Podemos observar que todo o conhecimento organizado obedece a um paradigma, e o que nele não se enquadra é rejeitado. Concluí-se daí que as informações são produzidas a partir de uma intencionalidade e obedecendo a um modelo dominante. Considerando a abrangência do Universo e do Ser, o pesquisador vê-se na contingência de buscar parâmetros e estabelecer focos de maneira a não se perder. Assim, uma hierarquia de prioridades necessita ser estabelecida, do contrário o tempo e os recursos envolvidos para ampliar o saber seriam dissipados e a disponibilização das informações seria bastante complexa, quando não impossível. No livro Estrutura das Revoluções Científicas, Thomas S. Kuhn explica: (…) uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, poderemos considerar como dotados de uma solução possível. Numa larga medida, esses são os únicos problemas que a comunidade admitirá como científicos ou encorajará seus membros a resolver. Outros problemas, mesmo muitos dos que eram anteriormente aceitos, passam a ser rejeitados como metafísicos ou como sendo parte de outra disciplina. Podem ainda serem rejeitados como demasiado problemáticos para merecerem o dispêndio de tempo. Assim, um paradigma pode até mesmo afastar uma comunidade daqueles problemas sociais relevantes que não são redutíveis à forma de quebra-cabeça, pois não podem ser enunciados nos termos compatíveis com os instrumentos e conceitos proporcionados pelo paradigma….(p.60). O mesmo autor define paradigma da seguinte forma: (…) um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma.? (p. 219). Em seu artigo Mudanças de Paradigmas, o professor Thomas Corbett Netto, nos oferece, ainda, as seguintes definições: Para Adam Smith, um paradigma é: suposições compartilhadas. O paradigma é a forma como nós percebemos o mundo; água para os peixes. O paradigma explica o mundo para nós e nos ajuda a prever o seu comportamento. Para Baker, paradigma é: um conjunto de regras e regulamentos (escritos ou não) que faz duas coisas: (1) estabelece ou define limites; (2) diz como devemos nos comportar dentro desses limites para sermos bem-sucedidos. A educação que temos, certamente, está submetida também a um padrão que surgiu do processo ou determinismo histórico, no dizer de Karl Marx: Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado (História das Idéias Pedagógicas, Moacir Gadotti). Determinismo Histórico e Determinismo Divino: O determinismo histórico estudado por Marx é, no entanto, submetido a um determinismo maior, divino, assim definido por Alziro Zarur (1914/1979): a Lei Divina, julgando o passado, determina o futuro. Futuro de cada criatura humana. Futuro de cada povo ou nação. A semeadura é livre, porque Deus respeita o livre-arbítrio de cada um; mas a colheita é obrigatória: cada um (homem, povo ou nação) receberá os frutos, bons e maus, da sua semeadura. Como diz Jesus no Apocalipse: a cada qual de acordo com suas obras. (Paiva Netto, Livro de Deus, p.239). O Fundador da LBV esclarecia ainda que livre-arbítrio e determinismo coexistem, portanto, à toda pessoa ou nação é possível melhorar a sua vida com Boa Vontade. O Professor Moacir Gadotti constata: (…) a evolução da educação está ligada à evolução da própria sociedade (História das Idéias Pedagógicas, Moacir Gadotti). Devemos, então, refletir sobre o padrão dominante de forma a compreendermos sob qual paradigma desenvolveu-se a educação moderna e contemporânea e quais são as mais legítimas aspirações de nossa sociedade atual. Paradigma Materialista Ao procurarmos identificar a causa de uma educação predominantemente conteudista, fragmentada e utilitarista, devemos considerar na história humana que: (…) a curiosidade sobre a natureza prevaleceu sobre a curiosidade acerca da vida. Nasceram as ciências, como as conhecemos hoje, que passaram a se dedicar à observação da natureza, deixando para as religiões e espiritualismos a curiosidade pelo sentido da vida (O Livro das Revelações – BORGONOVI, Eduardo Castor). É importante frisar a influência objetiva de Aristóteles, e do Liceu por ele criado, na opção marcante pela curiosidade a respeito da natureza , assim como, pela categorização como prática sistematizada e a ?(…) transposição para toda a natureza de categorias explicativas pertencentes originariamente ao domínio da vida? (Os Pensadores, p.8). A concepção de realidade do referenciado filósofo influenciou o estabelecimento do paradigma materialista, observemos: (…) para ele, a única realidade é esta constituída por seres singulares, concretos mutáveis. A partir dessa realidade ? é que a ciência deve tentar estabelecer definições essenciais e atingir o universal, que é seu objeto próprio. Toda a teoria aristotélica do conhecimento constitui, assim, uma explicação de como o sujeito pode partir de dados sensíveis que lhe mostram sempre o individual e o concreto , para chegar finalmente a formulações científicas, que são verdadeiramente científicas na medida em que são necessárias e universais?(Os Pensadores, p.21). Aristóteles, ao criar a lógica formal, está preparando o triunfo do racionalismo dualista no futuro. Com a preocupação de desenvolver o método da ciência e oferecer à humanidade recursos indispensáveis para obter a certeza, o pensamento cartesiano fez a entronização à deusa razão: ?(…)René Descartes, que acreditava ter descoberto alicerces racionais para a ciência baseado em argumentos a respeito de sua própria existência e da existência de Deus. Os sentidos podiam conhecer tudo, ele afirmava, pois Deus os havia criado e não iria criar sentidos que nos enganassem.? (O Livro das Revelações – BORGONOVI, Eduardo Castor). ?(…) a natureza se dividia em dois domínios distintos e independentes que nunca se encontrariam: o da mente (res- cogitans), que não tem extensão sem substância e é livre; e o da matéria (res-extensa), que tem substância, ocupa espaço e opera segundo princípios mecânicos. Posteriormente, essas idéias influenciaram sobremaneira todas as outras ciências. No sistema de pensamento cartesiano, a matéria é a realidade última, e o mundo material funciona de maneira inteiramente mecânica, de acordo com as necessidades matemáticas. A percepção dos sentidos é a única fonte de conhecimento e de verdade. Descartes substitui a visão dos gregos e da Idade Média ? na qual o Cosmos vivo, cheio de inteligência e de sentido, é movido pelo amor divino em favor do homem ? por uma em que o Cosmos é como uma máquina desprovida de vida.? (O Retorno do Sagrado ? CAVALCANTI, Raissa). É importante destacar que se a fragmentação é essencial para alcançar a certeza, deve-se a partir da análise fracionar ao máximo o objeto de estudo, só assim pode-se, posteriormente, produzir a síntese e realizar a enumeração. O dualismo e a fragmentação, portanto, são características intrínsecas do paradigma científico materialista. O sábio Issac Newton, homem fervoroso em sua fé e sincero sacerdote da ciência, contribuiu decisivamente para a consolidação do mecanicismo: ?Na visão mecanicista, o mundo era reduzido a estes termos: se tudo tinha um funcionamento mecânico, podia ser inteiramente explicado de forma mecanicista? (O Retorno do Sagrado ? CAVALCANTI, Raissa). ?(…)Issac Newton desenvolveu a formulação matemática da concepção mecanicista do mundo. Ele combinou a observação com o raciocínio dedutivo e mostrou que o universo podia ser compreendido por meio da linguagem matemática. Newton criou um novo método matemático, conhecido hoje como ?cálculo diferencial?, e o empregou para formular as leis exatas do movimento dos corpos sob a influência da força da gravidade? (O Re
torno do Sagrado ? CAVALCANTI, Raissa). A biologia, certamente, recebeu a sua influência e reforçou a concepção materialista: ?Dentro desse novo universo conceitual, em que a natureza ou a matéria é a única responsável pela origem da vida e pelos movimentos evolutivos ? que se dão naturalmente, ao acaso ?, surgiu o evolucionismo. Seguindo esse raciocínio, o homem, logicamente, também provinha de um processo evolutivo ocasional da matéria. (…) Reduzida à dimensão do material, a natureza pertencia ao domínio da ciência.? (O Retorno do Sagrado ? CAVALCANTI, Raissa). No campo político e social a sua tradução se fez por intermédio do Iluminismo, alcançando dramaticidade heróica na Revolução Francesa. Nesse ventre histórico, ocorreu a gestação da sociologia, coroando o desenvolvimento das ciências: ?(…) Comte inspirou-se na metodologia científica de sua época ? meados do século XIX ? e propôs que o conhecimento dos seres humanos podia ser alcançado pela aplicação de métodos similares aos das ciências naturais? (O Livro das Revelações ? BORGONOVI, Eduardo Castor). Na perspectiva positivista a realidade cognoscível resume-se ao que se pode atingir pela razão científica, e esta possui um único recurso válido a experiência sensorial, nada além merece a nossa atenção. O Novo Paradigma O paradigma materialista, no entanto, é incapaz de fornecer respostas para a humanidade atual. Os seus frutos no campo do desenvolvimento tecnológico são excelentes, porém, insuficientes para garantir a realização das pessoas. Novas indagações no terreno da própria física despoletaram a busca de um novo paradigma, que pode ser assim sintetizado: O novo paradigma da ciência, ou visão científica emergente, vem processando de forma irreversível a superação da visão que prevaleceu a partir do século 17 e que foi baseada na idéia de que tudo que é ?real? é feito de matéria ? qualquer fenômeno que sugira ser imaterial era tido como ?ilusório?. Na física, o novo paradigma nasceu com a mecânica quântica ? cujo objetivo principal é calcular os movimentos de objetos submicroscópicos, como átomos e partículas elementares ? mas que vem sendo aplicada a todos os objetos. O nascimento da mecânica quântica abalou de forma irreversível os alicerces do paradigma materialista, hoje em dia gradualmente substituído por novos alicerces fundamentados na idéia de que a consciência ? e não a matéria ? é a base da vida. A hipótese da consciência levou o novo paradigma para além da mecânica quântica e da própria física, alcançando principalmente a biologia, a psicologia e a medicina. Mais ainda: restabeleceu o casamento natural entre a filosofia e as ciências como tentativas de conhecer o Ser Humano, a Vida e o Universo (www.forumespiritoeciencia.org.br). Estamos assistindo e, certamente, veremos as profundas transformações no campo do conhecimento neste século 21, pois: (…) Quando a comunidade científica repudia um antigo paradigma, renuncia simultaneamente à maioria dos livros e artigos que o corporificam, deixando de considerá-los como objeto adequado ao escrutínio científico? (Estrutura das Revoluções Científicas ? Khun, Thomas). O Paradigma Ecumênico A ciência do novo paradigma cada vez mais se aproxima do conhecimento transcendente, que por ser intuitivo avança com grande velocidade, demonstrando que os princípios sutis governam os mais densos. Aqui podemos divisar uma ponte entre o novo paradigma e o paradigma ecumênico. No paradigma ecumênico o mundo material é integrado ao mundo espiritual, ainda invisível. O afastamento das pessoas desta realidade cria uma ruptura, que ocasiona conseqüências trágicas surgidas pela exaltação do ego a centro de tudo, mais precisamente gerando o egoísmo. Daí decorre toda a manifestação de violência e ódio. O dualismo-mecanicista, transitoriamente necessário para o amadurecimento da humanidade, separou o espiritual e o material, mas o ecumenismo total compreende a complementaridade, não existindo nele antagonismo: a matéria é instrumento de evolução para o espírito. Paiva Netto explica que se houvesse conflito entre ambos, o princípio criador teria condenado a sua própria criação a desfazer-se em violência crescente. Portanto, o paradigma ecumênico, diferentemente do paradigma materialista, reconhece a existência concreta do mundo dos espíritos do qual somos originários, e em decorrência disso, o conhecimento apenas pode ser pleno quando fruto do intercâmbio da realidade material e espiritual. Enquanto o paradigma materialista reconhece a razão, o paradigma ecumênico inclui de forma decisiva a emoção e a intuição como instrumentos partícipes da percepção da realidade matéria-espírito.