A relevância das testemunhas oculares tem de ser restituída dentro da Ufologia. Ela tem sido enfraquecida por revisionistas e céticos que estabelecem um duplo padrão para o que é aceito como verdade. Fatos são fatos, e criminosos ainda são condenados com base unicamente nas declarações de testemunhas. A Ufologia sempre exigiu — e sempre deveria exigir — um nível científico muito mais alto de aceitação por parte do público devido à natureza extraordinária do fenômeno. Mas, deixando de lado os céticos, aqueles de nós que ainda declaram objetividade deveriam dar às testemunhas toda e qualquer oportunidade para contarem os fatos como os conhecem, muito embora aquilo que digam possa nos desagradar. Do contrário, vamos nos tornar nada mais do que coletores de histórias e cair na mesma armadilha da complacência em que cai a maioria dos jornalistas contemporâneos quando o assunto são os UFOs.
Nos últimos 25 anos, grandes esforços foram feitos para encontrar explicações para um dos mais desconcertantes e impossíveis mistérios de todos os tempos: o que de fato caiu perto de Roswell, em 1947? O Governo dos Estados Unidos distribuiu possíveis respostas que mais parecem saídas da cabeça de uma criança, pesquisadores debatem não se houve um UFO envolvido no caso, mas onde e até mesmo quantos, e detratores continuam tentando desmascarar o fato, obviamente sem sucesso. Depois de investir por muitos anos na tentativa de eliminar qualquer outra explicação, restam apenas dois cenários possíveis: ou o Caso Roswell perpetua uma grandiosa campanha para encobrir algum projeto extremamente sigiloso que deu errado ou os fatos realmente ocorreram da forma como afirmam todas as testemunhas.
Surpreende o fato de que tantos de nós, subjetivamente, descartamos centenas de relatos de testemunhas oculares e simplesmente inserimos uma hipótese aleatória em seu lugar. Depois tentamos fazer todos os fatos conhecidos magicamente se encaixarem na nova forma. É a nova “teoria do mês”, como gostamos de chamá-la. Seguindo essa lógica, seria preferível que alguém fabricasse descaradamente todo o episódio para encobrir a verdade, com a condição de que, algum dia, preferencialmente enquanto ainda estivermos vivos, um governo mais transparente divulgue os arquivos e a verdadeira natureza do ocorrido seja revelada. Infelizmente, o oficialismo continua no escuro, acabando por criar mais suspeitas do que soluções. Tudo de forma bastante indefinida. O controle da divulgação de informações ainda é o preceito primário das autoridades. Muitas vezes movido apenas por medo e ignorância.
Reinvestigando Roswell
Uma vez que a transparência não é uma opção nesse cenário, pesquisas sobre UFOs — e especificamente sobre o Caso Roswell — chegaram a um determinado ponto de conhecimento e aceitação do público com relação à verdadeira natureza do que se encontra por trás da lenda: o mito do que efetivamente começou tudo isso. Com esse pretexto, o leitor deve usar sua habilidade investigativa para reexaminar as origens da trama. Sem ideias preconcebidas, vamos nos concentrar no aspecto humano de tudo o que concerne ao Caso Roswell. Publicamos, citamos e referenciamos todas as fontes de pesquisa em um período de mais de 20 anos — grande parte delas está disponível para consulta pública. Acreditamos que voltar a investigar a resposta dos envolvidos irá demonstrar a abrangência total desse caso já icônico.
Seria preferível que alguém fabricasse descaradamente todo o Caso Roswell para encobrir a verdade, com a condição de que, algum dia, enquanto ainda estivermos vivos, um governo mais transparente revele a verdadeira natureza do ocorrido
Assim, faremos uma tentativa de separar os rumores daquilo que as testemunhas relatam e juram ser verdadeiro. Vamos reexaminar o Caso Roswell pelo olhar de um leigo e ver onde começa a perspectiva humana e onde um olhar negativo intervêm. Ou seja, onde a posição oficial é contrariada pela posição da testemunha. Conduziremos uma investigação pragmática do evento do início ao fim e observaremos se o comportamento humano corresponde às expectativas de algo mundano ou de algo realmente extraordinário. Por fim, examinaremos o que se seguiu aos fatos e se as ações das autoridades coincidem com o comportamento de quem acabara de enterrar todo o Caso Roswell. Trata-se realmente de um “case closed”, como a Força Aérea Norte-Americana (USAF) segue dizendo, desprezando o incidente até hoje? Veremos.
A conjuntura de Roswell
Começamos em um quente e tranquilo verão do Hemisfério Norte, em 1947, pós-Segunda Guerra Mundial. Os discos voadores tinham oficialmente aparecido na última semana de junho e se tornado celebridades instantâneas em todos os meios de comunicação. A questão não era histeria generalizada — havia tecnologia não humana invadindo claramente nosso espaço aéreo. Publicitários e aproveitadores em geral, que jamais perdem uma oportunidade, embarcaram naquela onda e tentaram emplacar uma série de ações publicitárias e boatos isolados. Todos foram facilmente identificados, mas as pessoas continuavam a olhar para o céu ansiosamente. Para o Exército dos Estados Unidos [Ainda não havia Força Aérea], nada daquilo era motivo de piada.
Os dias se passavam e persistia a incapacidade de se identificar os invasores enquanto aumentava a pressão da Casa Branca, e da população sobre o Pentágono, exigindo respostas. Testemunhas avistavam e fotografavam aeronaves que manobravam, tinham desempenho e voavam melhor do que qualquer coisa que pudéssemos mandar ao encalço delas. Um clima de tensão começou a suplantar a curiosidade, uma vez que os militares não davam nenhuma explicação. Ora, diante de tal situação, que reação poderia se esperar de uma população que em sua média era sofisticada e não supersticiosa?
Àqueles que sugeriram que todo o país havia sido tomado por uma assustadora repetição da ainda não esquecida transmissão de A Guerra dos Mundos [Famoso programa radiofônico feito por Orson Welles, em 1938, como uma brincadeira de Halloween, anunciando que marcianos estavam invadindo o estado do Kansas], a história provou o contrário. De acordo com as pesquisas dos principais jornais da época, com opções de respostas que incluíam de tudo, desde equipamentos secretos do Exército até aviões estrangeiros de espionagem, a porcentagem de pessoas que de fato acreditava que estávamos diante de inteligência extraterrestre era de ape
nas 2%. Esses números dificilmente refletem as conclusões finais daqueles que residiam pacificamente na região de Roswell, Novo México, em julho de 1947. Na verdade, muitas das testemunhas-chave diretamente ligadas ao evento nunca tinham ouvido a famosa transmissão de rádio. Não obstante, nenhuma delas havia previsto os eventos que ainda estavam por vir e que mudariam suas vidas.
De acordo com o Projeto Blue Book, da Força Aérea, houve mais avistamentos de UFOs naquela época no Novo México do que em qualquer outro lugar do país — o estado claramente era alvo da curiosidade de alguém. Aviões espiões russos? Testes atômicos sigilosos? Independentemente de quem estivesse por trás daquele dilema, o Novo México contava cada vez mais com UFOs em seus céus, e os Estados Unidos já tinham a bomba atômica. “Não precisávamos de mais emoção”, disse um oficial, quando questionado sobre os UFOs.
Escombros após a tormenta
A vasta área de deserto na parte central do estado é terra de pastagem aberta. Os fazendeiros eram mais do que espectadores casuais da constante demonstração de exibicionismo militar. Então, quando aqueles civis relataram ter ouvido uma explosão entre as trovoadas da noite de 02 de julho, no meio da madrugada, isso foi suficiente para atiçar a curiosidade dos rancheiros da região. A preocupação rendeu frutos. Na madrugada seguinte, o fazendeiro W. W. “Mack” Brazel saiu para sua inspeção rotineira dos efeitos das chuvas da noite anterior e se deparou com uma cena que mudaria sua vida para sempre. Sabemos que Brazel não tinha conhecimento do frenesi em relação aos discos voadores que tomava conta do país, então ele não chegou imediatamente a essa conclusão — o fazendeiro se comportou da mesma forma que sempre fazia nos típicos casos anteriores de “escombros dos céus”.
Sendo um capaz responsável pela fazenda que cuidava, ele normalmente teria recolhido o “lixo” e tirado o mesmo do pasto do gado bovino e ovino. Uma evidência disso é um tanque de água na casa grande da fazenda, que, até 1992, estava repleto de balões meteorológicos. Os fazendeiros depositaram tais escombros em tanques como aquele por mais de 50 anos. Mas Brazel não recolheu o material e o descartou, como deveria ter feito. Mais tarde, ele lamentaria o esforço extra para desviar as ovelhas por 3 km ao redor do pasto, o que claramente sugere o tamanho da área dos escombros. Ele relatou que as ovelhas tinham medo do material estranho. O que ocorreu em seguida também foi bastante diferente do ordinário. O homem, perplexo, teria levado as amostras do acidente para seus vizinhos e pedido ajuda. Depois, teria ido até a cidade mais próxima, Corona, e telefonado para o seu chefe no Texas, ainda procurando respostas. Pedaços dos escombros teriam começado a circular pela cidade, inclusive no bar local, deixando os frequentadores tão confusos quanto Brazel.
Subterfúgios são uma especialidade de Washington, que já tinha os materiais de Roswell em mãos. Não houve nenhuma precipitação. Eles precisavam admitir que algo estava acontecendo e então primeiro criaram suspense e depois abafaram o caso
Os artefatos também teriam roubado a cena no Rodeio Anual de Quatro de Julho, em Capitan, uma hora ao sul do campo dos escombros. Todos os relatos afirmam que ninguém teria sido capaz de cortar, queimar ou identificar aquele material incomum. Naquela mesma noite, Brazel, frustrado, teria retornado para o campo do acidente para rebocar um pedaço grande dos escombros até um estábulo a 5 km dali. Essas teriam sido as atividades dos civis e sua resposta a esse evento extraordinário. Assim caía a noite do primeiro dia.
A história estava se espalhando rapidamente pela região, o que levou muitos curiosos até a cena, que era alvo de toda a especulação. Tal comportamento não era nem um pouco condizente com indivíduos pé-no-chão, centrados e trabalhadores, cujo aperto de mão era um contrato e que não gostavam de ser contrariados. Eles não acreditavam em nada daquilo, precisavam ver por si próprios. Conforme foi descrito por homens, mulheres e crianças, os boatos eram verdadeiros, e eles levaram para casa alguns dos pedaços mais exóticos dos escombros, como se estivessem em uma loja de doces sem supervisão.
Observe o leitor que os vizinhos escondiam seus troféus em cavernas, tanques de água, debaixo do assoalho, em sacos de ração, gôndolas de frutas e até dentro de jarras de pêssego em conserva. Duas perguntas óbvias são: de quem eles estavam ocultando aquelas evidências, e por que tanto segredo? De qualquer forma, para algo tão sensível e importante para a segurança nacional de “alguém”, nenhuma autoridade — isso mesmo, ninguém, — estava buscando por nada. Nada foi dado como desaparecido. Tal foi a resposta civil a esse evento extraordinário.
O começo do Caso Roswell
Sem ter nenhuma pista, Brazel tomou uma decisão — depois de completar suas tarefas da semana, ele foi até Roswell para verificar o preço da lã de algumas ovelhas e aproveitou, já que passaria pelo Condado de Lincoln, para perguntar a um policial de lá sobre o estranho material e os escombros. Mas nem mesmo o policial do local, que deveria saber tudo o que acontecia em sua jurisdição, foi capaz de reconhecer aqueles destroços. Ele então decidiu que iria relatar o acontecimento em Roswell. Até aí, nem um único indivíduo havia identificado o material como algo fora do comum.
Para a tristeza de Brazel, nem o delegado nem nenhum de seus subordinados pôde oferecer ajuda. Contudo, o oficial ficou tão impressionado com a caixa de escombros em sua mesa que enviou dois de seus oficiais para averiguar a história. Apesar disso, Brazel ainda estava na estaca zero. O que aconteceu a seguir criou exatamente o cenário de terror que o Governo dos Estados Unidos mais teme: a imprensa. Esta, embora por acaso, acabou pegando carona na história. A estação de rádio KGFL, de Roswell, falou com o fazendeiro pelo telefone enquanto ele ainda estava no escritório do xerife. Brazel não apenas disse que alguém deveria ser responsável por limpar a área dos escombros, mas ainda jogou gasolina no fogo. “Eles não eram humanos”, disse. O repórter, em total descrença, seguiu pedindo que o perturbado homem entrasse em contato com uma unidade do Exército sediada na Base de Roswell. Aquilo parecia ser algo que eles deveriam saber imediatamente.
Tenha em mente o leitor que isso ocorreu no domingo do feriado de 04 de julho,
Dia da Independência dos Estados Unidos. Agora, imagine que um fazendeiro qualquer invente uma história e que, não somente o chefe de Inteligência da mais prestigiada unidade militar dos Estados Unidos — o 509º Grupamento da Bomba Atômica — toma nota imediatamente, mas também que o próprio comandante da base se envolva na história. O leitor já pode parar de imaginar. O mistério se aprofunda quando o comandante em questão também não consegue identificar os escombros, e não há absolutamente nenhum comunicado de aeronave caída, testes secretos nem de lançamentos de foguetes. Ora, se alguma coisa acontecesse na área de Roswell, eles teriam sido os primeiros a serem notificados. E se havia uma questão para a qual o Exército estava sempre em alerta eram as bombas atômicas que naquela base se guardavam e sua segurança.
O que quer que fosse aquele material, e onde quer que o restante dele estivesse, ele certamente chamou a atenção dos militares de alto escalão. Que outro motivo faria o tal comandante enviar seu chefe de Inteligência e seu oficial de Inteligência Estrangeira, este último para o caso de se tratar de algo fabricado em outro país, para lá? Por que outra razão teria ele sido enviado? E se isso já não fosse motivo suficiente para preocupação, estando de posse de uma caixa cheia com os verdadeiros escombros, por que ele não foi imediatamente até o seu superior, na Base de Fort Worth, e o alertou? Como se isso não bastasse para sugerir a seriedade da situação, ainda podemos perguntar por que o superior dele contatou imediatamente o seu próprio superior em Washington?
Estado de confusão
Claramente, aqueles oficiais de alto escalão se encontravam no mesmo estado de confusão que o fazendeiro: “O que diabos é isso e Deus nos ajude se não for humano”. Por último, o Pentágono queria ver o material em primeira mão e rapidamente pediu que parte dele fosse enviado até lá para ser analisado — o interesse cada vez maior nos estranhos escombros tinha chegado até a Capital Federal, mas a situação seguia sendo de ignorância total. Brazel e os dois policiais só chegaram ao rancho prestes a escurecer. Agora, tudo estava nas mãos do Exército.
Ao raiar do dia, os dois oficiais fizeram uma varredura apressada no campo, uma vez que os escombros tinham se espalhado com os fortes ventos. Brazel só queria que tudo aquilo acabasse e ele pudesse voltar a cuidar da fazenda, e o Exército só queria que aquilo fosse material terrestre, por pior que fosse. Mas os escombros eram volumosos e se alastravam por mais de 1,5 km de raio. Rapidamente, eles determinaram que a causa deveria ter sido uma explosão em pleno ar, à meia altura, o que acabara produzindo uma chuva de detritos e componentes que se espalharam em forma de leque. Havia muito mais material sobre o solo do que eles conseguiriam carregar em dois veículos. O campo estava coberto dos mesmos destroços que as amostras que eles tinham em Roswell. Os dois militares reuniram tudo o que podiam enquanto Brazel retornava às suas atividades. De volta a Roswell, a imprensa estava agitada. E se a história da queda do disco voador fosse verdadeira?
Escombros continuavam sendo carregados para a base. A nave de origem desconhecida chegou relativamente intacta em um caminhão reboque pelo portão leste da base, e restos mortais foram examinados sob segurança máxima no Hospital Militar de Roswell
Eles precisavam encontrar o fazendeiro, conseguir o nome dele com o delegado e conseguir falar com ele para fazer a entrevista do século. A KGFL tomou todo o tipo de atalho para passar por cima da autoridade do Exército. A liberdade de imprensa não seria barrada. Foi preciso quase o dia todo para localizar o alvo de seus planos e Brazel passou a noite na emissora de rádio com o proprietário, falando sobre “homenzinhos” e sendo gravado por uma escuta. Não muito longe dali, o oficial da Inteligência voltava para casa e acordava sua mulher e seu filho de 11 anos para contar a eles o que havia acontecido, uma experiência que ninguém jamais esqueceria — eram hastes com símbolos estranhos e conversas sobre materiais que não haviam sido fabricados na Terra. Washington continuou em alerta na noite do quarto dia.
Na manhã seguinte, enquanto Brazel tomava uma xícara de café na cozinha do dono da estação de rádio, o comandante da Base de Roswell reuniu seus altos oficiais para uma reunião bem cedo pela manhã, para averiguar o agravamento da situação. Mas antes que os dois membros da Inteligência pudessem sequer dar seus relatos da zona dos escombros, situada 104 km a noroeste da cidade, houve uma nova ocorrência a apenas 65 km ao norte — agora, os destroços de uma outra pequena nave e novos corpos “não humanos” haviam sido encontrados. E como se isso não fosse desconcertante o suficiente, o delegado, o corpo de bombeiros, a imprensa e outros civis já estavam na cena da ocorrência. A situação poderia ter ficado completamente fora de controle, mas um coronel relatou com alívio que toda a área havia sido isolada, as estradas bloqueadas e as testemunhadas coagidas a não falar.
O Exército assume
Subterfúgios são uma especialidade do Exército e Washington já tinha os materiais de Roswell em mãos havia dois dias. Não houve nenhuma atitude precipitada ali. Eles precisavam admitir que algo estava acontecendo e então, cuidadosamente, escolheram a técnica do espantalho: primeiro criar suspense e depois abafar o caso. O comunicado oficial foi minuciosamente escrito. Era questão de tempo. Quanto mais tarde a notícia chegasse aos jornais, menor a chance de ela ser publicada na edição daquele dia, e nenhuma chance de sair na Costa Leste. Foi um golpe de mestre.
O superior do comandante da base estava pronto para voltar a Fort Worth e colocar a Fase 2 da operação em andamento. Dentro de poucas horas, seria dado início à lenta transformação da história de um disco voador na de um suposto e nunca confirmado balão meteorológico — tudo isso enquanto engenheiros mecânicos no Hangar P-3 tentavam martelar um dos maiores pedaços dos escombros com uma marreta de sete quilos. “Ainda sem conseguir sequer amassar aquilo”, conforme comentou um deles. Washington confirmaria os primeiros comunicados à imprensa. Eles tinham uma única oportunidade de fazer dar certo. E assim o encobrimento do caso começou na imprensa com força total. Enquanto isso, na fazenda onde caiu o disco voador, algo se passava.
De 50 a 60 homens chegaram ao campo aberto pela madrugada com uma missão de
recolhimento e limpeza dos destroços da nave. As ordens foram as seguintes: “Recolham qualquer coisa que não se mova”. Ombro a ombro, eles marcharam de joelhos, carregando sacos de estopa sob o Sol de 40° do deserto. Depositavam os artefatos em barris que eram então rolados até pontos de verificação, onde cada peça era etiquetada e numerada. Por último, caminhões foram carregados com caixotes de madeira e enviados de volta para a base em Roswell, para logo em seguida retornar para mais uma viagem, e depois mais outra. “Parece que teve um acidente aqui”, seria o comentário do agente funerário da cidade que esteve no local.
Mas a situação 65 km ao norte de Roswell era muito mais urgente. Foi necessário trazer equipamentos mais pesados, incluindo um caminhão reboque, e o aparato de segurança fazia parecer que havia ocorrido um atentado à segurança nacional. A maioria das pessoas envolvidas na operação de recolhimento só tinha permissão para circular em perímetros específicos — especialistas de fora, como engenheiros e investigadores, foram chamados até a cena e fotógrafos registravam cada movimento da operação. Mas quando as ambulâncias chegaram, o comandante das operações convenientemente anunciou seu afastamento depois que o comunicado à imprensa tinha sido liberado. Enquanto isso, o Manual de Campo do Exército não continha qualquer menção sobre projetos estratégicos desse porte. Tudo isso era terreno inexplorado.
Uma busca imediata por Mack Brazel se seguiu e felizmente, para as autoridades, ele foi localizado rapidamente graças às suposições sobre as tendências naturais de como a imprensa reagiria a tais extraordinários eventos. A gravação da escuta de Brazel também foi confiscada, em total descumprimento à Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que garante o direito à liberdade de imprensa, entre outros. Do começo ao fim, todo o caso ficou à margem da Lei. As reações e respostas tomaram proporções nunca antes vistas. E esse ainda não era o comportamento mais extremo — o principal foco era confiscar e controlar cada pedaço de evidência física que ainda não tivesse sido catalogado. Direitos humanos vinham em segundo lugar, pessoas eram meros obstáculos e as evidências não cooperavam. Nenhum número de série ou etiqueta com informações de origem jamais foram encontrados.
Vazamentos de informação
O pessoal da Base de Roswell foi excluído sempre que possível. Oficiais externos, policiais militares, fotógrafos e até mesmo médicos e enfermeiras chegavam de locais desconhecidos para assumir a campanha. Eram mais testemunhas oculares para dar opiniões profissionais e avaliar a situação. “Estava claro que alguma coisa importante tinha acontecido”, mas ninguém falava nada. Homens eram chamados para realizar tarefas específicas, vindos de unidades separadas. A maioria deles foi transferida para evitar vazamentos de informação depois que a poeira baixasse. As emoções foram postas de lado e o álcool ajudava os militares a trabalharem como se fossem máquinas. O tempo era o inimigo, enquanto os encarregados se debatiam sobre soluções implacáveis.
O episódio envolvendo a queda de uma nave aparentemente de origem não terrestre no Deserto do Novo México e seu respectivo resgate por membros do Exército dos Estados Unidos segue sendo um dos segredos mais bem guardados do país, que vamos tentar quebrar.
Ainda era preciso desviar a atenção do Caso Roswell. Somente o nome do oficial da Inteligência fora citado especificamente no comunicado à imprensa, e ele seria enviado para “uma sede de hierarquia mais elevada”. O comandante saiu de férias depois do feriado de 04 de julho e então o fazendeiro que havia começado toda a comoção não podia mais ser encontrado. Estava tudo bem planejado. Em seguida, a imprensa precisava ser silenciada. Ligações foram feitas da Comissão Federal de Comunicação (FCC), em Washington, com ameaças de sanções aos meios de comunicação em menos de 24 horas. “Nenhuma outra notícia sobre essa situação pode ser publicada”. Um dos senadores do Novo México afirmou, como era de se esperar, estar de mãos atadas. Em uma escala maior, o Escritório Federal de Investigação (FBI) teria interceptado e encerrado uma transmissão nacional que tentava divulgar a verdadeira natureza do incidente — a mídia estava completamente desligada até que uma nova história pudesse substituir esta.
O processo seguia, mas a sincronização era crucial. Também era preciso apontar um bode expiatório. Os acontecimentos estavam preparando o terreno para a conferência de imprensa do século, no Texas. Será que eles permitiriam que todo o mundo visse os destroços trazidos pelo rancheiro desaparecido ou aqueles recolhidos pelos oficiais de Inteligência, ou ainda aqueles enviados a Washington dois dias antes? Àquela altura, eles já tinham tido tempo suficiente para reescrever uma das maiores histórias de todos os tempos e os atores escolhidos só precisavam seguir o roteiro. Tudo isso enquanto o fazendeiro era duramente interrogado em Roswell. Foi negado a ele, inclusive, o direito a uma ligação para a família ou advogado. Sem um mandado de prisão oficial, o procedimento não era obrigatório.
O acobertamento do século
O Exército não tinha autoridade sobre civis, o que tornou a revista corporal ainda mais indigna. Sem o conhecimento da Inteligência do 509a Grupamento da Bomba Atômica, pacotes disfarçados estavam sendo carregados no avião B-29 chamado Dave’s Dream. Originalmente, o destino final seria a Base de Wright Field, em Dayton, no estado de Ohio, mas aquele carregamento especial, embrulhado em papel pardo, seria exibido na coletiva de imprensa daquela tarde em Fort Worth. O general queria que o principal ator estivesse lá para receber os aplausos do público. A história estava para mudar de rumo. Ali, espalhado pelo chão da sala do general, estava um aglomerado de borracha podre, galhos de árvores, fita crepe, linha e tecido refletivo. Um repórter que obteve permissão para entrar no escritório do oficial comentou sobre o cheiro forte de borracha. Pediram que o membro da Inteligência de Roswell posasse para duas fotos desajeitadas e depois saísse de cena e ficasse de boca fechada. Alegando que não havia mais nenhuma necessidade de examinar elementos tão comuns em Dayton, o general havia cancelado o espetáculo. Discretamente, o verdadeiro material prosseguiu para Ohio. Isso foi confirmado pela sede do FBI em Dallas.
oços do disco voador acidentado encontrado no Deserto do Novo México, em julho de 1947
Enquanto isso, em Roswell, a realidade seguia com força total. Escombros continuavam sendo carregados para a base. A nave de origem desconhecida chegou relativamente intacta, em um caminhão reboque pelo portão leste, e restos mortais foram examinados sob segurança máxima no Hospital Militar de Roswell. Todos trabalhavam à base de adrenalina e alguns acabaram por sucumbir às emoções humanas. Uma convocação totalmente inesperada fez com que o medo fosse colocado de lado. A equipe seguia ordens sob a premissa de que alguém sabia o que estava acontecendo, mas a ignorância prevaleceu para a maioria dos homens. Tudo o que eles podiam fazer era tentar ganhar tempo enquanto continham a ocorrência, mesmo que levasse alguns anos. Uma tenda foi erguida e cercada por correntes no canto sudoeste da pista de pouso e aterrissagem da base. Guardas foram colocados no local, que ficava bem ao lado do incinerador de lixo. Alguém comentou que aquele seria o local perfeito para despistar odores estranhos, e não era de borracha podre. Olhos nervosos olhavam para os céus enquanto chegava ao fim o quinto dia.
Uma equipe de socorro chegou ao local no raiar do dia seguinte, mas a área já tinha sido completamente limpa — a tenda, seu conteúdo e a cerca de metal haviam desaparecido. A única prova deixada para trás foram marcas de pneu de avião na grama molhada onde algo desconhecido estava sendo guardado durante a noite. Na mesma manhã, a explicação do balão meteorológico havia sido lançada e foi manchete em todo o país. A imprensa se retratou e o público ficou aliviado. O mesmo Exército que havia acabado de vencer a Segunda Guerra Mundial mais uma vez saía vitorioso, e agora as coisas poderiam voltar ao normal em um verão como outro qualquer. Mas, mesmo para o primeiro esquadrão de bombas atômicas do mundo, nenhum treinamento parecia se aplicar à missão que ainda estava em curso. E com a história do balão fazendo efeito, a política do sigilo tinha prioridade. Isso eles obedeciam todos os dias.
“Eles não eram verdes”
Conforme as últimas evidências eram apressadamente levadas de Roswell, mais tropas foram enviadas para finalizar a limpeza em vários locais ao norte da cidade. Cada pedaço de escombros precisava ser protegido, o que incluía as peças que caíram nas mãos de civis. Assim, enquanto alguns policiais militares confiscavam cada mínimo relato nos meios de comunicação locais, outros estavam removendo assoalhos, esvaziando tanques d’água, rasgando sacos de ração e recolhendo amostras de pêssegos em conserva, enquanto as famílias que viviam nas fazendas apenas assistiam, totalmente perplexas. E ninguém tinha notícias do fazendeiro havia dias.
Quem falará pelas famílias que sobreviveram ao que se seguiu depois de 1947, forçadas a viver em silêncio? Seus pesadelos não são sobre invasores espaciais, mas sobre o telefone que toca sem ninguém na linha, o estranho na rua, o carro que os persegue
A Casa Branca parecia uma sala de guerra enquanto reuniões não programadas continuavam repetindo a máxima preocupação pelo que havia caído do céu no Novo México. O chefe-adjunto da Força Aérea do Exército participou de reuniões com o secretário de Guerra, o chefe do projeto de Armas Especiais das Forças Armadas, o chefe do Estado-Maior Conjunto e o presidente. Várias reuniões, sobrepondo-se e interrompendo-se, aconteceram durante todo o dia — parecia que eles não haviam recebido o aviso sobre o inventado balão meteorológico. Dois emissários do Serviço Secreto foram enviados para supervisionar a operação de recolhimento de destroços e responder diretamente ao comandante. Rostos conhecidos precisaram ser mantidos nas sombras. O público precisava aceitar que foi um fato corriqueiro, mas todas as ações dos envolvidos continuavam a sugerir o contrário.
Mack Brazel agora estava pronto para desmentir sua história original, tendo sido bem preparado pelos militares para isso — seus amigos e conhecidos do fazendeiro observaram enquanto oficiais escoltavam o próximo bode expiatório até o principal jornal da cidade e duas estações de rádio. Tal retratação falava de um simples engano ao comunicar o que era obviamente um balão meteorológico. Brazel foi intimado a ficar em silêncio da próxima vez que “visse qualquer coisa que não fosse uma bomba”. Sem dúvidas, o principal motivo para aquele civil ser detido ia além de uma mera retratação. Brazel havia visto muito mais e eles precisavam mostrá-lo como sendo parte do espetáculo por vontade própria. Quase 70 anos depois, seu comentário assombrado ainda ressoa: “Eles não eram verdes”.
“Esvaziando a história”
Outro voo não programado naquela tarde iria sugerir a validade desse comentário, como foi relatado por todas as testemunhas. O que havia sido guardado na noite anterior dentro da tenda temporária agora estava em um caixote vigiado, que foi carregado em um avião B-29 chamado Straight Flush na estação conhecida como Poço 1 da Bomba Atômica, de onde tinha sido tirado o artefato. Quase 24 horas depois de o general ter “esvaziado a história do disco voador de Roswell”, ele, junto com outros oficiais e um agente funerário, aguardavam ansiosamente a chegada dos restos mortais contidos naquele grande caixote de madeira — é irônico que a menção a manequins de madeira fizesse parte da história contada para encobrir o caso, mas foi o que houve.
A operação de recolhimento estava rapidamente se encerrando em todas as frontes e os habitantes de Roswell foram persuadidos a deixar todo o incidente para trás. Mas o controlador do Governo dos Estados Unidos estava prestes a tomar atitudes ainda mais agressivas. Confisco de relatórios da imprensa, militares exigindo juramentos de segredo, membros da população sendo obrigados a realizar atos de repressão e intimidação e a mais odiosa violação da Constituição dos Estados Unidos: a utilização do Exército para ameaçar fisicamente as próprias vidas dos cidadãos. Equipes de busca militares continuaram recolhendo vestígios anos depois de a história ter sido enterrada, inclusive material do próprio filho de Brazel dois anos depois do incidente.
Basta analisar o que aconteceu com o fazendeiro especificamente depois do ocorrido. De acordo com todas as fontes, o humilde homem perdeu a própria alma para o governo. Familiares disseram que o incidente destruiu o xerife, que não tentaria se reeleger, e o oficial de relações públicas da Força Aérea precisou renunciar ao cargo. O mesmo aconteceu com o oficial de Inteligência, que depois de Roswell ficou conhecido pri
ncipalmente por duas fotografias dele, forjadas com escombros do falso balão. Outros foram imediatamente transferidos e alguns promovidos por serem bons soldados. Ninguém foi repreendido, ninguém foi rebaixado. O comandante da Base de Roswell chegou ao mais alto cargo do Exército e recebeu condecorações. As vítimas do pior tratamento e intimidação foram claramente os civis.
Material fino como papel
O serviço militar é uma ditadura, enquanto os civis têm seus direitos garantidos pelos fundadores da nação. Um bom exemplo do cerne de todo o histórico evento foi a recuperação das peças, aparentemente de metal, originalmente trazidas pelo fazendeiro e desde então ocultadas pelo xerife, enquanto o Tribunal do Condado de Chávez, em Roswell, era cercado por policiais militares e a família do fazendeiro assistia a tudo horrorizada. Tudo girava em volta da evidência física. Mesmo os vestígios do mais controverso teste secreto são essencialmente objetos corriqueiros, mas em pleno 2016 ainda estamos por desenvolver um material fino como papel e praticamente indestrutível com memória perfeita, como eram os escombros.
E as declarações constantes de diversas testemunhas que, em seu leito de morte, falam sobre terem visto “homenzinhos” não se refere a humanos de baixa estatura ou a macacos que foram tosados e colocados a bordo de balões de teste, como alegaram os céticos nestes últimos anos — todas as testemunhas foram muito claras a esse respeito. Últimas palavras são admissíveis nos tribunais dos Estados Unidos por um motivo, e se descartamos as que nos desagradam, vamos ter que descartar todas. Roswell não deveria ser uma exceção.
O fim da história?
Para o alívio dos Estados Unidos, e para o resto do mundo, diga-se de passagem, o Novo México havia sido vítima da “tática de terra arrasada”, deixando seus habitantes revoltados contra as pessoas que deveriam proteger a sua segurança e bem-estar. A relação entre a Força Aérea e os habitantes de Roswell estaria para sempre manchada — toda aquela situação estava envolta em uma nuvem negra, mas o Pentágono estava longe de ter finalizado seu “controle de danos”, maldizendo todos os relatos de discos voadores e as pessoas que os avistaram.
O próximo passo foi uma tentativa nacional de descartar qualquer avistamento ufológico que surgisse — a lógica era que, se um balão meteorológico tinha sido capaz de explicar as extraordinárias provas físicas encontradas em Roswell, seria muito mais simples utilizar essa mesma explicação como solução para toda a fenomenologia ufológica que ocorresse. Como resultado, demonstrações de lançamento de balões foram conduzidas publicamente em bases militares em todo o país. De Nova York à Califórnia, testemunhas viram que um balão levando um radar a 3.000 m de altitude podia facilmente ser entendido como algo fora do comum. A ironia era que o mesmo equipamento meteorológico que teria estourado o balão em Roswell serviu, mais tarde, para esvaziar todo o mistério dos discos voadores. O que nunca foi observado por ninguém na mídia é de que forma alguém poderia ser capaz de se enganar ao identificar um balão meteorológico no chão, bem à sua frente.
Enquanto isso, o mesmo oficial que mais tarde seria chamado de “o homem do disco voador da Força Aérea” estava nos meios de comunicação zombando das pessoas que viam tais coisas. Durante uma entrevista no rádio em El Paso, perguntaram ao general sobre a onda de avistamentos em toda a nação. Ele respondeu que sim, era verdade, e havia relatos em todos os estados do país, “exceto no Kansas, que é um estado seco” [Ali eram proibidas bebidas alcoólicas na época]. Isso marcou o início da ridicularização dos UFOs.
Nos escalões mais altos, entretanto, o Governo dos Estados Unidos continuava em um estado frenético de confusão enquanto tentava ganhar tempo buscando respostas em uma pilha de escombros amassados e de visitantes literalmente de outro mundo. Especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento foram imediatamente enviados para reescrever a história da ciência como a conheciam, esperando que o Sol ainda fosse nascer ao leste na manhã seguinte. Por exemplo, o renomado especialista em meteoritos doutor Lincoln La Paz chegou a Roswell algumas semanas depois do incidente, com ordens de Washington — sua tarefa era determinar a velocidade e a trajetória da nave de origem desconhecida ali acidentada. Observe o leitor que tais medidas não são relevantes em caso de balões acidentados.
Além da Divisão T-2, que se tornaria a Divisão de Tecnologia Estrangeira da Base de Wright Field, metalurgistas e engenheiros de diversas instituições foram convocados, incluindo o Escritório de Patentes [A agência de normas técnicas norte-americana], a empresa General Electrics, a Rand Corporation e a Hughes Aircraft. Próximo dali, em Columbus, no estado de Ohio, os Laboratórios Nacionais Battelle foram contratados pela Base de Wright Field para conduzir pesquisas de desenvolvimento de metal “autorreparador” ou “metal com memória”, como foi apelidado o material que revestia o UFO, encontrado em Roswell.
“O fenômeno era real”
O Departamento de Inteligência Aérea, em Washington, buscou suas próprias resoluções. Assim, seus dirigentes solicitaram com urgência um relatório do Comando de Materiais Aéreos (AMC), sediado em Wright Field, sob o comando do tenente-general Nathan F. Twining. O Pentágono queria chegar ao fundo da questão dos discos voadores. Apenas dois meses depois que as provas físicas de Roswell foram transportadas para Dayton, Twining participou de uma conferência secreta com o pessoal do Instituto Aéreo de Tecnologia, com a Inteligência da T-2 [Divisão de Tecnologia Estrangeira], com a Divisão da Chefia de Engenharia e com o Laboratório de Engenharia de Aeronaves, Usinas Nucleares e Propulsores, a Divisão T-3. Se a intenção do general era corroborar a origem do equipamento capturado em Roswell, ele não poderia estar em melhor companhia. Claramente, tratava-se de especialistas de engenharia, não de especuladores. Combinado com o que Twining sabia em primeira m&atild
e;o sobre o recolhimento em Roswell e os relatórios posteriores que ele recebeu desses assessores, ele decidiu como responder à requisição original.
Em 23 de setembro de 1947, o oficial assinou um memorando secreto que, após ser aprovado pelo Pentágono, foi enviado ao brigadeiro-general George Schulgen, chefe da Divisão de Requisição de Inteligência Aérea (AIRD). O memorando afirmava que “o fenômeno era real”. Seguindo os esforços contínuos do Pentágono para averiguar o alcance total da situação, a AIRD enviou um rascunho de memorando em 28 de outubro de 1947 — o que eles tinham a intenção de fazer era coletar informações específicas de todas as fontes de Inteligência de fora dos Estados Unidos, o que incluía Inglaterra, França, Suécia, Finlândia, URSS, Turquia, Grécia, Irã, China, Noruega, Filipinas e comandantes-em-chefe em outras bases dos Estados Unidos em todo o mundo. O documento era mais uma tentativa de obter opiniões técnicas sobre o que havia caído alguns meses antes no Novo México. Esse último processo de eliminação prosaica citou “métodos de fabricação incomum para obter uma massa extremamente leve e estabilidade estrutural”, além da “presença de um tipo incomum ou não convencional de sistema de propulsão”. As respostas nunca foram divulgadas.
Em 30 de dezembro de 1947, o major-general Lawrence C. Craige, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, emitiu uma ordem estabelecendo a primeira investigação oficial sobre UFOs do Governo dos Estados Unidos, com o codinome Projeto Sign [Sinal] ou Saucer [Disco Voador]. E em 22 de janeiro de 1948, o Sign oficialmente foi aberto como braço do Centro de Inteligência Técnica Aérea (ATIC), com sede em Wright Field, para onde todas as provas físicas de Roswell haviam sido enviadas seis meses antes. Não surpreende que o projeto tenha recebido prioridade A2, sendo a A1 a mais alta da Força Aérea. Também se deve notar que os maiores oficiais da ATIC foram alocados para o projeto com o intuito de oferecer respostas às perguntas que as provas físicas por si só não foram capazes de esclarecer. O resto, como dizem, é história. Não é preciso apontar que tudo isso foi em resposta a um mero balão meteorológico. Pelo menos assim eles dizem…
Em nome das testemunhas
Isso deve nos lembrar da grande tragédia de Roswell e do elemento humano ao lidar com algo potencialmente inexplicável — nenhuma outra explicação pode demonstrar essa profundidade de emoção humana ou transcendê-la por toda uma vida, apenas para ser desvalorizada constantemente por forças que têm a intenção de abafar os fatos. O que segue sendo ainda mais perturbador é a maneira como os espectadores inocentes de casos gerenciados por adultos se tornaram alvos das mesmas medidas de força bruta aplicadas aos mais velhos.
Quem falará pelas muitas famílias que sobreviveram ao que se seguiu depois de 1947, forçadas a viver em silêncio por inimigos inexoráveis? Seus pesadelos não são sobre invasores espaciais, mas sobre o telefone que toca sem ninguém na linha, o estranho na rua, o carro que os persegue. Da mesma forma que foi demonstrado que todos os adultos, fossem militares ou civis, responderam da mesma forma aos eventos sem precedentes de Roswell, também as crianças refletem a mesma preocupação. Mas elas se tornaram a exceção à regra, uma vez que são indefesas e cresceram dependentes daqueles mesmos adultos para proteção e segurança.
Sim, eles também se acidentam
Nos últimos anos e com o avanço dos meios de comunicação, mais e mais pessoas estão conectadas por meio da internet em escala global. Qualquer fato que ocorra, em qualquer lugar do mundo, é compartilhado em segundos e já se torna de conhecimento de todos os meios de comunicação. Então, por que em pleno século XXI ainda não temos a imagem de um UFO caindo, sendo derrubado ou uma filmagem de seus destroços? A resposta é simples: os governos, suas forças militares e suas agências de inteligência e espionagem também evoluíram tecnológica e organizacionalmente para lidarem com eventos como quedas de UFOs em nosso planeta.
Atualmente existe uma rede de satélites que pode rastrear, identificar e saber exatamente onde um objeto que entrou em órbita terrestre vai cair. Além disso, o monitoramento do espaço aéreo dos países mais desenvolvidos está totalmente coberto por uma malha de vigilância eletrônica. A rapidez da comunicação, somada à preparação de equipes para ações de resgate, desinformação e acobertamento, está cada vez mais eficiente. Contudo, muita coisa ainda continua encoberta. Nós sabemos que muitos casos jamais chegaram ao público, ou poucos ainda chegarão. Mas basta que um se confirme e teremos a prova definitiva de que estamos sendo visitados por seres extraterrestres. No entanto, por que eles caem?
Isso foi destruído pelas medidas extremas aplicadas para prevenir que a verdade se tornasse real — as crianças se tornaram peões sobre os quais foram aplicadas as mesmas ameaças usadas para coagir adultos a obedecer até o fim. As crianças de Roswell pagaram o preço mais alto, levadas a abandonar as garantias que seu país deveria lhes dar de mantê-las a salvo dos monstros nos armários. Desde 1947, agentes desse mesmo governo se escondem nesses armários, muitas vezes no papel de monstros.
Na primeira edição de seu livro Report on Unidentified Flying Objects [Relatório sobre Objetos Voadores Não Identificados [Doubleday & Company, 1956], o ex-diretor do Projeto Blue Book, capitão Edward Ruppelt, afirmou: “Ao final de julho de 1947, a tampa de segurança sobre o assunto UFO estava bem lacrada. Os poucos, membros da imprensa que chegaram a questionar o que a Força Aérea estava fazendo receberam o mesmo tratamento que você receberia hoje se perguntasse sobre o número de armas termonucleares armazenadas no arsenal atômico dos Estados Unidos. A confusão chegava ao ponto do pânico”. Que incrível confissão.
Controle sobre o espaço aéreo
Mas o que poderia ter causado o pânico? Os “invasores espaciais” tinham sido mandados para casa em seu balão meteorológico no Novo México. Testemunhas oculares que sabiam da verdade estavam controladas e não tinham provas para desafiar aqueles que detinham os segredos. Pense naquela maravilhosa cena do filme Roswell [1987], em que a comissão de supervisão está decidindo sobre a repercussão do acidente. Um general lamenta a situação: “Nós deveríamos garantir a tranquilidade do país, e não acabar de vez com ela. E se as pessoas pensarem que não temos controle sobre o espaço aéreo?” O secretário da Guerra responde de imediato: “Elas estariam cer
tas”.
Segredos se tornam responsabilidade daqueles encarregados de sua disposição. Depois de quase 70 anos, a verdade permanece nas mãos deles. Nosso trabalho segue sendo libertá-la. Pois se todas as testemunhas estiverem erradas de alguma forma, nada muda. Mas se elas estiverem certas, ou apenas uma delas, tudo muda. Os mortos continuam a gritar a verdade e os governos raramente as declaram, a menos que elas sirvam aos seus propósitos. Admitir um evento dessa magnitude e assumir a responsabilidade pelas inúmeras violações constitucionais aos cidadãos norte-americanos, incluindo crianças, que decretaram a extrema improbidade empreendida para escondê-los e intimidá-los a ficarem calados, é algo que o governo jamais fará. Desconstruirmos as intenções secretas dos guardiões do Santo Graal é manchar a memória daqueles que bravamente tomaram a iniciativa de se opor a eles.
A história é feita de testemunhos e relatos pessoais de pessoas como eles. É hora de pararmos de revisar as informações que nos deram para alcançar nossos próprios objetivos e intenções duvidosas. Por mais que queiramos descartar qualquer sugestão de que estejam falando sobre algo extraterrestre, precisamos admitir que seu medo e sua intimidação por forças desconhecidas não torna o seu drama menos desconcertante.
Para muitos dos rostos de Roswell, foram décadas de aflição que exigem um motivo. Um inimigo comum destratou pessoas inocentes, incluindo mulheres e crianças, para preservar o quê? Um experimento secreto com balões meteorológicos? Manequins de madeira? Macacos tosados? Coloque-se no lugar daqueles que viveram isso. Que tipos de indivíduos suportariam angústias físicas e emocionais como recompensa por simplesmente ter o sobrenome Brazel, Marcel, Proctor ou outras dúzias de exemplos? No mínimo, o leitor deve se perguntar: e se eles estiverem certos?