Depois de uma odisséia de sete anos e 4 bilhões de quilômetros, a sonda Huygens pousará em janeiro em Titã, satélite de Saturno, levando a bordo quatro músicas escritas pelos franceses Julien Civange e Louis Haeri. Um CD de 14 minutos foi colocado na sonda Cassini-Huygens, projeto das agências espaciais dos EUA (NASA), Europa (ESA) e Itália, lançado em 1997 com o objetivo de estudar o corpo celeste. “A ESA queria enriquecer a missão com um conteúdo artístico, para deixar um pedaço da humanidade no espaço desconhecido e enviar uma mensagem a possíveis populações extraterrestres”, comenta Julien Civange, 33, contatado em 1995 pela ESA para fazer as composições. Com a mente nas estrelas, Civange imagina sua música flutuando muito além de qualquer outra criação artística humana. “É deslumbrante. Isso pode significar cinco segundos de sonho para as pessoas e isso é mais importante que os 15 minutos de fama de Andy Warhol”, afirma o músico. Um caminho onírico que suscita uma maravilhosa admiração e estimula a imaginação. “O primeiro passo do homem na Lua, George Lucas e Guerra nas Estrelas (…) Esta é a cultura das pessoas nascidas no pós-guerra. E tudo isso remete ao tema do êxodo espacial. Um dia, a Terra terá ficado muito pequena, muito hostil e será necessário partir. É o que o homem tem feito sempre ao deixar as zonas glaciais ou ao mudar de continente”, disse. Julien Civange faz parte do grupo de rock La Place, é compositor de trilhas sonoras e produziu em 1999 Emmaus Mouvement, disco lançado no 50º aniversário da associação do abade Pierre. No projeto científico Cassini-Huygens, Julien Civange destaca esse aspecto “passageiro clandestino” da sua música. “Trata-se de algo primordialmente acadêmico, oficial. Mas a nossa música é rock desvairado”, disse sorrindo. Os terráqueos poderão escutar esta música cósmica a partir de 21 de dezembro no site www.music2titan.com, onde também será possível se informar sobre os avanços da missão espacial. Os quatro temas musicais ? sem letra, única condição imposta pela ESA ? são rock’n’roll, ainda que muito diferentes entre si, já que cada um corresponde a uma etapa da missão. “O primeiro, ‘Lalala’, é a etapa preparatória: uma música ingênua, mas séria, os acordes básicos do rock”, explica o compositor, que se inspirou em fotos feitas pela ESA. “Esses homens de macacão branco que fabricam uma sonda espacial gigante me fazem pensar no que eu gosto do rock, a loucura pura, querer alcançar um objetivo, custe o que custar”, afirma. O segundo, “Bald James Deans”, mais dramático, evoca a separação das sondas Cassini e Huggens, que acontecerá no Natal, antes que esta última pouse em Titã, no dia 14 de janeiro de 2005. “Hot Time”, música mais experimental, fala sobre a exploração do solo de Titã. Finalmente, “No Love”, música “tranqüila e melancólica”, remete às questões ligadas ao êxodo espacial, tema predileto de Julien Civange, admirador do escritor de ficção científica americano Philip K. Dick. “O que levaremos para lá? Nosso lixo, nossos ‘fast-food’, nossos conhecimentos?”, questiona.