De tempos em tempos, a Ufologia se depara com aumentos repentinos no número de ocorrências em uma determinada região e por um determinado período, que pode variar entre semanas ou meses. Enquanto algumas dessas ondas se limitam a um bairro ou distrito de uma cidade, outras abrangem países inteiros, colocando as autoridades em alerta. Tal como surgem, elas se encerram deixando vários questionamentos sobre sua intenção e autoria. Foi exatamente isso que ocorreu no Brasil, em 1986, quando milhares de pessoas observaram UFOs pairando estáticos nos céus ou se deslocando em altíssimas velocidades e sendo perseguidos — e perseguindo — caças da Força Aérea Brasileira (FAB), despertando o fascínio e a curiosidade da população.
Hoje, 30 anos depois dos acontecimentos, é possível reconstituir a evolução dos casos da onda ufológica de 1986 utilizando como base os documentos antes secretos e já liberados pela Força Aérea, além de arquivos de grupos de pesquisa ufológica e de notícias dos jornais da época, o que permite ter uma ideia mais precisa da magnitude e importância dos fatos. Da mesma forma, é possível identificar padrões de manifestação nas várias centenas de casos ocorridos naquele período. Sabe-se, por exemplo, que aproximadamente 91% dos casos ocorreram à noite e envolveram, em sua maioria, artefatos descritos como circulares, esféricos, discoides e, mais raramente, de formato cilíndrico. Aproximadamente 18% dos casos registrados no período de março a junho envolveram avistamentos acompanhados por confirmações dos objetos nos radares.
Mapeando as ocorrências
Nos arquivos da Força Aérea, por exemplo, existe um documento contendo o resumo estatístico de casos coletados pela Arma entre o ano de 1954 e o ano de 2010. Nele, é possível observar a evolução dos avistamentos ao longo dos anos, bem como identificar os locais de incidência do fenômeno em Território Brasileiro. Para a década de 80, exceto o ano de 1986, a média é de uma ocorrência a cada dois meses, lembrando que estamos levando em conta apenas os casos registrados oficialmente pela FAB. No mesmo relatório observa-se um caso no fim do mês de abril, 16 casos no mês de maio e quatro casos no mês de junho. Arquivos de pesquisadores independentes e de grupos civis de pesquisa ufológica confirmam o aumento repentino de ocorrências já no mês de março e a variação nos meses seguintes. A partir da compilação dos casos, em conjunto com todas as bases de dados, observamos que 64% dos avistamentos ocorreram no mês de maio, enquanto 24% no mês de junho.
Tudo parece ter começado na noite de 17 de março de 1986, com avistamentos em Florianópolis, Santa Catarina, e na cidade do Rio de Janeiro. Em ambos os locais foram observados UFOs luminosos multicoloridos vindos do mar para o continente. Na noite seguinte, 18 de março, dois astrônomos do observatório de Brasópolis, em Minas Gerais, Rodrigo Campos e René Laporte, fotografaram um UFO enquanto faziam observações do cometa Halley com o auxílio de um telescópio — tal fato chegou a ser divulgado em algumas revistas, para a contrariedade dos autores. Embora os avistamentos não tenham despertado a atenção da opinião pública e nem da Força Aérea, novos casos aconteceram ainda naquele mês, nos estados de Rio de Janeiro e de São Paulo. A maioria das ocorrências do período não foi publicada pela imprensa, ficando restritas aos arquivos dos grupos de pesquisa. Mas os casos continuaram no mês de abril, com as mesmas características e manifestação.
No Rio de Janeiro, ao longo de todo o mês, houve avistamentos. A cidade de São José dos Campos, no interior paulista, também foi sobrevoada por UFOs que foram testemunhados por várias pessoas. Na noite de 30 de abril foi a vez de Brasília, que viu vários UFOs surgirem nas telas dos radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), chamando a atenção dos militares da Força Aérea, que relataram a ocorrência. Os vários plotes — como são conhecidos os objetos detectados por radar, também chamados de alvos — apresentavam velocidade mais ou menos constante, mas com variação brusca de direção. Toda a movimentação na tela dos radares foi registrada em vídeo pela Força Aérea, que, infelizmente, até o momento não disponibilizou tais gravações para o público.
No mês seguinte, a onda ufológica intensificou-se e teve seu ápice na noite de 19 de maio de 1986, em um evento que ficou conhecido como Noite Oficial dos UFOs no Brasil, quando 21 objetos foram avistados, captados por radares e perseguidos por caças da FAB, assunto sobre o qual comentaremos com mais detalhes adiante. As primeiras manifestações ocorreram em 04 de maio, quando vários UFOs luminosos e multicoloridos foram observados sobre Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Dias depois, em 12 de maio, outro objeto intensamente luminoso, de coloração branca e avermelhada, foi observado a cerca de 7 km de distância da Base Aérea de Anápolis, em Goiás — a ocorrência foi testemunhada por pilotos e controladores da base. Nos dias seguintes houve novos avistamentos no Rio de Janeiro, o que colocou o município como sendo a principal área de incidência do fenômeno naquele período.
A Noite Oficial dos UFOs
Tudo parecia calmo no final da tarde de 19 de maio de 1986 na torre de controle do Aeroporto de São José dos Campos. O dia que terminava se parecia com qualquer outro até que, por volta das 18h30, o operador e sargento Sérgio Mota da Silva avistou estranhas luzes sobre a região. A princípio, uma delas se posicionou sobre a cidade, enquanto as duas outras permaneceram alinhadas próximo ao marcador externo da pista 15 do aeroporto [Marcador externo é uma ferramenta auxiliar para pouso por instrumentos, cuja antena situa-se a aproximadamente 8 km da cabeceira da pista].
Observados pelo binóculo, aqueles artefatos luminosos apresentavam bordas definidas, com intensas cintilações multicoloridas na parte inferior. Cumprindo com os procedimentos habituais de sua função, o controlador entrou em contato, via telefone, com colegas de profissão nas cidades de Brasília e São Paulo, que também confirmaram a presença dos objetos nas telas de seus radares. Toda a comunicação foi registrada em áudios que atualmente estão disponíveis no site do Arquivo Nacional, para consulta p&u
acute;blica.
Observados pelo binóculo, aqueles artefatos luminosos apresentavam bordas definidas, com intensas cintilações multicoloridas na parte inferior. Cumprindo com os procedimentos, o controlador entrou em contato com colegas de Brasília e São Paulo
Diz um trecho transcrito das comunicações: “Às 21:30 Z (18h30) observei um foco de luz sobre a cidade no setor NW do aeródromo e dois outros focos próximos ao marcador externo. Eles aparentavam ser do tamanho da cabeça de um palito de fósforo, predominando a cor vermelha, mas houve mudanças para amarelo, verde e alaranjado. Estavam parados. A observação foi feita com binóculo e a olho nu. O céu apresentava-se claro com 2/8 de cirrus e a N/NE existia uma camada de névoa à baixa altura”. O texto foi assinado pelo sargento Silva.
Por volta das 19h00, o Centro de Controle de Aproximação de São Paulo (APP-SP), órgão que controla e orienta as aeronaves dentro da área do terminal aeroportuário até o momento do pouso, e o Centro de Controle de Área (ACC), organismo que monitora as aeronaves em voo nas aerovias sob sua responsabilidade, também registraram, por meio de radar, três UFOs sobre a região de São José dos Campos — naquele mesmo horário, outro avistamento ocorria na cidade do Rio de Janeiro, onde a estilista Sonia Grumbach, à época residente em um apartamento na Barra da Tijuca, observou durante 15 minutos um objeto voador luminoso que se deslocava aos saltos e em grande velocidade sobre a cidade. Enquanto isso, os UFOs em São José dos Campos continuam pairando estáticos sobre a região, até que por volta das 19h40 surgiram mais dois objetos que se posicionaram acima dos primeiros, alinhados com o eixo da pista do aeroporto da cidade — naquele momento, os radares do Cindacta captavam aproximadamente oito alvos não identificados em suas telas.
Por volta das 20h15, o Centro de Controle de Área de Brasília (ACC-BS) informou ao Centro de Operações Militares (COpM) que o operador da torre de controle de São José dos Campos (TWR-SJ) havia avistado luzes se deslocando sobre a cidade. Mais ou menos no tal momento, o operador de São José dos Campos, o mesmo sargento Silva, estava ao telefone com operadores do APP-SP quando um UFO luminoso se aproximou do aeroporto emitindo um brilho intenso de cor avermelhada, e em seguida se afastou em direção à Serra do Mar. O operador do APP-SP confirmou ao sargento que o radar registrara a passagem do artefato que o militar avistava. Nas gravações em áudio sobre a Noite Oficial, recém-disponibilizadas no site do Arquivo Nacional, é possível acompanhar esse episódio e constatar o impacto emocional da testemunha no momento em que observou a aproximação.
Acima de qualquer suspeita
Alguns minutos mais tarde, por volta das 21h00, um avião Xingu, prefixo PT-MBZ, aproximava-se para pouso na cidade de São José dos Campos. A bordo da aeronave estava ninguém menos que o coronel Ozires Silva, que naquela ocasião deixava a presidência da Embraer para assumir a presidência da Petrobrás. Quando passavam próximo à cidade de Poços de Caldas, sul de Minas Gerais, a 6.600 m de altitude, os ocupantes da aeronave foram surpreendidos por um chamado do Cindacta I perguntando sobre possíveis contatos visuais com três alvos não identificados que apareciam nas telas de radar do Centro, em Brasília — naquele momento, Ozires Silva e seu piloto, Acir Pereira, não avistavam nada de anormal nos céus da região e por isso continuaram normalmente seu voo.
Às 21h08, ambos observaram um objeto luminoso estacionário, que de início se parecia com um astro normal, porém com uma forte luz amarelada tendendo para o vermelho, que aparentemente estava parado exatamente onde os radares indicavam. Intrigados com o avistamento, os pilotos foram autorizados e orientados a seguirem em direção ao objeto na tentativa de identificá-lo. Contudo, não houve uma aproximação visual efetiva em relação ao UFO porque com o tempo o objeto esvaneceu até desaparecer. Com o desaparecimento do aparelho, os pilotos seguiram em direção a outro UFO avistado e captado por radares, este ao sul da cidade de Taubaté, também no interior paulista. Ao se aproximarem da região, os pilotos observaram pontos de luz de cor avermelhada, inicialmente pairando a 600 m de altura. Com a aproximação do avião em que estava o coronel Ozires Silva, as luzes do UFO começaram a piscar continuamente e a mudar repentinamente de posição.
“Na altura de 600 m, vimos pontos luminosos de cor laranja-avermelhado com brilho muito intenso. Tentamos nos aproximar das luzes, mas desistimos. Elas apagavam e acendiam em lugares diferentes a cada 10 a 15 segundos. Observamos variações muito rápidas de velocidade. As luzes tinham presenças reais, eram alvos primários no radar, alvos positivos, uma coisa concreta. Se não fossem detectados pelos instrumentos, eu não teria falado nada. Está registrado em fitas pelo radar”, declarou o coronel.
Mais avistamentos e registros
Após o desaparecimento definitivo das luzes, Ozires Silva e seu piloto observaram um objeto muito brilhante rumando na direção de Mogi das Cruzes, igualmente no estado de São Paulo, e decidiram tentar uma aproximação. Passados alguns minutos de voo, o objeto desapareceu e não foi mais visto. Tanto o avião em que estava o coronel quanto o UFO foram captados por radares do Cindacta, em Brasília, e pelo APP-SP, que monitoravam todas as tentativas de aproximação. Às 21h11, ou seja, três minutos após o primeiro avistamento feito pelos tripulantes do Xingu, foram iniciadas gravações em vídeo do radar da estação da FAB em São Roque. Às 21h30, se iniciam as gravações em vídeo dos radares da estação do Couto — até o momento, nenhuma dessas gravações foi disponibilizada pela Força Aérea, o que é ruim, pois poderiam acrescentar detalhes e esclarecer alguns aspectos importantes do caso. Mas, com a continuidade dos registros nas telas dos radares de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Goiás, as comunicações se intensificaram e às 21h23 o Centro de Operações de Defesa Aérea (CODA) foi acionado. Por volta das 21h36, o avião Xingu de Ozires Silva avisava ao controle de São José dos Campos que objetos luminosos estavam cruzando à frente de sua aeronave, criando riscos à manobra de pouso. Às 21h39, o major Ney Antunes Cerqueira, chefe do CODA, determinou o acionamento de uma aeronave de alerta da Base A&e
acute;rea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
Em Anápolis, vários UFOs foram captados pelos radares daquela base aérea. Pouco depois, outro voo comercial que fazia a rota entre Brasília e Salvador foi acompanhado por um objeto voador luminoso, que também foi registrado pelos instrumentos
Mais ou menos no mesmo instante, um novo e surpreendente avistamento ocorreu em São José dos Campos — um objeto esférico de grandes dimensões e cor amarelada, acompanhado por outros menores, também esféricos e com coloração branca, foram observados. Poucos minutos depois, um artefato semelhante aproximou-se e posicionou-se próximo aos demais. O de tamanho maior permaneceu no centro. Logo depois, o operador de radar da Base Aérea de Anápolis, sargento José Márcio, registrou a presença de outro UFO deslocando-se à baixa velocidade a oeste da cidade. Em virtude desse registro, efetuou-se o primeiro alerta naquela base, precisamente às 22h11. Nos minutos seguintes, a tensão e o alerta nos órgãos de Defesa Aérea elevaram-se. Foram emitidas ordens para as bases de Anápolis e Santa Cruz para prepararem novos caças, que poderiam ser usados a qualquer momento. Também foi acionada a tripulação de uma aeronave KC-130, preparada para reabastecer os caças em voo, caso houvesse necessidade.
O primeiro caça, um F5-E, com nome-código JB17, prefixo FAB 4848, decolou da Base Aérea de Santa Cruz às 22h27 pilotado pelo então tenente-aviador Kleber Marinho, sendo guiado pelo controlador de voo até a região de São José dos Campos — por orientação do funcionário, o piloto desligou os equipamentos de bordo, como radar e luzes de navegação, deixando apenas o rádio ligado. A seguir, o piloto iniciou buscas visuais no local indicado pelos radares em solo. Após algumas manobras próximas ao aeroporto da cidade e sobre a fábrica da Embraer, ele avistou uma luz muito forte que se deslocava da direita para a esquerda, em direção ao litoral de São Paulo. E indagou ao controle sobre a presença de aeronaves na região, sendo informado de que não havia tráfego naquele momento. O piloto, então, iniciou uma aproximação em velocidade supersônica e pôde estimar a altitude do UFO em exatos 5.186,6 m.
Os caças perseguem os UFOs
Marinho ligou o radar de bordo, que registrou um objeto sólido a uma distância estimada entre 15 e 22 km — ele se apresentava como um plote de aproximadamente 1 cm na tela do radar de bordo, o que significa que deveria ter o tamanho aproximado de um Boeing 747. Quando estava a 9,6 km de distância, o UFO parou seu deslocamento e começou a subir, sendo acompanhado pelo caça F5-E, que o seguiu até 9.000 m de altitude, quando então abandonou a perseguição — o alvo continuou subindo até sair do alcance do radar do caça.
Durante a tentativa de interceptação, dois instrumentos de bordo apresentaram problemas. O primeiro deles, o equipamento de radiogoniometria chamado localizador automático de direção [Automatic direction finder, ou ADF] — que indica a direção da estação de rádio do aeroporto ou base aérea em uso — deixou de funcionar e não mostrava uma direção precisa ao piloto. O outro equipamento, instrumento de medida de distância [Distance measuring equipments, ou DME] — que mede distância, altura e direção em relação a um destino ou estação — também falhou. Os dois instrumentos voltaram a funcionar quando o piloto abandonou a perseguição. Porém, ao manobrar seu caça para retornar à Base Aérea de Santa Cruz, ambos os dispositivos voltaram a falhar. Apesar disso, o tenente Marinho conseguiu retornar à base, na qual chegou às 23h37.
Às 22h45, novos plotes de origem desconhecida surgiram nas telas dos radares de Anápolis, no mesmo instante em que um Mirage F-103 decolava da base. Esse caça, de nome-código JG116, prefixo FAB 4913, era pilotado pelo capitão Armindo Sousa Viriato de Freitas. Logo após a decolagem, o piloto foi orientado pelo controle de Anápolis, que o guiou até os alvos registrados no radar. Ao todo, Freitas realizou cinco interceptações sem qualquer contato visual, contando apenas com registro no radar de bordo e o auxílio do controlador de voo monitorando tudo a partir dos radares da base. Curiosamente, em uma clara demonstração de inteligência, a cada nova aproximação do caça, o UFO afastava-se em movimentos de ziguezague, posicionando-se em outro local.
Na maior parte do tempo, a distância entre caça e UFO manteve-se mais ou menos constante, com pequenas variações para maior ou menor. Em dado momento, o piloto conseguiu chegar a 3,2 km de distância de um dos objetos, embora não tenha tido qualquer contato visual. Um fato impressionante durante a abordagem foi a velocidade obtida pelo artefato, que acelerou bruscamente distanciando-se do caça, até que houvesse perda de seu sinal no radar. Em 1993, o capitão Freitas concedeu uma entrevista ao programa Globo Repórter, da Rede Globo, em que declarou que tal aceleração seria estimada em Mach 15, ou seja, 15 vezes a velocidade do som — algo impossível para a época e ainda hoje não oficialmente atingido, mesmo em protótipos de aeronaves mais avançadas. Após aquela estupenda aceleração e consequente perda de registro no radar, houve novas detecções, todas de curta duração.
Cinco alvos desconhecidos
Poucos minutos após a decolagem do capitão Freitas, outro caça F5-E, de nome-código JB07, prefixo FAB 4849, decolou da Base Aérea de Santa Cruz tendo a bordo o capitão Márcio Brizola Jordão. Após a decolagem, o controlador de voo instruiu o piloto a voar em direção à região onde os UFOs estavam sendo observados — os radares em terra indicavam a presença de cinco alvos desconhecidos. Os objetos aproximavam-se na posição 12 horas, ou seja, diretamente à frente do caça, e que estavam naquele momento a 32 km de distância. Embora o céu estivesse completamente limpo na hora, não houve qualquer contato visual por parte de Jordão.
te;rio de Ocorrências, de 02 de junho de 1986, no qual se vê em detalhes o que aconteceu durante a perseguição que caças da Aeronáutica fizeram sobre a Região Sudeste
Repentinamente, os alvos, que estavam a 22 km de distância e bem à frente do caça, se posicionaram a 3,7 km de distância e atrás do mesmo — segundo o radar, naquele momento, havia 13 UFOs realizando um voo em formação de esquadrilha com a aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). Uma clara demonstração de inteligência, pois seis objetos se posicionaram de um lado, enquanto sete se posicionaram de outro, voando em ala na mesma velocidade do caça. O piloto manobrou a aeronave a fim de visualizar tais artefatos, mas sem sucesso, pois em nenhum momento ele conseguiu ter qualquer contato visual. Ele continuou em sua missão por mais algum tempo, até que finalmente observou, sobre o mar, um objeto luminoso avermelhado e estático posicionado na linha do horizonte. Após informar ao controle, que confirmou a presença do UFO no radar, Jordão tentou aproximar-se, mas sem sucesso. Durante essa perseguição, o radar de bordo do caça apresentou anomalias por alguns poucos minutos.
Mais avistamentos
Durante aquela noite, muitos moradores dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás testemunharam a manifestação de UFOs e muitos deles viram ou ouviram o som dos caças em perseguição. Às 23h10, o doutor Silvio Giglio observou, durante 20 minutos, uma formação de luzes esféricas e multicoloridas deslocando-se sobre a região do bairro da Penha, no Rio. “Os pontos vermelhos e amarelos faziam trajetórias em movimento de ziguezague, sendo que os vermelhos às vezes se tornavam alaranjados. Os demais, verdes e azuis, mantinham trajetória em formação constante, atrás das amarelas e vermelhas, que se mexiam confundindo a minha visão no sentido de quantas realmente eram. Observei que as verdes e principalmente as azuis às vezes se tornavam prateadas, mas com luminosidade bem fraca”, declarou Giglio. Outra testemunha foi André Moura, que pôde observar um objeto luminoso que pairava estático sobre o litoral carioca. Repentinamente, um caça da Força Aérea tentou se aproximar do aparelho, que acelerou, afastando-se rapidamente da aeronave.
Às 23h17, outro caça Mirage F-103 foi acionado para tentar interceptar os estranhos objetos. O piloto, o capitão aviador Rodolfo da Silva Sousa, foi guiado até o alvo em constante comunicação com os controladores do COpM e permaneceu no ar por aproximadamente 45 minutos, não tendo qualquer registro no radar de bordo ou contato visual. Um último caça Mirage F-103 decolou às 23h36 da Base Aérea de Anápolis. O piloto, Júlio Cesar Rosemberg também não avistou ou captou qualquer artefato anômalo.
Às 23h37, o primeiro caça F5-E a decolar pousou na Base Aérea de Santa Cruz. O último caça pousou a 00h30 do dia 20 de maio — apesar do retorno das aeronaves, os UFOs continuaram sobrevoando vários estados brasileiros, sendo captados por radares e avistados por muitas pessoas em regiões diversas. Uma das testemunhas foi o compositor José Dantas, que na ocasião voltava de seu escritório em Taguatinga, no Distrito Federal. Ele dirigia sua Kombi quando avistou um objeto luminoso de cor amarela e em formato de cogumelo sobrevoando morros que circundam a região. O artefato não fazia barulho, emitindo apenas “uma luz muito linda e parecia pousar na terra”.
UFOs tomam os céus do Brasil
A tripulação de um avião cargueiro da extinta Viação Aérea Rio Grandense (Varig), que voava entre São Paulo e Rio de Janeiro, recebeu, por volta das 03h00, uma solicitação do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I) perguntando se a aeronave tinha contato visual com algum objeto anômalo sobre a região — espantados com o pedido, piloto e copiloto passaram a olhar o céu com atenção e logo avistaram um artefato luminoso, que acompanhou seu avião durante algum tempo. O alvo desapareceu em uma velocidade estimada pelo piloto em Mach 5, ou seja, cinco vezes a velocidade do som. Em Minas Gerais, o voo 241 da Brasil Central Linhas Aéreas, que à época se chamava Votec, decolou de Belo Horizonte para Uberlândia e também esteve às voltas com os tais objetos. Os tripulantes e 27 passageiros observaram um UFO intensamente luminoso e de forma arredondada, com cores vermelha, verde e branca, acompanhando o avião nas proximidades da cidade de Araxá, interior mineiro.
Nos dias seguintes e até o final do mês de maio ocorreram avistamentos diários de norte a sul do país, todos monitorados pela Força Aérea Brasileira (FAB). No começo da noite de 21 de maio ocorreram avistamentos quase simultâneos em vários estados do país. Centenas de pessoas observaram dois UFOs de formato cilíndrico em Fortaleza e em Teresina. Outros avistamentos ocorreram em Santo André e Ipaussu, em São Paulo, em Blumenau, em Santa Catarina, em Tabuleiro e Rio Preto, em Minas Gerais, na cidade do Rio de Janeiro e em Maringá, no Paraná — na cidade paranaense, várias pessoas observaram um objeto voador luminoso deslocando-se em alta velocidade com movimentos em ziguezague. Horas mais tarde, passageiros e tripulantes de um voo da Transbrasil que ia de Brasília para São Paulo observaram um UFO luminoso que acompanhou a aeronave por 15 minutos. Entre as testemunhas estava o então superintendente da Polícia Federal, delegado Romeu Tuma.
Os objetos voadores não identificados interagiram com os caças respondendo às manobras de nossas aeronaves e em alguns casos voando à mesma altitude e velocidade que os aviões, a menos de 50 m de distância e sem serem percebidos pelo piloto
No dia seguinte, 22 de maio, ocorreram novos avistamentos na região de Blumenau, Tabuleiro, Rio Preto, São José dos Campos e Maringá, onde um UFO foi filmado por uma equipe de reportagem local. Em Anápolis, vários UFOs foram captados pelos radares da base aérea. Pouco depois, outro voo comercial que fazia a rota entre Brasília e Salvador foi acompanhado por um objeto voador luminoso, que também foi registrado pelos radares. Em 23 de maio ocorreu um novo avistamento em Tabuleiro, onde pela terceira noite consecutiva foi observado um artefato voador em forma de bacia, com numerosas luzes em sua fuselagem, sobrevoando à baixa altura a zona rural do município. Outras cidades, no Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina também foram palco de manifestações ufológicas que se estenderam até o dia seguinte.
Em meio a essa onda de avistamentos, ocorreu uma nova abdução do vigia Antônio Carlos Ferreira, na cidade de Mirassol, oeste de São Paulo. Na noite de terça-feira, 27 de maio, cerca de 150 pessoas, metade da população do bairro rural Boa Pastora, em Londrina, observaram objetos luminosos por aproximadamente meia hora. Uma das testemunhas ligou os faróis de um trator e direcionou-os aos objetos, que imediatament
e apagaram suas luzes. Assim que a testemunha desligou os faróis, os objetos luminosos voltaram a manobrar sobre a região.
Ainda em 27 de maio, uma aeronave comercial operando o voo TF 402, que decolou do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para Varginha, em Minas Gerais, deparou-se com um objeto intensamente luminoso quando se encontrava nas proximidades de Bragança. O artefato foi captado por radares, juntamente com a aeronave, e se deslocava a 1.500 km/h. Pouco depois, o voo 256 da Varig, que ia do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, para o de Confins, em Belo Horizonte, deparou-se com o mesmo aparelho na região de Bragança — o UFO, que emitia luz nas cores verde, vermelho e amarelo, acompanhou a aeronave até o seu destino. Embora os radares de Brasília e de Belo Horizonte não tenham captado a presença do artefato junto à aeronave, ele foi confirmado visualmente pelo operador da torre, sargento Marco Aurélio.
Em 29 de maio, objetos voadores luminosos foram vistos às 19h20 em Brasília, às 21h10 em São José dos Campos, às 22h30 em São Paulo e às 00h15 em Florianópolis. O caso ocorrido em São Paulo envolveu uma equipe de reportagem que gravava um comercial no alto do prédio do antigo Banco do Estado de São Paulo (Banespa), na Avenida São João, centro da cidade. A equipe observou e filmou um alvo multicolorido que ficou parado sobre a região da Serra da Mantiqueira, nas proximidades da cidade de São Paulo — o artefato também foi captado por radares da Força Aérea. Já no mês de junho houve uma diminuição de casos, mas ainda assim os avistamentos surgiram com uma frequência muito superior à média. Em 05 daquele mês, um UFO intensamente luminoso foi observado sobre o Rio Guajará, sendo testemunhado por dezenas de pessoas em Belém e fotografado por uma equipe do jornal O Liberal, daquela cidade.
Em Curitiba também houve avistamentos por vários dias seguidos. Em 05 de junho, vários objetos foram observados sobre a cidade e captados pelos radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), local que chegou a acionar o CODA. Em 06 de junho, um UFO de pequeno porte e coloração escura aproximou-se de um automóvel que trafegava em uma importante via da cidade. O objeto posicionou-se a poucos metros do veículo, que já chegava ao seu destino. Em seguida, o UFO permaneceu pairando estático sobre um terreno baldio por alguns minutos desaparecendo em seguida, em altíssima velocidade, em direção à Serra do Mar.
Outro caso interessante ocorrido no mês de junho envolveu uma aeronave comercial que seguia de Campinas para Vitória e que se deparou com dois objetos luminosos de cor avermelhada, na noite de 12 de junho. Os objetos posicionaram-se um de cada lado do avião e voaram em formação durante alguns minutos — naquela mesma noite, dois caças Mirage F-103 da Base Aérea de Anápolis foram enviados para interceptar um aparelho voador luminoso que foi avistado e captado pelos radares. Horas depois, mais dois UFOs luminosos foram observados em São José dos Campos.
Na noite de 14 de junho, um UFO foi observado em São Paulo, pouco antes da abdução das primas Bete Rodrigues e Débora, caso clássico da Ufologia Brasileira. Por fim, em 24 de junho, um alvo desconhecido apareceu na tela de radar da Base Aérea de Anápolis ao mesmo tempo em que um UFO foi avistado por um piloto de caça em missão nas proximidades da área militar — o caça acelerou a Mach 1.2 em perseguição ao objeto, que rapidamente sumiu da tela do radar do avião. A aceleração do artefato foi tão intensa que a distância entre aeronave e caça passou de 13 km para 32 km em apenas cinco segundos.
Inquérito da Força Aérea
Ainda na noite de 19 para 20 de maio de 1986, após o retorno dos caças, houve uma reunião com os pilotos e militares envolvidos para apuração dos fatos. Da mesma forma, as gravações das comunicações e os vídeos das telas dos radares foram exaustivamente analisados nos dias seguintes. Ainda durante a análise das evidências, os fatos foram confirmados em uma entrevista coletiva de imprensa com a presença do próprio ministro da Aeronáutica Octávio Julio Moreira Lima e dos pilotos e controladores envolvidos. Na ocasião, foi prometido um relatório oficial sobre o caso, a ser publicado em 30 dias, mas que só veio a público décadas depois por pressão dos ufólogos da campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já”, deflagrada pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) por meio da Revista UFO.
Curiosamente, naquele período, vários militares com formação técnica da Força Aérea e mesmo do Exército receberam ordens para deslocamento imediato para Brasília. Muitos daqueles militares eram professores atuantes no Instituto Militar de Engenharia (IME) e no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Quando os alunos começaram a questionar a ausência de seus professores, lhes disseram que eles haviam se afastado por motivo de doença. Com a continuidade dos questionamentos, foi dito aos alunos que os professores estavam ausentes por motivos pessoais. Para alguns, foi dito que estavam em missão “classificada”, o que quer dizer secreta no meio militar. Segundo outros, a missão era a análise dos fatos, das gravações e dos depoimentos registrados pelos militares.
As análises dos oficiais constataram que pelo menos 21 UFOs foram captados pelos radares. Na noite de maior tráfego, os objetos se deslocaram comprovadamente sobre o espaço aéreo do Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A velocidade máxima dos UFOs não pôde ser medida com precisão, embora pudesse ser estimada. Comparando os depoimentos dos pilotos com os registros em radares, constatou-se que eles simplesmente sumiam da tela no exato momento em que aceleravam, afastando-se em altíssima velocidade. Em muitas ocasiões, realizaram voos em diferentes tipos de formação, efetuando manobras impossíveis para aeronaves terrestres, como inversão súbita de sentido, variações súbitas de 90º e voo estacionário. Os objetos interagiram com os caças respondendo às manobras de nossas aeronaves e em alguns casos voando à mesma altitude e velocidade que os aviões, a menos de 50 m de distância e sem serem percebidos pelo piloto.
Acobertamento oficial
Embora a Noite Oficial dos UFOs no Brasil tenha se destacado justamente pela transparência das autoridades, existem indícios de acobertamento militar em torno da mesma —
segundo fontes internas, tanto os pilotos quanto o pessoal em terra foram instruídos sobre o que poderia ou não ser dito ou confirmado de forma oficial e até o que poderia ser confirmado extraoficialmente. Tudo isso para evitar constrangimentos à Força Aérea e ao Governo, quer seja sobre a versão oficial dos fatos, quer seja sobre elementos que não deveriam ser divulgados.
Comenta-se, inclusive, que na metade de junho de 1986 chegaram especialistas dos Estados Unidos para integrar a equipe. De imediato, os agentes teriam copiado todos os registros e descartado algumas conclusões da Força Aérea. O major aviador e chefe da investigação não teria autoridade sobre a equipe estrangeira, e depois de atritos com um dos membros do time norte-americano, o major acabou sendo transferido para outra instância da FAB, em outra cidade. Por força da Lei de Liberdade de Informação (FOIA), ufólogos dos Estados Unidos têm obtido sucesso na desclassificação de documentos secretos do Governo de seu país — e entre os documentos já disponibilizados existem duas páginas de relatório sobre a Noite Oficial dos UFOs no Brasil. Embora o documento não aponte sua autoria, podemos supor que tenha sido redigido pelo chefe da equipe norte-americana envolvida nas investigações.
Aparentemente, esse não foi o único envolvimento dos Estados Unidos no caso. O jornal Vale do Paraíba, em sua edição de 20 de agosto de 1986, trazia a seguinte manchete: NASA Quer Fotos do Vale do Paraíba [Onde está São José dos Campos, epicentro dos fenômenos]. O artigo afirmava que negativos das fotografias de UFOs obtidas na noite de 19 de maio seriam analisadas pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA). Mas até o momento, não temos quaisquer informações se essas análises foram mesmo realizadas e a que resultados tais estudos chegaram.
Incongruências interessantes
Quando cruzamos as informações presentes nos documentos e gravações liberados pela Força Aérea Brasileira (FAB) com artigos de jornal e depoimento dos envolvidos, percebemos algumas incongruências interessantes. A mais evidente é a ausência de informações sobre casos importantes nos relatórios da FAB. Muitos encontros entre aeronaves comerciais, ocorridos na noite de 19 de maio e seguintes, não foram incluídos nos relatórios ou nas estatísticas de casos disponibilizados pelas autoridades.
Outros detalhes ausentes no documento se referem às características dos objetos, como, por exemplo, o tamanho de alguns deles, que chegavam à aproximadamente 100 m de diâmetro — todos os documentos disponibilizados omitem tais informações, embora as testemunhas tenham sido enfáticas com relação a esses detalhes. Um dos pilotos declarou, em entrevistas posteriores, que o UFO que ele perseguiu aparecia como um plote de aproximadamente 1 cm na tela do radar de bordo do caça, o que significa que pelo menos um daqueles objetos tinha um tamanho equivalente ao de um Boeing 747 — pouco mais de 70 m de comprimento.
Levando-se em conta a postura cautelosa da FAB sobre o que poderia ou não ser publicado e o próprio envolvimento norte-americano no caso, podemos entender o motivo de tais ausências. A questão agora é trabalharmos pela liberação de mais documentos, bem como das gravações em vídeo das telas de radares. O mesmo vale para os vídeos da Operação Prato e do próprio Caso Varginha, que, embora esteja envolto em mentiras oficiais, precisa ser reconhecido e aberto ao público.
Abraham Lincoln dizia que “você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Essa frase resume bem a missão de pesquisadores do mundo inteiro que lutam para que todas as informações sobre os fatos ufológicos envolvendo governos e militares sejam reveladas. A população mundial merece saber o que se passa nos céus do planeta. Chegará um dia em que, inevitavelmente, o contato final ocorrerá independentemente da opinião, vontade ou permissão das autoridades mundiais. Portanto, omitir e ocultar informações, acobertar e mentir deliberadamente, como fazem em tantos casos, é a política mais insensata a ser seguida. A abertura dos arquivos de forma ampla e irrestrita, se bem planejada e executada, em vez de gerar o caos, irá preparar toda a humanidade para o inevitável encontro com outras inteligências cósmicas.