
Em setembro do ano passado, o ex-pedreiro Urandir Fernandes de Oliveira, que já foi amplamente exposto pela imprensa brasileira como dono de um repertório mentiroso sobre Ufologia, alegando casos e situações inventadas, criou mais uma de suas histórias. Ao contrário das anteriores, rapidamente desmistificadas pela Comunidade Ufológica Brasileira, seu mais novo “contato com ETs” agora estava sendo amplamente divulgado no exterior, através da internet. Segundo o improvável contactado, que é fundador do Projeto Portal, ele teria sido abduzido por ETs enquanto dormia num cômodo de sua fazenda, para ser levado a uma reunião intergaláctica com outros seres de 49 raças extraterrestres distintas, a qual até Jesus estaria presente.
Não bastasse a fantasia ser demasiadamente criativa, Urandir e seus parceiros, entre eles o fazendeiro Felipe Castelo Branco, criaram adereços que deram à história tons ainda mais espetaculares. Entre eles, apresentaram para a imprensa as fotos dos lençóis sobre os quais estava deitado o abduzido, junto de sua esposa, com estranhas marcas de queimado em formato de um corpo.
Castelo Branco chegou ainda a elucubrar que, quando chegou à fazenda de seu amigo, viu pedrinhas misteriosas, de formato discóide, caindo dos céus sobre seu carro e anunciando a fictícia abdução. Nada poderia ser mais surreal. A não ser, é claro, que alguém com a reputação da jornalista norte-americana Linda Moulton Howe, premiada por seus trabalhos na área, fosse acreditar na história. Mas acreditou e, mais que isso, por motivos ignorados, faz uma ferrenha defesa do caso e dos protagonistas em seu país, definitivamente destruindo a credibilidade que atingiu em décadas de trabalho.
A jornalista foi contatada pelos parceiros de Urandir, entre eles Castelo Branco, que agendaram várias entrevistas para o suposto abduzido em programas de rádio nos EUA. Até mesmo o experiente radialista Jeff Rense e o autor Whitley Strieber deram espaço ao caso. O primeiro, imediatamente alertado pelos ufólogos brasileiros, passou a informar seus ouvintes que a situação não era real. O segundo, aliado de Linda, permanece dando apoio à fraude. Além dele, Linda e mais alguns personagens, ninguém mais levou o caso a sério.
Mesmo assim, em seis meses de divulgação do ocorrido pela jornalista, Linda enfrentou maciça e continuada reação não só da Comunidade Ufológica Brasileira, mas também de seus próprios colegas norte-americanos, que dividem-se entre indignados e espantados com sua atitude de apoiar a promover um caso inconsistente, engendrado por um cidadão já reconhecido co-mo especialista em invenções do gênero. Até o fechamento dessa edição, Linda ainda seguia sua ideologia de defesa do indefensável.
Teria sido diferente se a jornalista, que se intitula repórter investigativa, tivesse feito uma simples investigação do caso. Ela começou errado sua atuação já por aceitar uma cara passagem aérea internacional e despesas de viagem até o Brasil, provenientes do próprio autor da fabricação e pessoa que tem o maior interesse em ver sua história difundida internacionalmente. E continuou mal a partir do momento que, ao vir ao Brasil, preocupou-se somente em ouvir as partes interessadas na divulgação da farsa. Linda Moulton Howe cometeu seu terceiro erro simplesmente ao ignorar que a pessoa a quem dava confiança tinha um vasto repertório de alegações mirabolantes e infundadas. Ignorou o que dezenas de ufólogos brasileiros lhe informaram sobre Urandir, evitou consultar a imprensa brasileira e ouvir depoimentos de repórteres que conhecem a situação, e sequer se deu ao trabalho de analisar as muitas denúncias de ex-seguidores do Portal, que garantem que seu guru realiza truques para simular UFOs.
Os erros da norte-americana só não são maiores que sua falta de percepção e de um mínimo de intuição jornalística, que aponta que onde há fumaça há fogo. E nesse caso, muito fogo, além do empregado para falsificar as marcas nos lençóis de Urandir. Tanto fogo que acabou por chamuscar a credibilidade de uma das maiores ufólogas da atualidade, até então, e arranhar a credibilidade da poderosa Mutual UFO Network (MUFON), entidade que, misteriosamente, a apóia.