“Eu não prometo fazê-la feliz neste mundo, mas no próximo…” Essa foi a frase que Nossa Senhora de Lourdes pronunciou a Bernadette Soubirous, menina nascida na pequena cidade de Louvre na França, em 08 de fevereiro de 1844, que mais tarde passou a ser conhecida como a Santa de Lourdes, a padroeira da penúria e pobreza. Filha de uma família próspera do meio rural, Bernadette ainda jovem sofreu um grande revés, a falência de seus pais devido à crise agrícola francesa. Desde então os Soubirous foram assolados pelo frio, doenças e a falência total durante longo período. As dolorosas provas agiram de modo estranho acerca de Bernadette, que ao completar 14 anos passou a ter visões e ouvir vozes do além. Em uma tarde de 11 de fevereiro a pobre garota, enquanto passeava na beira do Rio Gaves, viu uma luz brilhar dentro da Gruta de Massabielle. Curiosa e espantada, foi a passos vacilantes ao encontro da claridade, quando se apresentou uma linda mulher, que a princípio não revelou seu nome ou objetivo.
A bela visão que emanava bondade e inteligência cativou a jovem Bernadette, solicitando que ela retornasse diariamente à caverna para assimilar conhecimentos importantes não só para a menina, mas para toda a comunidade local. A moça assim o fez e voltou na Gruta de Massabielle todas as tardes onde continuou a se comunicar com a aparição num total de 18 vezes. Um dia a visão feminina revelou sua identidade como sendo Nossa Senhora. Bernadette foi instruída pela suposta santa a cavar sob um pequeno rochedo onde, para sua surpresa, surgiu uma nascente de água. Em seguida, a aparição pediu que ela bebesse e se lavasse diversas vezes naquele líquido. A jovem seguiu seus conselhos. Ao que tudo indica esse fato foi religiosamente marcante para ela, que anos depois se ingressou em um convento.
Durante o período em que a menina se encontrou com a aparição, ela notificou seus parentes. Desconfiados de insanidade mental trouxeram o padre local, que após numerosas entrevistas se convenceu da legitimidade dos fatos. Médicos e pesquisadores da época avaliaram o panorama comportamental e a personalidade dela e nada encontraram que pudesse classificá-la como portadora de distúrbios emocionais ou alucinações. Logo o caso estava na boca da população e outros párocos e religiosos começaram a levantar algumas suspeitas acerca da narrativa da moça.
Conta a lenda que em uma reunião investigativa promovida pela Igreja Católica, Bernadette diante de olhos incrédulos acendeu uma vela e colocou a pequena mão esquerda sobre a chama, após vários minutos de combustão, para espanto geral se constatou que não havia nenhuma queimadura sequer. Em uma das últimas aparições, a suposta Nossa Senhora solicitou que sobre a Gruta de Massabielle fosse erguida uma igreja cujo objetivo seria divulgar o milagre da eucaristia e disseminar o pensamento cristão para todos os visitantes que por lá passassem. O último avistamento da santa foi em 16 de julho de 1858.
Efeito de mumificação — Oito anos depois, Bernadette Soubirous se alegra em ver que uma magnífica basílica em forma de gruta foi erigida sobre o local da aparição e para prestar um voto de gratidão à Nossa Senhora ingressou em 07 de julho de 1866 no Convento das Irmãs de Caridade e da Instrução Cristã, em Nevers, França. Após uma dura vida monástica mergulhada em orações e trabalho veio a falecer em 16 de abril de 1879. Considerada pela população local como uma santa, Bernadette foi canonizada em 1933 pelo Papa Pio XI e desde então é vista como a responsável por diversos milagres. Seu legado na Terra foi marcado pelo sofrimento como forma de redenção, mostrando que por maiores que sejam os obstáculos, somente a oração e a resignação são capazes de realizar benefícios, bem como trazer alento às mais terríveis provações.
Cerca de 30 anos após sua morte, para validar os procedimentos de canonização impostos pelo Vaticano, foi solicitada uma exumação do cadáver de Bernadette. Quando a pedra da sepultura foi deslocada, rapidamente o caixão foi visualizado e trazido para a luz. Para espanto dos investigadores papais, a madeira do caixão se apresentava intacta e quando a tampa foi deslocada, as dúvidas se dissiparam, o corpo de Bernadette estava perfeitamente conservado, sem o menor sinal de decomposição ou aroma desagradável. As irmãs de caridade que acompanhavam a exumação e estavam presentes em seu sepultamento três décadas atrás notaram apenas que suas mãos mudaram de posição. Após exaustivos exames realizados sobre o cadáver, o médico cirurgião doutor A. Jourdan emitiu um relatório detalhado e declarou que apesar do espetacular estado do cadáver, a ausência de putrefação pode ser atribuída a diversos fatores geológicos do terreno, decomposição extremamente lenta e até mesmo a um raro, mas possível, efeito de auto-mumificação.
Diante a tal relatório novas dúvidas surgiram, até que 10 anos depois outra exumação foi realizada pelos médicos Talon e Comte que, acompanhados pela autoridade policial e o bispo de Nevers, novamente tiraram o cadáver de seu repouso tumular. Incrivelmente, após vários exames o estado do corpo de Bernadette estava idêntico à primeira exumação, nada tinha mudado. Diante de tal constatação ambos os médicos foram para salas separadas e lá escreveram seus próprios relatórios para futuras comparações técnicas. Os documentos estavam semelhantes aos primeiros feitos 10 anos antes, apenas com a observação de que “foram encontrados sinais de sal e camadas de sal de cálcio, fatos atribuídos a uma possível lavagem do corpo após a morte”.
Depois das análises pouco reveladoras geradas por diversos médicos, o Vaticano decidiu em 1925 fazer uma terceira e última exumação do corpo de Bernadette. Para isso chamaram o doutor Comte para conduzir novamente a delicada operação, que além de caráter científico desta vez teve um fator bizarro. Os especialistas fizeram diversos moldes do rosto e das mãos do corpo, para que um experiente artesão de estátuas de cera em Paris pudesse eternizar a jovem Bernadette, como uma relíquia da Igreja Católica.
Entendendo o milagre — O escultor Pierre Imans, após terminar a reprodução artística da vidente, produziu uma impressão negativa junto ao público que considerava o corpo real com aspecto muito mais “vivo” do que o feito de cera. Três anos mais tarde, o doutor Comte publicou um relatório de exumação no segund
o artigo do Boletim da Associação Médica de Notre Dame de Lourdes, finalizando o caso com as seguintes declarações: “Eu gostaria de ter aberto o tórax do cadáver para remover o coração, que ao meu ver certamente teria sobrevivido. De acordo com a posição do braço esquerdo, o procedimento seria muito prejudicial, assim sob pedido da Madre Superior, mantivemos o coração junto ao corpo. O que me impressionou muito foi o perfeito estado de conservação do esqueleto, do tecido muscular fibroso, a resistência e firmeza dos ligamentos mesmo após décadas de sepultamento. Finalmente, declaro a todos que considerando o estado do cadáver, não se trata de um fenômeno natural”. Dias depois, o corpo de Santa Bernadette foi colocado em um caixão de cristal para visitação pública, onde repousa até hoje na capela da Igreja de Saint Gildart, no convento de Nevers, local em que Bernadette viveu e orou por 30 anos.
Na bela história de Bernadette Soubirous é notório o testemunho de fé de uma criança que após ter sofrido todas as amarguras da vida conseguiu se manter no caminho da oração e resignação, suportando tudo com a certeza do amparo de uma força superior e, em verdade, desconhecida, mesmo que se afirmasse se tratar de uma santa. Os relatos que existem sobre as aparições de Lourdes são transcrições feitas pelos padres locais que entrevistaram a jovem durante o período das visitas à gruta. A França que sempre se considerou um braço forte da Igreja Católica era vigiada por uma complexa e eficiente máquina eclesiástica composta por uma rede de párocos, bispos e investigadores de fenômenos paranormais, determinados a expandir progressivamente o domínio do Vaticano, custe o que custasse. E para tal é muito provável que os relatórios criados pelos padres tivessem elementos diferentes da verdadeira versão contada pela menina, suprimindo algumas citações e super valorizando outras.
É possível que partes significativas do relato da moça e até mesmo informações altamente esclarecedoras fossem alteradas ou eliminadas, criando assim um documento tendencioso capaz de satisfazer e reforçar os ideais dogmáticos católicos, necessários para a mistificação de um possível fenômeno de paranormalidade ou até mesmo de caráter alienígena. Sob à luz da psiquiatria moderna podemos encontrar uma infinidade de casos que ilustram distúrbios de alucinações visuais e auditivas, principalmente se considerarmos que ainda em idade infantil Bernadette passou por uma seqüência de situações difíceis com sua família, que sem dúvida provocaram profundos traumas na personalidade que estava em fase de formação.
Nos dias atuais, quando a humanidade coloca em debate a pluralidade dos planetas habitados, em meio à capacidade mediúnica do ser humano e até a suposta presença de alienígenas em nosso mundo, podemos avaliar a aparição de Nossa Senhora de Lourdes não apenas como uma estratégia articulada pela propaganda católica, mas como um provável contato com um ser de elevação espiritual, através de mecanismos mediúnicos envolvendo vidência, audição e telepatia, fatores muito comuns e explanados com sabedoria e clareza pela doutrina espírita kardecista, pelos egípcios antigos, incas, druidas e inúmeros outros povos e filosofias que perfazem a história humana na Terra.
Água radioativa? — Pelo que parece, o fato da ausência da decomposição do corpo de Bernadette pode estar relacionado com a água do poço, encontrada na Gruta de Massabielle, sob indicação de Nossa Senhora. O líquido poderia conter elementos químicos capazes de alterar as funções físicas da garota de modo a eliminar bactérias e microrganismos responsáveis pela deterioração do corpo humano após a morte. Esse fato pode ocorrer em cadáveres de pacientes que antes de morrer foram tratados com elevados níveis de medicamentos antibióticos, anti-inflamatórios e terapias baseadas na medicina nuclear.
De fato, até hoje, na famosa Gruta de Gaves, pessoas se consideram curadas de diversas doenças após rezarem e ter contato com a água da nascente, reforçando a hipótese de que o elemento pode conter substâncias regenerativas e se ele possui mesmo tais qualidades, decerto algum espírito ou entidade conhecia esse fato e poderia ter se colocado na benévola posição de oferecer esse recurso aos doentes da Terra. Quanto a isso, suspeitamos da atuação de alguma energia curativa vinda das grutas, porque cresce o número de pessoas que se consideram curadas ou que receberam milagres nas minas de radônio dos Estados Unidos e até na água de nascentes, em cavernas do Estado de Minas Gerais, no Brasil, como a Gruta dos Palhares, em Sacramento, e a nascente do Complexo do Barreiro, em Araxá.
No caso de Lourdes, a Igreja Católica estava diante de um desafio, sentindo-se acuada pela ampla repercussão produzida pela menina que poderia colocar em questionamento os dogmas do catolicismo. Desta forma, conduziu espertamente a jovem Bernadette para o caminho do silêncio e isolamento abrigando-a em um convento, local propício para manter sua experiência sob supervisão constante. Ademais, há o fato de que o convívio em um claustro de filosofia castradora constitui-se por si somente num exercício de condicionamento da fé e do pensamento teosófico, e porque não dizer de lavagem cerebral patenteando a experiência transcendental de uma pobre e inocente garota em um milagre vendido na “loja de ícones” do Vaticano.