
O estudo dos UFOs, dos avistamentos e de possíveis abduções ao interior de naves gera um grande desafio ao “o que fazer” para os especialistas na área de Psicologia e Psiquiatria. Este desafio é maior ainda se levarmos em conta que, nos centros formadores de profissionais da maioria das universidades, o tema se encontra no patamar de algumas das clássicas psicopatologias, o que coloca na defensiva aqueles que viveram experiências desse tipo. Isto faz com que estes resistam em recorrer à ajuda especializada, justamente pelo temor – bem fundamentado – de serem considerados psicóticos, o que muitas vezes prejudica gravemente sua imagem social, sua estabilidade familiar e profissional.
Por outro lado, os médicos psiquiatras, psicólogos e sociólogos também enfrentam das instituições onde trabalham o prejuízo sistemático de seus pacientes, questionando sua qualidade profissional, seu prestígio pessoal. Isto faz com que muitos colegas evitem trabalhar nessa área do conhecimento, como um mecanismo de defesa natural e, lógico, de sobrevivência profissional. Este mesmo tipo de atitude é comum nos congressos internacionais de Psicologia e Psiquiatria, em que muitas vezes, sem nem sequer verbalizar, os médicos, os psicólogos esboçam um sorriso muito significativo e comprometedor quando alguém deseja colocar o assunto em qualquer mesa redonda de um seminário.
Apesar de tudo, levamos mais de duas ou três décadas investigando esse tema. Temos visto que nos últimos anos as portas de muitas instituições estão se abrindo às possibilidades de se investirem recursos nos estudos ufológicos. E assim sendo, autoridades dos mais variados níveis estão apoiando mais efetivamente as iniciativas de grupos como a Agrupación de Investigaciones Ovninológicas en Chile (AION) e outros, pois elas pretendem revelar paulatinamente o profundo mistério dos UFOs e seus tripulantes.
Entre os anos de 1973 e 1977, no Chile, pesquisei a Ufologia de uma forma muito artesanal na XI Região. Lá, como médico geral de zona do Hospital de Porto Aysen, tive a possibilidade de contatar pelo rádio do próprio hospital os lugares mais isolados, onde a densidade populacional é mínima. A rádio de Porto Aysen, por sua vez, deu-me um espaço para divulgar temas médicos. E pouco a pouco fomos colocando a temática do Fenômeno UFO, o que permitiu que me associasse a essas experiências de tal forma que criei um vínculo com contatados – pessoas afetadas por esses encontros secretos – que encontravam em mim uma porta aberta, alguém que os acolhia e compreendia suas experiências.
Por sua vez, alguns colegas da área da saúde estavam informados sobre o que era considerado um hobby meu, e me enviavam a lugarejos onde havia ocorrido esse tipo de experiência. Apesar da metodologia utilizada, os meios com que contava eram mais rudimentares, próprios de uma zona rural. A época em que realizei esses estudos, que já remonta mais de 20 anos, e o lugar – muito isolado – fazem dessa região uma área muito propícia para a investigação descontaminada de informações que sugestionem os preceptores.
Corpos luminosos – Como nenhum docente na Escola de Medicina me ensinou que tipo de pergunta deveria incluir aos pacientes de amnésias próximas ou remotas que se consultavam comigo, decidi fazê-lo a meu modo. Formulando as perguntas sem induzir as respostas. Dessa maneira, cheguei à conclusão de que o fenômeno era muito mais freqüente do que pensava, seja em forma de grandes corpos luminosos que viajam entre as ilhas, pequenos seres que se misturam com as crianças, estranhos desaparecimentos de lugarejos distantes etc.
Um dos casos mais interessantes foi o de uma jovem de 18 anos que em Chile Chico viu um objeto muito luminoso em frente a um lago. Posteriormente a essa experiência, a jovem apresentou uma diminuição significativa da concentração nos estudos, por isso, foi tratada no Hospital de Chile Chico. De lá, foi levada para Porto Montt, onde foi diagnosticada a presença de neurose histérica. O médico de Chile Chico a encaminhou a Porto Aysen, onde a submetemos a um processo hipnótico no qual a jovem relatou que de um objeto luminoso saiu uma mulher de 1,70 m, usando um vestido justo, totalmente agarrado ao corpo, com um cinto que teria uma fivela muito luminosa. A testemunha não se recordou de mais nada que aconteceu depois disso.
Infelizmente, naquela época, não se possuíam os meios nem a experiência suficientes para fazer um estudo mais detalhado do que havia acontecido com essa garota, que alguns anos mais tarde veio a falecer. Como uma maneira prática de reunir mais elementos para estudar contatados, ao voltar à capital, decidi me especializar em Psiquiatria, entre outras razões, por ser um ótimo complemento para esse tipo de investigação. Pude estudar inúmeros casos, alguns que ficaram conhecidos de todo o público e outros que foram mantidos em segredo a pedido das vítimas.
Um dos casos mais interessantes foi o de uma jovem de 18 anos que viu um objeto luminoso em frente a um lago. Depois dessa experiência, ela apresentou uma diminuição significativa da concentração nos estudos. Por isso, foi diagnosticada como tendo neurose histérica
Esses últimos são os mais confiáveis, pois descartamos a possibilidade de estarem relatando seus contatos para a obtenção de qualquer vantagem – como fazem a maioria das vítimas ao relatar sua experiência. Este desejo de se sobressair faz com que muitas vezes exagerem o que lhes ocorreu de fato ou o que, simplesmente, não passou de imaginação.
Comecei a estudar o caso de Juan Lopez em 1987 e a forma como nos envolvemos foi muito curiosa. Atendia sua esposa em uma clínica e tive que entrevistá-lo. Naquele momento, tive a sensação de estar ante alguém diferente da maioria. Não pude controlar a vontade de perguntar o que havia acontecido a ele quando jovem. Juan Lopez ficou me olhando, estupefato. Um impulso maior do que sua vontade movia-o a contar a experiência que havia decidido guardar para sempre em segredo, conforme me contara depois. Logo após uma pausa, ele me respondeu: “Não consigo evitar de lhe dizer… Aos 12 anos de idade, encontrava-me deitado em minha cama quando senti que estava sendo observado. Nesse instante, todo meu corpo congelou e de repente vieram dois seres altos, com cerca de 1,90 m, vestidos de negro. Não podia ver seus rostos. Um estava ao meu lado e outro atrás de mim.
“Eles conversavam comigo. Eu estava em estado de pânico: não podia me mover, nem podia dizer uma palavra sequer. Mas, depois de alguns instantes, dei-me conta de que eles falavam comigo telepaticamente. Eles sabiam meu nome e o que eu fazia. Nesse momento, envolvi-me num sono profundo e não me lembro de mais nada. Ao acordar, observei duas manchas na região próxima à virilha, perfeitamente circulares e avermelhadas. Eram como queimaduras, que desapareceram no segundo dia. Essas manchas eram a única evidência que tinha de que realmente ocorrera algo e que não era um sonho.
“Logo após alguns anos, come&cc
edil;ou a acontecer uma série de fenômenos muito especiais comigo: quando eu possuía um objeto, como calculadoras científicas, bastava que eu pressentisse que o perderia, que isso acontecia. Cheguei a discutir com donos das lojas onde vendiam esses objetos, pois quando pegava as calculadoras, estas deixavam de funcionar. O mesmo acontecia com relógios. Paralelamente a isso, comecei a sonhar muito e com grande imaginação, pois criava em minha cabeça modelos e vivia dentro deles, experimentando o que chamamos agora de realidade virtual. Tomei então o costume de, ao me deitar, deixar um lápis e um papel no criado-mudo. Dessa forma, ia anotando tudo o que se produzia em minha cabeça. Quando tinha um problema de Matemática, por mais complexo que fosse, não me preocupava. Ao invés de pensar nele, distraía-me lendo uma revista, pois sabia que a solução ia aparecer. E aparecia sozinha”.
Agitação psicomotora – Juan Lopez seguiu a carreira de engenheiro, terminando seus estudos com excelentes qualificações, sempre sem fazer grandes esforços para estudar. Participou de 12 congressos de Engenharia e fez fundamentos importantes no campo da Engenharia de Estruturas, com trabalhos enviados à NASA, sobretudo em relação a materiais cerâmicos e suas possíveis falhas. O engenheiro trabalhou também com mecânica estatística e, posteriormente, aprofundou-se no mundo da computação, chegando a estar a cargo de 32 profissionais na empresa onde trabalhava. Implementava programas e em seu trabalho era conhecido como o mago dos computadores. Programas que um grupo de especialistas demorava vários dias para executar, ele os fazia em poucas horas.
Em outubro de 1988, Juan Lopez decidiu submeter-se a uma hipnose. Como sabíamos dos possíveis problemas que poderíamos ter, assessorei-me com dois hipnólogos extremamente experientes. Juan foi consultar-se acompanhado de sua esposa. Fizemos a hipnose em uma tarde de sábado, para que nada interferisse no procedimento. Eu estava encarregado de vigiar a parte médica. Quando chegamos à idade de 12 anos, Juan começou a apresentar uma grande hiperpnéia [Editor: aumento da amplitude dos movimentos respiratórios], taquicardia, com batimentos cardíacos de 140 vezes por minuto [Editor: o normal é cerca de 72 vezes], e agitação psicomotora, de modo que foi necessário encerrarmos a sessão. Algo aconteceu à sua esposa, pois ela, seguramente, se alterou ao ouvir a versão de seu marido e, ao sair à rua, se descontrolou e tentou se jogar sob um veículo.
Tive medo de voltar a tentar algo parecido nos meses seguintes. Juan também ficou com receio. Passado um ano, nos reunimos e decidimos tentar novamente a hipnose, com a mesma equipe do ano anterior. O contatado consultou-se longe da presença de sua esposa. Desta vez, foi-lhe aplicado um processo diferente para chegar ao momento da vivência traumática. Conscientes da grande ansiedade que Juan experimentou na primeira hipnose, usamos a seguinte técnica, a qual descreverei sinteticamente. Essa hipnose foi realizada em 1994.
“Você se encontra em meio a um corredor largo e cheio de portas em ambos os lados. Atrás de cada uma dessas portas existe uma recordação muito especial. Ao abri-la, irá se lembrar de um sonho e será através de sua mente que irá recordar friamente da situação. Dentro dessa porta está seu sonho. Você não é este sonho, olhe-o a uma certa distância. Neste local há uma cortina que pode abrir e fechar à vontade”.
Esse é o resumo do procedimento da hipnose que foi efetuada em Juan. Nesta, ele descreveu um objeto metálico, prateado, que foi introduzido nos dois lados de sua virilha. O engenheiro falou de uns seres usando túnicas negras que tampavam seus rostos e que conversavam “com uma voz que chegava ao interior de minha cabeça”, disse a respeito da telepatia. Diziam o nome da testemunha e quando esta ficava angustiada, os seres manipulavam uma caixa com um cabo, e logo Juan se acalmava. Com voz masculina, falavam para o contatado se acalmar. Os seres fizeram uma biópsia na região da virilha. Segundo Juan, “…colocaram pontos de luz por todo meu corpo e, por causa disso, tive a sensação de estar coberto por uma armadura. Sentia minha cabeça como se estivesse no meio de uma tormenta. Senti medo e aos poucos fui me acalmando. Disseram-me que eram amigos. Um se chamava Omous, o outro Nous. Informaram-me também que tinham um chefe, mas não estava presente, que se chamava Uur. Disseram-me que eu não podia falar isso publicamente”.
Finalmente, asseguraram à vítima que iriam protegê-la e que retornariam um dia. Antes de sair de seu estado hipnótico, induzi Juan a se recordar de tudo, fazendo com que contasse uma parte mínima do que viveu, e do que podia se lembrar com detalhes. Na entrevista psiquiátrica, Juan parecia tranqüilo. Suas respostas foram precisas e claras. Não detectamos o desejo, nele, de impressionar a quem estivesse ouvindo.
Atividade beta – Um exame cerebral feito em 10 de junho de 1996 revelou um freqüente aumento da atividade beta, com teta moderado, sem focalizações nem elementos epilépticos específicos. Um scanner mostrou em um dos cortes cerebrais uma zona negra circular de menos densidade que o restante das estruturas, com uma leve atrofia cerebral – um pouco maior do que a que corresponde à idade de Juan que era de 36 anos. Trata-se de uma zona negra circular que poderia ter sido estudada melhor com ressonância nuclear magnética. Portanto, é necessário que nos perguntemos se o processo pelo qual Juan passou realmente aconteceu ou é o produto de sua imaginação. Porém uma coisa é certa: este episódio constituiu uma vivência traumática que o associa ao Fenômeno UFO, pois toda vez em que há uma onda ufológica, Juan fica muito apreensivo e com medo.
Até que ponto devemos especular, se a hipótese é um argumento para afirmar se realmente a visita desses seres ocorreu? Todas as experiências de abdução são de relatos feitos por uma pessoa que pode estar possuída por sentimentos que dificultam a visão objetiva daquilo que presenciou. O ideal para termos certeza de como esse fato ocorreu de verdade seria reproduzirmos os feitos novamente, o que não se pode fazer nesse caso. É interessante mantermos contato com as pessoas que têm esse tipo de experiência e efetuar um segmento para analisarmos sua evolução ao longo dos anos. No caso de Juan, ele curiosamente experimenta uma grande ansiedade que, em geral, manifesta-se antes de ocorrer uma onda ufológica. Juan estaria atuando como uma antena que antecipa esses eventos?
As ansiedades de Juan são coincidências, ou ali há uma interação? Este constitui-se, como dizem alguns investigadores, em um caso de intervenção externa, que se daria com um em cada mil habitantes, ou trata-se meramente de alucinações? Existe fanatismo em qualquer uma das hipóteses. Falta-nos objetividade nesta investigação, pois não devemos nos guiar por um pensamento linear, sem uma mente livre, aberta a qualquer situação nova. Se conseguirmos manter vivas perguntas do tipo &l
dquo;quem somos? Aonde vamos? De onde viemos?”, se conseguirmos não perder a capacidade de espanto frente aos mistérios do universo, poderemos conduzir ao alto a bandeira de bons investigadores.