Desde antes do histórico 06 de março de 2015, quando a nave Dawn da NASA tornou-se o primeiro artefato terrestre a orbitar um planeta-anão, alguns sites de péssima reputação vinham divulgando textos sensacionalistas, de que uma “base” ou “cidade alienígena” havia sido descoberta no mundo de 950 km de diâmetro, principal objeto no Cinturão de Asteroides entre Marte e Júpiter. Esses mistificadores pouco se importavam com o fato de que as fotos ainda eram de baixa resolução e as sondagens espectroscópicas ainda seriam feitas, e já divulgavam suas estapafúrdias teorias. Evidentemente, agora que a explicação foi divulgada, nenhum deles irá se retratar, o que mais uma vez serve de alerta para que se tome todo o cuidado com informações encontradas na internet.
Analisando informações captadas pela Câmara de Enquadramento (FC) da Dawn, capaz de cobrir comprimentos de onda entre a luz visível e próximo do infravermelho, cientistas conseguiram analisar parcialmente o espectro da superfície de Dawn, especialmente da Cratera Occator, de 90 km e onde se localizam as principais regiões brilhantes, e outros locais similares. Ao todo a equipe, liderada por Andreas Nathues, do Instituto Max Plank para Pesquisa do Sistema Solar em Genebra, analisou 130 locais brilhantes em Ceres. A superfície do planeta-anão é, na verdade, muito escura, com refletividade próxima à do asfalto fresco. Daí que, por uma questão de contraste, as regiões brilhantes sobressaem mais e uma análise desses locais apontou a existência de sais, principalmente sulfatos de mágnésio.
Destes, o tipo que melhor combina com as leituras é uma forma hidratada conhecida como hexa-hidrato. E outra das mais importantes descobertas da Dawn foi fundamental para solidificar a hipótese do sal, pois observando Occator ao longo do dia em Ceres, que dura nove horas, e em vários ângulos, seus instrumentos detectaram uma névoa sobre a cratera, que se forma ao amanhecer, torna-se mais intensa ao meio-dia e se esvai ao anoitecer. Isso indica evaporação no local, provavelmente da água diretamente abaixo da superfície, hipótese corroborada pelo telescópio espacial Herschel, da Agência Espacial Europeia (ESA), que detectou vapor d´água na região da cratera. Assim, a teoria mais provável para explicar os pontos brilhantes é que o gelo que existe em Ceres (graças a sua pouca densidade, os cientistas estimam que sua massa seja composta em 25 por cento de água), e que em Occator e outros locais está exposto, termina por sublimar e deixar depósitos de sal, que refletem muito a luz do Sol.
HIPÓTESES PARA A ORIGEM DE CERES
O fenômeno seria muito mais intenso em Occator devido ao fato de esta ser uma cratera relativamente jovem, cerca de 78 milhões de anos. Assim, tal impacto deve ter exposto o gelo existente logo abaixo da superfície de Ceres, formado por água salgada, que evapora quando apresentado ao Sol, produzindo a névoa e deixando depósitos de sal intensamente refletivos. Outro estudo, assim como o primeiro publicado no periódico Nature, utilizou dados do Espectrômetro de Mapeamento Visível-Infravermelho (VIR) da Dawn, aponta para a existência de argilas contendo amônia espalhadas pela superfície de Ceres. Nas condições de temperatura do Cinturão de Asteroides é muito improvável que Ceres tenha absorvido essa amônia, portanto uma das teorias é que o planeta-anão se formou no exterior do Sistema Solar, talvez além de Netuno, e depois migrou para uma órbita mais próxima, conforme os planetas gigantes ajustavam suas trajetórias. Outra possibilidade é que Ceres se formou em sua localização atual e foi atingido seguidamente por corpos vindos do Sistema Solar exterior, que trouxeram a amônia. A missão Dawn prossegue e a nave deve atingir sua última órbita científica, a somente 375 km de altitude, no final do mês.
Leia o artigo publicado na Nature
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