No início de todo o ano, passadas as comemorações e festividades de praxe, a Ufologia inicia seus trabalhos comemorando a data de um caso específico que, se não é considerado o maior e mais documentado episódio ufológico de todos os tempos, certamente figura entre eles com inconfundível destaque. Ao mesmo tempo em que, no tocante ao assunto, para a mídia em geral, janeiro passa meio despercebido, nos meios eletrônicos e impressos que veiculam as atividades ufológicas, seus estudos e suas divulgações em congressos, os debates esquentam a ponto de ebulição. Neste ano de 2016 em especial, quando as comunidades que tratam do assunto voltaram as atenções para os 20 anos do que ocorrera no primeiro semestre de 1996, popularmente conhecido como o Caso Varginha e do seu total acobertamento perpetrado pelo Exército Brasileiro, nada mais, além de algumas matérias eletrônicas em sites regionais foi divulgado pela grande mídia. Mesmo tendo sido publicado reservadamente em dois dos maiores veículos da imprensa nacional, pouquíssimo se ouviu falar do assunto em rádios, TVs, revistas ou mesmo jornais impressos.
Dos meios de comunicações governamentais, como a Agência Brasil, civil, ou os braços jornalísticos dos centros de comunicações sociais militares, até que se esperaria pouca ou nenhuma divulgação, não fosse a grande quantidade de solicitações de acesso a informações sobre UFOs que chegaram ao Governo Federal. Por força do acionamento à lei número 12.527/2011, a chamada Lei de Acesso à Informação (LAI), os vários Serviços de Informação ao Cidadão (SICs), criados no âmbito dos diversos ministérios conforme um dos artigos da Lei, passaram a registrar estatísticas nada modestas para o assunto. Contabilizado pelo sistema online de acesso à informação do Governo, o número de pedidos ligados às ocorrências ufológicas registradas por militares saltou à frente logo de saída.
Problemas no acesso à informação
Assim, seria de se supor que motivos para a alusão aos UFOs, tanto da mídia aberta, quanto no Governo, não faltariam, já que alcançaram o topo dos pedidos ao Ministério da Defesa, sendo direcionadas também ao Ministério das Relações Exteriores, ao Gabinete de Segurança Institucional, à Casa Civil, à Controladoria Geral da União e Arquivo Nacional. Levantamentos feitos internamente por esses órgãos dão conta de que, de meados de 2012 a dezembro de 2015, enquanto solicitações de assuntos específicos não passavam de algumas dezenas, os da questão ufológica ultrapassavam as centenas — alguns deles recorrendo já em última instância. Ressalte-se que alguns desses pedidos foram protocolados por pessoas que de alguma forma estavam ligadas à Revista UFO. Contudo, pelo montante apurado, percebe-se que a maior parte das solicitações saíram de cidadãos não diretamente ligados à comunidade ufológica, o que denota um claro interesse de outros seguimentos da sociedade pelo assunto. Ora, se isso é um fato, qual seria a razão de tamanho desinteresse na divulgação desses números pela mídia?
Em nossa incansável busca por documentos, iniciada no ano de 2004 com o lançamento da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, a despeito de termos alcançado valorosas vitórias, como a imensa quantidade de documentos antes sigilosa que hoje repousa nas prateleiras do Arquivo Nacional, em Brasília, temos nos deparado com outros incontáveis obstáculos ao longo desses doze anos. Dois dos principais são, sem dúvidas, o persistente ocultamento de documentos comandado de dentro das Forças Armadas do Ministério da Defesa, infelizmente sob as concordantes assinaturas de ministros e assessores civis que passaram pela pasta desde o primeiro governo civil pós ditadura. O outro é a absurda inexistência de cobertura isenta dos fatos feita ou, na maioria das vezes, não feita, por uma imprensa que se diz livre.
Aliás, essa abordagem furtiva e indiferente, em grande parte jocosa, da imprensa em relação ao Fenômeno UFO, um tema de tamanha importância, não é novidade. Já foi aqui bastante criticada por este ufólogo em outras ocasiões, como no episódio em que a ex-presidente Dilma Rousseff demonstrou seu “devido respeito” pelo próprio episódio de Varginha em uma entrevista sua concedida ao jornalista Carlos Otávio, em agosto de 2013. Como se observou em várias ocasiões, a cobertura das declarações se deram da pior forma possível, em claros tons de gozação. Após as chacotas surgirem redes sociais afora, nem o próprio Governo saiu em defesa da sua então mandatária, o que poderia ser feito se o Ministério da Defesa confirmasse o caso, à época insistentemente solicitado pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU).
Observando essa realidade há anos, passamos então a registrar o comportamento dos meios de comunicação em geral e a postura de alguns jornalistas, em particular. Mas foi somente agora, quando o Caso Varginha completou 20 anos, e o intento da nova LAI nos traz novos horizontes, que interessantes conclusões puderam ser finalizadas. A primeira delas é que nem tudo está perdido, apesar dos comportamentos altamente reprováveis de quem tem a obrigação de informar o cidadão — inclusive, tal postura é criticada dentro da própria imprensa, ainda que essa crítica infelizmente não surta o mesmo efeito, a ponto de anular as consequências da desinformação.
Da ficção à notícia
Ainda em 2013, a jornalista Sheila Sacks, colunista do Observatório da Imprensa, um respeitado projeto para estudos avançados de jornalismo da Universidade de Campinas (Unicamp), e que funciona como uma espécie de ombudsman dos meios de comunicação, criticou o posicionamento particular das mídias de massa brasileiras com relação ao trato dado a assuntos ufológicos. Em uma reportagem sua intitulada Da Ficção à Notícia, Sheila citou como comparação, na edição número 775 do citado veículo jornalístico, a ausência quase que total de cobertura das mídias nacionais em diversos casos ufológicos de impacto mundial.
Narrou como exemplos fatos que ocorreram nos governos ingleses de Margareth Thatcher e Tony Blair, como o famoso Caso Bentwaters [Veja edição UFO 210, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], a abertura dos arquivos britânicos que se seguiram do início ao fim da década passada, incluindo referências a document
os sigilosos vazados pelo site Wikileaks tidos como superdimensionados, mas que mereceriam destaque só pelo fato de serem sigilosos.
Graças à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, conduzida desde 2004 pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) por meio da Revista UFO, hoje uma imensa quantidade de documentos antes sigilosos sobre UFOs está no Arquivo Nacional, em Brasília
No Brasil, Sheila reportou com destaque o encontro entre os membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e militares, coordenado por autoridades civis e ocorrido nas dependências do Ministério da Defesa, em 18 de abril de 2013, e muito pouco comentado pela imprensa nacional. A jornalista permeia sua crítica em célebre afirmativa do ufólogo Rubens Junqueira Villela, consultor da UFO e primeiro cientista brasileiro a pisar no Polo Sul. Indignado com o descaso dos jornalistas, Villela declarou à Sheila: “A abordagem da imprensa e da maioria da mídia acerca da Ufologia é um fracasso total”. E arrematou: “Com raríssimas exceções, os profissionais desses meios são incapazes de uma abordagem objetiva, investigativa e isenta de preconceitos”.
Embora tal incompetência oriunda do preconceito e constatada por Sheila pareça dominar o mundo ufológico, muitas vezes ela sugere haver por trás algum tipo de controle velado e de difícil detecção por quem não está acostumado ao trato do assunto — fato ou mito, verdade é que, haja ou não interesses escusos, quando a notícia nesta área é de relativa importância, a cobertura dada pela imprensa deixa muito a desejar. Quando praticado por grandes veículos, o preconceito exerce influência preponderante sobre assuntos que fogem ao padrão do jornalístico popular, impingindo nestes mais dúvidas do que respostas às questões que o Fenômeno UFO levanta.
O papel da mídia vilipendiado
Nesse caso, a inversão de papéis é visível. Afinal, se a missão maior da imprensa é informar, ou formar impressões tirando dúvidas, no caso em questão, o dos UFOs, a mensagem, que por si só é um tema espinhoso e normalmente tido como tabu nos meios acadêmicos e jornalísticos, é passada exatamente ao contrário do que deveria ser. Primeiro, ou esconde-se ou não se dá a devida atenção à mensagem. Depois, desinforma-se ou desacredita-se, tudo com o nefasto tempero da galhofa, passando na maioria das vezes pela falta de traquejo do próprio emissor sobre o tema. Assim, a impressão do espectador se dá de forma negativa, ou no mínimo, errada.
Mais grave ainda é quando, além do preconceito, ocorre a fragmentação da ideia principal, de forma direcionada e intencional, para posterior descaracterização dos fatos, sobrepujando-se até as mais básicas premissas do jornalismo investigativo ou científico, que são a pesquisa séria, isenta e livre de preconceitos, levada a cabo por pessoas gabaritadas, não por aventureiros. Sim, isso é um fato, embora ocorra de forma muito específica e menos usual, por isso mesmo mais difícil de ser detectada e combatida. É nessa quadratura que se encaixam aqueles que se utilizam do jornalismo científico para tentar desacreditar a Ufologia, em um joguete de suposto ceticismo que visa associar o estudo ufológico a uma aura anticientífica. E que, por essa razão, não deveriam seus estudiosos merecer atenção dos demais cientistas acadêmicos ou, o que é pior, que o estudo literalmente deveria ser defenestrado.
Um exemplo bem significativo desta preocupante postura jornalística em mídia de grande alcance — eletrônica ou impressa —, pudemos assistir recentemente “ao vivo e em cores”, como se dizia antigamente, um mês antes do aniversário de 20 anos do Caso Varginha. Refiro-me ao “debate” a que foi submetido o editor desta publicação, A. J. Gevaerd, no espaço virtual TV Folha, site patrocinado pelo jornal Folha de S. Paulo e retransmitido no domínio UOL. Aqui fazemos questão de inserir a palavra “debate” entre parênteses porque não foi exatamente um debate o que ocorreu — o que assistimos foi uma constante tentativa de supressão do convidado, feita pelos jornalistas editores de ciência da Folha, Ricardo Mioto e Salvador Nogueira. Este último é também editor do blog Mensageiro Sideral, cujo mote das postagens inclui astrobiologia.
Neutralidade zero
Tanto Mioto, que se propôs a ser mediador sem claramente se portar de forma neutra, quanto Nogueira, jornalista que se diz um cético quanto às teorias ufológicas, mas aberto às possibilidades científicas, desde o início deram um péssimo exemplo de como se deve esclarecer as dúvidas com um especialista a respeito de um tema polêmico. Nogueira, que na melhor das hipóteses não morre de amores pelo trabalho dos ufólogos, tentou de todas as formas condensar as explicações no intuito de resumir ao máximo o relato de fatos, testemunhos e pesquisas ufológicas trazidos pelo debatedor, fragmentando o assunto para descaracterizá-lo junto ao público. Para tanto, não faltaram risadinhas ao pé do microfone, atropelo com novas perguntas durante a fala e supressão no tempo de narrativa do debatedor. Embora não tenham logrado sucesso em seu intento, dada à vasta experiência do editor da UFO em ambientes armados, ficou claro até para os mais inocentes que o objetivo da dupla era desacreditar o trabalho ufológico e o resultado das pesquisas.
Para as pessoas que não assistiram ao “debate”, ou não acompanharam as tratativas que o antecederam, até poderia se pensar que estamos exagerando em perceber alguma armação neste caso. Mas a verdade é que a montagem do esquema não começara naquele dia. Meses antes vínhamos sondando o blog Mensageiro Sideral, mantido por Nogueira com assuntos que incluem astronomia e assemelhados, para ver se, indo por aquela via da internet, um antigo desafio da Ufologia pudesse ser aceito por destacado cientista brasileiro com amplo tráfego na mídia, nos meios acadêmicos nacionais e internacionais. O desafio seria para que o professor e físico teórico Marcelo Gleiser, companheiro colunista de Nogueira durante anos na Folha de S. Paulo, viesse debater com neutralidade e abertamente as descobertas dos ufólogos, diferente de como fazia monocraticamente nas folhas do referido jornal.
Gleiser, como se sabe, é um frequente emissor de opiniões descabidas a respeito de vida inteligente fora da Terra — os alvos preferidos de suas aberrações filosóficas são o fenômeno dos agrog
lifos e episódios famosos da Ufologia, como a Operação Prato. O caso do cientista Gleiser merece esse destaque, tendo em vista sua aversão em discutir o tema, e a não concordar com opiniões de colegas seus, como Michio Kaku, outro físico teórico de destaque na mídia, mas que admite abertamente a possibilidade de alienígenas estarem visitando a Terra, com base nos estudos ufológicos e em testemunhos militares.
O “Caso Gleiser”
Discordar de colegas cientistas da mesma área é salutar, mas se aventurar fora disso sem um mínimo de conhecimento e sem oferecer argumentos sustentáveis, aí sim passa-se a ser anticientífico. O “Caso Gleiser” é tão emblemático, que certa vez, após assistir às suas opiniões a respeito da Operação Prato em TV aberta, um amigo militar fez a seguinte correlação: “A comparação mais sensata que se pode fazer de um físico teórico que nega os agroglifos e os resultados da operação de militares na selva é a de um taifeiro preparando o almoço para o brigadeiro, explicando-o como se ganha uma guerra”.
Por outro lado, ainda que Nogueira, assim como o Gleiser, também fosse um cético, fez um razoável trabalho como repórter em matéria da revista Superinteressante, intitulado Arquivos-x Brasileiros. Sua abordagem falou da documentação mandada pela Aeronáutica ao Arquivo Nacional durante o ano de 2008, nos primeiros lotes resultantes da referida campanha UFOs: Liberdade de Informação Já por desclassificação de documentos ufológicos sigilosos, comandada pelos ufólogos da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e apoiada pela Revista UFO. Documentação essa que, inclusive, contém os cadernos da Operação Prato, com aproximadamente 130 fotos e centenas de relatos e pesquisas de campo. Apesar da análise superficial — o que é de se esperar para um repórter leigo em Ufologia — com algumas incorreções e sem reconhecer a paternidade do feito, pelo menos Nogueira o fez de maneira neutra. Dessa forma, estaria ele talvez gabaritado para fazer a ponte com seu colega Gleiser e promover um debate isento entre o cientista e um ou mais membros da CBU. O debate poderia ter também a presença de outros céticos, como Nogueira e Mioto.
Discordar de colegas cientistas da mesma área é salutar, mas se aventurar fora disso sem um mínimo de conhecimento e sem oferecer argumentos sustentáveis, aí sim passa-se a ser anticientífico. Este é o caso, por exemplo, do senhor Marcelo Gleiser
Mas, o que também não chegou a ser uma surpresa para nós, o Mensageiro Sideral não só não quis fazer a ponte, como passou a divagar sobre os possíveis motivos para Gleiser até hoje não ter aceitado qualquer convite para debater o assunto — um deles divulgado há mais de dois anos pelo editor da UFO. Em postagens no seu blog, Nogueira conjecturou que o físico não poderia participar do debate por morar nos Estados Unidos, e que certamente não queria “dar notoriedade à Ufologia”. Mas igualmente não conseguiu conjecturar, que apesar de residir nos Estados Unidos, o professor do Dartmouth Collegenão parou de filosofar e publicar a respeito do mesmo tema sobre o qual nada entende, inclusive em seus artigos esporádicos para a Folha de S. Paulo.
E para não deixar o bolo sem a cereja, no calor das discussões do seu blog, ao tentar reparar o estrago do qual chamamos sua atenção com vários exemplos de outros cientistas, Nogueira passou a duvidar da sanidade mental deles, como do recentemente falecido astronauta Edgard Mitchell, sexto homem a pisar na Lua. Para finalizar, culminou montando o “debate” na TV Folha, no qual só não conseguiu seu intento de denegrir a imagem dos ufólogos devido à bagagem e ao traquejo bem mais experientes do seu antagonista, que por diversas vezes já enfrentou situações semelhantes.
Ingerência civil no sigilo militar?
Se fossem só essas picuinhas midiático-científicas o problema da CBU, já teríamos nos dado por satisfeitos em ao menos estarmos descortinando os arquivos sigilosos escondidos anos a fio, e informando o público aos poucos, apesar dos pesares da mídia corporativa. Embora esses arquivos sigilosos representem apenas pouco mais que a ponta do iceberg, contornaríamos os dissabores da divulgação pública com nossa própria publicação, que — apesar de ser mensal e não atingir toda a população brasileira, longe disso —, ao menos perfaz uma massa crítica bem consciente da realidade e dos fatos. Ademais, em Ufologia, não é a ciência que não encara esses fatos, mas sim alguns cientistas.
O segundo problema, e certamente o maior deles, reside em outra fonte das informações ufológicas: o próprio Governo, com seus relacionamentos civis e militares pouco transparentes. Não é qualquer pessoa que percebe como é difícil adentrar essa fonte inesgotável de informações, e ao mesmo tempo descobrir da forma mais dura que estamos longe de conseguir cooperação pública, nem que os parâmetros legais vigentes assim o determinem.
Na estrutura do Ministério da Defesa existe um órgão chamado Secretaria de Organização Institucional (SEORI). Situada na parte superior da cadeia de comando, mas subordinada à Secretaria Geral, a SEORI é a responsável por tratar as solicitações de cidadãos ou de seguimentos da sociedade representados, endereçadas àquele Ministério. Uma das tarefas da SEORI é acionar os comandos das três Armas, Aeronáutica, Exército e Marinha. Isto se dá conforme solicitação da Secretaria Geral, aplicando a citada Lei de Acesso à Informação (LAI), adaptando-a aos preceitos da ordem hierárquica constitucional, que impõe subordinação militar ao ministro civil, diretamente assessorado pela Secretaria Geral. Com a entrada em vigor da LAI, seria de se esperar que, acionados pelo comando superior das Forças Armadas, representado pelo Ministro da Defesa, as Armas retornassem com informações muito mais completas, sem as delongas ou negativas comumente impostas por oficiais subalternos que coordenam ou trabalham para os recém-criados Serviços de Informações ao Cidadão (SICs) de cada órgão.
O objetivo de criação dos SICs — todos ligados na central online e-SIC do Governo — é agilizar os procedimentos de prestação de informação, cujo período de resposta pode variar, mas não pode passar de 30 dias, quand
o prorrogado. O problema é que, acionados para acesso a informações ufológicas, as negativas são constantes e não passam, sequer, à Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI), que é uma comissão interministerial responsável pelo tratamento e desclassificação das informações sigilosas. Ou seja, como os acionamentos dos SICs militares das três Armas se mostraram infrutíferos, as investidas da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) passaram então a ser direcionadas às instâncias superiores do Ministério da Defesa, só que de forma mais elaborada, com protocolos contendo explanações detalhadas e bem justificadas.
A Carta de Foz
Dessa forma, a Secretaria de Organização Institucional transformou-se no destino final de importantes documentos elaborados pela CBU, como a Carta de Foz do Iguaçu, protocolada em janeiro de 2013, e o livro Varginha, Toda a Verdade Revelada, de autoria do coeditor Marco Antônio Petit, cuja entrada no Ministério da Defesa se deu em abril de 2015. O primeiro protocolo resultou no maior encontro entre ufólogos e militares de que se tem notícia na história da Ufologia Mundial, ocorrido dia 18 de abril de 2013 na Esplanada dos Ministérios, em Brasília [Veja edição UFO 202, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Este, como já amplamente divulgado, significou o início das tratativas para futura parceria entre aquele Ministério e a CBU — em termos gerais, a parceria visava a catalogação e estudo de casos, para posterior divulgação à sociedade. E isso obviamente deveria passar pela desclassificação de toda e qualquer informação relativa aos episódios mais importantes da Ufologia Brasileira, como, por exemplo, o restante dos dados gerados na Operação Prato, sob domínio da Aeronáutica, e toda a informação oriunda do Caso Varginha, sob domínio do Exército.
Existiria um conluio entre civis e militares para manter assuntos específicos sob sigilo, ou seria uma desobediência civil proposital, por medo da Justiça? Esta é uma tese que não pode ser descartada. Haveria aí barreira para a liberdade de informações
Já o envio do livro de Petit à SEORI foi necessário justamente porque, até o momento do seu protocolo, em abril de 2015, o que fora proposto naquela reunião histórica de abril de 2013 — e comemorado mundialmente como um inédito acordo de cavalheiros entre o então chefe da SEORI, servidor público civil Ari Matos Cardoso, e os membros da CBU presentes —, dois anos depois não vinha sendo posto em prática pelo Ministério da Defesa. Na verdade, até que algo vinha sendo feito, mas o quê e em que sentido e circunstâncias só viríamos saber bem depois, na resposta da SEORI ao livro protocolado.
Matos Cardoso nos havia dito alguns meses após o encontro, primeiro por meio de e-mails e depois confirmando por telefone, que reuniões internas estariam em curso durante aquele ano de 2013. Ele pretendia começar o mais rápido possível a desclassificação de informações ufológicas que ainda estava sob sigilo, e estreitar as relações entre ufólogos e militares dentro das propostas feitas na Carta de Foz do Iguaçu. Até porque, antes da referida reunião, ele se disse simpatizante da causa e que conheceu grandes defensores dela, como os generais Uchôa pai e filho. A ideia de criação de um grupo de trabalho (GT) subordinado à SEORI, com a participação de militares e ufólogos, estava em gestação e começava a ganhar corpo.
Ocorre que, no dia 03 de maio do mesmo ano de 2013, Matos Cardoso toma posse na Secretaria Geral, órgão imediatamente superior à SEORI, passando a ser o braço direito do então ministro Celso Amorim. Seria de se esperar que, enquanto homem forte da pasta, sua ingerência sobre assuntos militares aumentasse, e finalmente suas propostas expressas na reunião lograssem êxito. Mas não foi o que aconteceu. Aliás, aconteceu exatamente o contrário. O assunto saiu da alçada de Matos Cardoso.
A hora certa para divulgar
Era ano de eleições. Dilma Rousseff, tentando reeleição, atravessava o Governo conturbado em quase todos os seus ministérios. Tendo sido ela mesma uma das vítimas de tortura durante o regime de exceção, vivia às turras com militares das Forças Armadas, sobretudo em função das recentes descobertas da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Além desta, que sondava os arquivos federais com olhos de águia e faro de cão, outras subcomissões chamadas de “Comissões” regionalizadas da “Verdade” andavam revirando os arquivos em vários estados da Federação.
Este era outro problema dos militares: o vazamento de informações estarrecedoras à imprensa, que as difundia em manchetes intermináveis, o que irritava profundamente a influente parte Reserva da caserna, que não queria ver seus feitos expostos. Em um ambiente como esse, Ufologia certamente não era um tema importante para dirigentes civis, muito menos para militares, em um Ministério que não conseguia sequer conter os seus insubordinados. Um bando de ufólogos, famintos por informações sigilosas contendo provas sobre alienígenas visitando o Brasil, seria a última coisa que os controles da informação iriam querer ver fuçando seus arquivos. A CNV e suas subsidiárias já estavam fazendo estrago, e na visão deles isso bastava, teria que ter um fim — muita coisa teria que ficar escondida, assim como continua, ainda que ao arrepio da Lei. Contradizendo o que diz o ditado popular e guardadas as devidas proporções, qualquer semelhança entre a CNV e a CBU não é mera coincidência.
No início deste último mandato presidencial o ministro da Defesa foi novamente substituído. Assumiu Jacques Wagner, trocando boa parte da equipe civil, especialmente o secretário geral. O doutor Ari Matos Cardoso deixou seu cargo no ministério dia 15 de janeiro de 2015 e, à guisa das respostas da Secretaria de Organização Institucional (SEORI) às últimas indagações da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), as tratativas da reunião do dia 13 de abril de 2013 se foram com ele.
Os documentos não mentem
Só podemos concluir que a retórica dos comandos das Forças Armadas, ao responderem negativamente aos pedidos de acesso à informação ufológica feitos diretamente por cidadãos via os citados SICs, ou quando são indagados por seus superiores civis e se comportam da mesma maneira, ou seja, a de que cumprem com os deveres constitucionais da última Carta Magna e da LAI0não é verídica. Pelo menos, quando o assunto é sigilo de informação, o descumprimento da lei ficou muito claro em várias ocasiõ
;es. Neste quesito, os militares não sofrem ingerência dos governos civis em instâncias superiores ao Ministério da Defesa, e nem da Justiça — os fatos que comprovam essas premissas vêm surgindo paulatinamente, conforme as investigações avançam e as declarações contraditórias dos próprios militares aparecem. O que nos suscita um mistério, talvez mais uma indagação. Existiria um conluio entre civis e militares para manter assuntos específicos sob sigilo, ou seria uma desobediência civil proposital, por medo da Justiça?
Os mais desavisados podem pensar que estamos exagerando, conspirando contra a ordem militar — assim como alguns pensam sobre o relatório final da CNV. Ou então que nos falta acuidade na interpretação das leis. Mas esses que assim concluem não sabem que as provas vêm se acumulando desde que a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já foi lançada. É o que, por exemplo, explicitam vários testemunhos que chegaram à CBU, alguns inclusive trazendo documentos. Um exemplo é o ofício nº 9938 SEORI via Secretaria Geral do Ministério da Defesa, que veio em resposta ao protocolo de Varginha, Toda a Verdade Revelada [Código LIV-033 da Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO e no Portal UFO: ufo.com.br].
Aqui abrimos um adendo com o conteúdo da referida obra de Petit, que, entre outras informações relevantes do que ocorrera no final de 1995, em 1996 e anos seguintes em Varginha, Três Corações e Campinas, detalha com farta apresentação de testemunhas e documentos toda a farsa montada e escondida pelo Exército durante 14 anos. Referimo-nos ao Inquérito Policial Militar número 18/97 da Escola de Sargento das Armas (EsSA), o qual só foi revelado após a CBU acionar a Câmara dos Deputados, por meio de dois Requerimentos de Informações, assinados pelo deputado federal Chico Alencar, de números 4470/2009 e 679/2011.
Omissão militar
Até as respostas a esses requerimentos chegarem à Câmara, dias 20 de abril de 2010 e 19 de agosto de 2011, respectivamente, apenas a Aeronáutica havia se manifestado sobre seu acervo. Exército e Marinha mantiveram-se sempre na negativa. Até então, o Exército nunca havia informado que gerara documentos ufológicos na EsSA entre 1996 e 1997, que é o caso do citado inquérito. Nem mesmo quando indagado pela Presidência da República, em outros ofícios enviados em janeiro e maio de 2008 ao Ministério da Defesa, da Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil (SAJ), durante os desdobramentos do Dossiê UFO Brasil, outra preciosa peça da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já.
Cabe também relembrar que o dossiê, uma das maiores jogadas da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) na campanha por abertura dos arquivos ufológicos secretos, foi protocolado na Presidência da República em dezembro de 2007. Ele acionava a antiga Lei de Liberdade de Informações, então com número 11.111/2005, hoje revogada pela sucessora, com número 12.527/2011, e fora destinado à então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com cópia para vários ministros indicados na Lei, responsáveis pelo trato de questões envolvendo informações sigilosas, inclusive o próprio ministro da Defesa na época, Nelson Jobim.
Há luz no fim do túnel. Se não há razões para a destruição de informações ufológicas, os militares não o fizeram. Por si só, o fato de algumas dessas informações existirem, justifica a continuidade da luta pelos nossos direitos de cidadão em uma democracia
Pior ocorrera com a Marinha, que, até responder ao Requerimento de Informações número 679/2011, negava peremptoriamente tanto à CBU quanto à Casa Civil possuir qualquer documento sigiloso relativo à Ufologia. O comando da Arma chegou ao cúmulo de oficializar a sua mentira em uma “certidão negativa” enviada via Correios à CBU, com o número 60-3/2010. Já era a segunda vez que a Arma fazia isso, pois, em 2008, burlou a própria Presidência da República ao negar, nas respostas a um ofício, possuir registros do disco voador que sobrevoou a Ilha da Trindade, dentro dos limites oceânicos brasileiras, em janeiro de 1958.
O documento intitulado Relatório de Fim de Comissão do Posto Oceanográfico Ilha da Trindade, incluindo as imagens do fotógrafo Almiro Baraúna, todos com o carimbo de “reservado”, já estavam microfilmados nos arquivos do Centro de Informação da Marinha (Cenimar) desde 1973, ano em que a Arma concluíra a microfilmagem de todo o acervo dos arquivos pretéritos seus, do Exército e da Aeronáutica. Mesmo assim, cópias do Caso Ilha da Trindade só foram disponibilizadas em 2012, após requerimento deste ufólogo com o uso da atual Lei de Acesso à Informação.
Concluindo, enquanto a Aeronáutica dentro de suas limitações trabalhava para cumprir a Lei, desclassificando e enviando parte de suas informações ufológicas ao Arquivo Nacional — o que começou em outubro de 2008 e continua até hoje —, Exército e Marinha se negavam a executar o que seus superiores civis determinavam, infringindo tanto LAI quanto a Constituição. E continuam a negar acesso. Até a própria Aeronáutica, que sempre tomou a frente nessa questão, ao que tudo indica, continua sem enviar tudo o que possui para o Arquivo Nacional. Com certeza, esse é o caso do restante das informações da Operação Prato, que oficialmente diz não saber onde foi parar…
Esse caso em particular passou a novamente se tornar o calcanhar de Aquiles da Força Aérea Brasileira (FAB), desde que outro oficial do seu próprio corpo confirmou as desconfianças dos ufólogos logo após a reunião de 13 de abril de 2013. O então coordenador do Serviço de Informações ao Cidadão do Ministério da Defesa, hoje na Reserva, coronel Alexandre Emílio Spengler, um dos principais participantes da grande reunião provocada pela Carta de Foz do Iguaçu, afirmou com todas as letras à imprensa que cobria o evento que, sim, ainda existiam informações classifica
das sobre a Operação Prato. Mas informou também que providências estariam sendo tomadas para que o restante fosse desclassificado, concordando com o que dissera o doutor Ari Matos Cardoso e, finalmente, enviado ao Arquivo Nacional. Depois do coronel Uyrangê Hollanda, chefe da referida operação executada pela FAB na Amazônia, no ano de 1977, foi a primeira vez que um oficial afirmou publicamente que esse material ainda existia [Veja edição UFO 203, disponível na íntegra em ufo.com.br].
Porém, passados mais de três anos da reunião histórica, nada veio à tona — muito pelo contrário, o que solicitamos de mais importante até agora nos foi negado pelo Estado. E as últimas portas que ainda dispúnhamos para solicitar não só a documentação restante Operação Prato, mas tantos outros documentos que continuam encobertos nos arquivos militares, estão sendo fechadas pouco a pouco. Não pelos dispositivos que a LAI dispôs para que se chegasse às informações, mas pelo seu uso meramente burocrático por servidores públicos. Tudo por baixo dos complacentes olhos das autoridades de instâncias civis superiores. É o que nos mostram vários dos pareceres finais da Controladoria Geral da União (CGU) quanto a pedidos de revisão de decisão denegatória. Um dos casos envolvem justamente o acesso às fotografias restantes da Operação, mais de 500, e às gravações com registros dos UFOs captados em pleno voo, aproximadamente 16 horas de filmagens nos formatos super 8 e 16 mm, segundo o coronel Hollanda.
Golpe da dura realidade
Na decisão final do processo número 60502.003889/2013-81, um dos vários que formam a numerosa estatística dos pedidos de informações ufológicas que se iniciaram após a vigência da LAI, podemos perceber mais um golpe da dura realidade que o cidadão que tenta chegar à verdade tem que aguentar. Nesse processo, a citada CGU, que é a última instância a se recorrer das constantes negativas militares, simplesmente acata o que diz o Comando da Aeronáutica, sem sequer checar os fatos e o que foi dito, quem disse e, sobretudo, se quem disse estaria disposto a repetir o que disse. E mais, diante da negativa do referido Comando em responder alguma coisa que servisse de satisfação ao cidadão — uma vez que, pelo próprio teor da argumentação, ele sabe o que foi enviado pela Aeronáutica ao Arquivo Nacional —, a CGU não procura saber se as informações solicitadas especificamente no pedido um dia existiram e, se existiram, o que foi feito delas. Apenas aceita o que o diz o Comando: “Que não há outras considerações nem material classificado sobre a chamada Operação Prato a serem disponibilizados”.
E encerra-se o assunto com o insipiente argumento de que, “até prova em contrário, a informação oferecida pelo Comando da Aeronáutica presume-se legítima, seguindo o princípio constitucional da legalidade, sendo prestada de boa-fé”. Com esse final, que diríamos ser, no mínimo, abrupto e melancólico, uma analista de finanças e controle assina o veredicto, prontamente acompanhado por um substituto do ouvidor-geral da União. Ponto final na questão. É, essa tem sido a tônica das decisões. É como se a CGU funcionasse como um órgão meramente acessório, embora na lei figure como instância superior ao Ministério da Defesa. Ou, sendo mais claro e comparativo, a CGU funciona como um “Carimbador Geral da União” das decisões proferidas pelos comandos singulares do Ministério. O mesmo se dá com relação aos casos solicitados aos comandos da Marinha e do Exército, quando recorridos às instâncias superiores.
O gabinete de comando do Exército, para finalizar os maus exemplos de desobediência à Lei, escreve no ofício número 502-A3.6/A3, enviado à Secretaria de Organização Institucional (SEORI) em 21 de julho de 2015, como resposta à provocação sobre a posse de documentos sobre o Caso Varginha, a seguinte informação: “Ratifico a inexistência de registros de ocorrências de conhecimento e a ausência de pesquisa em qualquer linha concernente à Ufologia”.
Mais casos em Minas
Ora, sabe-se, não é de hoje, que toda aquela região do sul de Minas é de rica casuística ufológica. Só na Escola de Sargentos das Armas (EsSA) são pelo menos dois casos relevantes de UFOs de que se tem notícia pela mídia. Além do episódio de 1996, que teve como protagonistas as irmãs Valquíria, Liliane Silva e Kátia Xavier, e como testemunhas-chave vários militares, há também o episódio do então soldado Geraldo Bichara, abduzido na madrugada do dia 26 de agosto de 1962, em pleno serviço de guarda no paiol das munições da Escola. Bichara hoje é um militar aposentado que exerce a profissão de comerciante em Três Corações (MG), sua história de abdução é conhecida no Brasil inteiro e é frequentemente lembrada em programas televisivos que abordam o tema, posto que o abduzido foi submetido a sessões de regressão hipnótica sem ter entrado em contradição.
Mas existe um outro caso que, se o Exército diz que não tem documentos sobre esses dois primeiros, a Aeronáutica tem sobre um terceiro, e certamente o compartilhou com a Arma terrestre. Trata-se do Informe Reservado número 18, da Divisão de Segurança do Comando Geral de Apoio da 2ª Zona Aérea, destinado ao Centro de Informações da Aeronáutica (CISA). Desclassificado e enviado ao Arquivo Nacional nos primeiros lotes da Aeronáutica, esse incrível informe complementar expressa com clareza como um objeto não identificado de forma ovalada sobrevoou Varginha e arredores, tomando o rumo à cidade vizinha de Três Corações, finalizando seu passeio pairando sobre a EsSA, “em altura relativamente baixa”, segundo o documento, quando foi testemunhado por militares daquele órgão. Esse informe específico e típico de relatório sigiloso de sentinelas em serviço é um complemento de outro documento chamado Encaminhamento número 54, de 03 de março de 1971, que estranhamente não está no Arquivo Nacional, mas certamente relata os fatos ocorridos naqueles primeiros meses de 1971 na região, já que isto consta no informe complementar.
Não é a primeira vez que descobrimos essas raridades no Arquivo Nacional, que, se não evidenciam o compartilhamento de informações ufológicas entre as Forças Armadas, sugerem que militares de outra arma registraram a ocorrência, consequentemente gerando informação. A Aeronáutica já fez o mesmo com a Marinha, de forma inversa, no acontecimento envolvendo a corveta Mearim, em missão no Rio Amazonas, perto de Parintins (AM). Como o CISA tem isso, originado e mantido desde os anos mais tensos do período da
ditadura, e o Exército ratifica à SEORI não existir nada em seus arquivos? Como os civis do Ministério da Defesa ou da CGU não questionam nada a respeito dessas incongruências?
O destino final das buscas
É fato que uma parcela dos arquivos ufológicos requisitados pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) pode ter sido extraviada, ou talvez destruída, conforme os comandos das Forças Armadas argumentam. Contudo, mesmo sob tamanho controle, as verdades sobre a omissão continuam aparecendo. Acontece que nenhuma dessas possibilidades ainda foi sequer admitida, ainda que reservadamente, entre nossas fontes militares. Isso é um sinal de que, assim como os documentos da ditadura, certamente a maior parte dos registros de UFOs está preservada, e muito bem preservada. E, ao que tudo indica, no passado foi copiada e compartilhada.
Militares são seguidores de doutrinas rígidas. É inadmissível fugirem aos preceitos básicos que regem uma estrutura em torre, como o legalismo, formalismo, disciplina, obediência às regras de procedimento e controle. Consequentemente, desses preceitos deriva-se verdadeira obsessão pelo registro da informação, pelo detalhamento e apego excessivo a detalhes, enfim, pela preservação desses registros nos mais variados formatos de informação quanto a tecnologia vigente o permitir.
É ilegal a destruição de documentos do período da repressão, sem deixar vestígio algum sobre eles, como os Termos de Destruição previstos nas diversas leis que acompanham a história da arquivologia brasileira, poderia significar uma confissão de culpa pelos crimes cometidos. Seja de que forma for, em nenhum desses raciocínios se encaixam motivos para a destruição de provas da existência de vida alienígena inteligente visitando o Território Brasileiro — e aqui o assunto se reveste de outra roupagem, que pode tanto passar pelo viés legalista da segurança da sociedade e do Estado, e tantos outros matizes que esse viés pode se enquadrar, quanto pela possível obtenção de tecnologia, avançadíssima para os padrões militares terrestres.
Discussões filosóficas a respeito da postura dos governos militares e civis e da visão crítica da mídia são importantes e devem ser levadas a cabo exaustivamente, na medida em que os fatos vão sendo descobertos e o amadurecimento das consciências progredindo. Sempre que houver oportunidade, vamos desenvolvê-las. Contudo, se ainda não podemos ter acesso ao corpo principal das informações que possam levar a mais discussões e conclusões, pelo menos as constatações aqui expostas servem-nos como explicação, mesmo que não justifique, para o atual estágio aparentemente estagnado da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Por outro lado, temos o alento ao ver uma luz no fim do túnel. Se não há razões para a destruição de informações ufológicas, os militares não o fizeram. Por si só, o fato de algumas dessas informações existirem, justifica-se a continuidade da luta pelos nossos direitos de cidadão em uma democracia.