
Promover a efetiva divulgação dos fatos ufológicos ocorridos no Brasil e sua pesquisa científica, inclusive em parceria com órgãos governamentais, têm sido os principais objetivos de João Caldas da Silva, eleito em 1999 deputado federal pelo Partido Liberal. Caldas causou surpresa no Congresso Nacional, em janeiro passado, ao propor um projeto de lei absolutamente inédito na história da política brasileira. O projeto, que recebeu o número 2324, trata da divulgação de informações secretas referentes aos UFOs em poder das Forças Armadas. O documento, se aprovado, tornará obrigatória a comunicação de todo e qualquer fato envolvendo ocorrências de discos voadores em Território brasileiro. Nem mesmo os ufólogos esperavam um dia ver uma idéia dessas tramitando pela Câmara dos Deputados.
Caldas quer que todos os registros de UFOs em nosso país sejam comunicados oficialmente à Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, que se encarregaria de sua avaliação e posterior divulgação. “Temos que tornar a Ufologia uma pesquisa científica, da qual participem ufólogos civis e autoridades federais”, declarou Caldas, esperançoso de que a lei seja aprovada. Entre suas especificações, a mais polêmica é a que prevê a punição de aviadores que omitirem experiências ufológicas que venham a ter em nossos céus. Para pilotos civis, isso pode levar à perda da licença, já os militares seriam processados por crime de desobediência. “Se houver um caso não informado, que traga prejuízo à Humanidade, as autoridades competentes devem responsabilizar estes profissionais”, enfatizou.
Isso é inédito na Ufologia Mundial, e as repercussões das idéias deste incomum deputado já podem ser contabilizadas. Ele esclarece que tais medidas visam impedir o acobertamento de fatos e romper com a política de desinformação que existe em relação ao assunto. A lei possibilitaria ainda que fossem reunidas informações mais precisas e detalhadas sobre todos os fenômenos anômalos observados no espaço aéreo brasileiro, já que atualmente não existem estatísticas oficiais a este respeito – por mais que ufólogos civis e organizações não governamentais se dediquem intensamente ao estudo e à pesquisa ufológica.
Para justificar o projeto de lei, Caldas pesquisou a casuística ufológica brasileira e constatou uma grande quantidade de casos em que militares e autoridades estiveram envolvidos com UFOs. Um dos mais impressionantes é o que se deu em 1957 sobre o Forte Itaipu, em Praia Grande (SP), citado pelo deputado no anexo ao seu projeto, encaminhado à mesa diretora da Câmara. A ocorrência foi traumática para dois soldados do Exército, que estavam de sentinela quando sofreram graves queimaduras causadas por uma luz emitida por um estranho objeto. No mesmo momento também foi registrado um apagão no Forte, mas nenhum problema foi detectado na rede elétrica. Na época, o episódio foi transmitido pela embaixada brasileira ao governo norte-americano.
A ocorrência cada vez mais freqüente de fatos desconcertantes em nosso país reafirma a importância de uma idéia como a proposta. Embora não tenha jamais visto um disco voador ou mesmo um extraterrestre, Caldas afirma conhecer pessoas idôneas que já passaram por tais experiências, inclusive em sua cidade natal, Ibateguara (AL). Em entrevista concedida à Revista UFO o deputado fez questão de acrescentar que a Imprensa tem dado cobertura favorável ao tema. “Isso contribui para uma saudável discussão do assunto e reforça a necessidade de um projeto como o que propus”. Atualmente, o documento se encontra na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, cujo relator, o deputado federal Vic Pires Franco (PFL-BA), irá julgar a idéia central proposta. Caso seja aprovado, o mesmo seguirá para a Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Casa, onde será julgado de acordo com os itens de constitucionalidade e forma. Posteriormente, será enviado ao Senado Federal para as devidas tramitações. Em entrevista à UFO o deputado mostrou-se bastante afinado com a situação atual da Ufologia. Vamos a ela.
Deputado, o que o motivou a propor um projeto como esse, tão polêmico e inédito na política brasileira? Inicialmente, tenho que admitir, fui motivado por uma curiosidade pessoal em relação à veracidade destes inúmeros casos ufológicos que vêm ocorrendo por aí afora – principalmente em minha cidade natal, Ibateguara (AL). Além disso, pretendia que o assunto fosse tratado com mais seriedade, para que a sociedade pudesse realmente discernir entre o que é verdade e mistificação neste campo. A idéia do projeto surgiu em dezembro de 1999, época em que a Ufologia estava em destaque na mídia, e foi apresentado em janeiro de 2000. Com ele, poderemos criar um banco de dados para futuras pesquisas científicas, o que possibilitaria um melhor conhecimento dos fenômenos ufológicos. Também seria possível que a Câmara dos Deputados se responsabilizasse pela investigação e difusão das informações sobre a casuística em nosso país.
O senhor acredita que o governo omite informações relativas a observações de discos voadores no país? Com certeza! Se o assunto não fosse abafado pelas autoridades, certamente a população teria melhor condição para distinguir o que são mentiras dos fatos verídicos sobre tudo que se refira a discos voadores. As razões de tal omissão são as mais variadas possíveis, dentre elas a manutenção da segurança nacional e a impossibilidade de explicar à sociedade fatos ou eventos que não temos capacidade de entender. Do mesmo modo, acredito ser possível a existência de um pacto de silêncio entre vários países, acobertando ocorrências ufológicas e mantendo a política de desinformação existente sobre o assunto, conforme retratado de forma cinematográfica no seriado Arquivo X. A apresentação do projeto de lei é, seguramente, um passo decisivo para a divulgação dessas informações e garantiria a possibilidade da Ufologia ser tratada com seriedade e de modo científico. Fiquei muito surpreso ao ler na Revista UFO que meu projeto é inédito em todo o mundo! Por isso, é necessário bastante apoio a ele, principalmente vindo de ufólogos e interessados no assunto. Além disso, a mídia deve se manifestar noticiando e esclarecendo as pessoas sobre as verdadeiras intenções deste polêmico documento, e sua importância para a comprovação e documentação dos fenômenos ufológicos. Seria importante também que ufólogos e entusiastas enviassem mensagens positivas ao relator do projeto, o deputado Vic Pires Franco (PFL-BA), e aos demais integrantes da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara [Veja endereço ao fim desta]. Por meio de cartas, faxes, e-mails e telefonemas seria realizada o que chamo de “pressão inteligente”, que contribuiria para a aprovação do projeto.
O senhor conta com bom apoio para a aprovação do projeto na Câmara dos Deputados? Ou a oposição a ele é maior? Embora seja extremamente importante, o apoio efetivo somente acontecerá quando houver a tal pressão inteligente para esclarecer os objetivos do projeto e a importância de sua aprovação, não só para o Brasil como para toda a Comunidade Ufológica Mundial. Há muita desinformação, ceticismo, preconceito e até mesmo ironia em relação ao assunto, o que dificulta a realização de nosso trabalho. Como é uma idéia nova, singular e pouco discutida, principalmente com embasamento científico, devemos ter todo cuidado para não permitir que seja interpretada erradamente. Acredito que todos os fenômenos ufológicos devam ser divulgados de modo sério e responsável à sociedade, que tem o direito de conhecer a verdade. Evidentemente, isso deve ser discutido calmamente, de forma que não leve a extremos. Meu projeto também visa possibilitar à comunidade acadêmica canais de comunicação apropriados, com o objetivo de incentivar a pesquisa científica e promover uma parceria com órgãos governamentais. Ainda assim, temo que junto ao governo haja um certo receio de que o projeto seja aprovado, pois contraria muitos interesses. De qualquer maneira, é preciso ter paciência, trabalhar nos bastidores e, sobretudo, evitar comemorações precipitadas – ou mesmo prepotência no encaminhamento dessa questão.
Como político e principalmente cidadão, o senhor acha que a população brasileira poderia entrar em pânico caso soubesse que estamos sendo visitados por seres extraterrestres? Esta é uma pergunta que diariamente me faço. Acredito que isso seja algo que possa vir a acontecer. Isto é, alguns segmentos da sociedade podem apresentar comportamento de pânico, como retratado no filme The Day After, quando surgiram grupos messiânicos e afins. Atualmente a população não está preparada para lidar com essa realidade, sobretudo porque sempre foi prejudicada pelo acobertamento de informações por parte das autoridades. Além disso, considero muita prepotência do homem acreditar que seja o único ser inteligente em todo o Universo. Diante de tantos casos de visitas extraterrestres, cedo ou tarde conheceremos outros povos e civilizações que supostamente são mais inteligentes e evoluídos que nós.
De que forma a Comunidade Ufológica Brasileira pode ajudá-lo a concretizar a aprovação do Projeto de Lei 2324? Primeiramente, criando um movimento nacional de esclarecimento do assunto, sem extremos, que poderia culminar com a realização de entrevistas, publicação de artigos especializados e, principalmente, uma audiência pública no Congresso Nacional envolvendo notáveis e cientistas que se destacam na discussão do assunto. Além disso, é preciso que as pessoas se mobilizem e se manifestem a este respeito da maneira como puderem, mas principalmente realizando pressão com argumentos plausíveis para justificar a importância da aprovação do projeto. Para isso, também é necessário que sejam evitados a todo custo confrontos e atitudes de prepotência com relação aos órgãos de inteligência e de segurança nacional. Enfim, é muito necessária a participação dos membros da Comunidade Ufológica Brasileira, ufólogos e estudiosos, da forma como puderem para que este projeto se concretize.