A saga dos arquivos fascistas segue adiante. À luz dos últimos documentos obtidos por diversas fontes podemos estabelecer que após ter recebido de Benito Mussolini os arquivos do Gabinete RS-33, Adolf Hitler colocou em prática em 1938, através de seus projetistas, a construção dos Fliegende Scheiben [Discos voadores terrestres] com base na engenharia reversa alienígena. Como ponto de partida utilizou-se o projeto relativo a um objeto pronto, procurando reconstruir seu funcionamento. O objetivo era criar revolucionários aviões discóides, com os quais o Führer [Título adotado por Hitler] esperava despedaçar a espinha dorsal das forças aliadas. Evidentemente, não foi possível recriar totalmente os discos voadores, seja pelo enorme abismo tecnológico que nos separa dos extraterrestres ou pela falta de matérias-primas – principalmente combustível alienígena.
Após a guerra, seguido da queda de um UFO em Roswell, Novo México, Estados Unidos, os americanos tentaram repetir o mesmo experimento, mas não houve sucesso na replicação do sistema de propulsão original. A reviravolta definitiva nas pesquisas ocorreu em 19 de janeiro de 2001. Sabíamos que grupos de ufólogos céticos havia tempos procuravam desacreditar, seja atuando na Itália ou em outros países, a versão dos arquivos secretos fascistas. O motivo era facilmente compreensível: eles queriam demonstrar que existia uma Ufologia secreta naquele período, antes de seu nascimento oficial. Isso significava demolir as teorias céticas, segundo as quais os UFOs eram somente um mito sócio-psicológico gerado pela ansiedade pós-guerra, alimentado pela ficção científica e pelo o medo da Guerra Fria. Era então fundamental identificar as testemunhas ou os protagonistas daqueles distantes eventos.
Há algum tempo, recebemos uma carta de Livio Milani, ufólogo da região da Lombardia, Itália, apaixonado pelo tema desde a infância e que havia lido parte de nossos estudos anteriores sobre os arquivos secretos de Mussolini. Ele alegava ter conhecido um projetista, falecido pouco depois e que supostamente havia trabalhado para o Gabinete RS-33. Naquele mesmo ano, em janeiro, eu o havia encontrado em sua casa, em Maderno, próximo ao Lago de Garda, Itália. “Conheço pessoalmente uma senhora que mora em minha cidade, cujo pai, anos atrás quando ainda era vivo, falou-me sobre o projeto de um rotor de energia eletromagnética – responsável por transformar a energia cinética em energia mecânica de rotação – que seria utilizado em um disco ou prato voador, como dizia. Falei com esse projetista, o senhor D. G. O nome dele foi ocultado a pedido de sua filha e mantido nos arquivos do Centro Ufológico Nacional (CUN)”, afirma Milani. Já naquela época ele dizia ter criado um projeto de disco voador, mas que, honestamente, não acreditava na existência dos mesmos. Até então, ninguém sabia nada sobre os arquivos fascistas.
Mas algum tempo atrás, enquanto conversávamos sobre assuntos diversos com sua filha, voltamos a falar sobre UFOs. Relembrando o pai, ela disse-me que durante a guerra ele havia trabalhado em Roma em segredo, junto a um gabinete que se ocupava do estudo de novas aeronaves para o fascismo. No entanto, na época em que tive a oportunidade de falar com D. G., desconhecia esse fato. Aquele homem mantinha-se muito esquivo quando falávamos sobre esses assuntos. A própria filha nada sabia a respeito. Após a guerra ele foi transferido para Milão e nos anos 70, finalmente, foi para a região de Garda, onde haviam sido consumadas as disputas pela criação da República de Salò. Perguntei à filha de D. G. se havia algum material sobre o assunto e ela verificou entre os papéis de seu pai algo interessante. Entregou-me 10 páginas do projeto de um disco voador, os originais em papéis finos e algumas cópias em carbono. Milani me passou os originais, feitos em papéis de seda, para que os estudássemos. Além das 10 folhas medindo 1 m de comprimento por 50 cm cada, recebemos uma relação de mais 10 cópias com anotações no original, feitas à caneta pelo autor. A documentação que nos foi entregue é excepcional e parece concluir definitivamente o tema dos arquivos fascistas, que datam de 12 de julho de 1965. As folhas contendo 17 desenhos são antigas, mas sem data. Mostram inequivocamente o projeto de um disco voador que D. G. pretendia patentear em Milão, mas alguém ou algo evidentemente o impediu e os papéis permaneceram ocultos até o dia de sua morte. Ainda que na carta que acompanhava os projetos, assinada pelo projetista, declarasse não ter as noções precisas da Aeronáutica, tal trabalho demonstrava uma apurada perícia técnica e precisão típica dos engenheiros. O projeto era, por assim dizer, bem definido para ser considerado apenas um modelo imaginário. Ele deveria ter trabalhado efetivamente na construção de uma aeronave discóide e havia conservado, ao menos em sua mente, as especificações. Após a guerra, procurou reconstruir sobre os papéis o modelo, tentando atribuir a ele sua paternidade.
O parecer do especialista — Não conhecia o funcionamento dos motores das naves alienígenas e por isso inseriu no projeto alguns pequenos foguetes. Interrogava-se, no entanto, sobre qual seria seu combustível. Era bastante evidente que D. G. havia trabalhado em um projeto de engenharia alienígena. Não queria se misturar à perigosa questão dos discos voadores e, por esse motivo, sempre procurou guardar para si o segredo, mantendo mesmo sua filha sem as informações. Além disso, para não revelar seu passado, decidiu realizar algumas vistosas correções à relação de papéis que seriam apresentados ao escritório de patentes – o que explicaria, talvez, o porquê dos manuscritos jamais terem sido entregues –, correções essas muito visíveis na cópia assinada que está em nosso poder, na qual D. G., em certo momento, substituía a denominação de disco voador por um menos conhecido “disco-cometa&r
dquo; ou “discomet”! De todas as maneiras procurou trazer para si a paternidade da invenção e por esse motivo riscou as faixas onde estava identificado o nome de seu idealizador, não desejando evidentemente que se descobrissem os bastidores de sua militância fascista. Não encontramos mais ninguém disposto a nos falar de coração aberto sobre aquele período. Porém, D. G. havia desenhado somente a parte exterior do disco voador, a coroa circular e as asas. Não havia desenhos da parte interna do artefato. Se existiram, podem ter sido perdidos, destruídos ou mesmo roubados.
Se não existiram, era plausível que D. G. houvesse estudado somente a parte externa do disco de Vergiate [Objeto voador não identificado recuperado pelos fascistas, na manhã de 13 de junho de 1933. Muitos acreditam que estivesse escondido nas instalações da base de Siai Marchetti, em Vergiate ou Sesto Calende, duas localidades que fazem divisa com a província italiana de Varese]. Isso pode ser confirmado por parte dos arquivos, onde é mencionado que os técnicos eram obrigados a trabalhar somente por um período relativamente breve junto aos discos voadores, claramente com o intuito de fragmentar as informações e impedir que os envolvidos tivessem conhecimento detalhado do projeto. Voltamos ao doutor Luis Lopez, físico e engenheiro de informática, além de especialista em Ufologia, para obtermos um parecer técnico. Sobre o discomet, Lopez declarou: “O disco, por si só, poderia voar, uma vez que se baseia em um princípio análogo ao do helicóptero, mas ao contrário, a hélice, nesse caso, está colocada fora do corpo que deseja elevar”.
Entretanto, segundo ele existem ao menos outras três dificuldades a serem resolvidas. “Em primeiro lugar, o controle da velocidade da coroa como forma de reduzir ao máximo as forças centrífugas que poderiam interferir no funcionamento dos mecanismos externos, como as asas e os propulsores”, afirmou. Segundo ele, outra dificuldade é o controle dos mecanismos da cabine de comando. As estruturas para movimentação das asas – regulagens angulares, válvulas que controlam a alimentação dos propulsores – foram pensadas como partes fixas da coroa, mas acionadas por energia elétrica desde o interior do disco. “Outro problema é a velocidade da coroa: se fosse muito elevada, causaria problemas ao combustível. A mesma força poderia criar um mau funcionamento dos mecanismos em movimento, montados sobre a coroa. O protótipo até poderia alçar vôo, compensando os ângulos das asas com a superfície das mesmas e a potência dos motores, reduzindo a velocidade da coroa. O projetista, porém, não trata do peso e da velocidade de rotação da coroa e nem da potência dos motores. No estudo, esses detalhes foram deixados em branco”, destaca o pesquisador.
O projeto não trata também do sistema de comando da coroa circular desde o interior do núcleo central, além de não mencionar a forma de abertura e fechamento do carburante e dos três motores, a reação, a forma como o combustível seria queimado dentro dos motores, nem como os mesmos seriam ligados ou desligados. Isso vale também para a abertura, fechamento e o grau de inclinação das três asas, das quais se diz somente que podem ser controladas mediante um sistema de contatos elétricos.
Reiteramos que com o auxílio de pequenos condutores poderiam ser transmitidos ao disco os impulsos elétricos de comando, com um princípio análogo ao usado pelos modernos trens. D. G. não nos diz nada sobre a instrumentação do aparelho. Afirma, no entanto, que num futuro próximo o disco poderia ser utilizado para a Astronáutica. Todos os sistemas de navegação espacial são efetivamente baseados no princípio de deslocamento de massa. Nesse caso, a aeronave em questão seria inadequada para utilização no espaço, dado que sua construção foi projetada para trabalhar utilizando o ar da atmosfera terrestre. Por outro lado, os pequenos foguetes que foram montados no aparelho para seu vôo horizontal poderiam impelir o artefato pelo espaço, uma vez que os propulsores foram baseados no mesmo princípio de deslocamento de massa. Sobre a estabilidade e o rendimento do protótipo, nada se pode dizer mas, em teoria, levantaria vôo. “Temos, porém, que fazer um estudo, baseado e realizado somente utilizando princípios já conhecidos”, destaca Lopez. A relação assinada por D. G. mostrava diversos aspectos desconcertantes. Claramente, o disco ilustrado nos papéis, ainda que tivesse sido alguma vez construído (ou reconstruído), não havia jamais alcançado as fases finais de vôo. Por isso, algumas especificações técnicas não eram mencionadas.
Retroengenharia alienígena — Está claro que em 1985 D. G. havia trabalhado sem ter meios econômicos e técnicos para realizar um protótipo. Seguramente, havia se inspirado no disco de Vergiate e realizado uma versão doméstica – e talvez um pouco ingênua – com foguetes, baseado em algumas particularidades, como uma coroa circular rotativa, certamente em dissonância com um projeto de retro-engenharia alienígena. Por um lado, sua relação parecia bastante volumosa e pouco técnica, valendo-se de uma linguagem amadora, a ponto de permitir acreditar que o inventor improvisado tivesse sido influenciado e condicionado pelo imaginário acerca dos discos voadores. Por outro lado, certas referências técnicas, mas sobretudo a precisão e os detalhes dos desenhos incluídos desmentiam a primeira impressão, como por exemplo a afirmação de que nosso homem não tivesse conhecimentos aeronáuticos. Sobre esse último ponto concordou conosco um especialista em astronáutica ao qual mostramos os desenhos.
Essa aparente contradição podia ser resolvida de uma única maneira: D. G. não confiando em ninguém, havia conscientemente redigido uma relação genérica, pelo temor que o pequeno projeto lhe fosse ilegalmente subtraído pelo escritório de patentes de Milão – temos conhecimento de casos análogos. O receio, porém, prevaleceu, dado o tipo do projeto e da comoção que o mesmo poderia causar. Isso é também demonstrado pelo fato de que seu suposto autor, D. G., apesar de todo o trabalho envolvido, decidisse esconder o projeto, mantendo ocultos os relatórios. Ao se transferir de cidade jamais tratou desse assunto com algu
ém, nem mesmo com sua própria filha.
Somente anos depois, já velho, cansado e próximo de seu fim, fez algumas confidências a um amigo interessado no assunto dos discos voadores. Mas ainda resta a dúvida: o que haveria ocorrido com D. G. durante sua permanência na região milanesa para forçá-lo a esconder para sempre seus projetos de um disco voador italiano? Talvez jamais saibamos a resposta, ainda que a Ufologia seja uma matéria em constante progresso e a pesquisa prossiga a cada dia. É esperado que no futuro se consiga resolver também esse mistério. Todas as notícias sobre a vida “secreta” de D. G. parecem ter sido destruídas, perdidas entre os bombardeios romanos e os incêndios dos arquivos. Resta-nos apenas um testemunho indireto que nos confirma sua participação em um certo comitê secreto.
Quando pudermos demonstrar definitivamente a colaboração de D. G. ao Gabinete RS-33, se isso realmente um dia acontecer, o círculo estará fechado. Com essa descoberta, nossa investigação poderá dar-se como concluída. Tínhamos os documentos fascistas que nos falavam da recuperação de um disco. Identificamos o hangar que o havia obrigado. Não podendo mais esperar para colocar as mãos no objeto, provavelmente reencontramos os papéis que o descreviam detalhadamente ou que teriam nele se inspirado. Veremos agora o que nos reserva o futuro.