Em outubro de 2016, a nave New Horizons, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), encerrou a transmissão de dados obtidos no seu histórico encontro com Plutão, acontecido em 14 de julho de 2015. Enquanto ela segue agora para seu encontro com o asteroide 2014 MU69, marcado para 01 de janeiro de 2019, os cientistas prosseguem a análise das informações em um processo que levará vários anos. E, para surpresa geral, surgem mais e mais indícios de que Plutão pode conter os ingredientes para a existência de vida.
Os cientistas perceberam similaridades entre o planeta anão e a lua Titã, de Saturno. Como esta última, Plutão tem uma névoa atmosférica a cerca de 30 m de altitude, formada por partículas de compostos orgânicos, principalmente metano. Essas moléculas são quebradas pela radiação do Sol e caem na superfície. A coloração avermelhada em várias regiões do distante mundo pode se dever a outros compostos orgânicos, como hidrocarbonetos, nitritos e outros, que podem se combinar e produzir moléculas complexas pré-bióticas, como o cianeto de hidrogênio.
Química orgânica complexa
Outra comparação com Titã reside na presença de tolinas, moléculas orgânicas complexas produzidas pela ação solar sobre partículas atmosféricas — são de coloração avermelhada e podem explicar regiões dessa cor vistas em Plutão. Esse material avermelhado também foi avistado ao redor do que parecem ser vulcões de gelo em Plutão. O planeta anão ainda é suspeito de possuir um oceano subterrâneo, mantido liquefeito pela ação de elementos radioativos no interior do pequeno mundo. Química orgânica complexa, material disponível e uma fonte de energia são requisitos para o surgimento da vida.
Carbonato e amoníaco
Outro planeta anão em nosso sistema, Ceres, também segue surpreendendo. A nave Dawn, também da NASA, permanece em órbita estudando-o e detectou pela primeira vez moléculas orgânicas em sua superfície — antes disso a sonda já havia confirmado a presença de gelo de água logo abaixo da superfície, especialmente nas regiões polares de Ceres. Com o espectrômetro da Dawn foi observada uma região de mil quilômetros quadrados nas proximidades da cratera Ernutet, de 53 km, e em outro local nas proximidades da cratera
Inamahari. A equipe de pesquisadores não descarta a possibilidade da presença de material orgânico em outras regiões, já que esquadrinhou
somente latitudes médias do planeta anão, entre 60 graus norte e 60 graus sul.
As medições obtidas não são precisas o suficiente para determinar quais são os compostos encontrados, mas as “assinaturas”, obtidas em luz
visível e infravermelho, são consistentes com tipos de alcatrão, como kerite e asfaltite. Há indicações ainda da presença de carbonato
e amoníaco, que os cientistas afirmam serem nativos de Ceres, ou seja, não chegaram a esse mundo por meio de queda de asteroides ou cometas. Além disso, o calor de tais impactos teria provavelmente destruído as substâncias, de novo sugerindo que são naturais de Ceres.
Uma possível origem para esses compostos seriam reações envolvendo água quente e o planeta anão mostra evidências, nas sondagens da Dawn, de atividade hidrotermal e alterações na superfície por presença de água — essa atividade provavelmente seria subterrânea, tornando Ceres bem semelhante à Europa, satélite de Júpiter, e Enceladus, lua de Saturno. Os cientistas apontam também semelhanças entre os compostos encontrados em Ceres e aqueles observados nos gêiseres de Enceladus, sendo que o planeta anão tem uma superfície bem menos frígida do que as mencionadas luas. Os cientistas ainda não têm evidências conclusivas de um oceano subterrâneo em Ceres, mas a Dawn descobriu sinais de presença recente de líquidos na subsuperfície. E a nave segue estudando esse fascinante mundo.