Os cientistas americanos John C. Mather e George F. Smoot dividem o Prêmio Nobel de Física de 2006, pelo trabalho que realizaram com o satélite Cobe, da Nasa, que analisou a radiação cósmica de fundo, uma relíquia da grande explosão que deu origem ao universo, o Big Bang.
Segundo nota distribuída pela Fundação Nobel, “as observações detalhadas realizadas pelos dois, a partir do satélite Cobe, desempenharam um grande papel no desenvolvimento da cosmologia moderna em uma ciência precisa”. Cosmologia é a parte da Física que trata da origem do universo.
De acordo com a Fundação Nobel, o prêmio de 2006 “reconhece trabalhos que olham para a infância do universo e tentam ganhar alguma compreensão da origem das galáxias e das estrelas”.
Os dados do satélite Cobe, lançado em 1989, dão apoio à hipótese do Big Bang para a origem do universo. O satélite foi lançado para medir a radiação cósmica de fundo, que representa o brilho restante, ou eco, da explosão primordial.
A descoberta da existência dessa radiação já havia rendido um Nobel de física anteriormente, em 1978, para Arno Penzias and Robert Wilson. Um dos feitos citados pela Fundação Nobel para a concessão do prêmio de física deste ano é a “descoberta da forma de corpo escuro da radiação de fundo”. Uma “radiação de corpo escuro” é aquela cujas características dependem exclusivamente da temperatura de sua fonte.
A teoria do Big Bang prevê que, imediatamente após a grande explosão, o universo deveria apresentar esse tipo específico de radiação. As medições feitas pelo Cobe, portanto, ao determinar que a radiação de fundo é uma radiação de corpo escuro, ajudam a confirmar o Big Bang, e determinar a temperatura da radiação de fundo: 2,7 K, ou -281,7º C, que seria a temperatura do vácuo do espaço, longe de estrelas ou outras fontes de calor.
Além do caráter de corpo escuro da radiação de fundo, o Prêmio Nobel de 2006 foi concedido por conta de outra descoberta realizada a partir dos dados do satélite Cobe: a da existência de pequenas variações na temperatura dessa radiação em diferentes direções no espaço, a chamada anisotropia.
Essas variações oferecem uma pista importante sobre a presença de irregularidades no Universo primordial, irregularidades que podem ter funcionado como “sementes”, em torno das quais estrelas e galáxias surgiram.
O satélite Cobe foi lançado em 18 de novembro de 1989, e a descoberta do caráter de corpo escuro da radiação de fundo chegaram após os primeiros nove minutos de funcionamento do equipamento. Já a confirmação da anisotropia só foi possível após várias e análises e comparações com leituras de outros instrumentos, como balões. O resultado foi publicado em 1992. Nesse ano, o físico Stephen Hawking afirmou que a descoberta feita pelo Cobe era “a maior do século, se não de todos os tempos”.
Os dois vencedores do Nobel trabalharam com o satélite Cobe. John C. Mather é descrito pelo comitê Nobel como “a verdadeira força motriz” por trás do projeto do satélite, e o encarregado pelo instrumento a bordo que determinou o perfil de corpo escuro da radiação de fundo. Já George F. Smoot era o encarregado pelo instrumento que vasculhou o céu em busca dos sinais da anisotropia.
Mather, de 60 anos, atualmente trabalha como astrofísico do Centro de Vôo espacial Goddard, da Nasa. Smoot, de 61, é professor da Universidade de Berkeley. O Nobel de Física premia os vencedores com 10 milhões de coroas suecas (1,1 milhão de euros) e será entregue em 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel, fundador dos prêmios. Mather e Smoot receberão, cada um, metade do prêmio.
Na segunda-feira, foi anunciado o Prêmio Nobel de Medicina, conquistado também por dois americanos, Andrew Z. Fire e Craig C. Mello, pela descoberta da interferência de RNA, um mecanismo no interior da célula que permite eliminar a expressão de genes específicos.
A interferência se revelou um importante instrumento de pesquisa científica, e um campo promissor para novas terapias contra vírus e, até, o câncer.
Amanhã, quarta-feira, será anunciado o Prêmio Nobel de Química. Na segunda-feira, dia 09, sai o prêmio de Economia, e na sexta-feira, dia 13, o da Paz. O prêmio de literatura ainda não tem data marcada para ser anunciado.