A detecção de uma substância chamada fosfina, que na Terra está associada à vida, abriu toda uma nova possibilidade de se encontrar vida em um dos lugares menos prováveis: Vênus.
No final de agosto, nós publicamos sobre uma pesquisa que estava sendo feita nas nuvens de Vênus em busca de sinais de vida, mas que ainda necessitava de comprovação. Hoje, tudo mudou.
Uma equipe de astrônomos acaba de anunciar que localizou a impressão digital química da fosfina, que os cientistas sugeriram que pode estar ligada à vida, nas nuvens de Vênus.
A descoberta não é garantia de que existe vida em Vênus, mas os pesquisadores dizem que é uma descoberta tentadora, que enfatiza a necessidade de haver mais missões para o planeta quente e gasoso ao lado.
“A interpretação de que é potencialmente devido à vida, eu acho, provavelmente não é a primeira coisa que eu faria”, disse Victoria Meadows, astrobióloga da Universidade de Washington que não esteve envolvida na nova pesquisa, ao site Space.com.
“Mas é uma detecção intrigante que enfatiza como ignoramos nosso vizinho. Temos algumas explicações a dar. Esta descoberta, em especial, é apenas outro lembrete de quanto ainda temos que aprender sobre Vênus”, complementou ela.
A nova pesquisa baseia-se na ideia de que, embora a superfície de Vênus resista a altas temperaturas e pressões esmagadoras, as condições são muito menos severas no alto das nuvens.
E os cientistas perceberam que a própria atmosfera da Terra está cheia de minúsculas vidas. De repente, micróbios existirem no ponto ideal da atmosfera de Vênus onde as temperaturas e pressões imitam as da Terra, não parece uma ideia tão estranha.
A pesquisa
Telescópio James Clerk Maxwell. Crédito: Space.com
Os cientistas por trás da nova pesquisa queriam pesquisar a fosfina. Os pesquisadores recentemente se perguntaram se o produto químico poderia ser uma boa bioassinatura, um composto que os astrônomos almejam na busca por vida.
Jane Greaves, astrônoma da Universidade de Cardiff no Reino Unido e principal autora da nova pesquisa, percebeu que poderia usar um telescópio que conhecia bem para verificar a atmosfera de Vênus.
“Procurar em Vênus pode ser muito peculiar, mas não é difícil de fazer e não levaria tantas horas do tempo do telescópio, então por que não dar uma chance?“, disse ela.
Portanto, em cinco manhãs diferentes em junho de 2017, os astrônomos usaram o telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, para observar Vênus. E então as observações ficaram em um computador por um ano e meio, disse Greaves, sem que ela conseguisse encontrar tempo para estudá-las.
Em março de 2019 os pesquisadores usaram o telescópio Alma do deserto do Atacama, no Chile, para procurar o produto químico novamente e garantir que a detecção não fosse apenas um soluço telescópico.
O ALMA coletou algumas horas de dados, que também revelaram mais fosfina do que os cientistas esperavam – não uma grande quantidade no grande esquema das coisas, mas cerca de 20 partículas em cada bilhão, de acordo com a pesquisa.
Por mais tentadora que seja a detecção de fosfina em Vênus, os cientistas não envolvidos com a nova pesquisa temem que ela dê alguns grandes saltos, mesmo antes das enormes implicações potenciais de uma detecção de vida.
Alguns não estavam convencidos de que a fosfina era uma impressão digital confiável de organismos vivos. A única molécula de fósforo rodeada por três moléculas de hidrogênio é, na Terra, uma raridade e de vida curta.
Aguardando mais pesquisas
Arte mostrando as fosfinas em Vênus. Crédito: NASA
Alguns processos industriais a produzem e ela está associada a alguns tipos de bactérias que vivem em ambientes particularmente estranhos. Ela se transforma rapidamente na atmosfera rica em oxigênio da Terra e deveria se transformar na de Vênus também, o que é intrigante para cientistas que procuram respiração alienígena. Mas a empolgação com a fosfina pode ser prematura.
Portanto, antes que os cientistas possam usar a fosfina como uma potencial bioassinatura, eles precisam entrar no laboratório e realmente entender se e como os micróbios produzem fosfina, um processo que os cientistas que observavam Marte fizeram em relação ao metano há muito tempo.
Greaves disse estar confiante de que a fosfina é uma bioassinatura na Terra, mas espera que a comunidade científica possa realizar esses tipos de experimentos de laboratório e desenvolver o trabalho de sua equipe.
A NASA tem duas missões programadas para Vênus nos próximos anos, o que ajudará a refinar a pesquisa e dará mais subsídios aos cientistas. Por enquanto temos uma boa indicação de que talvez haja mesmo vida nas nuvens de Vênus, mas apenas isso. As probabilidades, entretanto, parecem muito boas.
Veja abaixo um video da Royal Astronomical Society sobre a descoberta e em seguida um video sobre a fosfina: