No começo de 1996, o país foi literalmente chacoalhado por uma informação estarrecedora. Na pacata cidade de Varginha, no sul de Minas Gerais, homens do Corpo de Bombeiros fecharam cerco e capturaram uma criatura humanóide de baixa estatura e traços esquisitos, dada imediatamente como “não humana”. O fato se deu às 10h30 do sábado, dia 20 de janeiro, numa mata do Jardim Andere, a alguns quilômetros do centro da cidade e na presença de mais de 20 testemunhas oculares. Estupefatas, elas viram os bombeiros descerem o declive e capturarem o pequeno ser usando uma rede de couro e corda, do mesmo tipo empregado para apanhar cachorros raivosos e animais silvestres. Em seguida, o “bicho” foi transportado em um caminhão do Exército para a Escola de Sargento das Armas (ESA), da vizinha cidade de Três Corações, por soldados que também compareceram ao local com o mesmo objetivo. Alguns dos que assistiram a cena chegaram a lacrimejar, inclusive os próprios captores e militares, devido a um forte odor que emanava da criatura.
Algumas horas depois, com o rumor já se espalhando pelo município, outro fato igualmente estranho se daria. Duas irmãs adolescentes e uma amiga, empregada de uma residência do mesmo bairro, tiveram uma grande surpresa quando voltavam juntas para casa, no meio da tarde daquele sábado. Ao atravessarem um longo terreno baldio, depararam-se com uma segunda criatura, idêntica à primeira e visivelmente mais abatida, agachada e encostada num muro. Era careca, tinha pele marrom escura e oleosa, três protuberâncias na cabeça e veias roxas e azuis saltadas no pescoço e braços – exatamente igual a que foi capturada horas antes, inclusive exalando o mesmo odor putrefato.
Febre sem precedentes
As meninas correram apavoradas, mas a mais curiosa ficou para trás alguns instantes e pôde ver melhor o pequeno ser. “Era igual ao capeta e parecia estar sofrendo”, declarou Valquíria, então com 13 anos. Sua história logo correu a cidade e, somada à anterior, evidenciou que havia algo muito sério ocorrendo em Varginha. Os dias seguintes mostrariam o quanto. Apenas alguns quarteirões de distância destes dois incríveis cenários residia o advogado Ubirajara Franco Rodrigues, que, para sorte dos ufólogos brasileiros, era um dos mais respeitados estudiosos do tema em nosso país.
Na ocasião, de tão próximo que era das atividades na área ufológica – em especial as organizadas da Revista UFO –, Rodrigues era nada menos do que co-editor da publicação há anos, e já tinha, à época, escrito dois livros, um dos quais acabou publicado pela coleção Biblioteca UFO em 2000, Na Pista dos UFOs [Código LIV-005 da Biblioteca UFO]. O ufólogo foi célere, preciso e eficiente, começando imediatamente suas diligências sobre o fantástico episódio, entrevistando logo nos dias seguintes as testemunhas, que passaram a aparecer aos montes, dando conta de que algo bem maior do que inicialmente se supunha ocorrera naquele 20 de janeiro. Algo que as autoridades, mesmo fortemente pressionadas pela imprensa, tentaram negar a todo custo – mas, felizmente, apesar de seu esforço, inúmeros vazamentos de informações permitiram que a opinião pública soubesse dos fatos.
Se eu tivesse descoberto ou encontrado algo definitivo sobre Ufologia, tais estudos deixariam de ter graça. Não admito nem pretendo ter um ponto final de minhas dúvidas, pois isto é incompatível com qualquer postura de busca, de caráter científico ou racional
Foi o próprio Rodrigues quem, visivelmente emocionado com o assombroso volume de tão espetaculares informações que surgiam sem parar, alertou seus colegas de outras cidades. Primeiro telefonou para nossa pioneira Irene Granchi, no Rio de Janeiro, e depois para o co-editor Claudeir Covo, em São Paulo, e para este editor. O também co-editor da Revista UFO Marco Petit foi informado dos fatos em seguida, ao ligar para Rodrigues para saber o que se passava. “Ele estava visivelmente eufórico e afirmou estar convencido de que algo muito sério aconteceu e vinha sendo acobertado”, afirma Petit. A emoção do ufólogo se justificava. Àquela altura, logo após os fatos, já eram dezenas as testemunhas e inúmeras as pedras descobertas deste que se tornaria o maior quebra-cabeça da Ufologia Brasileira. “Gevaerd, estamos vivendo uma febre sem precedentes aqui em Varginha. A ‘coisa’ está pegando”, disse em ligação ao celular deste editor, na segunda-feira seguinte ao acontecimento, 22 de janeiro. Entre os membros da imprensa imediatamente acionados estava o repórter da Rede Globo, Luiz Petry, que teve participação singular e definitiva na apuração dos fatos.
Morte inexplicável abala Varginha
Para se ter uma idéia do gigantismo do Caso Varginha, quando as pesquisas já ferviam, juntou-se a Rodrigues o também ufólogo mineiro Vitório Pacaccini, que conseguiu contato com membros do Exército, da Polícia Militar e até com integrantes dos Bombeiros, alguns dos quais, pedindo total sigilo, narraram os espantosos fatos de que tomaram parte pessoalmente ou souberam por seus colegas de corporação. Tudo foi gravado em vídeo. Petit participou de uma destas entrevistas e depois foi procurado, assim como outros ufólogos, por vários militares, que aos poucos descreveram uma verdadeira “operação de guerra” para capturar e transportar os seres. Nas semanas seguintes, mais de duas dúzias de estudiosos já formavam um coeso grupo à frente das investigações. E foi assim que se descobriu que uma segunda criatura – talvez a mesma observada pelas meninas na tarde daquele sábado – acabou sendo capturada por uma patrulha do serviço reservado da PM mineira. Desta forma, veio à tona um dos dados mais trágicos de todo o episódio.
Um dos membros da referida patrulha, num veículo Fiat Panorama à paisana, cumprindo ordens superiores de procurar por outras criaturas eventualmente na área, desceu da viatura ao avistar uma delas e a capturou com as próprias mãos, desprotegidas. Era o soldado Marco Eli Chereze, então saudável aos seus 23 anos, que veio a falecer cerca de três semanas depois, vítima de uma infecção generalizada absolutamente inexplicável, causada por uma bactéria que se combate com antibióticos comuns – que já não contiveram sua doença, apesar da devida atenção médica recebida [Veja edição UFO Especial 034]. Deixou esposa grávida e as autoridades que insistiam em esconder a verdade sobre o Caso Varginha em situação ainda mais complicada. Uma delas, o general Sérgio Pedro Coelho Lima, então comandante da ESA, de onde saiu a guarnição que participou da primeira captura, foi tão inapto no trato com a imprensa, respondendo com truculência típica dos tempos da Ditadura Militar às perguntas dos repórteres, que acabou afastado de seu comando.
Outros militares graduados e em posições de destaque das instituições envolvidas foram imediatamente transferidos para outras funções ou cidades. Tudo, enfim, para se tentar manter sigilo absoluto em torno do caso, que, na avaliação de muitos integrantes da Comunidade Ufológica Brasileira, tem importância superior até mesmo ao Caso Roswell. A comparação é procedente. Enquanto Varginha ocorreu em 1996 e foi prontamente investigado, contando hoje com mais de 100 testemunhas de primeira-mão das capturas e transporte das criaturas, Roswell, ocorreu em 1947 e só se tornou conhecido e pesquisado mais de 25 anos depois, quando a maioria das poucos mais de duas dúzias de testemunhas conhecidas ou presumidas já estava morta. Este editor está entre os que defende – como fez em eventos ufológicos em mais de 20 países, onde palestrou – que Varginha é de fato mais significativo que Roswell, e inúmeras vezes mais bem documentado.
Caso Roswell Brasileiro
Bem, esta é apenas uma síntese do assombroso volume de informações colhidas por dezenas de ufólogos brasileiros, todos coordenados pelo descobridor do caso e seu maior defensor, o entrevistado desta edição, Ubirajara Franco Rodrigues. Praticamente tudo o que se sabe sobre Varginha se deve a ele, direta ou indiretamente, seja por ter feito o maior número de descobertas deste quebra-cabeça, como respeitado morador da cidade e experiente ufólogo de projeção nacional, seja por sua defesa intransigente da seriedade dos fatos apurados sobre este que já foi chamado de “Caso Roswell Brasileiro”. Em 2001, Rodrigues publicou pela Biblioteca UFO sua fascinante obra O Caso Varginha [Código LIV-008], considerado um marco indiscutível da Ufologia Nacional. O livro foi meticulosamente redigido por um estudioso sagaz e dedicado, minucioso em seus detalhes, e repousa até hoje na cabeceira de muitos entusiastas do Fenômeno UFO.
Mas quem leu as linhas acima, no entanto, vai se surpreender com a entrevista que se segue, que terá continuidade na UFO 154, de junho. Atendendo a um insistente pedido deste editor, depois de anos afastado de congressos do gênero no país e sem publicar um só artigo na Revista UFO deste junho de 2004 – aliás, tendo até mesmo pedido seu afastamento, primeiro como co-editor e depois como consultor da publicação –, Rodrigues quebra o silêncio. Afirma não ter paralisado seus estudos ufológicos, mas se diz decepcionado com os ufólogos, sobre cujo comportamento – “mais religioso do que científico”, segundo ele – prepara um livro que se espera arrasador. Depois de passar pelo menos duas décadas de sua vida se firmando como um dos mais respeitados nomes da Ufologia Brasileira, hoje Rodrigues diz que já nem sequer acredita em ETs. “Apenas aceito a possibilidade de existir vida em outros planetas, tal como admite a astrobiologia”.
A testemunha, em sua ânsia de encontrar explicações, pela notoriedade e repercussão que seu caso atinge, passa a extrapolar o que sentiu ou vivenciou. Mistura o que ouviu de ufólogos com o que leu a respeito e o que veio da sua própria reflexão e parte para suposições, alterando, assim, o caso e até ampliando-o
Estas são palavras incríveis de se ouvir de um homem com a trajetória de Rodrigues, e que, ao lado dos já mencionados Irene, Petit e Covo, apenas para citar alguns, ajudou a construir a Ufologia que temos hoje – a mesma que agora ele critica de maneira contundente. “Ufologia não é ciência e tampouco disciplina acadêmica. Ela está tão longe disto que só de pensar na idéia me provoca risos”, declarou nesta entrevista. Para Rodrigues, que diz ter revisto totalmente seus conceitos, não há sequer um único caso ufológico completamente autêntico. “Não creio que qualquer episódio da casuística ufológica tenha causa ou origem extraterrestre”. Sim, o leitor ouviu certo! E mais: Rodrigues hoje acha completamente descabidas afirmações como as do movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, que sensibilizam e contam com a simpatia até mesmo de graduados integrantes de nossas Forças Armadas, tais como “estamos sendo visitados por inteligências alienígenas” ou “já está comprovada a existência de naves extraterrestres”, defendias pelo movimento. “São absurdos sem par”, condena o entrevistado, para quem a campanha é no “mínimo infantil”.
“Considero uma perda de tempo”
O advogado e também professor universitário Ubirajara Franco Rodrigues, ufólogo que desencadeou a maior movimentação já vista na Ufologia Brasileira, praticamente nega ou menospreza os fatos que ele próprio descobriu, divulgou e defendeu, nesta entrevista exclusiva à Revista UFO. “Trata-se de uma mudança de visão”, justifica. Hoje considera que, se um episódio como o de Varginha ocorresse novamente, com a captura de novos seres, ele sequer divulgaria os fatos, “por considerar uma perda de tempo”. Aliás, questionado sobre a natureza das criaturas que a Ufologia Brasileira e Mundial, ao longo dos últimos 13 anos, aludiu à condição de extraterrestres, Rodrigues disse hoje não ter a menor idéia do que seriam – e insinua, ao deixar sem resposta uma pergunta formulada, que não está certo nem de que houve mesmo qualquer captura! Assim, dezenas de testemunhas alucinaram, Marco Eli Chereze morreu por nada, as meninas realmente correram do capeta e os militares que arriscaram suas identidades revelando o que sabiam – em depoimentos gravados – perderam tempo.
É preciso que se faça uma reflexão do que a entrevista que a UFO apresenta nesta e em sua próxima edição representa para a Ufologia Brasileira. Rodrigues não é um ufólogo qualquer, mas dono de um extenso currículo de boas investigações e intensa participação na Comunidade Ufológica Brasileira, homem que comprovadamente apurou todos os fatos relativos às complexas operações de captura e transporte das criaturas de Varginha – processos que hoje ele nega ou subestima. Mais do que isso, também diz “rever sua posição” acerca das dezenas de observações, algumas aterrissagens e várias abduções que investigou antes, jogando-as praticamente por terra. Foi justamente este currículo, que contém seus feitos pela Ufologia Brasileira, o que foi apresentado em outra entrevista do advogado mineiro, na obra O Pensamento da Ufologia Brasileira, Parte I [Código LIV-016 da coleção Biblioteca UFO], de 2006. Hoje, a julgar pelo que mudou em sua visão em apenas três anos, nada mais faz sentido para ele.
Captura e transporte de ETs
Assumindo uma posição que o alinha a outros céticos e combatedores da fenomenologia ufológica, Rodrigues acha que quem deve pesquisar “supostos” casos ufológicos é a ciência, e não os ufólogos, que, contra tudo e contra todos, há mais de seis décadas – exatamente como ele até alguns anos atrás –, fizeram justamente aquilo que a ciência sempre se recusou a fazer: olhar detidamente para as evidências. O título de seu futuro livro é A Desconstrução de um Mito, e o subtítulo, Discos Voadores Podem Não Existir. Isso mesmo que você leu. A Revista UFO, que tantas vezes veiculou os valorosos trabalhos investigativos deste que foi um de seus mais ativos colaboradores, está aberta para avaliar o conteúdo da obra que logo sairá, assim como, mostrando maturidade no lido com o Fenômeno UFO, publica esta bombástica e surpreendente entrevista, praticamente contrária a tudo o que publicou antes de autoria do entrevistado. Para chegar a este ponto, o editor agradece a colaboração e a paciência dos integrantes da Equipe UFO Fernando A. Ramalho, Gener Silva, Luciano Stancka e Silva, Marco A. Petit, Rafael Cury, Ricardo Varela e Wallacy Albino.
Ubirajara, em boa parte influenciado por seu pai, que foi um espiritualista, você teve a infância e a adolescência cercadas por atividades ufológicas. Eram estudos, investigações e muita leitura. O que mais o atraiu para esta área e o que você buscava descobrir ou encontrar quando iniciou sua carreira? Foram os fenômenos paranormais. Tenho muito interesse pela parapsicologia e convivi com acontecimentos desse tipo em casa. Passei a buscar a ocorrência do fenômeno, chegando a freqüentar assiduamente seitas, cultos religiosos e práticas místicas. O fascínio instiga a busca de conhecimento e foi inevitável que me sentisse, em pouco tempo, atraído pela Ufologia, por extensão. O que desejei encontrar foram quaisquer resultados, considerando as limitações do próprio assunto. Estudos, investigações e leitura sempre serão meus meios, resguardadas as minhas condições. Hoje tenho vários “senões” quanto à própria ocorrência da paranormalidade, mas isto é outro assunto.
Depois de mais de três décadas e tanta atividade na Ufologia Brasileira e Mundial, você finalmente acabou descobrindo ou encontrando o que procurava? Se eu tivesse descoberto ou encontrado algo definitivo, tais estudos deixariam de ter graça. Não admito nem pretendo ter um ponto final de minhas dúvidas, pois isto é incompatível com qualquer postura de busca, de caráter científico ou racional. Minhas buscas estão sujeitas à brevidade da vida. No entanto, tento não extrapolar meu pensamento e tampouco me apavorar por não encontrar respostas se chegar ao fim da vida. Pensar ao contrário é partir para apelações de ordem intelectual e filosófica, como já percebi em amigos e colegas. Quando não conseguem “resolver o mistério”, partem para explicações subjetivas.
Em sua trajetória de investigador dos discos voadores você teve três livros publicados na área, entre eles Na Pista dos UFOs e O Caso Varginha [Respectivamente códigos LIV-005 e LIV-008 da coleção Biblioteca UFO]. Excluindo-se o Caso Varginha, sobre o qual falaremos mais para frente, quais foram os momentos mais marcantes que você viveu? Os encontros que tive com alegados contatados, abduzidos, paranormais e protagonistas de casos ufológicos. A experiência com pessoas é proveitosa e rica, e por isto tais temas são complexos, em virtude das suas idéias, crenças e condições. Foram momentos marcantes, por exemplo, os estudos do Caso Simão Bichara, repletos de fatores de ordem psicológica e psicanalítica, percebidos desde a época das aplicações de hipnose regressiva. Outro foi a convivência, durante meses, com o paranormal Thomas Green Morton, com quem tive uma experiência ímpar, rara e valiosa – a de observar o comportamento das testemunhas, dos estudiosos, dos curiosos e de como se constitui um verdadeiro mito.
Igualmente, durante esta trajetória, após ter encontrado centenas de ufólogos do Brasil e exterior, quais deles causaram maior impacto sobre sua forma de pensar a respeito dos discos voadores? Quanto à literatura ufológica, ainda que popular, sempre me agradaram os estudos do astrofísico norte-americano Joseph Allen Hynek, do autor francês Henry Durant e do professor universitário e ufólogo português Joaquim Fernandes. Sem especificar que tipo de impacto, eu citaria também o célebre doutor Roger Leir [Consultor da Revista UFO e autor da obra Implantes Alienígenas, código LIV-011 da coleção Biblioteca UFO. Veja Shopping UFO desta edição]. No Brasil, e deste falo à vontade, os estudos técnicos exemplares de Claudeir Covo [Co-editor da Revista UFO] inspiram a minha postura exigente de evidências concretas.
Em seu livro Na Pista dos UFOs você trata de vários casos ufológicos significativos ocorridos em Minas Gerais. Além do Caso Varginha, qual deles você considera o mais importante e que mais contribuiu para o seu entendimento da presença alienígena na Terra? Sua pergunta direciona meu pensamento, como se fosse condição essencial. A de que eu busco entender a presença alienígena na Terra – mas eu não busco. Tampouco considero que haja sequer indício de presença alienígena, ou extraterrestre, na Terra. Ufologia não é isto para mim, mas um tema que abarca objetos voadores não identificados e suas variantes, que são inúmeras. Fatores psíquicos, psicológicos, as características sociológicas, os efeitos físicos e fisiológicos, as causas e efeitos de fenômenos naturais envolvidos. Não cito um caso em especial dentre as centenas que estudei em minha região, porque todos fazem parte da minha bagagem. Cada um possui nuances valiosas e alguns tiveram maior repercussão nos meios ufológicos, como o Caso Baependi.
Os abduzidos cujas experiências você descreve nesta obra permanecem em contato com você? Qual deles considera hoje, passados tantos anos de ter investigado seus casos, o que teve a experiência mais significativa? Procuro os protagonistas dos casos quando é necessário algum esclarecimento, coleta de dado ou informação que tenha passado despercebida. Atualmente, evito encontros ou convivência habituais com testemunhas, pois, em Ufologia, a convivência que não seja estritamente necessária é prejudicial. Aprendi aos poucos com este erro grave. Ufólogos influenciam o modo de pensar, o comportamento e a própria narrativa dos eventos, à medida que os contatos entre o estudioso e o protagonista vão-se desenrolando. Eliminar tal influência é quase impossível. Dou um exemplo quanto à paranormalidade: sempre acreditei que o estudioso deva dar liberdade ao sujeito no que diz respeito às condições, ao ambiente que ele precisa, às crenças que ele nutre. Sem isto, pode-se “embotar” ou bloquear uma ocorrência de ordem psíquica que possa interessar. Veja o risco do contrário, que chamo de “efeito colateral”, ou seja, o estudioso atuar como fator de construção do entendimento e do comportamento da pessoa estudada. Tal probabilidade é de praticamente 100%, através de uma espécie de “raport” [Interação entre estudioso e objeto do estudo] ou de uma transferência, que é um termo psicanalítico, mas serve para ilustrar.
Qual foi a sua maior decepção, se houve, entre as testemunhas e abduzidos cujas experiências você descreve em Na Pista dos UFOs? Não tive decepção, apenas percebi o que é comum em casos de repercussão, mas previsível. A testemunha, em sua ânsia de encontrar explicações, pela notoriedade e repercussão que seu caso atinge, passa a extrapolar o que sentiu ou vivenciou. Mistura o que ouviu de ufólogos com o que leu a respeito e o que veio da sua própria reflexão e parte para suposições, alterando, assim, o caso e até ampliando-o. Por exemplo, junta à sua experiência justificativas de ordem mística e similares. O citado Henry Durant, já falecido, alertou para esses comportamentos de forma magistral.
Ainda que a ciência admita a possibilidade teórica da vida extraterrestre, não consegiu comprovar nem mesmo vida microscópica em outros planetas. O que dizer, então, da certeza de que há vida extraterrestre inteligente? Que se desenvolveu a um nível tecnológico com o qual nem sonhamos, e pior, que a permite vir nos visitar?
No caso que você cita há pouco, ocorrido em 16 de maio de 1979, na cidade mineira de Baependi, o agricultor Arlindo Gabriel disse ter tido contatos com seres não humanos e muito avançados, que, segundo ele, viriam de fora da Terra. A Ufologia Brasileira viu você defender este caso em inúmeras palestras que realizou, inclusive atestando sua veracidade e a idoneidade de Gabriel. Você hoje incluiria este episódio no cenário que acaba de descrever? Sim, enquadro. Recentemente, na presença de outro ufólogo, soube de uma informação durante um momento informal, de descontração. Não seria de procedimento correto adiantar o que é, apenas algo que jamais antes me chegou ao conhecimento. Mas considero-a muito importante e ainda este ano pretendo retomar o caso, apenas com relação a ela, que poderá mudar o seu contexto. Nada posso afirmar quanto a isto, porém é possível que as impressões que tive até hoje sejam alteradas.
Você foi responsável por investigar e advertir a Comunidade Ufológica Brasileira quanto a algumas figuras polêmicas do meio, entre elas Thomas Green Morton, Trigueirinho e Paul Louis Laussac. Gostaria de saber um pouco sobre os critérios de pesquisa adotados e quais suas conclusões sobre estes três personagens? Creio haver equívoco nesta pergunta. Não investiguei a terceira pessoa citada, só devo ter observado que suas afirmações, trabalhos e atuação são de uma linha diferente da minha. Quanto a Trigueirinho, que tem as principais instalações e a maior concentração de sua seita no município de Carmo da Cachoeira, a cerca de 40 km de Varginha, onde resido, mantive contato com diversos de seus adeptos e pessoas que freqüentavam suas práticas. Ele possui uma comunidade nos meios rural e urbano daquela cidade. As narrativas de supostos fenômenos ufológicos envolvendo os fundamentos da seita, com a coleta de dados paralelos, não ofereceram indícios de ocorrências objetivas, reais. Já quanto ao paranormal Thomas Green Morton, este sim, repito, me proporcionou o maior tesouro que um estudioso de tais assuntos pode conseguir: o de conviver durante meses com o ambiente e eventos que o cercavam, à época de sua ascensão como paranormal, no início dos anos 80. Tínhamos um grupo de estudos de parapsicologia que funcionava na Associação Médica de Varginha, que contava com psicólogos, médicos e toda uma gama de profissionais interessados. Nossa primeira providência foi tentar uma observação rígida dos aludidos fenômenos do paranormal.
E qual foi o resultado desta observação? Bem, foi interessante e nem foi preciso passar deste passo. Em diversas ocasiões pudemos flagrar a realização de truques de mágica, por vezes até mal feitos. Noutras, demonstrando boa destreza de escamoteação e prestidigitação. Em algumas oportunidades, flagramos a participação de ajudantes, convenientemente escondidos e disfarçados, na consecução dos atos. Enfim, só registramos truques, em meio a um quase insuportável ambiente de histeria, de pessoas que o cercavam sem critérios, compondo um grupo heterogêneo em termos de condição financeira, social e cultural. Aprendi intensamente que o depoimento humano, em tais assuntos, é de valor muito questionável. Uma das falácias que certos supostos pesquisadores costumam usar é a de que, se fulano viu e contou, e sendo tal fulano um médico, quem sabe tendo um alto cargo no Judiciário ou sendo uma celebridade do meio artístico, necessariamente aquilo tem que ser verdade.
O que você e seu grupo registraram nas manifestações de Thomas Green Morton, então, não tinha qualquer base de realidade objetiva? Presenciamos apenas truques e pessoas que afirmavam ter testemunhado eventos paranormais, sem terem visto absolutamente nada de objetivo. Apenas viveram manifestações de sua credulidade incondicional, ou foram induzidas ao equívoco por efeito de truques. Ressalto que de nada vale uma apenas “aparente experiência” na área, quando, por outro lado, outras não tinham qualquer experiência, independentemente de suas posições sociais e formação. Insistimos para que Thomas comparecesse à sede de nosso grupo, mas em vão, ele nunca aceitou. Esta recusa é comum, é a velha desculpa que impede qualquer debate, a de que “não tenho que ser estudado ou provar nada para ninguém. Só quero cumprir minha missão”. Apenas até aí chegou nosso critério. Ainda mais porque nós o conhecíamos há anos, como alguém que costumava fazer truques de mágica em bares, boates e outros locais públicos, e que, de repente, passou a ser anunciado como “grande paranormal”.
Você teve algum problema, de qualquer espécie, por expor as fraudes cometidas por estes senhores ou outros? Recebi uns dois ou três telefonemas anônimos, de incomodados com meu entendimento sobre Thomas. Nada de grave. Mas fiquei impressionado – e incomodado também, por que não? – quando, tentando alertar a Comunidade Ufológica Brasileira de que não estávamos lidando com um dito “contatado por seres alienígenas”, não fui ouvido. Nunca se tentou gerar uma investigação isenta e mais atenta. Ao contrário, a credulidade e a valorização das opiniões de terceiros, visivelmente interessados em atestar aquela “paranormalidade”, falou mais alto. Mas não tive problemas com isso, pois me limitei a dizer, quando indagado, que presenciei apenas truques. No entanto, não tenho nada a comentar sobre a honra, o nome e a imagem das pessoas envolvidas naquilo que investigo em parapsicologia e em Ufologia. Somente sobre seu papel no contexto de um alegado fenômeno ou tema.
Hoje você tem demonstrado um pensamento bastante diferente sobre a presença alienígena na Terra, em relação aquele que você apresentava há 20 ou 10 anos atrás. O que mudou em sua forma de encarar a fenomenologia ufológica? Ainda bem que o meio ufológico percebeu isto, e fico aliviado. Se iniciei com alguns pensamentos e depois os alterei, admitindo outras hipóteses, nada mais fiz do que tentar seguir o próprio pensamento que caracteriza a ciência. Por favor, não pense que eu queira me anunciar um cientista ou que Ufologia seja ciência, nada disso. Trata-se apenas de um rumo de atuação e mentalidade, construído por meio da convivência com testemunhas e com ufólogos, e praticando uma singela investigação de campo. Minha forma de encarar a fenomenologia ufológica vem daquilo que a filosofia da ciência nos ensina, ou seja, que nosso trabalho é hipotético, quando há hipóteses sérias, plausíveis e consideráveis. Costumo dizer a meus alunos que a ciência é a única área do conhecimento que tem a dignidade de mudar, de saber que é falível e de não admitir verdades absolutas e imutáveis. Mesmo que Ufologia não seja ciência – e pelo que se vê está muito, mas muito longe disto –, é a ciência que nos aconselha um pensamento e uma postura o mais racional possível. Já quanto à idéia da origem extraterrestre de UFOs, lamento que esta tenha sido sempre a hipótese mais frágil, a menos embasada. Sim, não vejo qualquer embasamento para ela.
Você realmente desenvolveu uma forma radical de encarar o tema… Ora, se a ciência, ainda que admita a possibilidade teórica da vida extraterrestre, não conseguiu comprovar nem mesmo vida microscópica de seres simples e embrionários em outros planetas, o que dizer da certeza de que a vida extraterrestre inteligente existe? Que se desenvolveu a um nível tecnológico com o qual nem sonhamos, e pior, que a permite vir nos visitar? Os ufólogos precisam urgentemente meditar sobre a imensa distância que há entre esta crença e a mera possibilidade teórica da vida extraterrestre. A astrobiologia que o diga. E aqui aproveito para dizer que tem se usado muito o termo exobiologia nos textos ufológicos, enquanto David Grinspoon [Cientista planetário da Universidade de Colorado, considerado hoje um sucessor de Carl Sagan] alerta para o fato de que o meio acadêmico considera mais apropriado e emprega o termo astrobiologia.
Quais você considera os fatores responsáveis pela sua mudança de paradigmas com relação à Ufologia? O principal deles são os próprios ufólogos. E dentre eles, eu mesmo. Qual melhor exemplo de modelo que podemos escolher senão a nossa própria atuação? Percebo o quanto fui crédulo ao aceitar certas questões em Ufologia, aprioristicamente e sem critérios. E o quanto fui ingênuo ao desprezar fatores importantíssimos, como os de ordem psicológica, psicanalítica e sociológica, que servem para explicar ou justificar certos eventos e pensamentos na área. Em suma, a modesta carreira que desenvolvo no meio acadêmico, a convivência com quem entende realmente de ciência e de filosofia, o retorno aos resultados dos meus estudos ufológicos, além de novas reflexões, foram fatores responsáveis pela minha mudança – que, espero, seja uma constante.
Algumas pessoas alegam que hoje você está cético quanto à fenomenologia ufológica. Isso é verdade ou apenas seus critérios ficaram mais refinados com o acúmulo de experiência em todos estes anos? Os céticos certamente não gostariam de me ver rotulado como um deles. Brincadeiras à parte, se é que entendo o que seja ceticismo, aceito a possibilidade de o homem obter o conhecimento da realidade objetiva, plausível e hipoteticamente bem embasada. Se sou cético, diria que da linha de um ceticismo relativo. Podemos conhecer a verdade em parte, mas acho que, como ufólogos, quando temos por parâmetro que um disco voador é necessariamente uma nave extraterrestre, estamos dando um tiro na escuridão da verdade essencial das coisas. No escuro do cosmos. Um tiro que, se alguns físicos estiverem certos sobre a curvatura do espaço, um dia vai nos atingir a nuca. Ainda aceito que o Fenômeno UFO seja real, mas o problema é que estamos, durante os mais de 60 anos de existência da Ufologia, tentando construir uma realidade incompatível com o que conhecemos. Só porque, diante de raríssimos casos que não comportam explicação conhecida, pensamos “só pode ser extraterrestre, não há outra possibilidade”. Ora, isso é crença pura. Tal posição é direito de quem crê, mas outros também têm o direito de não comungarem, literalmente, com uma Ufologia equiparável tão somente a uma religião.
Os céticos certamente não gostariam de me ver rotulado como um deles. Brincadeiras à parte, se é que entendo o que seja ceticismo, aceito a possibilidade de o homem obter o conhecimento da realidade objetiva, plausível e hipoteticamente bem embasada. Se sou cético, diria que da linha de um ceticismo relativo
Integrantes de movimentos céticos, numa atitude visível de má-fé, têm usado suas afirmações mais contundentes, ora distorcidas, ora fora de contexto, para que seu público seja levado a crer que você, pioneiro e ícone da Ufologia Brasileira, hoje contesta a própria existência dos discos voadores? O que fala sobre isso? De anos para cá me convenci de que o que é estabelecido sobre bases não sólidas, somente se tornará útil em termos de conhecimento se for contestado. Durante muito tempo me senti mal quando alguns contestavam minhas afirmações ou apontavam equívocos de ordem dialética no meu trabalho. Então resolvi atacar o problema pela raiz, ou seja, escolher minhas próprias certezas para ver até que ponto elas poderiam ser mantidas. É o que se chama simplesmente de reflexão, isto é, o ato de se dobrar novamente sobre os próprios conceitos e idéias. Cheguei à conclusão de que, se por um lado acreditamos na existência objetiva de discos voadores, em razão do grande número de depoimentos e casos registrados através da história, não é por isto que podemos considerar tal existência incontestável. A existência de discos voadores é, sim, muito contestável.
Então você acha que a Ufologia esteja sendo praticada nos mesmos moldes de uma religião? Sim. É como vejo, na sua maioria, a Ufologia ser encarada, tanto no Brasil quanto no exterior. Esta é uma postura somente místico-esotérica, que não acompanha as aquisições científicas porque a Ufologia não tem característica de ciência, e porque, diante de fatos, faz afirmações distantes do que possa ser demonstrado. Ou seja, na linha do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein [1889-1951], “sobre o que não conseguimos falar, devemos silenciar”. Do contrário, estaremos buscando uma satisfação subjetiva, para afirmação de nossa crença. O Fenômeno UFO, quando ainda inexplicado, é raro. E a fenomenologia ufológica, sob tal ponto de vista, é capenga, sem muita sustentação.
Você sempre teve uma posição contundente quanto a pessoas que alegam estar em constante contato com ETs. Hoje, qual é sua opinião sobre elas e sobre o que afirmam? É bom observar que as fraudes, ou seja, os acontecimentos alegados por pessoas cientes de sua inverdade, e que assim visam vantagens, são poucos no conjunto de depoimentos. Quando funcionam, fazem tremendos estragos à credibilidade da Ufologia. O grande percentual, no entanto, é de enganos e erros de interpretação, e principalmente de realidades meramente subjetivas, construídas por inúmeros fatores de ordem psíquica, psicológica, emocional e até filosófico-intelectual. Estes últimos, de ordem mística e religiosa. Os alegados contatados nunca ofereceram dados e informações que possam fazer supor a realidade objetiva de suas afirmações e narrativas. Ao contrário, tudo o que se tem até agora parece ser produto de suas crenças, e em alguns casos, de seus transtornos, detectáveis ao menos teoricamente. Suas alegações só têm servido para o descrédito da Ufologia perante o meio acadêmico. Hynek já notava, em seu livro Ufologia: Uma Disciplina Científica [Editora Nórdica, 1981], que os defensores deste tipo de posição influenciaram durante muito tempo a opinião pública, através de atos irracionais. Mas Hynek só errou no tempo da frase: estas pessoas continuam e continuarão influenciando negativamente a sociedade. Daí, para o público achar que todo ufólogo acredita que ETs pilotam discos voadores, sem outras hipóteses, e que ETs fazem contatos telepáticos e programados com ditos canalizadores, é um pulo. E dá-lhe modismo também na área dos tais contatos telepáticos e programados…
E sobre as pessoas que fazem as mesmas alegações sob hipnose? Podemos confiar neste método para efeito da pesquisa ufológica? Só para ilustrar, veja que há enorme diferença entre fraude e falsa lembrança. No primeiro caso, o indivíduo mente e pode ser facilmente desmascarado durante uma regressão de memória, bastando que lhe sejam aplicados testes de suscetibilidade. Se ele não estiver realmente hipnotizado, mas fingindo um transe hipnótico para justificar sua inverdade, o hipnólogo experiente saberá, sem margem de erro, que ele não está em transe. No segundo caso, o da falsa lembrança, quem está submetido a ela acredita na verdade exposta durante a regressão. É isto que faz a hipnose não ser um método infalível em favor da realidade concreta e objetiva de um caso de abdução ou outro tipo de contato. Ela é um meio, não um fim, servindo como método para se constatar se o indivíduo está ou não sendo sincero. Nada prova sobre as abduções ou outros tipos de encontros imediatos com UFOs, dentre eles os contatos telepáticos. Por outro lado, existe também a chamada hipnose eriksoniana, completamente separada das técnicas clássicas, a qual a psicanálise prefere apenas como método paralelo e raramente aplicável. Por se constituir um recurso terapêutico através de induções indiretas e condução do paciente para chegar às suas lembranças, não propriamente fazendo-o “reviver” um fato, torna-se ainda mais falha para a distinção das falsas lembranças do que poderia ser, teoricamente, a memória de um fato real.
Ubirajara, qual é sua opinião sobre pessoas que têm feito previsões ou afirmado receber ajuda de seres extraterrestres para realizarem certas missões em nosso planeta? Há indivíduos que, além de substituírem as divindades em que acreditam por ETs evoluídos – e não raramente “ETs espirituais” –, ainda têm o que podemos chamar de “complexo messiânico”. Isso os levam a pensar ou a sentir serem escolhidos de raças superiores de fora para servirem de salvadores aqui na Terra. Ou de intermediários dos salvadores, o que não é raro em nossa civilização. Há até pessoas consideradas “deuses vivos”, não é mesmo? Mas tais pessoas não estão sozinhas nos meios ufológicos, pois alguns ufólogos também não escapam a tal tendência de comportamento messiânico, quando chegam a escrever ou a declarar em público que se sentem “dirigidos” por ETs na condução do seu trabalho na Ufologia. Veja bem, este é um direito inalienável de qualquer pessoa. Porém, repito, outras também terão o direito de não rezarem na mesma cartilha, uma vez que, como se sabe em oratória e em direito, aquele que vai a público deve estar ciente de que receberá aplausos ou apupos. E como sem crítica não se faz ciência, também não poderemos fazer Ufologia acreditando estarmos imunes à crítica.
Você acredita que seres extraterrestres possam se interessar e até nos ajudar a resolver enfermidades humanas, como vem sendo dito no meio ufológico de uns tempos para cá? Não acredito sequer em seres extraterrestres. Apenas aceito a possibilidade de existir vida em outros planetas, tal como admite a astrobiologia e a grande maioria dos astrônomos, como o citado Grinspoon, o falecido Carl Sagan e tantos outros. No entanto, a Ufologia precisa urgentemente ficar livre das minhas crenças. Eu posso cultuá-las à vontade, mas devo tomar o máximo de cuidado para que elas não influenciem a opinião pública através de meus atos irracionais, porque não se deve confundir crença ou fé com razão. O homem sempre acreditou na cura por inteligências externas a ele, existentes em um plano transcendental, chamado por alguns de espiritualidade, como se a expressão devesse ser sinônimo incondicional de mundo sobrenatural ou plano onde vivem espíritos. Isso não é novo, nunca acabará. Novamente apenas a título de ilustração, repito o que alguém certa vez me disse: “os homens substituíram os deuses por Deus, Deus por Jesus, Jesus por espíritos e agora substituem espíritos por extraterrestres”. Sim, extraterrestres que fazem supostas curas até em casas dedicadas a cultos dos espíritos. Seja como for, eu acredito que somente o homem possa se interessar por nos ajudar a resolver as enfermidades humanas, através da medicina, da biologia, da genética, de todas as ciências e disciplinas da área de saúde.
Em todos os seus anos de pesquisa, você desenvolveu certeza absoluta a respeito de algum caso especial, que considerasse um evento extraterrestre autêntico e assim resistisse hoje, sob seus parâmetros atuais de pesquisa e entendimento da questão ufológica? Não. Nunca. Mesmo porque, não costumo adotar certezas absolutas. Os colegas que sempre mantiveram contato comigo sabem que eu tenho essa tônica. Não há sequer um caso ufológico que me permita ter a certeza de que seja completamente autêntico, pela linha de pensamento de que tenha causa ou origem extraterrestre. Eu gostaria de repetir que não aceito verdades absolutas sobre qualquer tema, em torno de qualquer evento ou fato.
Neste caso, o que você acha dos chamados implantes e das pessoas que se dizem implantadas por seres extraterrestres? Para mim, é interessante que, em pouco tempo e apenas recentemente, a ciência passou a utilizar implantes para diversas finalidades. O surgimento disto era previsível técnica e cientificamente, e tal previsibilidade deve ter construído, para não variar, a crença em implantes também por extraterrestres. Eu tinha esperança nessa área no contexto ufológico, pois, afinal, estamos falando em algo bem físico, afeto ao organismo. Mas não. Ao lado de supostos implantados, que se recusaram a ter o corpo examinado para detecção de algum artefato, ou de implantados fantasistas, que nos deram a compreensível desculpa de que “o organismo absorveu o artefato, desaparecendo”, restariam apenas célebres estudiosos dedicados especialmente a esse estudo. E quando conheci um deles, me decepcionei. Prefiro continuar a dar-lhe o maior respeito e encerrar por aqui a resposta.
Sendo assim, o que você acha dos recentes estudos do doutor Roger Leir, médico californiano e consultor da Revista UFO, que extraiu mais de uma dúzia de alegados implantes de seres humanos, sendo que, nos últimos deles, submetidos a variados exames na Universidade de Toronto, no Canadá, constatou-se a presença de condições totalmente incomuns – emissão de ondas eletromagnéticas em pulsos semelhantes aos emitidos por objetos no centro da galáxia – e elementos químicos raríssimos na Terra? Para que tal afirmação me convença, não basta que um ufólogo a alegue. Refiro-me a esta história de que “a universidade tal atestou”. Não que o pesquisador citado tenha agido assim, mas tenho visto muita gente dizer que possui laudos, atestados ou resultados de exames supostamente feitos em grandes institutos ou escolas, sem que isto seja verdade. Importa, no entanto, é que, se alguém realmente acreditar que possui algum artefato que tenha surgido de tecnologia desconhecida, ou composto de materiais não classificados ou que não podemos obter na Terra, então que elabore um complexo projeto e lute para que o meio acadêmico possa estudá-lo e examiná-lo. Aliás, acho que somente após muito tempo de experimentos, análises e debates em torno de um material assim, por menor que fosse, as grandes universidades e os mais conceituados laboratórios do mundo é que poderiam atestar, em definitivo, que a ciência encontrara uma prova da visita e da intervenção de extraterrestres. Porém, é bom repetir que haveria uma distância incomensurável entre um atestado deste tipo e a certeza de que o material seria mesmo artificial e introduzido em alguém por uma tecnologia desconhecida, de fora. Emissão de ondas eletromagnéticas em pulsos semelhantes aos emitidos por objetos do centro da galáxia? Se assim for, então parece que a Universidade de Toronto anda meio desanimada por alardear uma descoberta tão revolucionária assim, caso essa tal emissão seja mesmo algo simplesmente extraordinário…
Presenciar um fenômeno, mesmo se chegue a concluir ser verdadeiro, é uma coisa. Já haver dados suficientes que permitam determinar sua origem como extraterrestre, ou seja, que tenha sido ação de civilizações de fora, é outra muito diferente. E, por enquanto, nada nos permite ter isto como verdade
Certo. E quais são, então, os requisitos que você considera essenciais para conferirem credibilidade acima de qualquer dúvida a uma ocorrência ufológica e por quê? Uma ocorrência ufológica não quer dizer necessariamente a atuação de seres extraterrestres. As pessoas podem ter experiências legítimas, presenciando um fenômeno para o qual ainda não temos explicação, ainda que eu não me lembre, no momento, de algum caso que não comporte ao menos a hipótese de uma causa conhecida, de ordem física ou psíquica. Mas mudemos por um breve instante a tônica de minhas respostas e admitamos, para argumentar, que os discos voadores venham de outro planeta. Um requisito essencial, uma premissa sem a qual nenhuma outra poderia ser desenvolvida, seria apenas uma: a de que o meio acadêmico, após intensas análises e exames, pudesse atestar que conseguiu levar ao laboratório um aparelho de tecnologia alienígena ou um ser de compleição e fisiologia desconhecidas. Até lá, o máximo com que podemos ficar são as análises do comportamento e com as características do depoimento da testemunha, fazendo investigações paralelas para tentarmos atestar sua honestidade e sinceridade. O que vem depois disto é mais complexo, pois honestidade e sinceridade – ou a crença ferrenha na experiência vivida – não são evidências incontestáveis ou prova de uma realidade objetiva.
Mesmo considerando os milhares de registros de avistamentos de UFOs em todo o mundo, inclusive por pessoal altamente qualificado e com comprovação de sua materialidade através de detecção de radar, manifestando-se em vôo e condições absolutamente incompatíveis com nossas capacidades tecnológicas, não há nenhum caso para o qual você admita que o objeto observado seja uma nave de origem não terrestre? Um, pelo menos? Sei que há casos de credibilidade, atribuída principalmente às condições e à formação das testemunhas. Porém, presenciar um fenômeno, mesmo se chegue a concluir ser verdadeiro, é uma coisa. Já haver dados suficientes que permitam determinar sua origem como extraterrestre, ou seja, que tenha sido ação de civilizações de fora, é outra muito diferente. E, por enquanto, nada nos permite ter isto como verdade. Tais casos de credibilidade, nestes termos, são em um número insuficiente para fundamentar tal realidade.
E o que você entende como sendo o principal elemento desabonador de um caso ufológico? Obviamente, se pudermos demonstrar que o caso foi apenas uma fraude, ou seja, fatos propositalmente alegados, com consciência de que não são reais, com a finalidade de se tirar algum proveito.
O mundo começou a falar mais abertamente sobre o Fenômeno UFO de uns anos para cá, quando certos governos passaram a reconhecer que estamos mesmo sendo visitados por outras espécies. Em que isso afeta sua forma de pensar sobre o assunto? Devo, constrangido e com sincero respeito, pedir perdão pela resposta. Mas está se afirmando o que não é verdadeiro. Quais governos passaram a reconhecer que estamos sendo visitados por outras espécies? O francês? Por causa de seu Dossiê Cometa [Veja edição UFO 133]? O governo chileno ou o alemão? Ora, com muita boa vontade, tentemos enlevar trechos dos documentos já abertos por estes governos, como as partes que tratam de perseguições de aviões, eventuais pousos, enfim, quando registram fatos. Mas, na citada linha de Wittgenstein, fatos são ocorrências que independem de nossas impressões ou afirmações sobre eles, ainda que sejam acontecimentos tendo por base o que afirmamos das coisas. Que coisas são discos voadores? Tais governos admitiram oficialmente que existe vida extraterrestre, que esta vida é complexa, que se organizou em uma civilização, que por sua vez desenvolveu tecnologia capaz de viagens interestelares e que vem até nós? É bom repetir que, entre a simples admissão da existência de vida unicelular extraterrestre – que seria o maior acontecimento científico da história – e a declaração oficial de que estamos sendo visitados por extraterrestres, há uma distância incomensurável. A Ufologia Brasileira precisa urgentemente parar com esta ilusão, com esta inverdade absurda, exagerada e infundada, de que governos estão admitindo que estamos sendo visitados por seres de outros planetas.
Ao contrário, isso é fato conhecido e verdadeiro. Alguns governos de fato admitem isso. Veja a França, que você mesmo citou. Em 1976, em pronunciamento em rede nacional de televisão, o ministro da Defesa Maurice Gallo, por determinação do então presidente Giscard d’Estaign, admitiu que “estão sendo registrados