A espécie humana, em sua forma moderna, surgiu originalmente na África e chegou à Europa há 45.000 anos, de acordo com um novo estudo internacional liderado pela Academia de Ciências da Rússia e pela Universidade do Colorado em Boulder. As novas evidências são ferramentas de ossos, marfim e pedra descobertos sob uma camada de antigas cinzas vulcânicas no Rio Don, na Rússia, há cerca de 400 km de Moscou, diz John Hoffecker, da Universidade do Colorado. Acredita-se que esse sítio contenha a mais antiga evidência da presença de humanos modernos na Europa.
Do local também foram extraídos ornamentos de concha e uma pequena estatueta de forma humana, talvez o mais antigo exemplar de arte figurativa do mundo. “A grande surpresa é a presença, tão antiga, de humanos modernos em um dos lugares mais frios e secos da Europa”, disse Hoffecker. “É um dos últimos lugares que esperaríamos que populações da África ocupariam em primeiro lugar”. Um artigo descrevendo as descobertas será publicado na edição desta sexta-feira, 12, da revista Science.
A escavação ocorreu em Kostenki, um conjunto de mais de 20 sítios ao longo do Don, e que estão sob estudo há décadas. A área já havia produzido evidência de presença humana datando de 30.000 e 40.000 anos atrás, incluindo as agulhas perfuradas mais antigas já datadas, o que indica que os moradores primitivos já costuravam peles de animais para sobreviver ao frio rigoroso. Acredita-se que a humanidade, em sua forma atual, tenha surgido na África há cerca de 200.000 anos.
Kostenki traz, ainda, evidência de que os humanos modernos ampliaram rapidamente suas opções de dieta, para incluir pequenos mamíferos e alimentos extraídos dos rios, uma indicação de que essa população estava “reinventando-se tecnologicamente”, segundo o pesquisador, provavelmente com o uso de armadilhas para caçar e redes para a pesca. Embora exista alguma evidência da presença de homens de neandertal – uma linhagem separada da que deu origem ao homem moderno – na Europa Oriental, eles parecem ter sido poucos, ou inexistentes, durante a última Era Glacial, quando os humanos modernos chegaram. A falta de competição, como o neandertal, pode ter sido o principal atrativo da área, afirma o cientista.