PRÉ-VENDA
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Viagem ao mundo maravilhoso do contatismo

Muitos dos abduzidos por seres extraterrestres se convertem em reais contatados, sem que suas experiências sejam de fato comprovadas pelos ufólogos

Cláudio Tsuyoshi Suenaga
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Vários são os mecanismos de contatos com supostas entidades extraplanetárias. As relações físicos diretas, por exemplo, constituem-se nas mais intrigantes manifestações ufológicas
Créditos: Jamil Vila Nova

A idéia da salvação, advinda de algum lugar impreciso do céu, sempre esteve presente na consciência humana. Na oração para a vinda do Messias, no salmo 72 de Davi, são feitas promessas de paz, fertilidade e bem-aventurança. Em outras culturas, o perfil messiânico é o mesmo: Frigia, Cibele, Atis, Delfos. A redenção quase sempre vem representada na forma de uma figura especial. Por não se conformarem com a morte de seu inesquecível rei Dom Sebastião, os portugueses do Século XVI espalharam a notícia, na qual todos acreditavam, de que o jovem monarca não havia falecido, mas sim levado para a Ilha das Brumas, de onde regressaria para libertar seu povo e trazer a felicidade para todos os homens.

Houve formas de messianismo trágico e previsões, todas de acordo com o contexto e as características do povo que as produziu. Entre nós, no trópico abençoado e ameno, preponderou um profetismo positivo. Os guaranis perseguiam a “terra sem males”. Antônio Conselheiro, João Maria e o Padre Cícero prometiam o próprio paraíso aqui na Terra, e nada teria terminado em tragédia se as expedições militares não tivessem interferido.

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A revolução tecnológica criou, na segunda metade do Século XX, um messianismo espacial, ou profetismo galáctico, que o psicólogo suíço Carl Gustav Jung considerava compreensivo diante da “perda de fé e do abandono da dimensão sobrenatural”. Fenômenos de luzes e brilhos que riscavam os céus, em aparições isoladas e misteriosas, foram prontamente tomados como “sinais” ou avisos de algo importante. Para alguns, a dúvida tomou a dimensão da certeza.

O estado de predisposição das massas, profundamente angustiadas com as conseqüências da Segunda Guerra Mundial e com o advento da Guerra Fria – estimulando a espionagem e a corrida nuclear armamentista explica por que os discos voadores passaram a ser encarados como uma nova esperança. O Fenômeno UFO é uma necessidade social, uma forma de aliviar a angústia da Humanidade. Uma de suas funções é justamente a de canalizar as fantasias e as frustrações de um terço da população terrestre.

RELATOS SINCEROS – Agora que o mundo já tinha se acostumado com os UFOs, “… era inevitável que alguém, em algum lugar, mais cedo ou mais tarde, afirmasse ter feito contato com seres extraterrestres a bordo de discos voadores”, asseverou o historiador Dennis Stacy. No início da década de 50, surgiram nos Estados Unidos as primeiras narrativas dando conta de que de Vênus vinham homens e mulheres altas, de pele translúcida, iluminados por uma luz interior, vestindo roupas prateadas e muito colantes. Já de Marte vinham homens morenos com roupas de borracha, enquanto que das luas de Júpiter vinham homens de pequena estatura e cérebros grandes, desproporcionais. Dando-se crédito a essas histórias, quase todos os planetas do nosso sistema seriam habitados por grandes construtores de naves espaciais. A missão dos “irmãos do espaço” era salvar o nosso mundo da ganância, da corrupção e da bomba atômica. O público exigia poucas provas, ficando, ao que parece, satisfeito com a “sinceridade” de nossos contatados.

Durante os anos 50, os filmes de ficção científica se valeram dos relatos dos contatados, infundindo no imaginário popular a noção de uma realidade diferente da humana. O gênero vivia seu auge. Monstros espaciais e invasões interplanetárias refletiam nas teias a política macartista paranóica norte-americana, com sua fobia ao comunismo. Filmes como The flying saucer, de M. Conrad, ou Flying disc from Mars, de F. Brannon, Man from Planet X, de Edgard G. Ulmer, e The thing from another world, de Christian Nyby, foram alguns dos mais expoentes.

Em 1951 – um ano antes de George Adamski despontar como o primeiro contatado da Era Moderna o diretor Robert Wise rodou uma das películas que mais influenciaram a estrutura dos relatos ufológicos, o clássico The day the Earth stood still (O dia em que a Terra parou). Um emissário do espaço chega à “ferra num disco voador e aterrissa na cidade de Washington. Klaatu, o alienígena, cuja compleição física é semelhante à humana, vem com o objetivo de prevenir os habitantes do nosso planeta a pararem de usar armas nucleares, pois essa prática poderia afetar todo o universo. Se nossos líderes políticos e militares insistissem nisso, a Terra teria que ser destruída completamente.

Auxiliado por Gort, um implacável robô programado para desintegrar toda fonte de violência que captasse, Klaatu tenta transmitir seu aviso de maneira pacífica, mas e recebido com tiros e histeria coletiva. Então, a única forma que ele encontra de impressionara Humanidade terrestre é através de um efeito de choque: durante meia hora. ele neutraliza a eletricidade no mundo todo. Depois disso, é descoberto, perseguido e morto. Mas Gort consegue ressuscitá-lo com intuito de que possa, finalmente, anunciar sua mensagem antibelicista para os povos da Terra.

EFEITOS ESPECIAIS – A película foi um marco para a história do cinema, pois pela primeira vez um ser extraterrestre não era apresentado como ameaça à vida na Terra, e sim como conselheiro pacifista. Os pontos altos da obra são os efeitos especiais, excelentes para a época, a foto-grafia em preto e branco, de Leo Tover – que procura realçar os contrastes de luz e sombra dos ambientes, como os expressionistas alemães -, e os diálogos, com frases brilhantes de Klaatu, como por exemplo: “Minha missão não é resolver seus mesquinhos problemas de política internacional. Não falarei com nenhuma nação ou grupo de nações. Não pretendo trazer minha contribuição aos seus ciúmes e suspeitas infantis”.

O filme é um daqueles que prova o quanto a ficção imbrica-se com a realidade. As imagens primordiais criadas definiram muitos pensamentos, sentimentos e ações dos subseqüentes contatados, abduzidos e testemunhas. O UF0 com o típico formato discóide aterrissa numa praça. Uma porta se abre e uma rampa desliza até o chão. Um alienígena com um macacão prateado desce por ela. Quando a porta se fecha, não deixa entrever sinais de frestas ou emendas. Então Klaatu mistura-se aos membros de uma família, sem ser notado. No interior do disco o alienígena é deitado sobre uma mesa de operações.

HUMANIDADE AMEAÇADA – As palavras finais de Klaatu. um ultimato aos humanos, relevam a necessidade premente de acabar com as hostilidades. Todos esses elementos passaram, a partir de então, a fazer parte das narrativas ufológicas. A maioria dos contatados, não por acaso, coincide no fato de que a Humanidade está ameaçada. Outro ponto de conexão entre essas mensagens recebidas são as “revelações” relacionadas a “religiões cósmicas”, cada qual com seus devidos dogmas, liturgias e éticas.

Cabe-nos, então, traçar aqui os perfis psicológicos do abduzido ou testemunha e do contatado. A experiência dos primeiros advém, a
ntes de mais nada, do acaso, do fator surpresa, do desconhecimento. Já o contatado atende a uma espécie de “chamado” ou “ordem” de uma entidade que se identificará e definirá sua origem. O abduzido ou testemunha declara-se “vítima” do ataque súbito de luzes, e do tratamento frio e distante por parte dos ETs, que evitam qualquer tipo de aproximação. Já o contatado sente-se especial, como se fosse “escolhido” para transmitirá Humanidade uma mensagem de advertência ou salvação, invariavelmente um apelo à fraternidade universal.

O abduzido ou testemunha divulga suas experiências com reservas – pelo menos no início evitando expor-se impensadamente, como se temesse o ridículo e eventuais sanções sociais ou profissionais. O contatado, por sua vez, age desenfreadamente, sem medir conseqüências, fazendo apologia da superioridade dos seres cósmicos, reunindo adeptos em torno de si, fundando seitas messiânicas e grupos de cunho místico ou religioso. Demonstra habilidade em gerar publicidade para seus relatos.

A propósito, David Jacobs, em sua tese de doutorado The controversy over unidentified flying objects in America: 1896-1973 (A controvérsia sobre objetos voadores não identificados na América: 1896-1973), afirmou que “os contatados não temiam o ridículo e procuravam avidamente a publicidade. Baseados em suas experiências pessoais, geralmente organizavam clubes especiais de discos voadores. Alguns deles afirmavam ter viajado nesses aparelhos e descreviam com detalhes o trajeto e os planetas os quais teriam sido visitados. Além disso, a maioria dos contatados informava que os homens do espaço os havia incumbido de uma missão e por isso, diziam eles, deveriam procurar propaganda”.

Para o abduzido, os seres, na maioria das vezes – embora nem sempre, já que há uma imensa galeria de tipos descritos -, são os típicos alfa ou grays, de aspecto aterrador (baixa estatura, cabeça desproporcional ao corpo, imensos olhos negros etc), envergando trajes sóbrios e agindo com violência. Já os encontros do contatado ocorrem preferencialmente com seres carismáticos, quase angelicais, com vestes longas, cabelos loiros, beleza física incomum, atitudes amistosas e mensagens benfazejas.

O abduzido ou testemunha se coloca como vítima ou mero coadjuvante do fenômeno: sente-se usado ou premido por questões circunstanciais. Para ele, os extraterrestres não estão preocupados diretamente conosco, mas interessados, sobretudo, em colher dados físico-químicos do planeia, amostras da fauna e flora, material genético etc. Encaram a Terra como um imenso laboratório e os humanos como cobaias. Já o contatado regozija-se em apontar a si mesmo e o restante da Humanidade como os alvos preferenciais da “bondade” dos ETs salvadores, o que atesta a sobrevivência do pensamento mítico até os nossos dias, em plena sociedade tecnológica globalizada.

crédito: Dossier Alieni

Os contatados apontam a mais variada tipologia extraterrestre possível. 0 grau de criatividade de alguns chega a beirar o absurdo. Porém a maioria deles diz contatar humanóides de pele alva e semblante sereno. Outros tantos descrevem comunicar-se com seres cinzas e cabeçudos

Os contatados apontam a mais variada tipologia extraterrestre possível. O grau de criatividade de alguns chega a beirar o absurdo. Porém a maioria deles diz contatar humanóides de pele alva e semblante sereno. Outros tantos descrevem comunicar-se com seres cinzas e cabeçudos

PLANETAS INABITÁVEIS – A extrema cientificação não levou à dessacralização, mas sim, paradoxalmente, à ressacralização, revestindo os valores pertencentes ao cristianismo e demais religiões com elementos contemporâneos. Estabeleceu-se uma hierarquia alienígena, com dois tipos básicos de seres. De um lado, os altos e loiros do tipo nórdico, e do outro, os pequenos e repulsivos cinzentos. E consenso geral que a hierarquia pagã dos demônios enredou-se à hierarquia cristã dos anjos. Teriam os mesmos agentes se comprometido com o mito moderno dos UFOs? Os seres que visitaram Adamski no Deserto da Califórnia apareceram como belos seres humanos (anjos de luz?), ao passo que os alfas abdutores sugeriam coisas sinistras (anjos das trevas?).

Cabe frisar, todavia, que os perfis servem mais para destacar as diferenças inerentes a cada grupo do que para defini-los de modo permanente, pois, na prática, encontramos exemplos híbridos, mesclados, que não podem simplesmente ser reduzidos a tinia categoria fechada. Ocorre que muitos abduzidos ou testemunhas são também contatados e vice-versa. Hermínio e Bianca Reis, Whitley Strieber e Antonio Nelson Tasca são exemplos disso. Fica patente, porém, que esses casos distinguem-se em variados aspectos. Mas a prevalência de um determinado perfil, de uma certa característica, obriga-nos a separar um de outro.

Com o passar do tempo, devido, em parte, ao aparecimento de provas contra os contatados, o entusiasmo do público começou a arrefecer. Além disso, as sondas espaciais dos anos 60 e 70 obtiveram dados desconsoladores, atestando serem inabitáveis os planetas de nosso Sistema Solar. Como resultado, os contatados foram relegando, e até corrigindo, a origem de seus visitantes. De planetas de nosso próprio sistema a estrelas mais ou menos distantes daqui. Mas não era somente a procedência que ia sendo atualizada. O design e os instrumentos a bordo dos discos voadores também sofreram modificações.

Se durante os anos 50 os contatados descreviam modelos arcaicos de discos voadores, dentro dos quais havia botões, alavancas, monitores e mostradores com ponteiros, nas décadas seguintes os discos viriam equipados com sensores, telas holográficas, laboratórios genéticos, computadores etc. Não obstante, velhos casos de contatados, aparentemente encerrados, ressurgiram no início dos anos 90 em congressos ufológicos e em novos artigos. A febre pelos venusianos ou marcianos voltou como se acompanhasse a onda nostálgica que varreu o planeta.

A maioria dos métodos de contato e constituída de processos automáticos de comunicação. Isto é, fenômenos em que o receptor não participa conscientemente do material canalizado. Trata-se na maioria das vezes de métodos de recepção de informação por via psíquica, que aparente-mente servem para receber mensagens de inteligências não humanas (presumivelmente extraterrestres), que o próprio contatado, ou médium, desconhece. Basicamente, podemos falar de oito métodos ou classes de contato com essas entidades, tanto de forma voluntária como induzida por tais inteligências supostamente extraplanetárias. São elas o contato físico, o mediúnico, a escrita automática ou psicografia, a tábua ouija, o contato telepático, o epistolar, o visual e o tecnológico.

No entanto, não restam dúvidas de que os encontros físicos com os intergalácticos – que tanto podem ser originários de planetas de nosso Sistema Solar como de mundos distantes milhares de anos-luz – são o ma
is incrível tipo de contato. Esses casos são os mais difundidos nos meios de comunicação e se referem aos contatados que não apenas dizem ter visto UFOs reiteradas vezes, mas que afirmam haver estabelecido relações diretas com os ocupantes desses insólitos aparelhos.

Diversos foram os indivíduos que afirmaram categoricamente haver contatado entidades extraterrestres. Fazer uma seleção desses “mensageiros” ou “emissários” do Cosmo, inicialmente, acarretaria grandes dificuldades, razão pela qual decidimos fazê-la com base em critérios de relevância histórica e originalidade, sem levar em consideração que a verdade seja nada mais que a convicção de seus protagonistas. O julgamento fica por conta dos leitores.

O ufólogo Fernando Grossmami, em sua célebre conferência no 3º Encontro Brasileiro de Ufólogos promovido pela Sociedade Interplanetária do Rio de Janeiro (SIRJA), em 14 de outubro de 1975, fez uma brilhante analogia entre o procedimento dos UFOs e o de um pescador terrestre, sentado à beira de um rio: “Conhecendo profundamente nossos hábitos sociais e psicologia, os extraterrestres lançam-nos seus anzóis arquétipos via telepatia, sob forma de atraentes doutrinas místicas e promessas de salvação. Isto naturalmente, em troca de submissão… e milhares de terrestres mordem a isca…” Conforme a famosa frase de Charles Fort: “Alguém nos pesca!” Boa leitura!

Ufologia com base histórica e científica

A Revista UFO Especial sempre teve a intenção de publicar artigos referentes ao contatismo, por ser este um assunto polêmico e deveras interessante. Pensando assim, e para satisfazer a curiosidade do leitor, não poderíamos deixar de convocar Cláudio Tsuyoshi Suenaga, o maior expert no relação entre humanos e outras civilizações cósmicas, para coordenar esta tão esperada edição.

Suenaga, aos 26 anos de idade, reside atualmente em São Paulo e é mestrando em História na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao longo de sua carreira, já atuou como professor e repórter, porém hoje se dedica aos estudos e ã elaboração de sua tese na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Seu dinamismo e versatilidade não o deixam parar de trabalhar, pois apesar de ter uma vida muito atribulada ainda encontra tempo para fazer cursos de desenho técnico, cinema e processamento de dados.

Este pesquisador tem excelentes matérias publicadas em UFO, todas elas obedecendo a um certo rigor cientifico com fundamentos históricos comprovados, desenvolvendo estudos sobre a influência psicossocial dos UFOs, a exemplo de Seitas ufológicas; O perigo está no ar (UFO 51) e Vítimas de aliens em hospitais psiquiátricos (UFO 49). Porém sua contribuição ufológica não se restringe somente às nossas revistas.

Como membro do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), do Grupo de Pesquisas Ufológicas (GPU) e do Núcleo de Pesquisas Ufológicas (NPU), está sempre pesquisando o que de mais excêntrico manifesta-se na Ufologia e, ao mesmo tempo, mantém-se atualizado, participando de congressos, palestras e eventos por todo o país. Verdadeiro exemplo de maturidade e eficiência nas investigações e resgate histórico, Suenaga representa, com muita competência, a nova safra de ufólogos brasileiros. A Revista UFO Especial e toda a Comunidade Ufológica Brasileira agradece por seu trabalho inapreciável em prol da divulgação dos fenômenos ufológicos.

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