O telescópio espacial Kepler, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), está para começar uma jornada sem precedentes que poderá responder questões históricas sobre a existência de planetas como a Terra. Deverá ser lançado ao espaço no Cabo Canaveral, a bordo de um foguete Delta II, no próximo dia 06 de março. Esta será a primeira missão com a capacidade de encontrar planetas semelhantes à Terra – rochosos, que orbitam estrelas parecidas com o Sol, em uma zona quente onde a água pode se manter sobre a superfície em estado líquido. “O Kepler é um componente crítico dos esforços da NASA para encontrar e estudar planetas onde as condições semelhantes às da Terra podem estar presentes,” afirma Jon Morse, diretor da divisão de Astrofísica da agência. A missão passará três anos e meio pesquisando mais de 100.000 estrelas parecidas com o Sol na região de Cisne-Libra da nossa Via Láctea. Espera-se que ela encontre centenas de planetas do tamanho da Terra e maiores, orbitando a várias distâncias de suas estrelas. Se os orbes semelhantes ao nosso, orbitando em zonas habitáveis, forem comuns, o telescópio Kepler poderá encontrar dúzias de mundos parecidos. Por outro lado, se esses planetas forem raros, acabará sem nenhuma novidade nesse sentido.
O telescópio Kepler foi especialmente projetado para detectar a variação periódica do brilho das estrelas causada pelo trânsito de seus planetas. Alguns sistemas estelares são orientados de tal forma que seus orbes cruzam na frente de seus Sóis, quando olhados do ponto de vista da Terra. À medida que transitam, eles fazem com que a luz das suas estrelas tremule levemente, ou pisque. O telescópio consegue detectar essas alterações de brilho com uma precisão de apenas 20 partes por milhão. “Se o Kepler for apontado para uma pequena cidade na Terra à noite, ele é capaz de detectar a variação da luz na varanda de uma casa quando alguém passar em frente“, diz James Fanson, coordenador do projeto. Para alcançar tamanha precisão, o Kepler contará com a maior câmera digital já lançada ao espaço, um conjunto de CCDs com 95 megapixels. São 42 CCDs para captura científica de imagens e quatro CCDs especiais de guia, um em cada canto do conjunto.
Vasculhando uma grande porção do céu durante sua vida útil, ele será capaz de acompanhar planetas transitando periodicamente ao redor de suas estrelas em múltiplos ciclos. Isto irá permitir que os astrônomos confirmem a presença dos mesmos. Corpos celestes do tamanho da Terra em zonas habitáveis teoricamente levarão cerca de um ano para completar uma órbita, de forma que o Kepler irá monitorar essas estrelas por pelo menos três anos para confirmar sua presença. Telescópios instalados no solo, além dos espaciais Hubble e Spitzer, empreenderão estudos de acompanhamento nos planetas maiores, que possam ser vistos com suas resoluções. “O telescópio Kepler é de fundamental importância no entendimento de que tipos de planetas formam-se ao redor de outras estrelas“, diz a caçadora de exoplanetas Debra Fischer, da Universidade do Estado de São Francisco. “As descobertas que emergirem serão usadas imediatamente para estudar as atmosferas dos exoplanetas gigantes gasosos com o Spitzer. E as estatísticas que serão compiladas nos ajudarão a traçar uma rota em direção a um pálido ponto azul como a nossa Terra, orbitando outra estrela de nossa galáxia“. Recentemente, uma missão da Agência Espacial Européia também recebeu o nome de Kepler.