O telescópio Fermi de raios gama levou esse nome em homenagem ao físico italiano Enrico Fermi (1901-1954), ganhador do Nobel em 1938 uma das maiores figuras da história do campo da física de partículas. A primeira explosão de raios gama registrada em alta resolução pelo telescópio espacial de raios gama Fermi vai entrar para o livro dos recordes. A detonação teve a maior energia total, os deslocamentos mais velozes e as emissões iniciais de mais alta energia já registrados.
“Estávamos esperando por este“, disse o principal cientista encarregado pelo telescópio de grande área do Fermi, Peter Michelson, da Universidade Stanford. “Emissões explosivas a essas energias ainda são muito pouco compreendidas, e o Fermi nos dá as ferramentas para entendê-las“. As explosões de raios gama são os eventos mais luminosos do universo. Astrônomos acreditam que acontecem quando estrelas exóticas de grande massa começam a ficar sem combustível. À medida que uma estrela se transforma em um buraco negro, jatos de material – energizados por um processo que ainda não é bem entendido – disparam para fora, a velocidades próximas à da luz. Os jatos varam as camadas da estrela que encolhe, e continuam pelo espaço, onde interagem com o gás eliminado previamente pela estrela, gerando um brilho posterior que some com o tempo.
Essa explosão, designada GRB 080916C, ocorreu em 15 de setembro, na constelação de Carina. O outro instrumento do Fermi, o monitor de explosões de raios gama, registrou o evento simultaneamente. Juntos, os instrumentos oferecem uma visão da emissão inicial, ou imediata, de raios gama, com energias entre três mil e mais de cinco bilhões de vezes maiores que a da luz visível. Cerca de 32 horas após a explosão, Jochen Greiner, do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre, na Alemanha, encabeçou um grupo em busca do brilho posterior à explosão. A equipe captou o campo em sete diferentes comprimentos de onda, usando um telescópio especial baseado no Chile. Essas observações permitiram concluir que a explosão ocorreu a 12,2 bilhões de anos-luz.
Tendo a distância para calibrar seus dados, a equipe do Fermi concluiu que a explosão excedeu, em cerca de nove mil vezes, a potência de uma supernova comum, se a explosão tivesse emitido sua energia de modo uniforme, em todas as direções. Cientistas usam esse tipo de comparação para classificar eventos, mesmo com o fato de que a maior parte da energia de uma explosão de raios gama é emitida em jatos estreitos