A compreensão de que não estamos sozinhos terá implicações dramáticas para nossos objetivos na Terra e nossas aspirações pelo espaço. E a única maneira de descobrir isso é inspecionando o céu em busca da multidão de mensageiros que eles podem estar usando.
Em encontros às cegas, procuramos outras espécies que se pareçam conosco, pelo menos em algum nível. Isso é verdade em nossa vida pessoal, mas ainda mais na cena do “namoro galáctico”, onde procuramos uma civilização companheira por um tempo, sem sucesso. Enquanto desenvolvia nossa própria comunicação de rádio e laser nas últimas sete décadas, o Projeto SETI, o programa de busca por vida extraterrestre inteligente, focou em sinais de rádio ou laser do espaço sideral – dois tipos de “mensageiros eletromagnéticos” que os astrônomos usam para estudar o cosmos.
No mesmo período, também lançamos sondas, como as Voyager 1 e 2, Pioneer 10 e 11 e a espaçonave New Horizons, em direção ao espaço interestelar. Isso poderia eventualmente atingir civilizações alienígenas, anunciando passivamente nossa existência. Em 1960, no início da era espacial, Ronald Bracewell observou em um artigo da revista Nature que uma sonda espacial física também poderia pesquisar civilizações tecnológicas através de distâncias interestelares. O SETI deve, portanto, explorar essa técnica também – uma noção oportuna na era da astronomia de “multimensageiros”, inaugurada mais recentemente pela detecção de ondas gravitacionais.
Esse tipo de exploração obviamente poderia funcionar nos dois sentidos. Graças aos dados coletados pelo telescópio espacial Kepler, sabemos agora que cerca de metade de todas as estrelas semelhantes ao Sol hospedam um planeta rochoso do tamanho da Terra em sua zona habitável. Dentro desta zona, a temperatura da superfície do planeta pode suportar a água líquida e a química da vida. A famosa Equação de Drake quantifica (com grandes incertezas) a probabilidade de receber um sinal de rádio de outra civilização em nossa galáxia, a Via Láctea. Mas não se aplica a sondas físicas que podem chegar à nossa porta. A distinção se assemelha à diferença entre uma conversa no celular na velocidade da luz e a troca de cartas pelo correio.
“Mensageiro distante”
Meu próximo livro, intitulado Extraterrestre, ainda sem data para publicação no Brasil conta a história da descoberta do Oumuamua, que significa “mensageiro distante” na língua havaiana, pelo observatório Pan-Starrs no Havaí, em outubro de 2017. O primeiro objeto interestelar, ou seja, de fora do Sistema Solar, detectado perto da Terra, parecia estranho, diferente de qualquer cometa ou asteroide visto antes dentro do sistema solar. O livro detalha as propriedades incomuns de Oumuamua: ele tinha uma forma achatada com proporções extremas – nunca vista antes entre cometas ou asteroides, bem como uma velocidade inicial incomum e aparência brilhante. Também não tinha cauda cometária, mas exibia um forte impulso para longe do Sol, vencendo a força gravitacional solar.
Como um cometa normal, Oumuamua teria que perder cerca de um décimo de sua massa para alcançar o impulso excessivo pelo chamado efeito foguete. Em vez disso, Oumuamua não mostrou moléculas baseadas em carbono ao longo de sua trilha, nem tremulação ou mudança em seu período de rotação, como esperado de jatos cometários. O excesso de força poderia ser explicado se Oumuamua fosse empurrado pela pressão da luz solar. Isto é, se fosse uma vela solar artificial, uma pequena relíquia da promissora tecnologia para exploração espacial que foi proposta já em 1924 por Friedrich Zander e atualmente está sendo desenvolvida por nossa civilização. Essa possibilidade implicaria que Oumuamua poderia ser uma mensagem contida em uma garrafa.
As sondas interestelares também podem manobrar para trajetórias preferidas que não são traçadas a partir de uma distribuição aleatória. Em particular, é benéfico colocá-las em repouso em relação à estrela que pretendem sondar. Nesse caso, a atração gravitacional da estrela as puxará diretamente em sua direção. A focalização de suas trajetórias aumentará sua densidade na vizinhança da estrela, permitindo que mais delas viajem através da zona habitável e espionem quaisquer assinaturas tecnológicas lá. No “envelope externo” do Sistema Solar, essas sondas de movimento lento estariam escondidas entre as numerosas rochas geladas da Nuvem de Oort, que estão vagamente ligadas ao sol a meio caminho de Alfa Centauri.
“Estacionamento galáctico”
Se os remetentes das sondas preferirem permanecer anônimos, eles podem optar por depositá-las no “estacionamento galáctico”, o chamado padrão local de repouso, que calcula a média sobre os movimentos aleatórios de todas as estrelas nas proximidades do Sol. Nesse quadro neutro de referência, não é possível identificar de onde vieram. Surpreendentemente, Oumuamua iniciou nessa posição antes de entrar no Sistema Solar.
Os dados coletados do Oumuamua são insuficientes. Para saber mais, devemos continuar monitorando o céu em busca de objetos semelhantes. A compreensão de que não estamos sozinhos terá implicações dramáticas para nossos objetivos na Terra e nossas aspirações pelo espaço. Ao ler as notícias todas as manhãs, não podemos deixar de perguntar se somos “os biscoitos mais gostosos do pote”. Existem extraterrestres mais espertos do que nós na Via Láctea? A única maneira de descobrir é inspecionando o céu em busca da multidão de mensageiros que eles podem estar usando. Como eu costumo dizer: “Quando você não está pronto para encontrar coisas excepcionais, nunca as descobrirá”.
Fonte: Scientific American
Tradução: Rony Vernet