Os eventos do dia 15 de fevereiro, relacionados à passagem do asteroide 2012 DA14 a meros 27.000 km da Terra, uma distância inferior à dos satélites de comunicação, e o meteoro que explodiu sobre Chelyabinsk, na Rússia, chamaram a atenção do mundo para o problema real representado por essas rochas espaciais. Vale lembrar que os dois eventos absolutamente nada tiveram em comum, ao contrário do que mistificadores quiseram fazer parecer.
A humanidade já possui o conhecimento técnico para desviar um asteroide que esteja em uma trajetória rumo ao nosso planeta. Em 2005 a NASA conseguiu que um módulo da sonda Deep Impact atingisse o cometa Tempel 1 a fim de investigar sua composição. Outras sondas, como a Hayabusa da Agência Espacial Japonesa, a Near-Schoemaker e a Dawn da NASA já tiveram encontros próximos com asteroides.
De acordo com Rusty Schweickart, ex-astronauta da missão Apollo 9 de 1969, e fundador da Fundação B612, dedicada a proteger a Terra contra asteroides, se houver tempo razoável antes do impacto há dois métodos complementares. Uma sonda de impacto que altere a trajetória da rocha espacial imediatamente, e outra nave que funcione como um trator gravitacional, manobrando o corpo celeste a fim de afastar o risco de que este passe por uma região conhecida como buraco de fechadura, onde atraído pela gravidade terrestre o corpo poderia retornar para um impacto na órbita seguinte.
Schweickart afirma que essa técnica seria eficiente contra corpos de cerca de 100 m de extensão. Para os maiores, de 400 m ou mais, ou quando tivermos pouco tempo de alerta antes do impacto, armas nucleares podem ser necessárias, apesar dos protestos contrários. Porém, asteroides maiores devem vir em nossa direção com muito menor frequência, a cada 100.000 anos ou mais. Graças ao trabalho de astrônomos dedicados e da própria NASA, já conhecemos aproximadamente 95% dos asteroides de pelo menos 1 km de extensão próximos da Terra.
Infelizmente, somente 30% dos que medem até 100 m são conhecidos, e menos de um por cento daqueles de até 40 m foram catalogados. No total já foram identificados 9.700 asteroides próximos da Terra, de uma quantidade estimada de milhões. Muitos astrônomos e políticos agora pedem que os esforços para ampliar a busca por objetos perigosos sejam intensificados.
O grande problema a ser enfrentado é o político. A região onde determinado corpo celeste pode cair na Terra é chamada de corredor de risco. Um esforço de desviar um asteroide pode mover o local de impacto ao longo desse corredor, sendo o objetivo fazer com que o objeto passe pela Terra sem colidir. O problema é que tal projeto pode colocar determinadas nações ao longo do corredor de risco como alvo, se o esforço fracassar.
Schweickart diz: “Se começarmos uma operação de desvio e algo dá errado, então o ponto de impacto foi movido ao longo do corredor de risco e as pessoas podem ficar em perigo, quando antes não estavam. Quem conduzirá o projeto? Quem pagará por ele? Um objeto de 40 m, grande o bastante para talvez destruir uma cidade, deve ser movido, ou devemos evacuar a cidade? E quem paga pela evacuação?”
Schweickart e seus colegas defendem que um esforço internacional precisa começar imediatamente para lidar com a ameaça dos asteroides e a humanidade precisa trabalhar unida nesse projeto. A Equipe de Ação para Objetos Próximos da Terra da ONU, mais conhecida como Equipe de Ação 14, tem acolhido muitas das recomendações, que devem seguir para o Comitê para Uso Pacífico do Espaço. Alguns acreditam que em outubro próximo a Assembleia-Geral pode apreciar a questão. Apesar da evidente demora da burocracia e da política, Schweickart está otimista: “Na Assembleia-Geral todo o mundo tem contato com o assunto. E precisamos de todos envolvidos nisso”.
Vídeo sobre o evento de Chelyabinsk
Vídeo sobre a primeira linha de defesa contra asteroides
Armas nucleares contra asteroides?
Saiba mais:
Livro: Dossiê Cometa