Nos últimos anos a Ufologia vem ocupando cada vez mais espaços no debate público e aquela tendência de menosprezar ou mesmo ridicularizar a hipótese extraterrestre vem perdendo força. Há mais pessoas interessadas em UFOs e há também mais pessoas em condições de fazer pesquisas a respeito do assunto. Entretanto, uma das consequências desse aumento da popularidade da Ufologia é, também, uma quantidade maior de desavenças entre ufólogos e entusiastas, sobretudo quando um dos lados não emprega o rigor e a seriedade necessários e tenta obter vantagens pessoais dissociadas da ética.
Nesses casos, pode ser que o desentendimento alcance a esfera jurídica. Já temos alguns exemplos de disputas envolvendo a Ufologia que precisaram ser resolvidas na Justiça brasileira. É interessante observar de forma mais detalhada esses casos para perceber se há alguma tendência no tratamento dispensado à Ufologia, que passa a ocupar também esse espaço. Ao mesmo tempo, talvez seja possível apreender em que medida o Judiciário pode ser uma ferramenta importante para combater as fraudes no meio ufológico. Assim, selecionamos dois casos que ajudam a ilustrar o tipo de embates jurídicos que podem ocorrer envolvendo assuntos ligados à Ufologia brasileira, ambos patrocinados pelo autor deste ensaio, como advogado da Revista UFO.
ET Bilú versus Gevaerd
A história mais recente em que a Ufologia foi levada à discussão na Justiça brasileira é também uma das mais inusitadas. Isso porque um personagem há muito tempo conhecido no meio ufológico, acusado de usar truques para simular contatos com extraterrestres — seu caso mais famoso é o ET Bilú — e que recentemente aderiu a teorias mais excêntricas sobre o formato do planeta Terra, tendo por isso recebido, inacreditavelmente, uma surpreendente homenagem da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul por conta dessas mesmas atividades. Trata-se de Urandir Fernandes de Oliveira, que frequenta o noticiário desde a década de 90, quando já alegava ter contatos com alienígenas.
Ele dizia ser capaz de atrair naves espaciais e fazer com que pousassem na sua fazenda, próximo a Campo Grande (MS). Muita gente foi até lá conferir, mas a impressão geral era a de um grande espetáculo de ilusionismo, com direito a manobras feitas por canetas a laser e faróis de milha. Oliveira também começou a vender lotes em uma propriedade e a lucrar com eles, sob a alegação de que ali seria uma bem protegida cidade extraterrestre, que hoje se chama Zigurat. Não demoraria muito até que aparecessem as acusações de ilicitudes das mais variadas, entre elas a descoberta, pelo editor Revista UFO A. J. Gevaerd de que a propriedade que ele vendia nem era dele — isso acabou levando-o à cadeia em Porto Alegre.
Sabe-se também que Oliveira atribuía a si mesmo a capacidade de curar pessoas, inclusive de doenças graves, como câncer e AIDS — apenas com o toque de suas mãos, tumores seriam extraídos, afirmava mirabolante o guru. Ele chegava ao ponto de dizer em palestras que seria capaz até de ressuscitar pessoas. Muita gente buscou o seu tratamento, mas nem por isso encontrou a cura. A partir de então, Oliveira passou a ser acusado também de curandeirismo. Existe, na verdade, um grande dossiê de acusações contra Urandir Fernandes de Oliveira, vindas de diversas pessoas que foram lesadas por ele. A Revista UFO mantém um vasto material a esse respeito, com denúncias relativas a vários atos ilícitos. Há até mesmo reportes de alguns que descobriam farsas sendo vítimas de graves ameaças.
O ET que era um gato
O caso pelo qual Oliveira é mais conhecido pela população até os dias de hoje, no entanto, aconteceria a partir de 2009. É ele, afinal, o homem por trás do famigerado ET Bilú, a folclórica “entidade” que teria aparecido nas suas terras, no Mato Grosso do Sul, e que virou tema de reportagens televisivas e muita chacota para ele. A criatura apareceria apenas à noite, no meio do mato e, com voz de criança, deixava mensagens, sendo a mais conhecida e tornando-se clássica a “busquem conhecimento”. O conselho do suposto alien foi seguido, as imagens de suas aparições foram enviadas a peritos e eles concluíram que se tratava de fraude grosseira. O ET Bilú seria o próprio Bilú, que, disfarçado, segurava uma lanterna e fazia truques variados. Embora o caso, de tão absurdo, tenha rendido boas risadas, também contribuiu para elevar a descrença do público em geral em relação à Ufologia.
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