Em fevereiro de 2005, a região de Mar del Plata, despertou um interesse diferente ao que normalmente costuma nesta época do ano. A notícia não foi sobre a quantidade de turistas que invadem suas praias, mas a aparição de estranhar marcas circulares em vários campos da região da Serra dos Padres. Porém, essa notícia por si não teria despertado maior interesse se não fosse porque um vizinho do Bairro El Paraíso disse ter observado durante a noite anterior ao descobrimento das marcas a presença de uma luz anômala que inclusive atraiu policiais, ante a preocupação dos habitantes por um resíduo descoberto no gramado da propriedade da testemunha. O fato ocorreu durante a madrugada do dia 09 daquele mês. A partir desse momento e devido a inquietude que geraram as imagens televisivas que mostravam efetivos da polícia científica colhendo amostras de um pó acinzentado, numerosos moradores da região se aproximaram do quartel de bombeiro de Serra dos Padres denunciando que o mesmo teria surgido em suas propriedades, marcas similares.
Características das marcas. A maioria das marcas eram circulares, outras não chegavam a fechar-se. De traço não muito preciso, mediam mais ou menos seis metros de diâmetro. A forma circular em forma de anel com uns 30 cm de largura, contendo uma espécie de pó acinzentado que aparentemente não afetava a vegetação, no interior do círculo. O gramado estava normal ainda que em alguns casos também havia rastros de resíduo cinza. No geral, apareciam várias marcas em um mesmo campo, como por exemplo dos oito círculos descobertos no gramado de Fernáncez Hnos, próximo a rota 88 e Hernandarias, a seis quilômetros de El Paraíso, seis círculos, também de seis metros de diâmetro, em um campo do quilômetro 20,5 da estrada vicinal 226. Também foram descobertos outros dois no solo de um estabelecimento comercial sobre a mesma estrada porém no quilômetro 21.
Sem dúvida, o fato que mais atraiu atenções, não só por ser o primeiro dos encontrados, mas por alguns outros fatores que o tornaram especial, ocorrido no Bairro El Paraíso que se encontra no quilômetro 20, que une a cidade do Mar del Plata com Balcarce. A zona de Serra dos Padres, uma região muito atraente por sua paisagem, variedade de cores em seus campos causados por diferentes tipos de cultivos soja, girassol, milho, entre outros e suaves desníveis de terreno. O bairro em questão é composto por um grupo de casas baixas separadas uma das outras por vários metros, muito tranqüilo.
Ali vive o senhor Romelio Tapia, 60, que fora o centro de atenção, logo que soube da notícia. Porquê? Por ter sido a única pessoa que afirmou ter visto uma luz anômala a baixa altura, a noite previa o descobrimento de duas marcas em seu terreno. Eram aproximadamente 02h00 do dia 09 de fevereiro, quando despertou com o alvoroço dos animais. Sua mulher no entanto dormia. Temendo que algum ladrão tivesse invadido sua propriedade, decidiu olhar pela janela. Foi quando observou a neblina, e uma luz branca, mais ou menos circular, de uns três metros de diâmetro. No momento que a viu, estaria a uns três metros de altura e não mais de 30 metros de distância.
Aparecimento de círculos e luzes. Por não entender o que se passava, decidiu permanecer dentro de sua casa. Dirigiu-se a cozinha sem fazer barulho, para não acordar sua mulher que teria sono leve. Ali pôde observar por mais de meia hora. Tapia sentia um tremor em suas pernas e uma forte dor na nuca, tomou um copo de água e logo foi dormir. Na manhã seguinte, quando se dirigiu ao lugar da observação, descobriu que no gramado havia dois círculos com as características descritas. Um estava no interior de sua propriedade e o outro no gramado exterior, próximo a rua. Tinham uns seis metros de diâmetro.
Entre uma e outra marca, descobriu também uma mancha circular bastante irregular, mas pequena de aproximadamente um metro de diâmetro. Três dias depois do fato, o investigador Carlos Ferguso, coordenador da Red Argentina de Ufologia (RAO), descobriu uma pequena árvore próxima as duas marcas que nas pontas e só as pontas de todas suas folhas, estavam enegrecidas. Pensou a princípio que este detalhe não havia sido observado pelos policiais que fizeram a perícia, sem dúvida, o bombeiro Hector Victorio, que também participou da operação, assegurou que observou a planta e não havia nada de anormal naquele momento. No entanto, Romelio Tapia foi a única testemunha que afirmou ter visto a luz anômala durante a madrugada, seus vizinhos também se sentiram alarmados pelo alvoroço dos animais, principalmente os cães.A senhora Carmen Cabrelli, vizinha de Tapia, também se encontrava acordada nessa noite e por momentos, pensou em sair de sua casa e verificar com um farolete, para ver se algum intruso havia invadido seu terreno. Ela não chegou a observar luz alguma, disse ter escutado um zumbido. Segundo o pesquisador Carlos Ferguson, o interessante é que quando ela saiu de sua residência a luz do farolete repentinamente se apagou.
Na verdade, vários foram os vizinhos que afirmaram ter escutado o barulho dos animais. Tapia também destacou que naquela manhã, notou que seu cão estava um tanto nervoso, que seus olhos estavam avermelhados. Este último detalhe foi confirmado por um cronista do jornal Nueva Sierra que se apresentou na mesma manhã onde se encontravam os policiais, também observado pelo bombeiro oficial Victório. Neste mesmo documento o oficial Victorio destacou que o senhor Tapia estava muito agitado.
A investigação policial. Por causa da existência das marcas, e principalmente por suspeitar que o pó cinza fosse tóxico, os vizinhos avisaram a polícia do destacamento de Serra dos Padres. Ali se apresentaram pela manhã os policiais. Ao descobrirem o resíduo, solicitaram a presença dos bombeiros para saber de que tratava ou se seria algum produto químico. Logo descartaram que as marcas fossem produto de alguma fogueira ou algum tipo de pesticida, decidiram chamar os peritos da polícia científica, para tanto, isolaram a área com faixas utilizadas para este fim.
Momentos depois, chegaram os peritos, entre eles, Giambelli especialista em bioquímica, Waissman, fotógrafo e Cisneros limpeza, quando recolheram amostras do solo. Finalizada esta tarefa e por precaução por não sabe se o resíduo nocivo contribuiu para o surgimento das marcas com areia. Ordem cumprindo posteriormente por policiais locais. Por volta das 14h00, chegaram os oficiais da Força Aérea Argentina, representada pelo chefe do Aeroporto da cidade de Mar del Plata, Vicecomodoro Jose Roberto Medina, que disse ao oficial policial que uma denúncia de um UFO seria de competência da Força Aérea, lamentavelmente não tinha meios suficientes para sua investigação, citado em expediente judicial.
Enviaram as mostras para o laboratório policial de La Plata, em Buenos Aires. Tomaram declarações do senhor Romelio Tapia que relatou todo o caso. A polícia remeteu o expediente ao Tribunais da cidade de Mar del Plata, mais precisamente ao a Unidade Fiscal de Investigações (
UFI) a cargo do senhor Carnevale. Segundo pude averiguar pessoalmente, o inquérito não foi instaurado, aparentemente pelas características do fato e ante a ausência de um delito, deixando arquivado momentaneamente na mesa de entrada da Unidade Fiscal, sem nenhum número que o identificasse. Foi por esta circunstância, suponho, que me permitiram fazer uma rápida leitura. O inquérito não passava de dez páginas e estava finalizado com uma descrição de procedimento realizada pelo oficial encarregado. Havia ainda a indicação dos círculos e o testemunho de Tapia, como também com o relato sobre outras duas denúncias de aparição de marcas, ainda que sem presença de luzes, nem comportamento estranho dos animais. Não havia fotografias, nem tão pouco constava os resultados da perícia da polícia científica. Terminava o informe com a seguinte frase: “Não havendo no momento elementos que indiquem que estamos ante a presença de um delito, podendo tratar-se de um fenômeno que escapa das esferas policia e judicial”.
Alguns resultados das análises do resíduo. Até o momento não há informação sobre o resultado das perícias realizadas pela polícia científica da cidade de Mar del Plata. Paralelamente, existiram outras análises porém sobre amostras obtidas em marcas parecidas em Planta Procesadora de Papas Fernández Hnos88. Esclarecemos que as características das mesmas eram similares a do gramado de Tapia. Um dos especialista que efetuou uma analise do resíduo foi o engenheiro agrônomo, PhD em Fitopatologia, Alberto Escande de INTA-Balcarce. Em resposta a uma solicitação de minha parte, o engenheiro disse: “Estimado Juan Pablo Gómez, os anéis no gramado estavam marcados pela presença da proliferação de um protozoário da classe Myxomycetes, que até pouco tempo era classificado como um fungo. Na bibliografia, este pseudo fungo dentro dos mofos mucilaginosos (slimy molds). O microorganismo cresce a partir de um ponto central e ao crescer sem limitações vai ocupando um setor circular, quando se dão as condições para que frutifique, por exemplo, limitação de alimento e condições ambientais propícias frutifica nas bordas de crescimento gerando um anel. Neste caso o microorganismo em questão pertenceria ao gênero Physarum, que forma esporas dentro de bolsinhas de paredes muito débeis denominadas esporângios. Esse microorganismo se alimenta de bactérias e por isso se desenvolve sobre várias espécies de gramados, causando manchas em várias espécies vegetais”.
Visita ao local dos fatos. Tive a oportunidade de visitar a propriedade de Romelio Tapia em companhia de um destacado ufólogo, Carlos Ferguso, em 24 de fevereiro, ou seja, quinze dias depois do ocorrido. O testemunho de Tapia foi coerente em todo momento, reiterando o mesmo que havia manifestado nas primeiras entrevistas. Era notável sua irritação com comentários maliciosos que algumas pessoas haviam manifestado pondo em dúvida sua credibilidade. Quanto as marcas, podia observar somente dois círculos de areia, isolados por uma fita que a polícia havia polícia.
Disse Carlos Ferguson, “acho que não se trata de uma queimadura. Será tarefa de um especialista em Botânica que nos dê uma opinião a respeito”. Ferguson enviou amostras a laboratórios particulares. Dias depois tive oportunidade de entrevista o senhor Carlos Vasquez, cronista do jornal Nueva Sierra, que se compareceu no local dos fatos nessa mesma manhã quando ainda estava a polícia. Eles publicaram algumas fotografias das marcas antes delas serem cobertas. Tanto no artigo como em nossa entrevista pessoal, Vázquez destacou que haviam recebido alguns testemunhos sobre observações de luzes estranhas na região. Porém em relação a noite do avistamento de Tapia me descreveu que um amigo pessoal que vive na zona alta da Serra dos Padres, despertou na madrugada quando sua residências de iluminou, o filho descobriu dois círculos no gramado do terreno, também de seis metros de diâmetro. Posteriormente, seu amigo comprovou a impossibilidade daquela claridade ter sido causada por luzes de automóveis e inclusive por algum helicóptero com refletores. As testemunhas dessas experiências, me disse Vásquez, preferem não divulgar seus nomes por temor do ridículo. De minha parte, considero que se não podem ser relacionados aos fatos, ao menos merece ser comentado.
Laudo da investigação. Os pesquisadores apresentaram a análise do local. Segundo eles o solo fora queimado ou desfolhado por algum produto químico. Verificou-se que havia dois grandes círculos de aproximadamente seis metros de circunferência com traços no interior do círculo. Procede isolar a zona se o que há sobre os pastos não foram queimados, não é cinza, nem se trate de um algo químico desfoliante. O laudo revela que “se trata provavelmente de uma substância orgânica depositada sobre as folhas de pasto, porém não afetam o que seria sua vida regular. Percebe-se que quando moveram as folhas do pasto as mesmas soltam pó apesar do alto índice de umidade e durante a noite há uma neblina muito densa, a qual se afastou pela manhã”. De acordo com um morador do local os cães latiam de um forma descomunal. Disse ainda que os olhos dos animais estavam totalmente vermelhos. O que no momento não ocorre, e seu estado é normal, não observando-se nenhuma outra anomalia”.
Em outra parte do relatório podemos encontrar a seguinte afirmação: “A vizinha comunica que sua filha de 9 anos, faz dois dias que chora a noite e que realiza desenhos relativos a UFOs e se manifesta com medo”. Foi convidada a Força Aérea por intermédio da Defesa Civil. Uma vez presentes, manifestam que não podem fazer nada já que carecem de conhecimento e elementos. Como definir as substâncias que recobrem o pasto, a mesma é uniforme conservando sua espessura em toda a superfície. O pó que desprende é de vôo baixo, muito baixo. Posteriormente me dirigi ao destacamento policial e dialoguei brevemente com o inspetor oficial Franze, que também me contou o ocorrido brevemente. Tanto o inspetor como o bombeiro Victorio, comentaram que foram vários os povoados da região que lhes informaram que em suas propriedades encontraram marcas similares ao ocorrido no Bairro El Paraíso. A maioria destas pessoas preferiu manter o anonimato para não serem ridicularizados como o Tapia. Em alguns destes lugares se fez presente a polícia porém vendo que as mesmas tinham características similares não extraíram amostras, só fotografaram.
Algumas conclusões.
As marcas.
1 — Sobre a composição das mesmas não existiram dúvidas, se tratam de fungos minúsculos. Este ponto não estaria em discussão.
2 — As condições climáticas dessas datas, foram certamente propícias para a aparição desta espécie de fungo e sua forma (anular) também é característica.
3 — O tipo de marca que apareceu no campo de Tapia é idêntica a muitas outras encon
tradas em diversos terrenos da região nestas mesmas datas. Não foi um caso isolado.
4 — Uma planta próxima as marcas tinha a ponta de todas suas folhas aparentemente afetadas por algo, sem dúvida teria de realizar um estudo das mesmas para saber se foi por causa natural ou não.
O avistamento:
5 — A fraude pode ser descartada, já que o testemunho do senhor Tapia é honesto. Em todo momento afirmou ter visto uma luz, nem mais, nem menos que isso. Assim afirmou frente às autoridades policiais e confirmou no inquérito judicial, isso, entre outros fatores, lhe dá um peso importante na hora de determinar a veracidade do fato.
6 — A luz observada certamente tem características peculiares, sem dúvidas tem que considerar três fatores negativos. A circunstância prévia a observação, a testemunha estava dormindo, o tempo que durou a mesma cerca de 10 segundos e as condições climáticas nesse momento que não permitiam uma visibilidade normal.
7 — Para a testemunha, o observado foi suficientemente estranho para provocar-lhe muita inquietude. E não estava predisposto a ver e o viu, nesse momento, somente temeu ser uma ocorrência de furto.
8 — É sincero também quando descreve seu mal estar físico. A dúvida será se os mesmo foram conseqüência da surpresa e inquietude ou como muitas vezes se tem dito na casuística ufológica, pela presença próxima de uma luz anômala. Ainda que vale recordar que Tapia em nenhum momento saiu de sua casa.
9 — Existiu realmente um comportamento anormal nos animais ao redor. Foi um denominador comum nos testemunhos dos vizinhos.Repassando estes nove itens, provisoriamente, é possível concluir que a testemunha não mentiu. Efetivamente observou uma luz, para ele o suficientemente anormal e estranha para impressioná-lo. Entretanto, é possível catalogá-lo como um autêntico caso de Fenômeno UFO? Nas condições em que se desenvolveram a visualização da estranha luz, poderia ser de origem convencional? A essa última questão, vale perguntar-se, que tipo de luz – com forma esférica – pôde causar estranheza e impressão em Tapia? E o que dizer do comportamento dos animais? A única causa seria a presença da luz? Nas respostas a estas questões, sempre dará margem a dúvida, porém convenhamos que é muito interessante esta coincidência, pois a casuística UFO está muito nutrida de casos com estas características. A mesma inquietude surge na hora de avaliar o mal estar físico descrito pela testemunha. Algo freqüente entre as testemunhas de casos ufológicos com efeitos fisiológicos, aqui a relação tão pouco é conclusiva. Acredito que antes de catalogar o fato como ufológico, teria de reunir mais informações, apontando a necessidade de localizar outras possíveis testemunhas. A pistas firmes a respeito.
Quanto as marcas no terreno de Tapia, é necessário reconhecer que houve uma coincidência de tempo e lugar com a observação da luz. Sem dúvida há um estudo que oferece uma explicação natural (fungos) a sua aparição. Explicação que se pode estender perfeitamente ao resto das marcas descobertas na região. Portanto, até que não apareça um estudo que invalide os resultados até agora conhecidos, me inclino a explicação natural de sua formação. O caso permanece aberto.Os textos são de opinião exclusiva dos autores. Nota: O presente trabalho não é um informe técnico e muito menos científico do caso. Trata-se de uma crônica baseada nos fatos e informações obtidas no local do incidente.