
Foi através de um dos membros da diretoria do Grupo ELO de Estudos e Pesquisas Exológicas, do Rio de Janeiro, que tomei conhecimento do livro Erks. O Mundo Interno, de autoria do Sr. Trigueirinho Netto e que apresenta uma série de informações sobre seu suposto contato com um mensageiro da “cidade intraterrena” de Erks, que seria habitada por seres extraplanetários de diferentes origens, segundo ele mesmo declara. Nesta obra é apresentada, também, uma série de fotos de igualmente supostas naves espaciais extraplanetárias, que teriam sido doadas ao autor pelo tal mensageiro, segundo este mesmo afirma, juntamente com vários outros documentos. Assim, a partir das primeiras informações sobre a estória deste autor, passei a procurar o referido livro nas livrarias cariocas, principalmente pelo fato de o mesmo trazer fotografias de eventuais UFOs, o que poderia facilitar mediante análise das mesmas – o surgimento de uma visão objetiva sobre o caso. Depois de procurar por vários dias, finalmente consegui comprar um exemplar do livro e coloquei-me a examiná-lo.
Fotos de UFOs feitas com alfinetes
Nesta época em que passei a interessar-me pelas declarações do Sr. Trigueirinho, a citada obra já era uma das suas mais vendidas. Infelizmente, no entanto, uma observação ainda que superficial das 10 fotografias publicadas no livro mostrava “de cara” uma série de inegáveis indicativos de fraude – e as próprias referências do autor às suas fotos serviam para dar fundamento à esta idéia. A foto da capa, por exemplo, segundo o autor declara, apresentaria “… uma base de Erks (nave) fazendo-se visível em quatro \’qualidades de vibração\’…” Entretanto, nem uma explicação tão criativa pôde poupar-nos de ver, na mesma, simplesmente um clichê do sol, obtido com a utilização de algum tipo de filtro colorido. Uma outra foto do livro documentaria a presença de “uma nave venusiana, da qual saia, através de uma da suas escotilhas, uma nave ainda menor”. Também nesta oportunidade vemos indícios nítidos de fraude: nesta foto, observamos tão somente uma paisagem ao pôr-do-sol. As tais naves do Sr. Trigueirinho parecem ter sido produzidas através da manipulação no negativo original, possivelmente furado com um alfinete, uma agulha ou outra coisa parecida.
Estas explicações parecem valer também para várias outras fotos apresentadas como reais pelo habilidoso autor, e em diversas obras similares. A fotografia nº 6 da mesma obra, por exemplo, apresenta os mesmos indícios de fraude pela manipulação inescrupulosa do negativo. Mas, reconhecemos, no caso de fraudes a partir dos negativos, entretanto, uma palavra final só poderia ser dada mediante exame completo dos mesmos. Porém, isso é uma coisa que nos parece difícil, já que o Sr. Trigueirinho alega que suas fotos foram, como já mencionei antes, recebidas por ele em seu suposto contato com um habitante de Erks. Um exame que também seria final poderia ser realizado através de uma análise computadorizada das fotografias, de preferência cópias de primeira geração. É claro que isso também é impossível, pois seu proprietário se nega a fornecê-las, como veremos a seguir.
Imaginação bem fértil e uma muito estória fajuta
Mas as fraudes não param por aí. Há na obra do Sr. Trigueirinho uma fotografia curiosa, que o próprio apresenta como sendo de “três supostos tripulantes de UFOs”. No entanto, na referida foto, nada ou quase nada é perceptível. Em uma outra, onde apareceriam “luzes da entrada da cidade de Erks”, também há marcas de manipulação evidentes, assim como em todas as demais apresentadas pelo autor, que representariam, segundo sua imaginação, “trajetórias feitas no céu pelas naves extraterrestres”. Na verdade, todas essas fotos não passam de imagens geradas mediante movimentação da máquina fotográfica em relação à fontes luminosas convencionais, ou destas em relação à câmera utilizada, durante exposições prolongadas. Um truque até bem simples e infantil, poderíamos dizer.
Existem verdadeiras fotografias de UFOs nas quais, mediante exposição prolongada e uso de câmeras fixadas sobre tripés, as trajetórias dos mesmos foram registradas em traços. No Grupo ELO, já conseguimos várias fotografias deste tipo, para as quais são necessários apenas poucos segundos de exposição para que possamos observar, além de eventuais UFOs, as próprias estrelas do céu. E, dependendo da inclinação do foco da câmera em relação ao horizonte, montanhas, árvores e outros objetos também serão captados. É justamente através da análise destes pontos de referência que podemos constatar se a máquina fotográfica foi ou não movimentada no momento preciso da passagem do objeto. As fotografias do caso aqui em discussão, que pretensamente representariam os movimentos feitos no céu pelas naves de Erks, não apresentam qualquer estrela ou ponto referencial palpável, o que reforça a convicção da fraude.
Muitos mistificados conhecidos no meio ufológico, após verificarem que em suas fotografias aparecem pontos de referência denunciadores do movimento da câmera, costumam ampliar as fotos e posteriormente cortar as partes indesejáveis das mesmas, justamente as que as denunciam como fraudulentas. Fazem isso apresentando à crítica e aos seus seguidores apenas as áreas das fotografias onde pretensamente teríamos trajetórias reais de UFOs. Dando continuidade à sua farsa, tais pessoas – tão comuns na Ufologia, por sinal – posteriormente se negam a apresentar os negativos originais das fotos, ou mesmo os positivos que revelam as imagens “amputadas” das mesmas, e onde estariam as provas das mistificações.
Procedimentos comuns em outras fraudes
Mas, as informações “recebidas” pelo Sr. Trigueirinho, mediante seu alegado e pouco provado contato com o habitante de Erks, não ficam muito atrás das falsas fotografias. Completamente leviana e desprovida de qualquer fundamento, sua estória pouco se sustenta senão no seio de multidões ignorantes da verdadeira situação ufológica e incautos carentes de espírito que buscam respostas às suas indagações (interiores em qualquer seita ou movimento dirigido por alguém que lhes pareça preencher o vazio ou ser um pouco confiável. Para uma pessoa que se diz estar em contato com um membro de uma civilização superior, extremamente avançada, é surpreendente que Sr. Trigueirinho só consiga “repassar à humanidade” algumas noções do que alega ter aprendido em seu suposto contato, noções estas que encontramos fartamente distribuídas em inúmeros livros sobre Teosofia, Esoterismo, religiões etc – mas distorcidas pelo próprio e impregnadas de uma dose de um pieguísmo barato. Muitas das coisas que afirma ter recebido diretamente de avançados seres espaciais não são na
da mais, nada menos do que “ensinamentos” retirados de obras comuns, “arranjadas” de maneira diferente pelo autor e republicadas em suas obras.
Isto para não falarmos de suas afirmações sensacionalistas e sem a menor base de verificação, como a declaração de que “…5 mil desaparecidos do terremoto do México foram levados para Erks”, e algumas outras loucuras relacionadas ao nosso código genético. Mas, não satisfeito com as estórias de Erks, o Sr. Trigueirinho providenciou a publicação de mais dois livros exóticos e beirando a paranóia, Miz Tli Tlan e Sinais de Contato, através dos quais temos a chance de conhecer a continuação das aventuras do autor e, assim, ficarmos sabendo da existência de mais duas cidade intraterrenas (sic): a própria Miz Tli Tlan, cuja entrada estaria nos Andes peruanos, e Aurora, cuja entrada estaria no Uruguai. Nestas obras temos a repetição de muita coisa do primeiro livro e várias outras declarações bombásticas, que demonstram que estamos diante de um movimento extremamente perigoso, cujos desdobramentos são difíceis de serem previstos e onde temos, claramente, um forte estímulo à geração do culto à personalidade do autor, que é definitivamente colocado como “o elo de ligação entre uma humanidade prestes a sofrer sua destruição e a salvação divina ou superior em lugares como Erks, Aurora etc”. Nas conferências que estão sendo proferidas pelo autor em todo o Brasil já é perceptível em muitos dos presentes o início de um processo em que o fantástico começa a se sobrepor à razão. Aliás, a comoção do momento, a última moda na área, por assim dizer, é a formação de grupos de estudo das fitas e conferências do Trigueirinho: existem centenas delas espalhadas pelo Brasil, com milhares de adeptos.
Sinais evidentes de que não há contato algum
Em seu livro Sinais de Contato, o Sr. Trigueirinho incorpora à sua estória uma série de noções ligadas à outras mistificações já desmascaradas pela Ufologia no passado. Um dos maiores embusteiros da Ufologia mundial, Eugênio Siragusa, por exemplo, é fartamente utilizado pelo esperto autor como suposta “fonte confiável de informações”. Mais surpreendente ainda é a recente associação que o autor faz entre a cidade intraterrena de Erks e lendário Ashtar Sheran, um suposto extraplanetário “criado” pelo alemão Victor Speers, que gerou uma febre mundial de falsos contatos. Speers alega que, mediante seus “contatos” com Ashtar, recebeu inúmeras “informações” e a ordem para publicá-las em vários livros, uma estória parecida com a do Sr. Trigueirinho, porém mais original, embora tenha causado danos semelhantes à Ufologia, na época de seu lançamento. É claro que toda a farsa foi detectada a tempo e desmistificada definitivamente, como é o que se pretende fazer com o “novo Messias” e best-seller Trigueirinho. Para se ter uma idéia, as fotografias das naves de Ashtar e seus “comandados”, publicadas já há vários anos, inclusive no Brasil, também não passam de fraudes.
Mas existem coisas mais assombrosas ainda nas obras do Sr. Trigueirinho. Ainda em Sinais de Contato, ele declara a espantosa presença, durante “uma noite em que esteve na área de contato, no vale chamado de Erks, de nada menos que 600 naves intergaláticas…” E existem coisas piores! O Sr. Trigueirinho, cercado de suas falsas estórias, tem a coragem de afirmar que muitas das estrelas vistas todas as noites no céu, conhecidas pelos astrônomos há séculos, são, “na realidade”, naves espaciais. Coisas desse gênero são as pérolas que atira à multidão sequiosa por informações que o assedia. É difícil acreditar que existam pessoas capazes de seguir alguém (ir)responsável por afirmativas deste nível, mas há, e verdadeiras legiões de brasileiros estão sendo enganados publicamente assim. Seus livros têm sido sucessivamente reeditados, o que prova que são excelente fonte de renda, mas não só para a editora, é claro…
Aspectos físicos e suprafísicos discutíveis
As fotografias publicadas em Sinais de Contato e em Miz Tli Tlan que, segundo o próprio autor, já foram batidas antes por ele mesmo, não são melhores que as do primeiro livro (Erks). A foto da capa de Sinais de Contato, por exemplo, é explicada da seguinte e curiosa forma na obra: “Aspectos físicos e suprafísicos do que se encontra nos céus foram captados nesta foto, realizada pelo autor durante uma noite no vale do Erks. O clarão é a Lua e, sobre ele, a espaçonave que pode ser tomada por algum planeta…”. Ora, qualquer pessoa com um conhecimento mínimo de fotografia nota que o que o Sr. Trigueirinho defende ser uma nave extraterrestre, na verdade, não passa de uma imagem, de um reflexo da própria lua gerado na objetiva da câmera fotográfica. A própria forma do reflexo mostra a imagem de nosso satélite natural em uma de suas fases. E muitas outras de suas pretensas fotos seguem o mesmo padrão fraudulento e mistificado.
Coisas desse tipo abundam em seus livros, e até uma fotografia do sol se pondo no horizonte já foi apresentada pelo imaginativo autor como sendo de uma espaçonave… A foto da capa também de Miz Tli Tlan é mais um bom exemplo das mistificações. Segundo o impressionante Sr. Trigueirinho, esta foto documentaria o “movimento realizado por uma só espaçonave, que desenha nos céus a imagem de um homem cósmico em posição de reverência e saudação aos homens da superfície…” No entanto, a foto, como outras da mesma obra, foi montada da mesma maneira que a maioria das fotos do livro Erks: mediante movimentação da câmera em relação a qualquer tipo de luz convencional. Neste caso, inclusive, a máquina foi movimentada em relação à várias fontes luminosas. Na explicação da mesma, contida no livro, o próprio autor diz que foi batida com tempo de exposição prolongado. Como explicar, então, que as estrelas do céu não tenham sido f
otografadas juntamente: algum milagre? Sim, o milagre da fraude, que o autor domina bem!
Existe, entretanto, uma foto do mesmo livro (a de nº 7), feita também com exposição prolongada, com a máquina fixada sobre um tripé ou imobilizada de alguma outra forma, na qual aparecem, finalmente, as estrelas no céu. Na qualidade de astrônomo amador, não me foi difícil descobrir inclusive quais estrelas aparecem nesta fotografia. Podemos ver, na mesma, parte da constelação do Touro, incluindo as estréias dos aglomerados conhecidos pelos nomes de Plêiades (do lado esquerdo da fotografia) e Hyades (do lado direito), a estrela Aldebaran (alfa da Constelação de Touro), etc. Na mesma foto, também pode ser bem observado, em seu centro, o planeta Júpiter. E, pela posição do planeta em relação às estrelas na fotografia, podemos afirmar, após consulta às efemérides astronômicas publicadas pelo Observatório Nacional, que a mesma foi batida em agosto de 1988, mais precisamente entre os dias 11 e 21. Como a foto foi tomada com uma exposição de vários segundos, as estrelas apareceram na forma de pequenos traços luminosos, devido ao movimento aparente da esfera celeste, provocado pela rotação da Terra.
ETs em “operação-serviço” na América do Sul
Analisando-se a fotografia, podemos constatar ainda que houve um ligeiro movimento da câmera, como se o autor da mesma, acidental ou mesmo propositalmente, tivesse dado um ligeiro “toque” na máquina, no meio da exposição, fato que gerou uma pequena deformação nos traços luminosos pertinentes à cada uma das estrelas. O próprio planeta Júpiter apresenta-se da mesma maneira que as estrelas na fotografia, com um prolongamento de sua imagem no mesmo sentido do movimento da esfera celeste. O surpreende é que, desta vez, o cada vez mais imaginativo autor afirma, descrevendo o que aparece na fotografia, que Júpiter nada mais é do que “uma nave-mãe, da qual saíram 22 outras naves menores, numa movimentada operação-serviço\’ em certa região da América do Sul…” Falta compreender como o Sr. Trigueirinho chegou à esta impressionante conclusão e o que vem a ser uma operação-serviço…
Existe ainda uma outra foto em que aparecem as estrelas no céu, a da contracapa do livro Sinais de Contato. Segundo o Sr. Trigueirinho, esta foto apresentaria as “luzes de Erks”, a tal cidade intraterrena que diz ter visitado, fotografada pelo autor quando – acredita-se – esteve por lá. Na realidade, a foto representa, isso sim, uma série de luzes na linha do horizonte, que podem fazer parte de qualquer cidade, povoado etc. Como foi batida também com longo tempo de exposição, com a máquina fotográfica fixa, as estrelas mais uma vez aparecem na forma de pequenos traços luminosos, devido ao já mencionado movimento da esfera celeste. Chega a ser cômico o fato de que em uma foto de uma suposta cidade intraterrena possam aparecer estrelas! Mas o autor não deixa por menos: o Sr. Trigueirinho alega em seus livros, já se prevenindo em relação a incoerências deste tipo, que Erks, a famosa cidade intraterrena, vez por outra “se materializa na superfície do planeta”, para poder ser fotografada… Mas, certamente só é dado a pessoas \’especiais\’ – como o próprio autor – o direito e a oportunidade de observar este interessante fenômeno de materialização…
Uma ameaça à credibilidade da Ufologia
Estamos diante da maior fraude já manifestada na Ufologia Brasileira. Aceitar as estórias do Sr. Trigueirinho só pode ser possível mediante uma fé completamente cega, o que, em última análise, é justamente o que defendem o autor e seus colaboradores como forma de aceitação de suas “doutrinas”. Durante a realização de uma conferência doutrinária da trupe do Sr. Trigueirinho no Rio de Janeiro, proferida por um de seus principais colaboradores, um dos membros de nosso grupo questionou-o se havia possibilidade de termos algum material fotográfico original para análise. A resposta do orador foi hilária: este declarou que “não era importante provar a veracidade das fotos; o que importava era falar abertamente sobre os assuntos abordados nos livros do Sr. Trigueirinho…” O pesquisador Claudeir Covo, consultor desta publicação e \’expert\’ em fotos (e fraudes) ufológicas, tentou também conseguir material fotográfico original do caso Erks, em São Paulo, não logrando qualquer êxito, como seria de imaginar, pois nada há de positivo neste suposto caso. Vários outros consultores de UFO, em diversas localidades do Brasil, constatam que os seguidores do Sr. Trigueirinho se multiplicam e que, cegamente, propalam suas absurdas idéias sem o menor questionamento.
Este artigo pretende ser um alerta não só em relação aos alegados casos de contato do Sr. Trigueirinho, aqui discutidos, como também a outros que periodicamente surgem no seio da Ufologia Brasileira e mundial. Pessoas movidas pelos mais variados interesses passam a ludibriar multidões com promessas de um mundo novo, de salvação etc, pregando uma atitude de adoração aos extraplanetários, como faz o autor e desses livros que lotam as livrarias de todo o país. Existe uma grande diferença entre espiritualidade e mistificação. Muitos de nós, da Comunidade Ufológica, achamos totalmente possível a existência de bases subterrâneas e mesmo hiperfísicas sob o controle de outras humanidades, em nosso planeta. Nossa própria humanidade parece também estar prestes a sofrer profundas transformações, que podem ter como um de seus agentes o próprio fenômeno ufológico, despertando-a para realidades insuspeitas até então. Mas nada disso quer dizer, entretanto, que estamos prontos para aceitar estórias lamentáveis como as apresentadas nos livros do Sr. Trigueirinho.
< p>Dentro do caso Erks, por mais que tenha buscado encontrar algum elemento capaz de me levar a dar o benefício da dúvida em relação as supostas experiências do seu autor, isto não foi possível. As informações publicadas, ao contrário do que poderíamos desejar, não revelam qualquer sinal de contatos com civilizações avançadas, justamente o oposto ao título de um de seus últimos livros… Pelo contrário, algumas vezes chegam a ser infantis. As fotos apresentadas, que poderiam pelo menos confirmar a realidade de parte da estória, por sua vez, nos causaram profunda decepção. Em algumas delas, a fraude é tão evidente que dispensa qualquer tipo de material original para ser confirmada definitivamente.