Ao longo dos últimos 10 anos, centenas de entidades dedicadas à pesquisa ufológica surgiram, deram seu recado e desapareceram sem deixar rastros. Na maioria da vezes, eram apenas grupos de adolescentes com interesse passageiro pela questão ufológica. Mas noutras vezes eram entidades grandes e estruturadas, que também interromperam suas atividades, como é o caso do Centro de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais (CEFAE). Mesmo assim, pelo menos umas duas centenas dessas agremiações ainda existem hoje em dia, com mais ou menos atividades. A cada mês, dezenas de cartas de novos grupos são recebidas em nossa Redação, todas contendo pedidos para que publiquemos seus endereços. Igualmente, muitas cartas de grupos mais antigos pedem que a revista reproduza seus novos nome, endereços ou dados alterados em suas atividades.
Assim, ao longo de todos os anos em que a UFO tem sido editada, tivemos oportunidade de juntar num arquivo computadorizado pelo menos 330 nomes de entidades que já nos escreveram algum dia ou que, através de outras formas, soubemos de sua existência. São grupos, centros, associações e núcleos de pesquisa ufológica que se estabeleceram em todos os estados da Nação. Mas nosso cadastro jamais pôde estar cem por cento atualizado, devido as constantes mudanças nos nomes, endereços e estruturas de tais grupos, quando não de suas diretorias, que impingiam novo ritmo à tais entidades. Por esta razão – e para tentarmos saber ao certo quantas e quais são as entidades ufológicas presentemente existindo em nosso país – realizamos o primeiro censo das organizações brasileiras de pesquisas ufológicas.
No segundo semestre do ano passado, o Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), entidade responsável pela Revista UFO, iniciou o censo de maneira informal, fazendo primeiramente uma triagem no arquivo de grupos de pesquisas em seus computadores. Foram mantidos – e considerados como existentes e atuantes – os endereços dos grupos que manifestaram alguma atividade pelo menos nos últimos 3 anos, o que representa cerca de 135 grupos (os demais foram excluídos). Para estes grupos o CBPDV remeteu um questionário padronizado que está reproduzido no fim desta matéria. O questionário foi encaminhado junto à uma carta que explicava sua finalidade e pedia a participação de todos. Mesmo assim, apenas 38 grupos o responderam, sendo que, desses, só uns 30 deram informações detalhadas sobre suas atividades.
O resultado do censo foi, portanto, um tanto desanimador e esteve bem abaixo de nossas expectativas, mas isso apenas reflete o estado de desunião e desorganização que se encontra a Ufologia Brasileira no momento. Grupos de atividades reconhecidas e atuantes não se deram ao trabalho de preencher e encaminhar o questionário, assim como grupos praticamente inexpressivos, sem nunca terem feito algo considerável à Ufologia Brasileira, o preencheram, mostrando uma inversão na situação ufológica nacional. Mesmo assim, conduzimos até o fim o censo, estabelecendo um parâmetro de última hora: devido ao baixo número de respostas, o consideramos como uma espécie de primeira etapa. Após a publicação dos resultados desta etapa, nesta edição, esperamos contar com maior participação dos demais grupos brasileiros de pesquisa para podermos, em breve, publicar os resultados de uma segunda e definitiva fase do censo.
Resultados desanimadores – Ao apresentarmos os resultados de nossa pesquisa, mostraremos abaixo, em primeiro lugar, as infor-mações sobre as 38 entidades que responderam ao questionário. Nelas estão constantes dados básicos sobre cada grupo, desde sua personalidade jurídica até composição da diretoria, passando por número de membros e posicionamento quanto à Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB) etc. Em seguida, publicamos uma relação de outras 98 entidades para quem nosso formulário foi remetido, ficando sem resposta. Assim, o leitor pode saber quem participou ou não do censo. O objetivo aqui é dar ao leitor, senão uma informação completa sobre essas entidades, já que não responderam ao questionário, pelo menos seu nome e endereço completos. Por fim, publicamos nova cópia do questionário para que essas entidades (e outras que ainda desconhecemos) possam participar do censo, cujos resultados finais serão apresentados em 60 dias. Antes de passarmos ao relatório, vamos fazer um comentário das respostas dadas pelos grupos.
Ao longo dos últimos 10 anos, a Revista UFO registrou a existência de pelo menos 330 grupos de pesquisas ufológicas. Hoje, esse número não passa de cerca de 140. Dessas organizações, todas contatadas pela revista, apenas 38 participaram do censo
Nome das entidades – Em geral há uma grande confusão quanto aos nomes das entidades. Muitas vezes um centro de pesquisas é chamado de associação, e vice-versa. Nossa sugestão é de que as entidades que surgirem daqui para frente escolham corretos e adequados. Por exemplo: ao chamarem uma agremiação de centro de estudos, seus integrantes têm que saber que estudo é uma atividade teórica, bem diferente de pesquisa, que é uma atividade prática. Pode ser notado, também, que há muitos nomes de grupos ufológicos repetidos, especialmente na lista das entidades que não responderam ao questionário. Por exemplo, existem nada menos do que 5 grupos com o mesmo nome de Centro de Estudos Ufológicos. Nesse caso, nossa sugestão para os grupos e agremiações que surgirem no futuro (ou que ainda tenham tempo de refazerem seus nomes) é de que criem denominações originais. Isso evitará muita confusão no setor.
Personalidade jurídica – Infelizmente, é aqui onde vemos a maior desorganização na Ufologia Brasileira: esmagadora maioria das entidades de pesquisa ufológica simplesmente não tem qualquer registro legal, o que é equivalente a dizermos que são totalmente informais. O procedimento correto a ser seguido por um grupo de Ufologia é registrar a ata de sua fundação e estatutos num cartório de títulos e documentos e, com posse desse registro, obter o número de inscrição no CGC, que é, em termos práticos, a identidade jurídica de uma entidade. Sem isso, ela não existe legalmente. Depois, conforme as necessidades de cada grupo, deve-se tentar obter números de inscrição municipal e estadual para poderem funcionar, contratar pessoal, fazer compras a crédito e, em casos especiais, até requerer títulos de utilidade pública. O Núcleo de Pesquisas Ufológicas (NPU), por exemplo, é reconhecido como de utilidade pública municipal em Curitiba, com direito a uma certa verba anual.
Fundação e sede – Pelas fichas apresentadas, podemos ver que a maioria das entidades que responderam ao censo são bem jovens, com apenas alguns anos, embora não tenham se registrado ainda. Suas sedes, como
já era esperado, estão instaladas geralmente na casa de algum membro, quase sempre da diretoria do grupo. É assim que funcionam: num quarto vazio, numa garagem ou numa sala ociosa da residência de um membro. Isso acontece porque a esmagadora maioria das entidades são dirigidas por pessoas que têm na Ufologia uma grande paixão mas não uma responsabilidade profissional. Assim, não têm recursos – e nem precisam – de espaço físico maior ou mesmo de funcionários. Acreditamos que isso nunca vai mudar na Ufologia Brasileira, pois acontece o mesmo em todo o mundo. Mesmo assim, já visitamos sedes de grupos de Ufologia – como o Centro de Investigação Sobre a Natureza dos Extraterrestres (CISNE), dirigido pela ufóloga Irene Granchi – que funcionam em quartos de apartamentos e são verdadeiras instituições, organizadas e funcionais.
Periódicos e atividades – A maioria dos grupos que responderam ao censo não edita periódico. Muitos já editaram e pararam e, dos demais grupos, não mais do que 20% têm algum tipo de boletim ou jornal sobre suas atividades. Assim, ao todo, apenas cerca de 25 periódicos (a maioria irregulares) são publicados no Brasil. Geralmente são xerografados ou mimeografados, mas já tivemos até casos de revistas impressas em off-set. Certamente, o Brasil já teve bem mais atividade ufológica impressa do que agora, mas isso aconteceu em épocas em que a inflação não passava de 10% ao mês, tempos que quase nem lembramos direito… Um destaque que damos aqui é para os boletins dos grupos CEPEX, GEONI e GUG: são muito bem feitos e altamente informativos. Quanto as atividades dos grupos, como vemos, a maioria se restringe à realização de reuniões regulares. Já um menor número deles faz vigílias constantes e um número ainda menor de grupos promove ou participa de conferências públicas. Esse quadro também deverá mudar quando a situação econômica brasileira melhorar e permitir que os ufólogos tenham mais ânimo para retomarem suas sempre ativas promoções, especialmente os congressos e simpósios, que aconteciam regularmente e foram diminuídos em mais de 60% nos últimos 5 anos.
Número de membros – Esse é um dado interessante. No questionário, fomos enfáticos em solicitar o número de membros registrados – ou seja, apenas inscritos – e o número de membros em real atividade dentro dos grupos. Também aí não tivemos surpresas: apenas alguns membros de cada grupo realmente trabalham; os demais ficam periféricos e participando apenas passivamente. É interessante notar que a maioria dos grupos participantes do censo tem apenas menos de 10 membros. Poucos têm acima disso e menos ainda têm mais de uma centena de associados. Uma resposta curiosa foi a da Associação Mineira de Pesquisa Ufológica (AMPEU), que afirmou ter 1.600 membros, sendo 40 em real atividade! Achamos os números um pouco exagerados. Intrigantemente, a AMPEU afirma que é mantida com recursos da diretoria. Assim, seria interessante saber como uma diretoria consegue manter 1.600 membros. No mais, notamos que o CUPE e o GEONI se destacam como tendo quantidades razoáveis de membros e, pelo que conhecemos desses grupos, verdadeiras.
Composição da diretoria – Confirmando uma conclusão que fornecemos há pouco, referente à desorganização da Ufologia, o item composição da diretoria não surpreendeu: assim como escolhem nomes aleatórios e não adquirem personalidade jurídica, a maioria dos grupos brasileiros simplesmente funciona sem uma hierarquia definida. A maioria não tem idéia de como formar uma diretoria, quais são as atribuições de seus integrantes e como votá-los. Isso é uma lástima, pois reflete uma confusão que, se está presente na formação do grupo, poderá também estar presente no resultado de suas pesquisas. Por exemplo, alguns grupos citaram, como cargos de diretoria, títulos exóticos como investigador, especialista em aviação bélica, secretário-geral e fundador emérito… Nossa sugestão, aqui, é de que os grupos nessas circunstâncias elaborem um estatuto, formalizem uma diretoria adequada e operem com uma hierarquia mínima possível. Lembramos: a organização é tudo, especialmente em Ufologia!
Grupo de contatos – Incluímos essa questão no questionário para podermos avaliar como andam as relações entre os grupos brasileiros de Ufologia. Como o questionário tinha espaço para menção de apenas 3 grupos, a maioria citou aqueles com quem mais se relacionam e notamos, como resultado, que o grupo mais citado é o Grupo Ufológico do Guarujá (GUG). Em segundo lugar vem o Centro de Estudos e Pesquisas Ufológicas (CEPU), seguido do Grupo de Estudos de Objetos Não Identificados (GEONI). Parece que há uma intensa troca de informações entre os grupos, o que é muito positivo, pois garante estímulo e repasse de idéias dentro da Ufologia. Mas notamos também que os grupos se relacionam com seus semelhantes: grupos de orientação científica com seus congêneres, e os de orientação mística idem. Há raros casos de grupos que mantêm contatos como ambos os segmentos, como o Núcleo de Pesquisas Ufológicas (NPU).
Posição quanto à ANUB – Para quem não sabe, ANUB é a sigla de Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil, uma entidade surgida em 1983 para coordenador o trabalho de todos os ufólogos e grupos brasileiros (veja o box da página anterior). Tem conotação imparcial e está acima dos grupos, ou seja: não deve ser nem de orientação mística nem científica, mas neutra, e não deve ser comandada por um grupo em particular, mas vários, eleitos entre todos os que se interessarem no Brasil. Na prática isso não está acontecendo e, pelo que podemos ver, os grupos brasileiros sabem disso, tanto que a maioria deles apenas apoia a ANUB, enquanto somente um declarou participar ativamente dela.
Outros grupos preferem ignorá-la. De qualquer forma, a verdade é que a ANUB, apesar de ser quase maior de idade, ainda é um mistério para a Ufologia Brasileira. Assim, é urgente que se a entidade se manifeste através de UFO, diga quais são seus objetivos, quem a compõe e como os grupos podem se filiar à ela. Quando isso ocorrer, acreditamos que a ANUB terá a representatividade que pretende – e precisa – ter.