NBC e hoje escritor do jornal Huffington Post. Para Huneeus, o contato com nossos visitantes é a próxima fronteira a ser alcançada pelo homem. “Embora tenhamos sido condicionados pela mídia a não crer que isso venha a ocorrer, atualmente, os mais jovens se mostram muito receptivos à ideia”.
Em seguida, Dolan garantiu que a sociedade está passando por uma revolução tecnológica e que algum evento poderia forçar a questão ufológica a vir à tona. Cameron complementou: “O primeiro país que tiver acesso à tecnologia extraterrestre mandará no mundo e nãoirá abrir mão dela”, afirmou, ressaltando que essa seria a principal razão para se manter o acobertamento ufológico mesmo após 65 anos do início da Ufologia. Logo após a manifestação dos ufólogos, a congressista Carolyn Kilpatrick disse considerar urgente expor o problema imposto pela política de negação dos discos voadores, embora não soubesse se uma audiência verdadeira no Congresso Norte-Americano seria o método ideal. Aproveitando a deixa, Dolan, um dos mais ativos depoentes em todas as APA, disse que tudo o que se pode fazer para abrir a questão ufológica vale à pena. Sheehan complementou e comentou o processo de conscientização pelo qual o público teria que passar: “A alteração da consciência sobre os UFOs terá que vir por meio de campanhas de esclarecimento que vão além dos órgãos de governo e podem partir até mesmo de instituições religiosas. Mas algo tem que ser feito”.
Voz destoante no ambiente
As discussões evoluíram gradualmente. Os congressistas, inicialmente acanhados, foram se soltando ao acompanhar parte da indignação dos depoentes com a política de negação aos UFOs. Em certo ponto, Bartlett disse que o Congresso dos Estados Unidos deve à sociedade uma resposta e que “o tema é uma questão constitucional mais do que qualquer outra coisa”. Na seção seguinte, o controverso médico e divulgador ufológico Steven Greer iniciou os trabalhos descrevendo porque abandonou a medicina para se dedicar inteiramente à Ufologia. Greer salientou que, durante 30 anos de atividades na área, já se deparou com inúmeras evidências de que o governo norte-americano sabe da realidade e a acoberta de maneira irresponsável.
De todos os quase 50 participantes das Audiências Públicas sobre Abertura, Greer foi o que mais chamou a atenção com suas falas. Ele é produtor do recente documentário Sirius [2013], no qual afirma que tecnologias extrater
restres que poderiam mudar o mundo já estão em mãos governamentais. Seu filme trata, entre outros temas, da análise de DNA de um cadáver humanoide com pouco mais de 15 cm de altura descoberto há 10 anos no Deserto de Atacama, no Chile. Greer aproveitou a controvérsia quanto à verdadeira origem da criatura e alegou ter concluído ser uma entidade alienígena, no que foi duramente criticado pela Comunidade Ufológica Mundial. Sua participação em um evento sério como as APA foi bastante questionada — para seu azar, justamente na semana de estreia de Sirius, uma equipe de especialistas de diversas disciplinas sacramentou que o corpo não tinha absolutamente nada de extraterrestre.
Greer roubou um pouco da atenção para si, mas não feriu a legitimidade dos debates, logo retomados por Grant Cameron, que disse ter realizado diversas tentativas para encontrar informações sobre UFOs na documentação da Administração Clinton. Contudo, os quase mil documentos que recebeu por meio da Lei de Liberdade de Informação nada continham de significativo. Para ele, foi uma lástima que o milionário Laurance Rockefeller, em suas várias tentativas, não conseguisse convencer a equipe de Clinton a olhar para a questão ufológica. “Clinton disse a Rockefeller que, se realmente um UFO tivesse caído em Roswell, nunca lhe disseram nada a respeito”. De acordo com Cameron, o ex-presidente tentou obter informações, mas encontrou a resistência do establishment militar
dos Estados Unidos.
Em bases militares
O ex-senador Mike Gravel, de longe o mais simpático e entusiasmado de todos os congressistas — que receberam um honorário de 20 mil dólares cada pela participação —, perguntou se os depoentes da segunda seção poderiam elaborar uma proposta, compatível com os termos da ONU, para se avaliar a possibilidade de sua implementação perante o órgão. Todos, sem exceção, responderam afirmativamente. Cook aproveitou para dizer que também era preciso realizar uma audiência formal no Congresso Norte-Americano sobre o tema. Para Stephen Bassett, se isso ocorrer, um de seus objetivos principais seria mostrar que, além de o governo manter silêncio absoluto, a mídia também não tem sido imparcial quanto ao tema, abrindo mão de fazer seu trabalho de pressionar as autoridades para que a verdade venha à tona.
Em uma seção subsequente das Audiências Públicas sobre Abertura, que já fervia com afirmações contundentes de testemunhas de alta credibilidade, dois ex-militares da Real Força Aérea (RAAF), inglesa, testemunharam sobre o que alguns chamam de o Caso Roswell Britânico. Os sargentos John Burroughs e Jim Penniston estiveram diretamente envolvidos no evento ocorrido em 1980, perto da Base Aérea de Bentwaters, no Reino Unido, quando naves sobrevoaram o depósito de armas nucleares da instalação, colocando o local em estado de alerta máximo — também conhecida como Caso da Floresta Rendlesham, a ocorrência é considerada uma das mais importantes da Ufologia Mundial.
Interferência em mísseis nucleares
O congressista Bartlett fez muitos questionamentos sobre o espantoso incidente, detalhadamente descrito por Burroughs e Penniston, e quis saber se eles tinham visto o disco voador decolar. Penniston respondeu: “De repente, o UFO se levantou do chão e foi até o nível das árvores, pairou momentaneamente ali e decolou em seguida em um piscar de olhos”. O sargento falou ainda que o contato com o artefato acabou deixando ele e Burroughs muito doentes, em razão dos efeitos causados pela radiação. Ambos ainda anunciaram que entrarão com um processo legal contra o governo dos Estados Unidos para receber os benefícios médicos a que têm direito para tratar das lesões sofridas no incidente, pois estavam no cumprimento do dever.
Os relatos mais poderosos daquele dia, contudo, vieram dos capitães Robert Salas, Bruce Fenstermacher, David Schindele e do sargento David Scott. Todos deram convincentes testemunhos sobre a interferência que mísseis balísticos nucleares sofreram enquanto UFOs pairavam sobre silos de lançamento, no norte dos Estados Unidos. Fenstermacher, por exemplo, serviu na Força Aérea Norte-Americana (USAF) por 21 anos e chegou a ocupar o cargo de comandante de combate na Base Nuclear Francis E. Warren, vindo a se aposentar em 1980. O ex-militar contou ter visto um aparelho em forma de charuto acima do local em 1976. “Quando isso ocorreu, as ogivas atômicas apresentaram defeito e tiveram que ser substituídas”.
Já Salas, que foi controlador de armas e oficial de lançamento de mísseis balísticos intercontinentais — ele esteve no Brasil recentemente, para se apresentar no I Fórum Mundial de Contatados —, falou sobre um episódio semelhante ocorrido na Base Aérea de Malmstrom, em 1967. Na ocasião, os alertas dos silos atômicos dispararam indicando uma invasão na área de segurança. Durante esse período, os mísseis ora deixaram de atender aos comandos, ora ativaram sequências de ordens por conta própria. Salas elaborou uma documentação sobre o incidente e a enviou a Peter Thomas King, ex-presidente do Comitê de Segurança Interna dos Estados Unidos, que o ignorou completamente. Em uma matéria do New York Daily News, quando questionado, King respondeu: “Eu não tenho ideia do que esse cara está falando. Nós sempre recebemos coisas loucas de pessoas cujos cérebros foram tomados por alienígenas”. A infeliz declaração enfureceu Salas. “Ele deveria, no mínimo, tratar com mais respeito um militar que ficou encarregado da segurança do país à frente do comando de uma base de lançamento de mísseis atômicos”.
Ao longo da semana, os congressistas foram se mostrando cada vez mais receptivos ao tema. O senador Gravel, por exemplo, comentou que entendia as implicações dos depoimentos prestados, cujas evidências irrefutáveis de sobrevoos de bases militares revelavam ameaças ao sistema de lançamento de armas nucleares. “Se UFOs podem impedir os mísseis de serem de lançados, imaginem as implicações que isso traria ao financiamento do nosso sistema de defesa”, ressaltou. Entre os depoentes também esteve Gary Heseltine, policial inglês aposentado, fundador da Police Report UFO Sightings [Relatórios Pol
iciais de Avistamentos de UFOs] e consultor da Revista UFO. Extremamente enfático, ele falou sobre o banco de da
No início de suas atividades, havia apenas meia dúzia de episódios, mas, após 10 anos de investigações, são mais de 430 casos testemunhados por policiais britânicos. Heseltine ressaltou ainda que as informações são divididas em duas categorias — a de episódios de avistamentos com policiais em serviço e aqueles em que os profissionais estavam fora de seu horário de trabalho. “Os relatos de avistamentos derivam de uma série de fontes, como os próprios policiais que contataram minha entidade, arquivos de jornais históricos e relatórios que contêm informações oficiais divulgadas pelo Ministério da Defesa”. Sua iniciativa, inédita no
mundo, entusiasmou os congressistas.
“Comitê Alienígena”
Em vários momentos durante as Audiências Públicas sobre Abertura, deputados, senadores, depoentes, testemunhas e pesquisadores comentaram os artigos que a imprensa publicava ao longo daquela semana. Bartlett rechaçou uma matéria em que sua comissão de congressistas foi chamada de “Comitê Alienígena”. O político ficou irritado com a cobertura dos trabalhos. “Vendo recortes de jornais desses dias, observo que a imprensa e certos focos de desinformação do governo têm sido muito bem sucedidos em fazer parecer que a questão ufológica só atrai lunáticos. Isso é um absurdo”. Ele se mostrou particularmente ofendido quando vários meios de comunicação comentaram que os congressistas haviam recebido 20 mil dólares para realizar os trabalhos. “Ora, esse é um pagamento pelo tempo que estamos nos dedicando e ele não implica que venhamos a dar uma conotação favorável aos UFOs”.
Bartlett, hoje aposentado do Congresso, foi além. Para estarrecimento da plateia, ele disse reconhecer não ter cumprido seu dever enquanto estava naquela casa, não realizando audiências formais sobre a questão extraterrestre. “Se estivesse hoje em mandato, agora com tudo o que tenho ouvido dos senhores, certamente convocaria o tema à discussão”. Mas, apesar de alguns casos mais sarcásticos, nem toda a cobertura jornalística das audiências foi negativa — e particularmente positiva foi a reportagem Visitantes do Espaço Exterior, Reais ou Não, São Tema de Discussão em Washington, publicada pelo The New York Times em 04 de maio, trazendo o senador Mike Gravel como destaque. “Há algo monitorando nosso planeta de forma muito cuidadosa, devido à nossa índole belicista”, disse o político ao periódico.
Mutilações de animais
Além das audiências que ocorriam de manhã e de tarde, também havia palestras no período noturno. Na noite do segundo dia, por exemplo, foram apresentadas as conferências do físico nuclear e consultor da Revista UFO Stanton Friedman, do pesquisador Grant Cameron e do historiador Richard Dolan, autor de UFOs and the National Security State: Chronology of a Coverup [UFOS e o Estado de Segurança Nacional: Uma Cronologia do Acobertamento, Keyhole Publishing Company, 2000]. Esses trabalhos prepararam a plateia para os depoimentos da quarta-feira, 01 de maio, que trataram detidamente do Caso Roswell, com testemunhas e depoimentos consistentes que garantiam a queda de uma nave alienígena e seu resgate, com tripulantes já mortos, no Novo México, em 1947.
Além de Roswell, o tema das mutilações de animais por extraterrestres dominou aquela seção matutina. A escritora e documentarista Linda Moulton Howe relatou alguns episódios de animais horrivelmente decepados que registrou durante sua carreira investigativa. Linda começou narrando uma ocorrência de setembro de 1967, quando uma égua foi encontrada morta em uma fazenda do Colorado. “Seu crânio e longo pescoço tinham sido despojados de toda a carne. Todos os órgãos foram retirados cirurgicamente, de acordo com o médico legista. No entanto, não havia sangue no animal ou em torno dele”. Também não havia pegadas ou rastros, exceto várias marcas circulares a cerca de 100 m de distância — os fazendeiros disseram a Linda que tinham visto feixes de luz prendendo o gado.
O tema abordado pela documentarista despertou o interesse dos congressistas, que a encheram de perguntas. Ela também relatou que nenhum dos bichos mutilados que investigou apresentava qualquer sinal de luta, rastro ou de sangue e mostrou imagens de uma vaca com as órbitas oculares vazias e orelhas extirpadas. “Mas minha investigação também me levou a pesquisar outros casos. Particularmente me interesso por relatos de ex-militares que estiveram frente a frente com tripulantes de naves alienígenas”. Linda contou que teve diálogos com vários funcionários do governo norte-americano e membros das Forças Armadas, mas que nenhum deles falava publicamente sobre suas experiências. “Reservadamente, no entanto, nos contam fatos estarrecedores”.
Documentos Majestic e Roswell
Agitando ainda mais a seção da quarta-feira, Linda Moulton Howe disse ter visto um documento informativo presidencial na Base Aérea de Kirtland, no Novo México, em 1983, que registrava episódios envolvendo corpos de pequenos humanoides. Nesse momento, ela desabafou, dizendo: “Meu maior desafio como jornalista é gravar as coisas contadas a mim pelos militares”. Quando questionada pela congressista Lynn Woolsey por que achava que seres de outros planetas mutilariam animais, Linda foi rápida e contundente em responder: “Trata-se de uma colheita genética”. Ela também relatou abduções e a possível manipulação da mente humana por nossos visitantes.
Os debates estavam calorosos naquela manhã, mas a temperatura subiu ainda mais quando o militar aposentado Robert Wood revelou à comissão que trabalhou durante 43 anos na empresa aeroespacial McDonnell Douglas e que por três décadas investigou o envolvimento direto de oficiais de alta patente e até de alguns presidentes dos Estados Unidos na política de acobertamento. Para substanciar sua declaração, Wood apresentou os polêmicos documentos conhecidos como Majestic, que comprovariam a relação das autoridades com o processo de sigilo aos UFOs. “É lamentável, mas estes papéis mostram que nossos governantes ?têm sido bem sucedidos em manter secreta a maior descoberta da humanidade, a de que não estamos sós no universo, ao mesmo tempo em que gastam secretamente somas incríveis para investigar a tecnologia de naves alienígenas em processos
de engenharia reversa”, afirmou, para espanto dos congressistas.
Do mesmo painel participou também Jesse Marcel Júnior, oficial cirurgião da Guarda Nacional conhecido por sua participação no Caso Roswell, por ter sido seu pai o militar que primeiro chegou ao campo onde estavam os destroços. Ele voltou a afirmar que, naquela noite de julho de 1947, na época com apenas 11 anos de idade, seu pai, então oficial de Inteligência do Exército, voltou para casa com os restos de um disco voador acidentado em uma fazenda. Marcel Júnior disse que os destroços consistiam em vários componentes, entre eles uma folha metálica muito forte e pedaços de um tipo de plástico preto. “Mas a coisa mais estranha que vi foi uma viga com símbolos escritos na superfície”.
Queda e resgate de naves
Jesse Marcel Júnior passou a relatar aos congressistas como seu pai foi, posteriormente, ordenado a enviar o material para o general Roger Ramey, na Base Aérea de Fort Worth, no Texas, e então a calar-se sobre o assunto — foi justamente a partir do Caso Roswell que teve início a política de acobertamento da realidade ufológica. “Vocês nunca falarão sobre isso. Aquilo não aconteceu”, pediu o pai ao depoente e à sua mãe, para encerrarem o assunto.
O acidente com UFOs e o resgate de seus destroços foi outro tema polêmico nas Audiências Públicas sobre Abertura. Mais militares aposentados deram seus relatos, surpreendendo não só os congressistas, mas também os profissionais de imprensa e a plateia presentes. Foi o que aconteceu quando o tenente-coronel Richard French, aposentado da Força Aérea Norte-Americana (USAF), declarou à comissão ter visto na Base Aérea de Alamogordo, no Novo México, no final da década de 60, restos de um disco voador e de
seus tripulantes mortos.
Segundo ele, um caça de combate da Base Aérea de White Sands decolou e derrubou a nave espacial com um míssil ar-ar. Para o espanto de todos, o tenente-coronel French afirmou ter visto os corpos dos humanoides mortos, que depois foram levados a outra base secreta, também no estado do Novo México. French declarou ainda que as únicas partes da aeronave alienígena que teve permissão de examinar exibiam marcas escritas em sua superfície, que pareciam ser em árabe ou em alguma outra língua que ele não entendia. Ele reafirmou que aquela não era a primeira vez que revelava tais informações, mas que a mídia e as autoridades nunca as levaram a sério. Por fim, citando novas fontes, o tenente-coronel garantiu que o Caso Roswell, de 1947, não tratava apenas da queda de um UFO, mas sim de dois. O senador Mike Gravel pediu e recebeu da testemunha informações sobre a segunda nave acidentada.
O painel sul-americano
A América do Sul se fazer representar no quarto dia das Audiências Públicas sobre Abertura. Naquela manhã de quinta-feira, 02 de maio, ufólogos e testemunhas do Chile, Uruguai, Peru, Argentina e Brasil tiveram oportunidade de se dirigir à comissão de congressistas. Eram eles, pela ordem dos países citados, o jornalista e investigador Antonio Huneeus, o coronel da Força Aérea Uruguaia (FAU) Ariel Sanchez, o advogado e fundador da Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA) Anthony Choy, o coronel e ex-piloto de caça da Força Aérea Peruana (FAP) Oscar Santa Maria Huertas, o jornalista e produtor Alejandro Chionetti e o editor da Revista UFO A. J. Gevaerd. Inaugurando o painel esteve o professor e ex-deputado federal paranaense Wilson Picler, convidado por Bassett a expor seus pontos de vista sobre vida extraterrestre.
A seção teve início com a congressista Darlene Hooley solicitando que os depoentes fizessem seu juramento e agradecendo a todos pela presença — ela afirmou que estava muito curiosa para conhecer os detalhes da Ufologia na América do Sul. Em sua fala, Gevaerd logo assegurou que a Ufologia no continente é bem diferente da praticada no resto do mundo, “a começar pelo fato de ser na América do Sul onde está o maior número de países que pesquisam UFOs oficialmente”, disse. Em sua declaração inaugural dos trabalhos daquela manhã, Picler já havia enfatizado a necessidade de a comunidade científica e os governos encararem com seriedade a questão ufológica, como ocorre na América do Sul. Ele também disse que não há mais como esconder os fatos da sociedade.
O ex-deputado salientou igualmente que o uso inconsciente de armas nucleares é um dos principais motivos da alta incidência após a Segunda Guerra Mundial e que, possivelmente, a intenção de nossos visitantes seria proteger a raça humana de uma eventual autodestruição. “É por isso que eles vêm até aqui. Certamente, o tamanho da irresponsabilidade de nossos líderes chamou-lhes a atenção para a possibilidade da espécie humana se extinguir”, afirmou, causando um efeito positivo sobre a plateia e congressistas [Veja box nestas páginas]. Afinal, ele era o único político em atividade nas audiências — tem o cargo de primeiro suplente na Câmara dos Deputados. “Obrigado ao Grande Arquiteto do Universo por enviar essas naves para nos salvar da nossa insanidade”, finalizou.
Brasil em destaque
Em seguida, Gevaerd se apresentou à comissão. O editor da UFO apresentou um panorama sobre o processo de abertura ufológica brasileiro, obtido graças ao esforço da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) por meio da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, considerada modelo por outras nações. Gevaerd também descreveu a reunião ocorrida em 18 de abril, com a presença de membros da CBU e de militares das Forças Armadas, mediada por altos funcionários do Ministério da Defesa [Veja matéria nesta edição].
Salientando que tem se dedicado a colher depoimentos de oficiais brasileiros, especialmente da Aeronáutica, o editor mostrou a abertura que o meio militar do Brasil tem quanto à questão ufológica. “Pelo menos desde 1954, quando nos Estados Unidos o assunto estava sendo submetido à forte censura, o Brasil já vinha tratando o tema com seriedade em diferentes programas oficiais”, declarou.
Ele se referiu à histórica conferência ocorrida naquele ano, na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, organizada pelo coronel aviador João Adil Oliveira, que contou com a presença da elite das Forças Armadas. Depois, o ufólogo brasileiro ainda citou a criação e o funcionamento do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos N
ão Identificados (Sioani), no final da década de 60, e, por fim, comentou sobre a implantação da Operação Prato na Amazônia, em 1977. Sobre esse assunto, Gevaerd se deteve mais, apresentando à plateia e aos congressistas detalhes do que foi a missão militar. Para a surpresa de todos, o editor ofereceu à comissão um calhamaço de 440 páginas de documentos vazados ou liberados pela Aeronáutica, descrevendo as ações de pesquisa e registro de UFOs na ilha de Colares, no Pará.
Muito curiosa, a congressista Lynn Woolsey questionou o depoente sobre o início das manifestações do fenômeno na área e de como tinha sido sua relação com as testemunhas. Gevaerd, então, entrou em detalhes sobre avistamentos e ataques do chupa-chupa a pessoas, atos que motivaram a investigação da Aeronáutica. Ele citou também a entrevista que realizou, em 1997, com o comandante da missão, o coronel Uyrangê Hollanda, fato amplamente conhecido pela Ufologia Mundial e considerado um marco no conhecimento do tema. Em seguida, devido à limitação de tempo — cada expositor teve apenas 10 minutos para falar —, transcorreu rapidamente sobre o Caso Varginha. “Varginha é hoje o segredo militar mais bem guardado pelas Forças Armadas do Brasil, por se tratar do resgate de uma nave alienígena acidentada e de pelo menos dois de seus tripulantes ainda vivos” .
O exemplo que vem do sul
Roscoe Bartlett quis saber por que a Operação Prato foi encerrada e o editor respondeu que isso aconteceu devido ao contato entre Hollanda e seus homens com um ser humanoide que saíra de uma nave, na primeira quinzena de dezembro de 1977. “O alto comando militar brasileiro, sem saber quais rumos a missão tomaria, decidiu desativá-la. Mas não sem antes determinar a Hollanda que trouxesse seus homens de volta de Colares e entregasse as mais de 2.000 páginas de documentos, as cerca de 500 fotos de UFOs e as 16 horas de filmes de naves alienígenas sobre o Rio Amazonas”. Bartlett ficou perplexo, assim como o senador Gravel, que quis saber se houve participação de militares ou da inteligência dos Estados Unidos na Operação — a resposta foi positiva.
O perfil dos congressistas que fizeram as audiências de Washington
Maurice Robert Gravel
Foi senador democrata pelo Alasca. Candidato à Presidência em 2008, não se elegeu. Graduou-se na Universidade de Columbia e serviu no Exército dos Estados Unidos na Alemanha Ocidental durante a guerra. Como senador, se tornou conhecido por suas tentativas de acabar com a Guerra do Vietnã, em 1971.
Darlene Kay Hooley
Seu primeiro cargo político foi em West Linn, Oregon, em 1975. Mais tarde foi eleita para a assembleia legislativa do estado e, em seguida, para o Congresso Norte-Americano, em 1996. Ela continua empenhada na vida cívica e é membro da Comissão de Ciência, Espaço e Tecnologia do Congresso.
Carolyn Jean Kilpatrick
Foi professora de ensino médio e membro da Câmara dos Deputados de seu estado, de 1979 a 1996, quando foi eleita para o Congresso Norte-Americano e reeleita várias vezes. É conhecida por seu talento especial para trabalhar em questões delicadas. Foi membro do Comitê de Recursos para Documentários Televisivos.
Roscoe Bartlett
Ele lecionou anatomia, fisiologia e zoologia, enquanto trabalhava em seu Ph.D. em fisiologia. Foi membro do Congresso Norte-Americano de 1993 a 2013. No final de seu mandato foi o segundo membro mais velho a servir a casa e é ex-membro dos Comitês de Espaço, Ciência, Tecnologia e das Forças Armadas.
Lynn C. Woolsey
Foi professora na Universidade Dominicana da Califórnia e é membro do Partido Democrata, pelo qual foi deputada de 1993 a 2013. Apontada como a mais liberal do Congresso Norte-Americano em 2012 pelo jornal That’s My Congress, a presbiteriana se tornou a primeira deputada a pedir a retirada das tropas do Iraque.
Merrill Cook
É membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e fez mestrado em administração em Harvard, em 1971. Em 1973 fundou a Companhia Chorume Cook, fabricante de explosivos de mineração, da qual foi o presidente. É membro do Partido Republicano, representando Utah.