Há muito tempo, várias tradições religiosas pregam a vinda de um ser superior para colocar “a casa em ordem” na Terra. Para uns, seria Jesus Cristo. Para outros, o mestre Maytreya. E há ainda quem espere a descida do avatar hindu Kalki ou de algum outro luminar espiritual. Ou seja: tem sempre alguém esperando a chegada de alguma entidade celeste por aqui. Na verdade, essa esperança é antiga, e o que muda são apenas os discursos e os arautos que pensam representá-la, cada um com sua suposta verdade, sempre calcada na fé – que deve ser respeitada sempre, pois a liberdade de expressão é direito inalienável de cada um, desde que não incomode os que pensam diferente, nem se tente doutrinar o discernimento alheio.
Porém, quando as coisas não acontecem como o esperado, ou a profecia de alguém falha, dá lugar à decepção. Então, vemos fiéis abandonando a nave de sua fé, porque a chegada esperada não aconteceu. Outros reinventam explicações e remarcam datas, como se suas consciências dependessem da descida de alguém de fora para resolver suas encrencas de dentro. Há muitas explicações e muito rumor, mas poucos fatos concretos para embasar o que se acha. E há também pouca fé, pois quando o coração arde verdadeiramente na sintonia de algo maior do que o ego humano, pouco ou nada representa essa profecia ou aquele arauto – vale mais o que o amor diz dentro da alma, vale mais sentir a luz de dentro, que sabe das coisas mesmo sem vê-las. Logo, nossa maior preocupação deveria ser portar tal luz no coração e não se deixar envolver por pessoas e coisas de fora, sempre sujeitas a mudanças de interpretação ou de foco.
O melhor está dentro de cada um — A tal nave alienígena vai pousar ou não? E quem vai chegar nela, Jesus, Kalki, um anjo ou seres extraterrestres? Sinceramente, não sei! E isso não tem importância alguma, pois o melhor está dentro de cada ser humano mesmo. O ruim é não termos consciência de que o perigo está noutra direção, no fato de que a nave dos próprios pensamentos não vai descer no campo de pouso do coração. Assim, perde-se o discernimento na necessidade de aguardarmos seres celestes virem aqui fazer por nós aquilo que é nossa responsabilidade. Este é o grande perigo: valorizar a vinda de alguém de fora, prescindindo da própria capacidade de regeneração e progresso. Esquecer-se de que somos centelhas do “todo” que está em tudo. Privar-se de andar pelas próprias pernas e venerar o céu externo, esquecendo-se do céu interno, real e muito mais próximo do que se imagina.
Não sabemos o que vem por aí. Tudo é possível. Mas é uma bênção não depender de possibilidades relativas – como tudo na vida – para ser feliz. Com nave alienígena ou sem ela. Com Jesus, Krishna ou Buda. Com espíritos, ETs ou anjos etc. O que todos precisamos é de uma boa dose de discernimento e amor por nós mesmos. Precisamos ser felizes, aqui e agora. O momento presente é o que existe, e o amanhã dependerá do que realizarmos hoje. E mesmo que não fosse assim, ainda dependeria de cada um de nós a mudança interior, pois essa é sensível ao que pensamos e fazemos. Se grandes mestres chegarem aqui novamente, penso que é isso o que eles dirão aos homens. E se eles não chegarem, acho que a própria consciência, no tom do bom senso e da inteligência, é que deveria dizer isso a si mesma.
De qualquer forma, ao observar os olhares injetados dos supostos arautos e suas reações diante de quem não aceita seus vaticínios, prefiro ficar mesmo com o bom e velho discernimento em ação. Na nave da minha vida, quem voa alegre e pousa feliz sou eu. Que um dia finalmente aconteça o contato oficial e definitivo com outros seres do universo, não porque alguém assim profetizou, mas porque é mesmo provável que isso ocorra – principalmente se temos consciência da imensidão sideral e do anseio de conhecer outras plagas do cosmos, que não deve ser coisa apenas dos seres humanos.
Discernimento — Que esse encontro seja num dia bem ensolarado, longe de vaticínios apocalípticos e de pessoas medrosas, para saudarmos junto com eles a beleza da natureza. Para voarmos alegres e pousarmos felizes, juntos. Até lá, vamos tocando a bola e tentando ser prósperos, da melhor maneira possível, aqui e agora, pois o que somos depende do que pensamos e do que fazemos. E algo que ninguém jamais fará em nosso lugar – nem Jesus, nem os ETs – será evoluir por nós. Com nave ou sem ela, discernimento a todo vapor, por favor! E antes que se pense que isso se aplica a Jan Val Ellam, informo que este texto não é direcionado a qualquer pessoa específica. Ele apenas retrata meu ponto de vista sobre a sobreposição de vaticínios religiosos com a temática ufológica. Ninguém é detentor da verdade. Por isso, precisamos de mente aberta, já que na vida tudo é possível. Mas sem abrirmos mão do filtro do bom senso e da percepção nas ponderações. E também, sem irritações descabidas ou ataques pessoais aos outros por causa dessa ou de outra opinião. Para quem raciocina, a questão é sempre a discussão de idéias, nunca sobre pessoas.