Em uma de suas viagens internacionais, os estigmas de Giorgio Bongiovanni estavam exalando sangue com mais freqüência. Em razão disso, ele foi convidado a realizar uma série de exames no México, em 1994. Os médicos queriam uma análise hematológica completa. De modo incomum, as feridas já estavam abertas desde 1989, sem apresentarem qualquer tipo de infecção. O propósito médico era estudar a secreção sanguínea dos estigmas, fazer uma comparação do sangue exalado com o de outras partes do corpo, avaliar ambos e confrontá-los com o tipo sanguíneo padrão de outros indivíduos.
O trabalho foi realizado pelo hematologista Sergio Alba Briseño, do Centro Médico Oficial Forense da Cidade do México. Ele fez a coleta diretamente nos locais em que o sangue vertia naturalmente das feridas abertas, através de tubos apropriados ao exame. Na coleta do pé esquerdo, o examinado sentiu dor intensa. Depois o médico levou o material ao laboratório, para análise. “Fizemos a coleta da secreção e do material que verte das feridas. Constatamos que é de fato sangue, mas tivemos de fazer um exame com fórmula diferenciada, porque o sangue se coagulava imediatamente”, conta. O hematologista coletou também o sangue da veia do braço e constatou que não era anêmico, tendo todos os fatores normais, inclusive o tempo de coagulação. O material analisado revelou que os grupos sanguíneos eram idênticos, tanto do braço quanto das feridas.
CONCLUSÕES HEMATOLÓGICAS
Bongiovanni tem sangue igual ao de muitos seres humanos, ou seja, tipo O RH positivo, com número normal de glóbulos vermelhos, de glóbulos brancos e de plaquetas. Com esse exame, o médico pôde afirmar que não havia nenhuma infecção, embora as feridas estivessem abertas há vários anos. Curiosamente, Bongiovanni não sofre de anemia nem enfraquece durante os sangramentos, que são diários. Diante de condição tão rara, o hematologista foi solicitado a dar seu parecer sobre o que seria normal ocorrer a uma pessoa comum, nas mesmas condições de Bongiovanni, com feridas abertas e sangrando diariamente durante vários anos. De imediato, o doutor Briseño respondeu: “Não seria preciso alguns anos, mas apenas alguns dias. Entre oito e 15 dias a ferida deveria infectar-se”. O médico explicou que quando uma ferida fica exposta ao ar por esse tempo, seguramente ela infecciona.
Briseño constatou que o sangue não era anêmico, não tinha infecção nem apresentava alteração hematológica. Disse ainda que um sangramento de vários anos, complicado pela pouca comida e viagens constantes para o mundo todo, como acontece a Bongiovanni, deveria deixá-lo muito anêmico. Mas, de modo estranho, os exames não mostram isso. O sangue humano não se coagula por completo em menos de 30 segundos, como acontece estranhamente com o dos estigmas de Bongiovanni. E também é estranho que, de modo comparativo, o sangue colhido ao mesmo tempo do braço se coagule em pouco mais de cinco minutos, tempo normal para o teste efetuado. As amostras, embora iguais, é como se fossem diferentes, como se o sangue não pertencesse à mesma pessoa ou se aquele que sai das feridas fosse de outra fonte.
Alguns psiquiatras e psicólogos de prestígio se detiveram no estudo de Giorgio Bongiovanni. Dentre eles está o neuropsiquiatra italiano doutor Stanis Previato, que fez um estudo detalhado do comportamento e do estado psíquico do entrevistado, confirmando a veracidade dos estigmas sem que haja uma iniciativa consciente dele. Para o médico, trata-se de caso inexplicável e embaraçador. Um fator extracerebral parece intervir na eclosão dos estigmas. Previato diz que o caso está fora de todo esquema tradicional de análise, fora de qualquer situação análoga. “A crítica mais comum é que seja ideoplastia, situação em que a pessoa somatiza e provoca em seu organismo os estigmas. Em outras palavras, uma patologia psíquica”, explicou.
A PSIQUIATRIA ENTRA EM CENA
Numa análise técnica bem elaborada, o psiquiatra mostrou que a medicina ainda é impotente para explicar cientificamente como um indivíduo sangra duas vezes ou mais por dia, durante anos, permanecendo todo tempo com grande vitalidade e sem o sofrimento que lhe deveria ser característico. Segundo ele, a psiquiatria considera que no evento de ideoplastia os estigmas sejam possíveis. Mas quando se junta ao histórico uma entidade externa produzindo os fenômenos e repetindo-os, assim como estão sendo repetidos ao longo dos anos, e, sobretudo, uma inexistência de infecção e de anemia no estigmatizado —, então tais fatores juntos excluem por completo a causa ideoplástica.
Previato explicou que uma pessoa capaz de produzir em si mesma uma patologia do gênero, teria necessariamente de ter uma potencialidade ideoplástica tão grande que ela não poderia ser enquadrada na categoria dos doentes, pois estaria em grau de reverter em si próprio o fenômeno. Isso seria uma contradição, ou seja, a pessoa teria de ter capacidade de provocar uma patologia em si mesma e de se curar de imediato logo em seguida. Uma pessoa com um poder psíquico de tal monta, obtido de uma filosofia como a de Bongiovanni, mostraria uma capacidade intelectiva superior à média e um poder de concentração incomum para operar os fenômenos físicos. Além da mente, um fator extracerebral parece intervir na eclosão e no controle dos estigmas.