Os enigmas são muitos e estão em todos os cantos da Terra. Fora e dentro deste planeta azul. Acompanham a trajetória humana desde o começo dos tempos. Sugerem que a história deva ser dividida em dois tempos: os conhecidos e os desconhecidos. Falam de civilizações anteriores à nossa. Atiçam a imaginação das pessoas, estimulando-as a refletirem um pouco mais sobre a origem, o destino e a vocação da espécie. Egito, México, China, Índia, Camboja, Peru, Guatemala e Bolívia exibem para embevecimento e perplexidade geral vestígios extraordinários, indecifráveis, insólitos, inexplicáveis de realidades de vida que teriam sido deixadas pra trás, não se sabe bem por quem, nem quando. Falo aqui sobre alguns – poucos – desses enigmas. Informações colhidas na condição de repórter interessado em temas ligados ao chamado realismo fantástico. Resultado de leituras e visitas a lugares marcados por lendas e mistérios, onde a gente costuma se defrontar sempre com mais perguntas a fazer do que com respostas a dar – isso lembra o novelista checo Milan Kundera.
Os questionamentos sem respostas marcam exatamente o limite da capacidade humana para entender o que acontece ao redor. O fabuloso museu do Vaticano é depositário de uma sabedoria que remonta ao fundo dos tempos. Pesquisadores científicos de alta reputação sustentam, com fervorosa convicção, que a liberação para estudos da volumosa documentação ali reunida conduziria os estudiosos a revelações surpreendentes sobre a fascinante aventura humana que, bem provavelmente, concorreriam para alterar de modo fundamental muitos conceitos consolidados da história.
Descobridores do “Brazil” — Na mapoteca do museu, o visitante depara-se em dado momento com uma amostra expressiva – que nos fala mais de perto, aos brasileiros – desses fenômenos instigantes, que se imagina existirem em profusão nos preciosos guardados milenares da instituição. Trata-se de um mapa de aproximadamente 2 m de comprimento por um metro e meio de largura. Este estampa com absoluta nitidez, os contornos litorâneos brasileiros. Tudo muito preciso, a começar do desenho correspondente a essa maravilha ecológica conhecida em nossos tempos pela denominação de arquipélago de Fernando de Noronha. Só que tem uma coisa pra lá de intrigante. O mapa é datado de 1506. Isso mesmo! Teria sido elaborado por ignotos e diligentes cartógrafos seis anos após a chegada das naus de Cabral a Porto Seguro. Mais um dado perturbador. O nome Brazil – com “z” mesmo – é visto na peça. Mas como? Na época – não é o que conta a história? – ninguém, entre os descobridores, cogitava dar à imensa e dadivosa terra incorporada aos domínios portugueses tal denominação. Ao enigma junta-se outra inesperada informação: é extraída de um livro que relata coisas que teriam acontecido em tempos sem registros na história conhecida dos homens. Os fenícios percorreram com assiduidade, há milênios, estas nossas vastidões territoriais. Batizaram-nas com o nome de Brazil. A expressão quer dizer “terra do minério de ferro”, em seu idioma.
Além disso, algo curioso está relacionado aos índios bolivianos aymara. Trata-se do Lago Titicaca que está a 4 mil metros de altitude, aos pés da cadeia montanhosa dos Andes, que não é bem um lago e sim mais uma porção de mar, de grandes proporções, que um colossal deslocamento dos elementos naturais, ocorrido em tempos imemoriais, o inseriu na acidentada geografia andina. A flora e fauna são típicas de água salgada. Pontilhado de ilhotas, o Titicaca abriga vestígios de civilizações desaparecidas. As famosas fortificações incaicas aparecem em diversos lugares. O estilo arquitetônico é o mesmo das centenas de sítios arqueológicos dos altiplanos bolivianos e peruanos. Navios turísticos percorrem o trajeto entre um porto boliviano, próximo a La Paz, e o porto peruano de Copacabana, num período de seis horas. O tempo é razoável para que se possa admirar o cenário soberbo de um recanto do planeta rodeado de muitas lendas e enigmas. Um deles, provavelmente o mais desconcertante, relaciona-se com a denominação dada a esse mar suspenso. No idioma aymara, falado pelos nativos da região, Titicaca é traduzido como “o salto do jaguar”. Pois bem, nos anos 60, satélites norte-americanos colheram a grandes altitudes imagens do misterioso lago. As fotos deixaram os cientistas embasbacados. A configuração do Titicaca é exatamente a de um jaguar saltando. Indagação inevitável: como é que o povo aymara teve acesso a esta revelação tão estonteante? De quais recursos tecnológicos se teriam valido os ancestrais dos índios, hoje espalhados por aquele trecho da região andina, para estabelecer essa conexão entre o desenho geográfico visto do alto, com a realidade de uma cena prosaica de seu cotidiano como caçadores?
Recado de outras civilizações? — O Peru é também um lugar assustadoramente misterioso. E a cidade de Ica, lugar rodeado pelas areias brancas e pedregosas do Deserto de Ocucaje, pode ser apontado como um espanto ainda maior. A região adquiriu notoriedade mundial com descobertas assombrosas que se tornaram conhecidas como “as pedras gravadas de Ica”. A capacidade investigativa e a perseverança à toda prova do professor Javier Cabrera Darques, um peruano de inquebrantável vontade, colocaram a humanidade inteirada de um achado fabuloso. Algo que desafia a argúcia de pesquisadores experimentados e coloca em xeque teorias e teses científicas pacificamente assimiladas no conhecimento consolidado dos homens. Está claro que sobrou para o desassombrado professor uma carga bastante pesada de incompreensões e insultos, como decorrência dos arrojados conceitos que estabeleceu à volta das descobertas. A explicação fornecida para os milhares de seixos gravados [Pequenas pedras arredondadas, facilmente encontráveis no leito dos rios, e que quando bem combinadas, formam pisos muito interessantes], de tamanhos diferenciados, que Cabrera conseguiu resgatar, de datação antiqüíssima, consideravelmente distante dos tempos conhecidos – há quem fale até em milhões de anos –, é estonteante.
Habitamos uma ilhota perdida num oceano infinito de inexplicabilidades
– Aldous Huxley
Tudo aquilo nada mais representaria senão uma espécie de documentação deixada por uma civilização tecnologicamente avançada, que pretendeu passar para os pósteros a essência de suas experiências de vida. As pedras estampam cenas de cunho científico, realizações inteligentes produzidas por seres que dominavam saberes incomuns nas áreas da astronomia, astronáutica e medicina. Falam das relações desses seres com o meio ambiente, com a terra que povoavam, sua fauna e flora. Divididas em séries ou capítulos, as pedras gravadas são vistas em dois museus. Um pertencente
ao Governo peruano e outro, mais bem provido de peças, organizado pelo próprio Cabrera. Ao contemplarem os incríveis registros, as pessoas ficam deslumbradas, comovidas e perplexas. As revelações mexem com a cabeça. Revolvem conceitos solidamente enraizados na mente coletiva. Por mais inacreditável que possa parecer, entre as informações assombrosas transmitidas nos seixos, existem descrições pormenorizadas a respeito de transplantes de órgãos, o código genético e as espaçonaves que aqueles seres utilizariam em suas viagens pelo campo azul infinito do céu. Como é que ficamos diante desse recado fabuloso deixado por uma civilização que tomou rumo ignorado, após sua passagem por este nosso planeta azul? Um dos “capítulos” dos achados em Ica alude a uma viagem cósmica de colossais proporções.
Esses seres, à maneira de um êxodo, provocado talvez pela proximidade de um grande cataclismo, anunciam sua partida rumo a um ponto da Constelação das Plêiades [Aglomerado aberto de estrelas localizado na Constelação de Touro]. Visto do alto, da cabine do bimotor utilizado nos sobrevôos turísticos, o imponente Candelabro dos Andes, incrustado na parte superior do imenso paredão da Baía de Paracas, é uma sinalização muito bem feita com o claro intuito de chamar a atenção de supostos “viajantes do espaço”. Bem próximo dali, com seus incríveis bordejos pontilhados, espalhados por aproximadamente 500 km dos pampas desérticos, emitindo o mesmo tipo de sinalização voltada para os céus, ficam as não menos famosas linhas geométricas de Nazca. Ninguém que passe pela experiência do sobrevôo, ou mesmo se contente em utilizar, para a contemplação das pistas, os postos de observação existentes no gigantesco sítio arqueológico, consegue conter a emoção que tudo aquilo provoca. O estado habitual dos espectadores, diante do espetáculo soberbo alcançado pelo olhar, é de puro êxtase. Afinal de contas, o que pretenderam os geniais construtores das pistas de Nazca e do Tridente dos Andes [Gigantesco monumento confeccionado ao que parece para servir de marco sinalizador para máquinas voadoras na Antigüidade, que aponta diretamente para o Planalto de Nazca e está situado na Baía de Pisco, Peru], com essa colossal tapeçaria de pedras, de sinalização copiosa voltada exclusivamente para o alto? O ciclópico empreendimento de milênios foi realizado como? Para quê? Por quem? A idéia de que representou algo equivalente a um Cabo Canaveral da Antigüidade faz sentido para muitos.
Essa hipótese conduz a especulações infindáveis a respeito da existência, repelida com veemência pelos círculos acadêmicos, de uma astronáutica terrena – ou extraterrena, sabe-se lá –, anterior à tecnologia de nossos tempos. Mais uma ocorrência desnorteante envolta em brumas milenares de esquecimento. As gigantescas figuras estilizadas de pássaros, plantas, seres com supostas roupagens de astronauta para alguns, ou com aparência de “deuses” para outros, assim como as estranhas linhas lembrando pistas de aterrissagem encravadas no solo de areias lunares e rochas oxidadas da região de Nazca, no sul peruano, emitem sinais desconcertantes. Além disso, levantam indagações sem conta. Muitos cientistas, como é o caso notório da célebre arqueóloga francesa Maria Reiche, já falecida, com quem tive um agradável papo há mais de 20 anos, na primeira visita que fiz aos sítios arqueológicos do Peru, procuram oferecer respostas convincentes às perguntas. O que não é nada fácil. A resposta definitiva às questões propostas pelo mistério de Nazca ainda está para ser dada. Se é que isso vai acontecer algum dia.
Figuras rupestres de Montalvânia — Antônio Montalvão foi um obstinado. Não esmoreceu enquanto vivo. Homem de idéias arejadas, no esforço de colocar Montalvânia no mapa dos sítios arqueológicos. Situada no norte de Minas Gerais, tal localidade oferece aos estudiosos de fenômenos insólitos um cenário precioso. Um conjunto de cavernas com deslumbrantes figurações rupestres. O sítio vem sendo objeto de atenções por parte de grupos arqueológicos conceituados. Quem conhece as maravilhas registradas nas paredes das cavernas parte logo para comparar Montalvânia em grandiosidade como centro de pesquisas, como a Val Delmonica, na Itália, Tassili, na África, e Lascaux, na França. Só que ao contrário desses outros centros, a cidade continua interditada aos olhares do público. Não dispõe de infra-estrutura de serviços para comportar fluxos turísticos. Produzi para a televisão, há tempos, uma série de reportagens sobre a região. Ouvi depoimentos de parentes de Montalvão. Exibi um filme com imagens captadas pelo economista e jornalista Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, que foi secretário de Estado e presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. Ele participava da convivência de Montalvão e conhecia muita coisa de suas arrojadas ações e idéias.
Boa parte das imagens, a exemplo também do que pode ser intuído de algumas cenas vistas em Lagoa Santa (MG), suscita interrogações singulares sobre o tipo de evento e que mensagem os “artistas das cavernas” pretenderam realmente registrar. Mentes imaginosas não encontram dificuldades maiores em encaixar os registros na linha das interpretações e especulações propostas por autores como Erick von Däniken, J. J. Benitez, Guy Tarade, entre outros. O que é apontado como “deus” cultuado por uma civilização primitiva é interpretado, logo adiante, como a visão de um astronauta com todos seus apetrechos. Assim sucessivamente. As gravuras são antiqüíssimas. O museu antropológico de Tiahuanaco, no altiplano boliviano, próximo ao Titicaca, a uns 30 km da capital La Paz, é também uma das maravilhas arqueológicas deste nosso planeta. Menos procurado do que outros sítios arqueológicos famosos localizados nos Andes, como Machu Picchu e todo o conjunto fabuloso de fortificações existentes nas imediações de Cusco, no Peru, como Sacsayuaman, Pisac, Ollantaytambo, oferece grandiosidade equivalente a todos eles.
Fenômenos transcendentes — Alguns pesquisadores s
ustentam que Tiahuanaco pertence a uma época que antecede em muito aos outros monumentos megalíticos localizados nos territórios boliviano e peruano. Já li e ouvi, até mesmo, que as monumentais edificações do lugar teriam surgido antes das pirâmides do Egito e do México. A célebre Porta do Sol, focalizada em numerosas obras dedicadas à arqueologia e aos estudos de fenômenos transcendentes, é uma das representações arquitetônicas impactantes do lugar. Das escavações procedidas no sítio emergiu uma cidadela de linhas impressionantes, menos conhecida na divulgação dos achados. Com a dimensão de um quarteirão urbano bem amplo, a pequena localidade constituída de pátios espaçosos é rodeada de colunatas que trazem na parte externa, esculpidas na rocha, incontáveis efígies com características anatômicas humanas.
Entre uma e outra há sempre uma diferenciação morfológica. Um rosto mais achatado ali, um nariz mais pontiagudo aqui, uma orelha abanada adiante, um terceiro olho na testa noutro desenho, tudo trabalhado com requinte artístico. Na interpretação de alguns arqueólogos, essas efígies representam uma manifestação de cultos de povos primitivos aos seus deuses. Já as lendas aymara e quéchua [Relativas ao Império Inca] falam de coisas diferentes. A cidadela seria uma espécie de museu antropológico. As imagens esculpidas retratariam seres representativos das várias civilizações que, em tempos recuados da história, povoaram aquelas bandas misteriosas nosso planeta. Tem mais: os monumentos de Tiahuanaco pertencem, para alguns, a um momento arquitetônico diverso dos outros monumentos da região dos Andes, apontados como fruto do engenho e arte da decantada Civilização Inca.