
Muito sabemos sobre a Operação Prato graças às atividades de uma categoria profissional determinada e atuante, que esteve intimamente ligada aos eventos que marcaram a onda do chupa-chupa: a imprensa. E nessa categoria se destacam, principalmente, os jornalistas paraenses Carlos Augusto Serra Mendes e Biamir Siqueira, além do repórter fotográfico José Ribamar dos Prazeres, todos do extinto O Estado do Pará. O primeiro, curiosamente, não teve qualquer observação nem mesmo contato com os objetos voadores não identificados, em Colares ou qualquer outro local. Mas foi o grande responsável pela veiculação de informações regulares sobre os fatos que aconteciam no interior do Pará, que de outra forma seriam totalmente desconhecidos dos moradores da capital, Belém, e do resto do país. Já Ribamar dos Prazeres foi o autor de algumas das mais belas e impactantes fotografias do chupa-chupa de que se tem notícia e Siqueira teve vários contatos, alguns aterradores.
O fotógrafo já faleceu, após receber vários prêmios jornalísticos, mas deixou como legado suas maravilhosas imagens, a maioria em preto e branco, dos aterradores vampiros de sangue. Já Carlos Mendes recebeu a Equipe UFO para uma entrevista em Belém, em 2005, e mostrou ser um “acervo humano” de tudo o que se refere ao fenômeno e à Operação Prato, e com um detalhe importante: ele tem versões próprias e bastante genuínas para descrever e explicar muitos dos fatos que envolveram os acontecimentos das décadas de 70 e 80 [Veja entrevista nesta série]. A começar pela expressão chupa-chupa, que para ele vem de um caso bem diferente do que se tem como certo. “O termo refere-se ao fato de que no interior do Pará, onde há muitas festas, que vão até a madrugada, é comum em certo ponto do embalo os casais partirem para uma agarração mais violenta, resultando em chupadas no pescoço de um e de outro”.
Essa é uma explicação nova para o curioso apelido do Fenômeno UFO na região, mas não invalida a hipótese de sucção de sangue. “De forma alguma. As pessoas apenas usam o termo chupa-chupa porque, além da extração do sangue, há também as marcas no pescoço, tal como aquelas que os casais deixam”, complementa. A contribuição de Mendes para o entendimento do fenômeno vai muito além disso. Ele viveu na pele, então como um jovem jornalista durante a época da ditadura, a forte pressão que os militares lhe faziam para que arrefecesse a publicação de suas matérias sobre o chupa-chupa — ele era constantemente seguido quando ia às áreas atacadas e mesmo em Belém, quando fazia a cobertura de fatos que nada tinham a ver com Ufologia. “Eles sabiam quem eu era e me acompanhavam o tempo todo, e eu tinha conhecimento de quem eles [os militares] eram, pois viviam observando a ação da imprensa”, diz.
Opressor, determinado e ditador
Mendes chegou a conhecer o coronel Uyrangê Hollanda em rápidos e objetivos encontros, através dos quais identificou um homem forte e opressor, determinado e ditador, muito diferente daquele Hollanda que a Ufologia Brasileira passou a conhecer após a entrevista histórica que a Revista UFO fez com ele, há 8 anos. “O capitão Hollanda era um homem muito difícil, uma pessoa muito autoritária. Ele era praticamente inacessível, inabordável”, declarou. Esta faceta da vida do coronel Uyrangê Hollanda não era de todo desconhecida, pois, afinal, o Brasil vivia um regime ditatorial com denúncias de violação aos direitos humanos básicos e até mesmo de tortura de supostos comunistas e contraventores, e ele era um militar do então temido Serviço Nacional de Informações (SNI). Mas não se tinha, até então, uma ideia tão precisa sobre a vida do personagem mais importante da história da Ufologia Brasileira, antes da Operação Prato.
Hollanda, quando visitado por este editor e pelo coeditor Marco A. Petit, em seu apartamento em Cabo Frio, para a referida entrevista, mostrou ser um homem dócil e afável, mas triste e deprimido, com muita saudade e arrependimento do passado. No entanto, era dono de uma memória brilhante e vivaz, de rara capacidade. Quem o conhecesse nesse período, certamente não conseguiria reconhecer nele a figura autoritária descrita por Mendes. Tão autoritária que chegou a ameaçar as redações dos jornais paraenses na época do chupa-chupa e até a confiscar fotos e negativos de repórteres. O fato foi narrado pela primeira vez pelo jornalista Mendes e dá uma ideia da dimensão que chegou a ter a operação militar. Já seria uma grande revelação saber, pela doutora Wellaide, que a missão empregara mais de 30 homens, e agora vinha do relato de Mendes determinados aspectos de sua realização.
Obter fotos do chupa-chupa não foi uma coisa fácil. Pelo contrário, o Ribamar teve um trabalho danado para conseguir fotografar as naves. Foi muito frustrante ter que entregar aquilo tudo, mas não havia nada que pudéssemos fazer
Pois Carlos Mendes conta que, em meados do segundo semestre de 1977, durante o ápice da Operação Prato, o coronel Uyrangê Hollanda foi à redação do extinto O Estado do Pará, no qual trabalhava junto a Ribamar e Siqueira, e determinou que lhe entregassem todas as fotos e negativos do chupa-chupa em poder do periódico. E ainda advertiu os profissionais para que tivessem muita cautela ao publicar novos fatos sobre o mistério que rondava as ilhas de Mosqueiro e Colares. “Foi uma ameaça muito forte e intimidadora”, declarou Mendes, que afirmou que seu chefe de redação cedeu às pressões dos militares e entregou ao coronel todo o material requisitado. “Ora, obter aqueles documentos visuais não foi uma coisa fácil. Pelo contrário, o Ribamar teve um trabalho danado para conseguir fotografar as naves. Foi muito frustrante ter que entregar aquilo tudo, mas não havia nada que pudéssemos fazer”.
Reparando um erro histórico
Com essa revelação, o jornalista acaba de proporcionar à Ufologia Brasileira uma oportunidade de reparar um erro que vem sendo repetido como verdadeiro há muitos anos — o de que todas as fotografias conhecidas da Operação Prato, muitas vezes publicadas em UFO, tenham como origem os fotógrafos militares. Isso não é verdade e hoje sabemos que pelo menos três das imagens mais conhecidas foram feitas pelo repórter fotográfico José Ribamar dos Prazeres, a quem devemos fazer justiça. Partiu também de Mendes a revelação de uma grande quantidade de novos fatos, além de dados sobre ocorrências antigas, que contribuem para a formação de uma figura mais completa para o quebra-cabeças que foi a onda chupa-chupa e sua investigação militar na Amazônia.
O profissional, que atuou por décadas no O Liberal, de Belém, sendo também corres
pondente de O Estado de S. Paulo há quase 20 anos, é um homem para ser levado a sério. Um dos mais respeitados e premiados jornalistas paraenses, já foi ameaçado de morte outras vezes por fazer denúncias de todos os tipos em seu Estado, que vão desde trabalho escravo a desvio de verbas por políticos. Tendo contraído poliomielite aos dois anos, anda com alguma dificuldade. Mas sua condição não o impediu de ir várias vezes aos epicentros em que o fenômeno se manifestava, na tentativa de observá-lo e registrá-lo. “Numa vez, fiquei cinco noites sobre o teto do mercado de Colares, defronte à prainha, esperando o ‘bicho’ aparecer, mas nada aconteceu”, resigna-se.
Algumas pessoas que acompanharam o entusiasmo do jornalista, sabendo de sua condição física, chegaram a aludir a hipótese de que, justamente por causa dela, os agressores por trás do fenômeno chupa-chupa não o viam como um candidato em potencial aos ataques. Se é razoável fazer tal correlação entre a enfermidade da infância de Mendes e o fato dele não ter tido nem mesmo uma observação distante, em uma época e local onde os fatos eram diários, isso só uma pesquisa aprofundada poderá revelar. Por enquanto, pelo menos, há de se atribuir a uma grande falta de sorte do homem de imprensa, de estar onde tudo acontecia, menos quando estava ele presente. “Talvez eu seja um pé frio, não sei. O fato é que, pelo menos, pude conversar com muitas testemunhas do fenômeno e colher depoimentos impressionantes, que publiquei mesmo sofrendo pressão dos militares”. Certamente, não fosse seu valoroso e esforçado trabalho, muito pouco saberíamos sobre a onda chupa-chupa. O jornalista Mendes foi, com certeza, o repórter que melhor e mais de perto acompanhou os fatos. E suas declarações sobre a ação dos militares começam a fechar uma lacuna que antes estava aberta.
Uma figura mais clara
Muito faltava saber sobre a atividade dos integrantes da Operação Prato, em especial do coronel Uyrangê Hollanda. E mais ainda de sua história pregressa, da qual só tínhamos informação de que fora um destacado e brilhante militar na Selva Amazônica. Com o preenchimento da lacuna por Mendes, a Ufologia Brasileira pode ter uma figura mais clara para examinar. Na longa entrevista que Mendes concedeu à Revista UFO se vê com nitidez que o fenômeno chupa-chupa é, no mínimo, muito mais amplo, complexo e grave do que se supunha até agora, sendo que o número de avistamentos e as consequências dos ataques aos moradores ribeirinhos atingem um volume assombroso e nunca estimado antes.
Suas causas e efeitos também têm um significado que, se antes era desconhecido, hoje pode ser compreendido. A contribuição do jornalista Mendes também permite entender que a Operação Prato, conduzida sigilosamente pela Aeronáutica, em contrapartida, foi muito mais completa do que imaginávamos até então, atingindo resultados que ignorávamos. “O que os militares fizeram nas ilhas de Mosqueiro e Colares, no município de Vigia, na Baía do Sol e em muitas outras localidades do Pará é algo sem precedentes e que precisa ser conhecido por toda a sociedade”, declara o jornalista. Foi sua noção de responsabilidade em levar os fatos ao conhecimento público que o fez entrevistar a doutora Wellaide Cecim Carvalho [Veja matéria nesta série] em janeiro de 2005, publicando em O Liberal a matéria Aeronáutica Obrigou Médica a Mentir sobre o Chupa-Chupa.
Pouca gente sabe, mas o texto de Mendes, reproduzido no site da Revista UFO e acompanhado de outro relatório, foi o estopim para que a Força Aérea Brasileira (FAB) deixasse sua posição de sigilo e contatasse os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), que lançou a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, convidando-os para o encontro histórico ocorrido em 20 de maio de 2005 [Veja edição UFO 111]. As acusações do repórter em seu artigo fizeram com que a Comunidade Ufológica Brasileira retomasse o debate sobre a Operação Prato e se indignasse com a continuada manutenção de seus arquivos sob sigilo, vindo a apoiar a campanha e conduzi-la ao seu sucesso. Mendes tem mostrado em seus textos, assim como na entrevista concedida à UFO, que o envolvimento dos militares com o fenômeno foi bem além de tudo o que já se falou até hoje.
Envolvimento pessoal
Agora ainda resta responder uma questão igualmente crucial sobre a missão militar, que até hoje foi pouco aventada pelos ufólogos — a que envolve o brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, uma figura quase mítica do meio militar brasileiro, que na época era o comandante do I Comando Aéreo Regional (COMAR I), de Belém, e hoje é reverenciado com o batismo de uma das mais modernas avenidas da cidade com seu nome. Segundo o coronel Uyrangê Hollanda, o brigadeiro tinha muito interesse por Ufologia e até acreditava em UFOs, tanto que, procurado pelas comunidades ribeirinhas atacadas pelo chupa-chupa, determinou a criação da Operação Prato.
O que não se sabe é se ele teve envolvimento pessoal com o fenômeno e se chegou a tomar parte em alguma das diligências da missão militar. Tal informação seria crucial para determinar certos fatos a respeito da razão que faz a Força Aérea Brasileira (FAB) manter seu silêncio, apesar da recente — e restrita — abertura dos arquivos secretos da Aeronáutica. Porque uma coisa é um capitão e um grupo de militares engajarem-se em uma atividade oficial de investigação ufológica na selva, o que por si só é algo espantoso. E outra bem diferente é saber que o comandante de uma das maiores instalações da Aeronáutica no país, um brigadeiro com trânsito livre entre as altas esferas militares de Brasília, também testemunhou o fenômeno e atestou sua gravidade.
É muito improvável que um homem em sua condição, ainda mais sendo interessado por Ufologia e com vasta cultura, se furtasse de tomar um helicóptero para vencer os meros 96 km que separam o I COMAR do palco das mais intensas e relevantes manifestações de inteligências extraterrestres que já se viu em nosso planeta, a ilha de Colares.
Características dos avistamentos
Se muito se deve ao jornalista do extinto O Estado do Pará, que na é
poca foi o principal veículo de informação sobre o chupa-chupa, outro tanto a Ufologia Brasileira tem de débito com o biomédico Daniel Rebisso Giese, integrante do cada dia mais volumoso segmento de ex-ufólogos. Foi Rebisso quem, ainda nos anos 80, ainda ufólogo, primeiro tratou da manifestação das luzes que sugavam sangue na Amazônia. Hoje afastado da pesquisa dos discos voadores e proprietário de uma livraria em Belém, Rebisso contabiliza já ter recebido dezenas de jornalistas especializados ou não em Ufologia para entrevistá-lo sobre os fatos ocorridos no litoral fluvial do Pará. “É importante que se diga que o que ocorreu aqui não tem nada a ver com delírios ou alucinações. Aquela gente de Mosqueiro e Colares foi mesmo atacada por algo genuíno e extraterrestre”, declarou.
Rebisso escreveu, ainda em 1991, o livro Vampiros Extraterrestres na Amazônia [Edição particular], na qual faz um relato pormenorizado do que já se sabia até então sobre os mistérios do local. Ao contrário do que declara a doutora Wellaide Cecim Carvalho, no entanto, Rebisso apurou que foram vários os tipos de objetos presentes na área durante a fase dos ataques. O mesmo foi relatado pelo coronel Uyrangê Hollanda, que chegou a descrever até um “modelo esportivo” de UFO, que era sempre visto e motivo de grande frustração ao militar, que não conseguia registrá-lo em fotos e filmes [Veja entrevista nesta série]. Sobre isso, Rebisso é claro: “A casuística ufológica da época era intensa e muitos casos foram registrados, envolvendo vários tipos de naves. Mas as que atacavam as pessoas eram as cilíndricas, como as descritas pela doutora Wellaide”.
O coronel Uyrangê Hollanda chegou a descrever até um ‘modelo esportivo’ de UFO, que era sempre visto por ele e seus comandados em Colares, mas de motivo de grande frustração ao militar, que não conseguia registrá-lo em fotos e filmes
De fato, desde que lançou sua obra, há 22 anos, até os trabalhos mais atuais sobre a onda chupa-chupa, se tem noção clara de que muita coisa incomum aconteceu na localidade. Coube a ele dar a seus colegas o conhecimento de muitos fatos que ocorriam desde a região da Baixada Maranhense, já próxima a São Luiz, até o chamado Baixo Amazonas, nos arredores de Santarém, no sul do Pará. O fenômeno pode ter se espalhado por uma área ainda maior, mas faltam mais dados a respeito. Estima-se que o Amapá também tenha sido atingido, assim como o norte do que é hoje do Tocantins. No entanto, não há registros de casos similares em Mato Grosso, mas há vários no vizinho Amazonas — lá, no Arquipélago de Anavilhanas, a 70 km de Manaus, a capital, encontraram-se casos que se assemelham ao chupa-chupa, descritos por testemunhas e ufólogos.
Chupa também no Amazonas
No referido arquipélago fluvial, precisamente na remota Vila de São Tomé, às margens do Rio Negro, pudemos constatar episódios até então inteiramente desconhecidos de ataques do chupa-chupa, raramente registrados no Amazonas, que demonstram a abrangência das manifestações. Ao entrevistar os nativos do local, este editor encontrou uma diversidade de casos que espantam, desde objetos noturnos, vistos quase diariamente, até naves estruturadas em operação pela mata densa. Um fato interessante é o do pescador Naílson Araújo de Moraes, que afirmou ser frequente a observação de estranhas luzes no céu. “Elas passam de um lado para o outro e piscam muito. Mas nunca descem e em questão de segundos desaparecem”, declarou. Ao contrário de outras testemunhas, ele não sabe se se trata do chupa-chupa. “Acredito que aquelas luzes são aparelhos com pessoas ou seres dentro”.
Já a senhora Luzia Nascimento de Moraes, residente no mesmo local, teve contato com um estranho ser no quintal e dentro de sua casa. Luzia acredita que o que viu era, sim, o chupa-chupa, embora já tivesse observado diversas luzes no céu, geralmente à noite. Mas nada podia ser comparado ao que aconteceu naquela ocasião. “Eram cerca de 23h00 e eu estava na cozinha quando vi uma forte luz no mato, que se aproximava rapidamente. Tive muito medo. Em seguida surgiu inexplicavelmente um homem, que logo foi entrando em minha casa”, declarou. Segundo a senhora, o indivíduo era baixo, magro, forte e aparentava uns 30 anos. Tinha algo na cabeça que parecia um chapéu e estava vestido como um soldado. Após passar por ela rapidamente, o estranho ser teria subido no telhado da residência, de onde foi possível ouvir um barulho semelhante ao de uma máquina de costura — idêntico ao que se ouve nos casos paraenses.
Naquele momento, Luzia e seu marido saíram da habitação para observar o que estava acontecendo. “O cidadão entrou em um aparelho branco e brilhante, acima da casa, que tinha janela”. Através da janela do artefato foi possível observar na nave outro homem, exatamente igual ao que esteve em sua moradia. Luzia e seu marido ficaram apavorados com o acontecimento e, assim que o estranho objeto com os dois seres desapareceu, foram para a casa de sua mãe, onde passaram a noite. Quando perguntei se tinham sentido medo do acontecido, a senhora, já com seus mais de 60 anos, garantiu que não. “Aqui na mata a gente vê muita coisa estranha, mas igual aquilo eu nunca tinha visto”. O objeto assemelhava-se aos que caracterizaram a onda chupa-chupa, exceto pelo fato das manobras de tal criatura, que subiu pelas paredes da residência como se não houvesse gravidade. Dona Luzia, seu marido e muitos conterrâneos daquela região já tiveram várias experiências do gênero.
A curiosa Matinta Pereira
Como se vê, onde quer que ocorram, os fenômenos instigam o surgimento de lendas e mitos folclóricos, que muitas vezes são disseminados e recebem curiosos aditivos ao longo do tempo. Por exemplo, hoje, em Colares e em vastas áreas do litoral fluvial e marítimo do Pará, está bastante arraigada a lenda da Matinta Pereira, que em tese aponta para uma ligação com o Fenômeno UFO, em especial o chupa-chupa. A lenda, como qualquer outra do folclore brasileiro, pode ser interpretada à luz de fatos específicos, desde que devidamente filtrados. No caso da Matinta, diz-se tratar ora de uma velha, ora de um pássaro ou de ambos juntos, que teriam uma intensa cabeleira branca e passam voando à altura da copa das árvores, sempre assoviando de maneira estridente e pedindo tabaco.
Acredita-se que dar o fumo à velha aplaca sua ira e impede que ela ataque a pessoa assombrada. “Muita gente tem fumo de rolo em casa aqui no Pará, para dar a Matinta, quando ela passa”, declarou o taxista Antônio da Silva, de Belém. Como ele, muita gente leva a sério as histórias da velhinha. Um curioso estudo sobre essa e muitas outras lendas amazônic
as pode ser visto na obra Visagens e Assombrações de Belém [Edição particular, 1985], do renomado folclorista Walcyr Monteiro, jornalista e presidente do Centro Paraense de Estudos do Folclore, consultor da Revista UFO.
Visagem é o termo que se usa no Pará e em quase toda a Amazônia para se descrever a observação de algo sobrenatural — tal como lendas. É diferente de uma aparição ou de uma assombração, segundo Monteiro, que têm outras características. “A aparição acontece quando uma ‘alma do outro mundo’ surge para fazer o bem, enquanto a visagem é aquela ‘alma’ que só mete medo. Já a assombração, além de meter medo, deixa a pessoa com um ‘encosto’, precisando procurar tratamento”, descreve Monteiro. “E o encantamento acontece quando uma pessoa é ‘flechada’ por bicho e se transforma em um ser encantado por sete anos”, arrebatou o escritor. Um estudo das narrativas folclóricas da região pode trazer importantes subsídios à Ufologia.
“Não conseguia pensar”
De qualquer forma, a figura de uma velhinha bondosa não faz muita justiça à Matinta Pereira — ela tem mesmo é jeito de bruxa. Mas se sua aparência é grave e amedrontadora, suas atitudes é que são impressionantes, ou melhor, os atos da entidade que os caboclos e moradores da Amazônia acreditam ser a tal Matinta. Entre eles está o de paralisar suas vítimas e impedir que pensem de maneira clara. Os atacados relatam que sentem cansaço e dores no corpo quando são vitimados pela imagem, que parece “ler” seus pensamentos revirando suas mentes. Não raro, as vítimas descrevem queimaduras e até ferimentos com alguma gravidade. Tudo isso é atribuído à tal velhinha do folclore, cuja cabeleira grande e branca seria, na verdade, uma interpretação popular que se faz de uma máquina voadora desconhecida. A analogia faz sentido.
Entre as pessoas que foram entrevistadas em Colares está o operador da balsa que, ainda nos dias de hoje, faz a travessia entre a Vila de Penhalonga, próxima de Santo Antonio do Tauá, e a ilha de Colares. “Essa Matinta Pereira me deu uma canseira dias atrás”, disse o rapaz, um caboclo forte de uns 30 anos de idade. Ele contou que estava dormindo na rede da varanda de sua casa quando ouviu o estridente assovio. “Era uma mistura de apito com o barulho de uma máquina de costura chiando alto”. Tentou correr, mas não conseguiu — em segundos já estava completamente envolto em uma luz intensa e esbranquiçada que o impedia de se mexer. “Não vi de onde vinha a luz, mas sei que era da Matinta Pereira. Eu não conseguia pensar direito, porque parece que aquilo estava dominando meus pensamentos”.
O jovem ainda declarou que, quando a suposta velhinha foi embora, sentiu imenso cansaço, sono e moleza no corpo, que se prolongaram por mais de uma semana. Seria a tal lenda uma versão moderna da interpretação que os moradores do local fazem do chupa-chupa? É amplamente sabido que o folclore brasileiro tem entre suas lendas muitas que surgiram a partir da observação, por nossos ignorantes e supersticiosos antepassados, de veículos voadores e seus tripulantes. Boitatá, Mula-sem-Cabeça, Saci Pererê, Mãe d’Ouro, Fogo Corredor, Virgem de Branco e Navio Fantasma são algumas das mais conhecidas. Some-se a elas, agora, a lenda da Matinta Pereira, que é vivamente lembrada por moradores de vastas áreas do Pará e a quem se atribui o poder de exaurir a energia das pessoas através de sua paralisação com raios de luz.
Abordagens mais incisivas
A diferença mais visível que se encontra entre a descrição da Matinta e a do chupa-chupa é que a primeira, pelo menos aparentemente, não suga sangue das pessoas, apenas lê e domina seus pensamentos, segundo descrevem as vítimas. Isso só já seria motivo para colocar a lenda em destaque nos estudos ufológicos. Uma pesquisa a respeito de tais tradições do folclore paraense, relacionando-as a UFOs, pode ser vista em UFOs no Brasil, Misteriosos e Milenares [Código LIV-010 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br], do consultor da publicação Antonio Faleiro.
No Pará, entretanto, muitos estudiosos do chupa-chupa acreditam que o fenômeno arrefeceu nestas mais de três décadas que nos separam do ápice da onda. Outros afirmam que ele simplesmente desapareceu e que a casuística manifestada nos locais antes atingidos assumiu suas características habituais, com análises e contatos esparsos e quase nada de ataques. Já há os que creem que o chupa-chupa mudou de formato, por ter atingido — ou talvez não — seus resultados e os objetivos dos agressores. Os defensores dessa tese revelam que sangue, pelo menos na escala com que era retirado das pessoas, já não é mais tão necessário aos seres que, então, agora se concentrariam na observação das vítimas e eventuais abordagens mais incisivas para algum propósito desconhecido. Outros estudiosos creem que as três vertentes podem ser fundidas para que se entenda o que se passa hoje nas áreas atingidas.
Mas, de fato, o fenômeno arrefeceu — certamente, ele não tem mais a intensidade nem a hostilidade de antes. Mas também é visível que ele apresenta mutações, no sentido de que as entidades que tripulam as máquinas buscam algo mais do que apenas sangue ou o que quer que procuravam antes — até mesmo energia vital, segundo a doutora Wellaide. Quem sabe os ataques em massa tenham cessado porque se chegou aonde se pretendia, talvez porque os agressores se compadeceram de suas vítimas. Ou porque, hoje, em novos tempos, seria inadmissível e até impossível para tais algozes continuar a submeter aquela sofrida população aos ataques que antes eram frequentes. Os meios de comunicação atuais teriam um poder de disseminação dos fatos muito maior do que antes, assim como nossos militares de hoje não permitiriam que os fatos continuassem a se repetir. Essas são questões abertas à discussão.
Resgatando uma dívida histórica
Durante anos a imprensa publicou certas fotos de luzes noturnas vistas na Amazônia como sendo de autoria dos militares da Operação Prato. Até mesmo a Revista UFO apresentou várias vezes as imagens, creditando-as à Força Aérea Brasileira (FAB), que instituiu e conduziu a missão militar. Hoje, no entanto, graças ao jornalista Carlos Mendes, se sabe que várias das fotografias foram obtidas com muito sacrifício pelo repórter fotográfico José Ribamar dos Prazeres. Ribamar já faleceu, após receber vários prêmios jornalísticos, mas deixou como legado suas maravilhosas imagens, que agora sabemos serem dele. Mendes esclarece ainda que as fotos e muitos negativos foram confiscadas pela FAB dos jornais que noticiavam o fenômeno. O órgão ainda assumia a autoria dos trabalhos fotográficos confiscados, como prova o carimbo