O jornalista alemão Karl Brugger é um estudioso dos mistérios da Amazônia e publicou o interessante livro A Crônica de Akakor [Bertrand, 1988], no qual descreve uma das inúmeras lendas disseminadas na região sobre a existência de uma suposta civilização antiga que estaria localizada na Serra do Gupira, região do alto Rio Negro. Tal civilização, muito evoluída no passado, teria desaparecido antes mesmo do descobrimento do Brasil. Karl Brugger conta que sua descoberta começou em 1971, em uma rua de Manaus, onde o piloto suíço Ferdinand Schmidt conheceu Tatunka Nara, que afirmou ser nativo da tribo Urgha Mogulada, supostamente existente no interior do Amazonas. Com informações fornecidas por Schmidt, o jornalista viajou para Manaus e contatou o indígena, que lhe fez revelações sobre sua tribo.
A história tem elementos inusitados, de difícil comprovação. Por exemplo, a de que o indígena lhe dissera ser um príncipe e que na região existiam nada menos que três cidades habitadas por seu povo, chamadas Akahim, Akakor e Akanis. Em Akahim existiria um objeto grande e muito antigo, entregue há milhares de anos aos sacerdotes moguladas por “deuses vindos do céu”, segundo Nara. Tal artefato, de acordo com as tradições, começaria a “cantar quando os deuses retornassem à Terra”.
Antigos deuses retornariam à Terra
De todas as formas, extremamente entusiasmado, Brugger partiu no nativo rumo ao interior da floresta, com o propósito de encontrar o que imaginava ser uma cidade pré-colombiana, ainda habitada por descendentes de seus fundadores e repleta de antiquíssimas ruínas de templos e pirâmides. Quando retornou à civilização, no entanto, o jornalista mostrou-se reticente sobre suas descobertas, e somente em 1976 lançou seu livro, que narra a chegada à tribo Mogulada e seu contato com os nativos. Isso despertou o interesse de outros estudiosos em conhecer tal civilização perdida. Ao tomar conhecimento da história, também por Ferdinand Schmidt, o escritor Erich von Däniken se dirigiu a Manaus, em 1977, onde contatou Tatunka Nara. O nativo também lhe fez as mesmas revelações contadas antes a Brugger, porém acrescentou que o estranho objeto existente em Akahim estava, já há algum tempo, emitindo um ruído semelhante ao de enxames de abelhas. “Isso demonstraria que estaria próximo o momento em que os antigos deuses retornariam”, garantiu Nara.
Empolgado com as notícias, Däniken encarregou Schmidt de acompanhar Nara até Akahim e obter o misterioso objeto cantante a qualquer custo. Foi organizada, então, uma nova expedição para explorar a cidade perdida, da qual participou também o renomado arqueólogo brasileiro Roldão Pires Brandão, que há algum tempo estava à procura de uma antiga civilização que considerava existir às margens de um dos afluentes do Rio Amazonas. Em uma reunião mundial da Ancient Astronaut Society, realizada em julho de 1978 em Chicago (EUA), Däniken teria informado aos participantes que esperava que a expedição obtivesse sucesso e trouxesse a prova tão aguardada de que um povo nativo estaria em contato com seres extraterrestres.
Várias respostas para o problema
No entanto, pelos diversos percalços da viagem e problemas criados por Brandão, que foi baleado acidentalmente, isso não aconteceu e a expedição foi forçada a retornar estando a dois dias de distância de Akahim. Nessa mesma ocasião, passaram a correr rumores de que um grupo de estudiosos ingleses também estaria tentando chegar às ruínas, partindo da Venezuela. Temendo perder a primazia do descobrimento, Brandão comunicou à impressa a existência de pirâmides no local — já avistadas anteriormente por Brugger —, conseguindo que jornais, revistas e redes de tevê noticiassem sua suposta descoberta ao mundo. Uma equipe da revista Veja, por exemplo, sobrevoou a região da Serra da Gupira e, em 01 de agosto de 1979, divulgou uma reportagem de cinco páginas mostrando estruturas piramidais cobertas pela vegetação.
Como era de se prever, logo após a realização da reportagem, começaram a surgir versões diferentes para explicar as pirâmides. Especialistas como o geógrafo Aziz Ab’Saber, diretor do Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), declaram que as formações piramidais eram, na realidade, apenas morros. “São importantíssimos documento geológicos comuns na região”, informou o cientista. O impasse sobre a origem das pirâmides estava criado, mas mesmo assim o assunto foi temporariamente esquecido. Em 08 de janeiro de 1984, o jornal O Estado de São Paulo reacendeu a discussão ao publicar um artigo assinado por um de seus correspondentes no Rio de Janeiro, em que eram apresentadas várias possíveis respostas para solucionar o problema.
No texto também estava relatado que o nativo Tatunka Nara seria apenas um ex-marinheiro alemão e neurótico de guerra que teria se estabelecido na Amazônia, onde criou a história fantástica das cidades perdidas, enganando a todos. Embora essa seja uma versão plausível para os acontecimentos, as questões sem resposta são muitas e fazem persistir as dúvidas. Qual era o nome do marinheiro que virou Tatunka Nara? E que argumento teria levado o experiente repórter Karl Brugger a aceitar sua história sobre as cidades perdidas? Perguntas como essas ainda estão sem resposta e suscitam cada vez mais dúvidas quanto à existência das pirâmides e sua verdadeira origem. Estaríamos diante de meras formações geológicas ou monumentos alienígenas?